Pare! Não se aproxime
17 - Quinta-feira que mais parecia halloween
Capítulo dezessete
Quinta-feira que mais parecia halloween
“Será que você vai saber o quanto penso em você com o meu coração?”
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Despertei mais cansada do que dormi, a dor se alastrava pelo meu corpo por ter aumentado um pouco a intensidade dos meus exercícios depois de dias sem pisar na academia, e por conta de estar machucada fiquei desacostumada. Peguei o moletom de bigode branco, calça do uniforme – mesmo não sendo obrigatório vesti-la – e o tênis surrado com quadradinhos vermelho e branco.
Fiz o coque no caminho para o ônibus e prendi com a caneta reserva. Passei pelo corredor e quando faltavam 9 minutos para as aulas começarem aproximadamente vi algo que me deixou chocada ao entrar no toalete.
Thalia estava desmaiada, meio que sentada, e com alguns hematomas espalhados pelo corpo. Seu rosto um pouco ensanguentado e estava mais pálida que o normal. Sai correndo e fui até a enfermaria avisar sobre o que ocorreu.
– Tem uma menina desacordada no banheiro. – praticamente gritei.
Ela pode até ter me batido, humilhado e feito horrores comigo, mas não poderia deixa-la morrer. É omissão de socorro. E isso é crime.
– Vem comigo para me mostrar onde é. – declarou ao passar pela porta.
– Está bem. - confirmei em desespero.
No meio do caminho viu o segurança, que nos seguiu ao falarmos sobre o que tinha acontecido. Ao chegar no local ele a pegou no colo e a levou para a maca mais próxima da sala, podendo então ser liberada para ir a aula. Sentei-me na carteira que ficava de frente para o armário e fiquei lendo um pouco a apostila e rabiscando no caderno.
E de repente passos apressados fizeram-me me distrair.
– Eu falei algo constrangedor quando te telefonei Amy? – questionou.
Foi a primeira frase dita ao entrar, sem o costumeiro “bom dia”.
– Por quê? – fiz-me de desentendida.
– É que tem uma ligação realizada para a sua casa perto das 2h de quarta. – declarou.
– Não lembra o que disse? – perguntei sem vontade.
– Praticamente acordei com amnésia sobre o que fiz no dia anterior. Comentei alguma coisa que tenha te magoado? – parecia um pouco preocupado.
– Apenas perguntou se eu iria na sua casa no sábado. – menti.
Se esqueceu é porque não era importante. Então deixei para lá.
– E você vai? – olhou-me em expectativa.
– Por acaso tenho escolha? – rebati.
– Não. - respondeu aos risos.
Seu sorriso pareceu engrandecer e ficar mais brilhante nesse instante.
– Então já sabe a resposta. – um pouco chateada.
Não acredito que daqui dois dias estarei na casa de um garoto. Eu, em todos meus dezesseis anos, nunca imaginei frequentar a residência de alguém da escola. Meu plano sempre foi estudar, trabalhar, se formar na graduação desejada e crescer economicamente.
– Não falei nada que tenha causado vergonha mesmo? – insistiu.
– Já disse que não! – como sempre a minha paciência sumiu.
– Mas... – tentou continuar.
– Vai se sentar que o professor chegou. – praticamente mandei.
– Eu já te avisei que o bom humor ligou dizendo que está com saudades? – comentou ao ir na sua carteira.
– Sim. – afirmei para que parasse de falar.
Depois disso nem prestei atenção mais nele, ouvindo o que o homem falava na frente da classe. E quando notei tinham passado três aulas e a hora do intervalo havia chegado.
– Não vai ficar comigo hoje? – questionou ao me parar.
– Estarei ocupada. – falei rapidamente e consegui me despistar dele.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Subi as escadas e fui para o terraço, ficando aliviada por não precisar dar mais explicações ao de olhos azuis. A Jully estava lá e me encarou minuciosamente ao me ver.
– Qual seu telefone? – questionou.
– Para que você quer? – meio rude.
– Para quando eu tiver algo urgente para falar te ligar. – explicou.
– É xxxxxxxx. – finalmente dei.
Depois disso ficamos em silêncio até que terminasse de anotar no celular e ela se levantou rapidamente ao me olhar dos pés à cabeça, parecendo me analisar de maneira detalhada.
– Eu conheço o que tem no pescoço. É um chupão? – parecia horrorizada.
Que droga! E eu pensando que não perceberiam, porque estava quase sumindo.
– Por que acha que é uma marca desse tipo? – sussurrei pela vergonha.
– Mas não é qualquer uma, o formato é diferente dos demais, e até acho que são daquelas que demoram para sarar. Por acaso foi uma pessoa alta, de cabelos castanhos escuros e maravilhoso que cravou os lábios nele? – questionou.
Falando assim até parece que foi um vampiro que me mordeu.
– Pode falar quem acha que é, não me importo. – rolei os olhos.
– O Henry Nagel? – questionou de maneira ansiosa.
– Por acaso aconteceu algo com vocês para achar que foi ele Jully? – perguntei sem responde-la realmente.
Seus olhos perderam a vida e seu sorriso sumiu.
– Melhor nem falar sobre isso. – o tom sombrio.
E então sentou-se no banco e ficou olhando para a multidão que se encontrava no pátio. As mãos entrelaçadas no joelho e a expressão continuava melancólica e chateada.
O que será que ocorreu para se comportar desta maneira? Seriam inimigos? Amigos de infância? Sentia amor platônico pelo mulherengo? Chegaram a namorar algum dia e seu coração foi despedaçado por ele?
O segurança chegou neste instante praticamente correndo.
– Ainda bem que aquela menina acordou, mas passamos um sufoco até que isso ocorresse. – declarou simplesmente ao chegar perto de nós.
– Quem? – disse a morena.
– A Thalia desmaiou no banheiro. – respondi simplesmente.
– Acho que é melhor então vermos se está bem não?
E simplesmente me puxou pela mão, só dando de acenar para o homem de farda antes de descer os degraus. Ao chegar embaixo me soltei dela e tentei ir para a minha turma enquanto passava pelo gramado, mas fui parada por Lorena.
– Queremos falar contigo. – urrou.
– O que foi? – questionei em ira.
– Eu sei que foi você, que sempre teve inveja da gente e resolveu machucar a nossa amiga. – esbravejou.
Olhei mais ao fundo que a Megan parecia nervosa, mas ela não. Aquilo era mentira, eu não iria machuca-la ao ponto de precisar ir na enfermaria. E seria muito injusto me culparem na frente de todos sem prova.
– E-eu... – fui cortada brutalmente.
Deu um tapa em meu rosto e pegou em meu cabelo e me empurrou no chão, fazendo com que o coque se desmanchasse. A outra começou a ajuda-la ao perceber que conseguiria escapar e até revidar. Pareciam me acertar com o salto alto, dar unhadas e socos.
– Vou te mostrar o quanto é ruim apanhar, sua antissocial de merda. – gritou uma delas.
Eu não distinguia mais nem as vozes, rostos ou quem me batia. Colocava os braços no rosto para me proteger e nem sabia se conseguiria sair dali tão cedo. Uma multidão se formou ao nosso redor, e a maioria as incentivava e até riam de mim.
Minha raiva foi tão grande que eu cheguei a chorar. Neste momento todos já estavam lá, até mesmo o diretor. Uns seguranças nos seguraram e nos levaram para a direção sem dizer nada.
– O que deu em vocês para se brigaram no meio do pátio? – a voz dura que nem um trovão.
– Esse monstro deixou a Menezes inconsciente de tanto que bateu nela. – disse a Queen.
Que falsa! Mas infelizmente nem eu sabia quem tinha feito isso.
– Isso é verdade Ortiz? – questionou em minha direção.
– Não. – respondi simplesmente me contorcendo de dor.
– Você é a pior pessoa de todas, tenho certeza que foi você a culpada. – declarou a outra.
– É errado ficar humilhando os outros sabia? – limitou o Sr. Clemente.
– Mas só estou falando a verdade. – revidou.
– Saberei quem machucou a aluna depois de verificar as filmagens, mas quanto ao barraco desnecessário que deram as deixarei de castigo. Uma semana de detenção, que ocorrerão depois das aulas por 1h. – decretou.
– Seria inconveniente de sua parte nos colocar na mesma sala, sendo que não nos entendemos. - declarei.
– Já que se acha tão inteligente para me contrariar e se comportar de maneira rebelde esse ano, ficará amanhã de suspensão. E espero que passe na enfermaria antes de ir embora. E enquanto a Megan e a Lorena, apenas terão uma detenção, que será na sexta-feira também. – mudou a punição.
Sabia que não ia demorar tanto para aliviar para elas. Ficamos em silêncio enquanto elas me miravam de maneira mortal, todavia eu correspondia. Era a mestra nisso. Enquanto o Senhor parecido com o Leôncio ficou mexendo no computador.
– O que estão fazendo ainda aqui? Podem ir. – berrou.
Ao sair notei que o Henry estava escorado a parede de maneira nervosa, tanto que parecia concentrado e até sério. Nada daquele sorriso que fazia com que a maioria das garotas ficassem derretidas por ele.
– Que lindo, ficou me esperando para ir embora comigo é? – questionou a popular.
– Não, vim apenas para saber como a Amy está. – devolveu com raiva.
– M-mas... – o Faustão a interrompeu.
– Estou decepcionado contigo, não tem explicação para o que fez Megan. E faça o favor de não me procurar por enquanto. – esbravejou.
Então foi em minha direção e me abraçou pela cintura com delicadeza, no entanto dei um grito pela dor sentida. Levantei minha cabeça e o vi sorrir para mim e se afastar, sempre me olhando de forma intensa.
– Cuidarei de você, eu prometo. – sussurrou perto de mim.
– Não seja um político ao jurar algo que não poderá cumprir. – devolvi sem vontade.
Mal conseguia abrir a boca por conta dos ferimentos.
– E quem disse que eu jogo palavras ao vento? Se eu falo é porque o farei. – convicto.
– Que horas são? – mudei de assunto.
– 11h38. – respondeu com calma.
– Tenho de pegar o ônibus. – me desesperei.
– Amy, você está machucada, primeiro iremos na enfermaria para que ela passe algum produto neles, depois eu te levo para a casa e ao trabalho. Já avisei meu pai sobre isso. – tom autoritário.
– Por favor, deixe-me ir embora. Não quero atrapalhar vocês. – a voz chorosa.
Eu sabia que era um estorvo, e que quem ficar ao meu lado sofrerá muito ao tomar as minha dores. É como cometer um suicídio ou ser extremamente masoquista.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Não tem mais nada o que fazer, a mensagem foi mandada. – declarou.
Tentei andar na frente, mas não consegui por conta da dor. O castanho ao perceber isso me pegou no colo de maneira delicada e terna. Andando pelo corredor comigo em seus braços.
– Está brincando comigo não é? – berrou a Queen.
– Eu falei que não queria mais te ver nesse dia. – comentou no mesmo tom ao se virar.
Tão furioso, de uma forma que nunca o tinha se portar.
– Ela foi a culpada por bater na Thalia. Só colheu o que plantou. – contrariou ao bater um pé no chão.
– Vocês não a deixaram se explicar, eu vi. Nada do que falar fará com que eu me redima contigo. – comentou.
Eu estava em seu colo, mexendo minhas pernas para sair e não ter que a mirar mais. Já que seus olhos estavam me fulminando de uma maneira tão diabólica que me deixava com receio. E sabia que iriam se vingar por estar com o castanho nesse instante.
Simplesmente a ignorou depois disso e me levou para a enfermaria, acompanhando-me enquanto a mulher passava os remédios e me dava um sermão. Após o que ocorreu ele novamente me pegou em seus braços com delicadeza e me carregou até o carro que nos esperava perto do portão da escola.
– Ponha-me no chão que eu não sou um bebê. – reclamei.
Ele riu e me posicionou no banco de trás, colocando o cinto de segurança para me prender. Sentando-se na frente e se admirando no espelho antes de se ajeitar.
– Bom dia Amélia, meu filho fala muito de você. – começou o homem.
– Desejo o mesmo. – devolvi sem tocar no outro assunto.
Os dois se entreolharam neste momento.
– Vamos te esperar para te levar ao trabalho. – o pai ao parar na frente da minha casa.
Corri dentro dos meus limites para dentro dela e coloquei o uniforme, escovei os dentes e coloquei o desodorante. E em poucos minutos já estava dentro do veículo com a ajuda do de olhos azuis. Fomos até a loja de discos em silêncio. E quando fui entrar no porta o Nagel me parou.
– Irei te pegar amanhã para irmos ao colégio. – declarou com a voz rouca.
– Estarei suspensa nesse dia. – rebati.
– Então a partir de segunda irá de carona comigo. – sussurrou ao me abraçar e se afastar antes que eu o respondesse.
Dei de ombros e notei que eram 12h21, dando tempo de almoçar para começar o turno. Sem costurar o gorro dessa vez, até porque é muito mais importante saciar minha fome. Ninguém merece ter de e o encarar praticamente o dia inteiro.
E a cada vez que o tempo passava algo me incomodava, como se uma coisa muito ruim fosse acontecer. Como se estar com a cabeça doendo, braços e pernas machucados e um corte no rosto não fosse o bastante. E também o que a Jully tinha falado no recreio, deixando-me muito curiosa para descobrir a verdade.
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