Pare! Não se aproxime

17 - Quinta-feira que mais parecia halloween


Capítulo dezessete

Quinta-feira que mais parecia halloween

“Será que você vai saber o quanto penso em você com o meu coração?”

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

(Renato Russo)

Despertei mais cansada do que dormi, a dor se alastrava pelo meu corpo por ter aumentado um pouco a intensidade dos meus exercícios depois de dias sem pisar na academia, e por conta de estar machucada fiquei desacostumada. Peguei o moletom de bigode branco, calça do uniforme – mesmo não sendo obrigatório vesti-la – e o tênis surrado com quadradinhos vermelho e branco.

Fiz o coque no caminho para o ônibus e prendi com a caneta reserva. Passei pelo corredor e quando faltavam 9 minutos para as aulas começarem aproximadamente vi algo que me deixou chocada ao entrar no toalete.

Thalia estava desmaiada, meio que sentada, e com alguns hematomas espalhados pelo corpo. Seu rosto um pouco ensanguentado e estava mais pálida que o normal. Sai correndo e fui até a enfermaria avisar sobre o que ocorreu.

– Tem uma menina desacordada no banheiro. – praticamente gritei.

Ela pode até ter me batido, humilhado e feito horrores comigo, mas não poderia deixa-la morrer. É omissão de socorro. E isso é crime.

– Vem comigo para me mostrar onde é. – declarou ao passar pela porta.

– Está bem. - confirmei em desespero.

No meio do caminho viu o segurança, que nos seguiu ao falarmos sobre o que tinha acontecido. Ao chegar no local ele a pegou no colo e a levou para a maca mais próxima da sala, podendo então ser liberada para ir a aula. Sentei-me na carteira que ficava de frente para o armário e fiquei lendo um pouco a apostila e rabiscando no caderno.

E de repente passos apressados fizeram-me me distrair.

– Eu falei algo constrangedor quando te telefonei Amy? – questionou.

Foi a primeira frase dita ao entrar, sem o costumeiro “bom dia”.

– Por quê? – fiz-me de desentendida.

– É que tem uma ligação realizada para a sua casa perto das 2h de quarta. – declarou.

– Não lembra o que disse? – perguntei sem vontade.

– Praticamente acordei com amnésia sobre o que fiz no dia anterior. Comentei alguma coisa que tenha te magoado? – parecia um pouco preocupado.

– Apenas perguntou se eu iria na sua casa no sábado. – menti.

Se esqueceu é porque não era importante. Então deixei para lá.

– E você vai? – olhou-me em expectativa.

– Por acaso tenho escolha? – rebati.

– Não. - respondeu aos risos.

Seu sorriso pareceu engrandecer e ficar mais brilhante nesse instante.

– Então já sabe a resposta. – um pouco chateada.

Não acredito que daqui dois dias estarei na casa de um garoto. Eu, em todos meus dezesseis anos, nunca imaginei frequentar a residência de alguém da escola. Meu plano sempre foi estudar, trabalhar, se formar na graduação desejada e crescer economicamente.

– Não falei nada que tenha causado vergonha mesmo? – insistiu.

– Já disse que não! – como sempre a minha paciência sumiu.

– Mas... – tentou continuar.

– Vai se sentar que o professor chegou. – praticamente mandei.

– Eu já te avisei que o bom humor ligou dizendo que está com saudades? – comentou ao ir na sua carteira.

– Sim. – afirmei para que parasse de falar.

Depois disso nem prestei atenção mais nele, ouvindo o que o homem falava na frente da classe. E quando notei tinham passado três aulas e a hora do intervalo havia chegado.

– Não vai ficar comigo hoje? – questionou ao me parar.

– Estarei ocupada. – falei rapidamente e consegui me despistar dele.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Subi as escadas e fui para o terraço, ficando aliviada por não precisar dar mais explicações ao de olhos azuis. A Jully estava lá e me encarou minuciosamente ao me ver.

– Qual seu telefone? – questionou.

– Para que você quer? – meio rude.

– Para quando eu tiver algo urgente para falar te ligar. – explicou.

– É xxxxxxxx. – finalmente dei.

Depois disso ficamos em silêncio até que terminasse de anotar no celular e ela se levantou rapidamente ao me olhar dos pés à cabeça, parecendo me analisar de maneira detalhada.

– Eu conheço o que tem no pescoço. É um chupão? – parecia horrorizada.

Que droga! E eu pensando que não perceberiam, porque estava quase sumindo.

– Por que acha que é uma marca desse tipo? – sussurrei pela vergonha.

– Mas não é qualquer uma, o formato é diferente dos demais, e até acho que são daquelas que demoram para sarar. Por acaso foi uma pessoa alta, de cabelos castanhos escuros e maravilhoso que cravou os lábios nele? – questionou.

Falando assim até parece que foi um vampiro que me mordeu.

– Pode falar quem acha que é, não me importo. – rolei os olhos.

– O Henry Nagel? – questionou de maneira ansiosa.

– Por acaso aconteceu algo com vocês para achar que foi ele Jully? – perguntei sem responde-la realmente.

Seus olhos perderam a vida e seu sorriso sumiu.

– Melhor nem falar sobre isso. – o tom sombrio.

E então sentou-se no banco e ficou olhando para a multidão que se encontrava no pátio. As mãos entrelaçadas no joelho e a expressão continuava melancólica e chateada.

O que será que ocorreu para se comportar desta maneira? Seriam inimigos? Amigos de infância? Sentia amor platônico pelo mulherengo? Chegaram a namorar algum dia e seu coração foi despedaçado por ele?

O segurança chegou neste instante praticamente correndo.

– Ainda bem que aquela menina acordou, mas passamos um sufoco até que isso ocorresse. – declarou simplesmente ao chegar perto de nós.

– Quem? – disse a morena.

– A Thalia desmaiou no banheiro. – respondi simplesmente.

– Acho que é melhor então vermos se está bem não?

E simplesmente me puxou pela mão, só dando de acenar para o homem de farda antes de descer os degraus. Ao chegar embaixo me soltei dela e tentei ir para a minha turma enquanto passava pelo gramado, mas fui parada por Lorena.

– Queremos falar contigo. – urrou.

– O que foi? – questionei em ira.

– Eu sei que foi você, que sempre teve inveja da gente e resolveu machucar a nossa amiga. – esbravejou.

Olhei mais ao fundo que a Megan parecia nervosa, mas ela não. Aquilo era mentira, eu não iria machuca-la ao ponto de precisar ir na enfermaria. E seria muito injusto me culparem na frente de todos sem prova.

– E-eu... – fui cortada brutalmente.

Deu um tapa em meu rosto e pegou em meu cabelo e me empurrou no chão, fazendo com que o coque se desmanchasse. A outra começou a ajuda-la ao perceber que conseguiria escapar e até revidar. Pareciam me acertar com o salto alto, dar unhadas e socos.

– Vou te mostrar o quanto é ruim apanhar, sua antissocial de merda. – gritou uma delas.

Eu não distinguia mais nem as vozes, rostos ou quem me batia. Colocava os braços no rosto para me proteger e nem sabia se conseguiria sair dali tão cedo. Uma multidão se formou ao nosso redor, e a maioria as incentivava e até riam de mim.

Minha raiva foi tão grande que eu cheguei a chorar. Neste momento todos já estavam lá, até mesmo o diretor. Uns seguranças nos seguraram e nos levaram para a direção sem dizer nada.

– O que deu em vocês para se brigaram no meio do pátio? – a voz dura que nem um trovão.

– Esse monstro deixou a Menezes inconsciente de tanto que bateu nela. – disse a Queen.

Que falsa! Mas infelizmente nem eu sabia quem tinha feito isso.

– Isso é verdade Ortiz? – questionou em minha direção.

– Não. – respondi simplesmente me contorcendo de dor.

– Você é a pior pessoa de todas, tenho certeza que foi você a culpada. – declarou a outra.

– É errado ficar humilhando os outros sabia? – limitou o Sr. Clemente.

– Mas só estou falando a verdade. – revidou.

– Saberei quem machucou a aluna depois de verificar as filmagens, mas quanto ao barraco desnecessário que deram as deixarei de castigo. Uma semana de detenção, que ocorrerão depois das aulas por 1h. – decretou.

– Seria inconveniente de sua parte nos colocar na mesma sala, sendo que não nos entendemos. - declarei.

– Já que se acha tão inteligente para me contrariar e se comportar de maneira rebelde esse ano, ficará amanhã de suspensão. E espero que passe na enfermaria antes de ir embora. E enquanto a Megan e a Lorena, apenas terão uma detenção, que será na sexta-feira também. – mudou a punição.

Sabia que não ia demorar tanto para aliviar para elas. Ficamos em silêncio enquanto elas me miravam de maneira mortal, todavia eu correspondia. Era a mestra nisso. Enquanto o Senhor parecido com o Leôncio ficou mexendo no computador.

– O que estão fazendo ainda aqui? Podem ir. – berrou.

Ao sair notei que o Henry estava escorado a parede de maneira nervosa, tanto que parecia concentrado e até sério. Nada daquele sorriso que fazia com que a maioria das garotas ficassem derretidas por ele.

– Que lindo, ficou me esperando para ir embora comigo é? – questionou a popular.

– Não, vim apenas para saber como a Amy está. – devolveu com raiva.

– M-mas... – o Faustão a interrompeu.

– Estou decepcionado contigo, não tem explicação para o que fez Megan. E faça o favor de não me procurar por enquanto. – esbravejou.

Então foi em minha direção e me abraçou pela cintura com delicadeza, no entanto dei um grito pela dor sentida. Levantei minha cabeça e o vi sorrir para mim e se afastar, sempre me olhando de forma intensa.

– Cuidarei de você, eu prometo. – sussurrou perto de mim.

– Não seja um político ao jurar algo que não poderá cumprir. – devolvi sem vontade.

Mal conseguia abrir a boca por conta dos ferimentos.

– E quem disse que eu jogo palavras ao vento? Se eu falo é porque o farei. – convicto.

– Que horas são? – mudei de assunto.

– 11h38. – respondeu com calma.

– Tenho de pegar o ônibus. – me desesperei.

Amy, você está machucada, primeiro iremos na enfermaria para que ela passe algum produto neles, depois eu te levo para a casa e ao trabalho. Já avisei meu pai sobre isso. – tom autoritário.

– Por favor, deixe-me ir embora. Não quero atrapalhar vocês. – a voz chorosa.

Eu sabia que era um estorvo, e que quem ficar ao meu lado sofrerá muito ao tomar as minha dores. É como cometer um suicídio ou ser extremamente masoquista.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Não tem mais nada o que fazer, a mensagem foi mandada. – declarou.

Tentei andar na frente, mas não consegui por conta da dor. O castanho ao perceber isso me pegou no colo de maneira delicada e terna. Andando pelo corredor comigo em seus braços.

– Está brincando comigo não é? – berrou a Queen.

– Eu falei que não queria mais te ver nesse dia. – comentou no mesmo tom ao se virar.

Tão furioso, de uma forma que nunca o tinha se portar.

– Ela foi a culpada por bater na Thalia. Só colheu o que plantou. – contrariou ao bater um pé no chão.

– Vocês não a deixaram se explicar, eu vi. Nada do que falar fará com que eu me redima contigo. – comentou.

Eu estava em seu colo, mexendo minhas pernas para sair e não ter que a mirar mais. Já que seus olhos estavam me fulminando de uma maneira tão diabólica que me deixava com receio. E sabia que iriam se vingar por estar com o castanho nesse instante.

Simplesmente a ignorou depois disso e me levou para a enfermaria, acompanhando-me enquanto a mulher passava os remédios e me dava um sermão. Após o que ocorreu ele novamente me pegou em seus braços com delicadeza e me carregou até o carro que nos esperava perto do portão da escola.

– Ponha-me no chão que eu não sou um bebê. – reclamei.

Ele riu e me posicionou no banco de trás, colocando o cinto de segurança para me prender. Sentando-se na frente e se admirando no espelho antes de se ajeitar.

– Bom dia Amélia, meu filho fala muito de você. – começou o homem.

– Desejo o mesmo. – devolvi sem tocar no outro assunto.

Os dois se entreolharam neste momento.

– Vamos te esperar para te levar ao trabalho. – o pai ao parar na frente da minha casa.

Corri dentro dos meus limites para dentro dela e coloquei o uniforme, escovei os dentes e coloquei o desodorante. E em poucos minutos já estava dentro do veículo com a ajuda do de olhos azuis. Fomos até a loja de discos em silêncio. E quando fui entrar no porta o Nagel me parou.

– Irei te pegar amanhã para irmos ao colégio. – declarou com a voz rouca.

– Estarei suspensa nesse dia. – rebati.

– Então a partir de segunda irá de carona comigo. – sussurrou ao me abraçar e se afastar antes que eu o respondesse.

Dei de ombros e notei que eram 12h21, dando tempo de almoçar para começar o turno. Sem costurar o gorro dessa vez, até porque é muito mais importante saciar minha fome. Ninguém merece ter de e o encarar praticamente o dia inteiro.

E a cada vez que o tempo passava algo me incomodava, como se uma coisa muito ruim fosse acontecer. Como se estar com a cabeça doendo, braços e pernas machucados e um corte no rosto não fosse o bastante. E também o que a Jully tinha falado no recreio, deixando-me muito curiosa para descobrir a verdade.