Pare! Não se aproxime
16 - Um telefonema na madrugada
Capítulo dezesseis
Um telefonema na madrugada
“A aceitação da dor é o primeiro passo para suportá-la, caso contrário, o pessimismo, a impaciência e a intolerância, poderá transformá-la num fardo além de suas forças.”
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Terça-feira, 04 de março.
Estava na sala com a Sophie vendo o filme “Cinderella” pela terceira vez em um mesmo dia, e até as músicas eu já tinha decorado. Não sabia como ela não conseguia enjoar dele, mas eu entendia, porque quando criança incomodava meu pai para que alugasse o mesmo vídeo novamente.
– Por que não namora com ele Méli? É tão lindo, legal, parece um príncipe. – questionou mais uma vez minha meia-irmã de maneira manhosa.
Ficava suspirando em cada palavra dita.
– Como eu posso te explicar... O Henry pode parecer ser o homem mais perfeito do mundo, porém quando tem o que quer some em um passe de mágica. E não podemos nos deixar levar por pessoas assim. Entendeu Sô? – declarei.
– Igual o mestre dos magos? – questionou em uma careta fofa.
– Isso mesmo. – devolvi.
– Então ele pode aparecer outras vezes não? – parecia curiosa.
– Só para rir por ter feito o que desejava. – comentei.
Eu sabia a fama do Nagel e suas escapadas, sendo que uma delas eu vi com os meus próprios olhos. Aquela cena veio em minha mente com tudo, fazendo-me ficar mais vermelha que um tomate.
– Mas eu quero que o Ry fique contigo! – fez birra, quase chorando.
Na tela estava passando a cena em que a principal deixava os sapatos de cristal na escada. Só que a pequena nem prestava atenção, praticamente se debulhando em lágrimas na minha frente para tentar me convencer.
– Por que está tão chorona assim? – perguntei ao acariciar seu cabelo.
– É que o menino que eu gosto não me quis, e quero que pelo menos você não tenha o mesmo final que o meu. – disse entre soluços.
Parecendo tão adulta e mais experiente que eu falando assim.
– Não se preocupe então por isso, pois não sinto nada por ele para ter meu coração quebrado. E não fique magoada, logo encontrará alguém que corresponda o seu amor. – sussurrei enquanto a abraçava.
– Falou que não ia namorar comigo porque sou muito patricinha. – a voz abafada.
Coitada, tão nova e já sofrendo.
– Se ele não aceitou uma pessoa tão doce e linda como você é porque não te merece. – comentei.
Rapidamente levantou a face e me fitou com os olhos brilhando.
– Sério que me acha fofa e bela? – quis saber.
– Claro que é Sô. – confessei.
Seu sorriso aumentou neste instante, e eu me aproveitando da situação apertei sua bochecha.
– Como a Cinderella? – balbuciou de maneira alegre.
– Você é uma muito linda, até mais do que ela. – confessei.
– Eu sou uma cupido também, e vou juntar vocês dois. – insistiu.
Anotação – defeito da meia-irmã: teimosia.
– Onde que aprende tanta coisa em? Posso saber? – falei.
Já que ficou em silêncio comecei a fazer cócegas nela, que gargalhava enquanto se tremelicava toda na tentativa de sair. Seu rosto já estava de um aspecto quase roxo e ela implorava para parar, obedecendo-a ao perceber que começou a tossir.
– F-foi no desenho do Mickey Mouse. – explicou quando recuperou o folego.
Neste instante o vídeo estava acabando.
– Então que tal vermos se tem algo dele na TV? – opinei.
– Só deixa o filme terminar Méli. – revidou enquanto secava as lágrimas.
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– Está bem. – fui convencida.
Quando o castelo se afastou e os créditos começaram a passar eu coloquei em alguma animação que ela gostava, sendo escolhido o do Bob esponja. Já eram 23h45 e notei que a pequena estava sonolenta, por fim acabou adormecendo no sofá.
Não consegui pegá-la por conta das poucas dores ainda sentidas, nos braços, pernas e barriga. Vistoriei o local e notei pipocas espalhadas, e um pouco de brigadeiro no prato que tinha sobrado. Juntei o que estava pelo chão e comecei a comer o doce enquanto lavava a louça.
Deu 0h35 e eu ainda estava beliscando o resto dos alimentos que a Dona Diná tinha feito para mim. Como a torta de frango, que foi empurrada para o estomago com a ajuda do suco de uva. Quando era 1h23 eu me encontrava adiantando algumas atividades escolares.
Depois disso peguei um cobertor felpudo e cobri a minha meia-irmã. E foi neste momento que o telefone soou, fazendo-me correr para que ela não acordasse.
E eu pensava em três hipóteses nesse momento:
a) A Samara só conseguiu me ligar alertando dos sete dias agora por conta da sua vasta lista de vítimas.
b) O padrasto me avisando sobre algo importante.
c) Henry-pegador-Nagel.
Quem disse a primeira opção faça o favor de se tampar bem à noite, porque provavelmente acredita muito em entes de filmes de terror. O segundo não foi com toda a certeza, porque provavelmente neste momento estão fazendo coisas proibidas no quarto. Restando, infelizmente, a última.
– Alô. – comecei.
– Amy... é você? – parecia atordoado e até confuso.
– Foi engano. – disse na esperança de que desligasse.
– É sim, reconheço sua voz. – sussurrou.
“Com quem tá falando?” Uma voz masculina gritou.
– Então por que perguntou idiota? – sem paciência.
– Só para saber o que ia falar. E fiquei triste por ter mentido para mim. – declarou aos risos.
– Qual o motivo de para telefonar para a minha casa a essa hora? – esbravejei.
– É que estão falando que existe formula amor e eu que não. Então resolvi saber o que você entende sobre esse assunto. Tem? – a cada frase estou achando mais que está bêbado.
Deu para ouvir as gargalhadas ao fundo.
– Claro que não. Se é só isso vou desligar. – irritada.
– Mas é que todos ficaram cantando: Ainda encontro a fórmula do amor. Só que até hoje eu tinha certeza que não existia. – disse em um tom rouco.
E pareciam rir mais alto ainda depois de ouvirem isso.
– É uma música do Kid Abelha Henry! – exclamei.
– Sabe que pode haver sim? – contrariou.
– Por que mudou de ideia de repente? – meu cansaço era tão intenso que nem raiva sentia mais.
Escutei passos e um silêncio de minutos se formando.
– É que eu te acho tão fofa que você só pode ter me encantado com algo para pensar isso de ti. – confessou.
– Para de me chamar de meiga, eu não sou deste jeito. E nem bruxa para lançar alguma magia em sua direção, mas se fosse já teria te transformado em um galo. – rebati com rudez.
– É sim, quanto está com sua irmã ou fica distraída se mostra uma pessoa diferente, doce, gentil e generosa. Principalmente quanto está com a loirinha. E eu gosto muito quando se comporta desta maneira, tanto que nem imagina. – praticamente sussurrou em meu ouvido, mas o tom afetado por conta do algo.
– Tchau. – balbuciei pelo susto que sua frase me causou.
– Não fuja... – nem ouvi o resto porque coloquei o aparelho no gancho.
Eu praticamente não dormi depois dessa, ficando rolando pela cama com o Sinistro em minhas mãos. A última frase ficou rondando na minha mente. Ele não é indiferente em relação a mim então? Em que sentido se referia ao dizer a palavra gostar?
Só que estava bêbado quando me disse isso. E ao constatar disso outra coisa pesou: Seria verdadeira a teoria de que quanto estão assim desabafam o que pensam? Ou não?
Certamente adormeci e despertei com isso em mente e passei o dia de ressaca do carnaval com a Sô, minha meia-irmã insistente. Fiz um pudim de leite condensado e lasanha de queijo com presunto picado com suco de guaraná. No final da tarde minha mãe chegou com o namorado.
– Amélia, por acaso você deu muito doce para ela? – rosnou ao ver que a garota parecia elétrica.
– Só uma sobremesa, mas nada de chocolate. – sussurrei.
– Espero que não esteja mentido, se não vai se ver comigo. – rebateu.
– Está bem. – devolvi.
– Se despeça da sua irmã. – berrou.
Fui em direção a ela e a mirei de forma carinhosa, fazendo-a me abraçar de maneira apertada enquanto afagava meu cabelo. Como eu tinha feito no dia anterior quando estava triste.
– Adeus Méli, eu te amo. – disse de forma fofa ao me dar um beijo na bochecha.
– Eu também pequena. – correspondi.
Era tão meiga que não tinha como não ser legal com ela.
– Até amanhã. – falou minha mãe e abriu a porta.
Então foram embora e me deixaram sozinha na residência, com meu sofá, um bolo na geladeira e vários canais para serem apreciados. Mas não, eu preferi ir à academia e continuar meus treinos solitários. No outro dia começaria tudo novamente, aula, trabalho e rotina desanimadora.
Fiz uma janta básica e praticamente me afoguei de tanto beber o resto do suco de melancia. Ao ir para o quarto uma surpresa me esperava, já que a loirinha havia escrito um bilhete para mim em um papel.
“Espero passar mais dias contigo Méli, porque eu amo você e sua comida.
P.S.: Fique com o Ry, por favor.
P.S 2.: Comi o chocolate que estava na sua gaveta.
– Sophie”
Claro que ela escreveu um pouco errado por ter aprendido há poucos anos, entretanto sempre deixava algum recado para mim antes de ir para a sua casa. E fazia isso por saber o quanto me alegrava. Meus pensamentos foram atormentados por esse momento, em que confessou que havia pegado o meu doce, e o que passei na madrugada de terça para quarta.
Feriado um pouco confuso não?
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