Um Cupido (quase) Flechado

Capítulo 13 - Oh Captain My Captain


Serena

Cheguei em casa mais tarde do que o normal no dia seguinte. Gritei o nome de Thomas e logo meu irmão desceu as escadas. Ao ver as sacolas plásticas em minha mão, ele ergueu uma sobrancelha e disse:

— Deixe-me adivinhar: Heath vai vir para cá e você quer que eu dê o fora.

Arregalei os olhos, ultrajada.

— Deus, não! Você me faz soar como uma irmã terrível! — Quando ele abriu a boca para concordar, completei: — Cale a boca. Não, não, não. Vamos fazer uma noite em família.

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— Ah, é? — seu tom era cético. — Amanhã, talvez. Tenho planos hoje.

— Não — retorqui, autoritária. — Noite em família, agora.

Thomas ficou em silêncio por um momento.

— Está bem — ele cedeu. — Mas só porque estou curioso para saber onde isso vai dar.

— Ótimo — defini, pondo as sacolas na mesa da cozinha. Tirei uma lasanha congelada de uma delas. — Jantar.

— Bem, isso é um declínio em relação a ontem à noite.

— Shhh — pedi. — Estou me esforçando. Não seja cuzão.

Ele revirou os olhos, mas colocou a lasanha no micro-ondas e sentou-se ao meu lado.

— Vamos lá, querida irmã. Como foi seu dia?

Celeste

— Você fez o quê?! — Damien estreitou os olhos.

— É só uma festa, não é grande coisa.

— Você não faz ideia! — ele bufou, passando as mãos pelo cabelo louro. — Eu não vou. Resolva-se, eu não vou.

— Se eu não for com você, Christopher vai insistir.

— Espere. Christopher Jacobs, o cara da Audrey?

— Esse mesmo.

Ele suspirou.

— De novo, não. Por favor. De. Novo. Não. Se resolva, Celeste, pelo amor de Deus.

— Como?

— Eu não sei! — agora ele gritava a plenos pulmões. — Eu não sei! Só não estrague tudo. Eu só quero sair daqui o mais rápido possível.

Heath

— Não tem soja o suficiente no meu Soy Latte — o cliente cuzão reclamou.

— Ele é constituído de soja. Por isso se chama Soy Latte. Acredite em mim, tem soja nele.

Basdun, o que está acontecendo aqui? — minha chefe galesa, Cristyn, apareceu no balcão.

— O prezado cliente acha que não tem soja no Soy Latte dele — Meu telefone começou a tocar. Era uma gravação de Serena cantando o refrão de American Idiot de qualquer jeito e rindo, já que não sabia que eu estava gravando. Ela nunca me ligava enquanto eu estava no trabalho, até porque ela deveria estar no estágio. — Cristyn, me dá licença um minuto.

Corri até os fundos e atendi o telefone.

— Argent? — Ouvi um soluço. — Serena?

Heath, eu... Eu não tô bem.

— Por que não? Você tá passando mal? Onde você tá?

Eu... Eu tô no estágio, mas... não na sala. Eu meio que fugi.

— Por quê?

Robin. Robin Williams.

— Quem?

Ele... — ela fungou, fazendo uma pausa. — Ele morreu.

— Quem é esse cara, Argent? Você está me deixando preocupado, minha chefe vai ficar puta.

Eu... Desculpe. Eu não sabia mais para quem ligar. Deus, isso é tão idiota. Ele é um ator. De Sociedade dos Poetas Mortos. O professor, sr. Keating.

Eu nunca assistira Sociedade dos Poetas Mortos, mas sabia o quanto o filme, e aquele personagem em particular, significavam para ela. Então, sem titubear, falei:

— Chego aí em dez minutos.

Corri de volta ao balcão.

— Cristyn, emergência, uma pessoa muito importante para a minha namorada morreu. A mãe dela está viajando, ela não tem mais ninguém. Eu preciso ir, está bem? Espero que entenda — eu a abracei. — Você entende, certo?

— Eu vou entender se você me largar agora, basdun!

— Por isso eu te amo, Cristyn! — tirei o avental e corri para a picape.

* * *

Ela estava uma bagunça. Os olhos inchados, o rosto vermelho, o cabelo caído no rosto, os sapatos jogados a alguns metros dela. Eu corri e a abracei, acariciando suas mechas douradas.

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— Eu sinto muito, Argent. Sério.

Ela assentiu, me abraçando mais forte.

— Eu quero assistir com você. Eu preciso assistir, e preciso mostrar para alguém, eu não quero que o legado dele seja perdido. Eu não quero, Heath, você entende? Ele... Ele...

— Eu sei — beijei sua testa. — Vamos?

Ela suspirou.— Tem mais uma coisa que eu preciso fazer.

Ela me arrastou para dentro da agência até o 11º andar. E então, sem bater, entrou em uma sala aleatória. Um cara consideravelmente jovem para um professor estava dando aula.

— Olha quem decidiu voltar — ele ergueu uma sobrancelha.

Serena correu até uma cadeira vazia, jogando os sapatos no chão, e fez a última coisa que eu esperaria: ela subiu na carteira e gritou:

— OH CAPTAIN, MY CAPTAIN!

Todos a olharam por um minuto, surpresos, até que o professor repetiu o feito dela.

— OH CAPTAIN, MY CAPTAIN!

Os alunos que sabiam o que eles estavam fazendo começaram, mas logo todos na sala haviam feito o gesto. As lágrimas começaram a escorrer dos olhos de Serena de novo e ela murmurou:

— Aproveitem o dia, garotos. Façam de suas vidas algo extraordinário.

E então apenas recolheu os sapatos, fungou mais uma vez e saiu da sala, me puxando consigo.

—... Agora podemos ir.

* * *

Ela não disse nada o caminho inteiro. Quando chegamos à casa dela, ela pegou seu DVD e o colocou para rodar, pegando o controle remoto antes de se jogar no sofá. Sentei-me ao lado dela e passei os braços ao seu redor.

Ela falava todas as frases de efeito junto com o filme, sem desviar os olhos por nem um minuto, e devo dizer que era um filme incrível. Eu entendia o que ela via no sr. Keating. Ele era um professor fodão, realmente.

* * *

Eu chorei no fim do filme. Talvez porque Serena estivesse chorando, talvez porque fosse tão injusto, talvez porque eu não esperava nada daquilo quando comecei a assistir. Ela riu de mim, mas pude ver certa satisfação.

Ficamos lá por muitos minutos, atônitos, até que eu a puxei para a cozinha. Subimos na mesa, gritamos Oh Captain My Captain mais uma vez e ela me abraçou com força, agradecida. Mas eu não lhe tinha feito nenhum favor. Parecia-me engraçado que ela não entendesse isso.