Unica Et Opposita

Capítulo XXXVII


Lizzie

— Lizzie, o que acha desse aqui?

Corri os olhos pelo vestido azul claro que Jude segurava diante do corpo e abri um sorriso de lado.

— Tá lindo! Você vai ficar linda com ele, Jude!

Vi o rosto de Jude corar e acabei sorrindo novamente.

— Então eu vou vestir esse.

Quase não demorou para que ela me chamasse no closet, e eu tive que me segurar para não beijar-lhe as costas nuas enquanto fechava o vestido.

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— Tá pronta? — perguntei então, vendo-a se analisar no espelho enquanto arrumava a saia.

— Ainda quero arrumar o cabelo.

Analisei-a.

— Pra mim tá bonito assim.

— Lizzie, se eu colocar um abacaxi na cabeça você vai achar bonito.

— Na verdade eu vou achar estranho. Mas não tem problema; você é linda de todo jeito.

Ela balançou a cabeça, um sorriso leve nos lábios, e segurou-me a mão.

— Então vamos logo embora. Tenho medo do que a sua avó pode fazer comigo se nos atrasarmos.

Acabei rindo baixo e segui Jude para fora do quarto, sem deixar de rir de suas brincadeiras em relação a minha avó enquanto descíamos as escadas.

E então, de repente, nós duas congelamos, quase ao mesmo tempo. Vi a garota ao meu lado enrijecer, e mesmo pela visão periférica, pude enxergá-la trincando os dentes.

— Jude, aí está você!

Até mesmo eu senti um arrepio percorrer-me a espinha, sem conseguir sustentar totalmente o olhar implacável da mulher de cabelos claros sobre mim, vendo a ruga de reprovação entre as sobrancelhas.

— Oi, mamãe. — engoli a surpresa ao ver Jude sorrir docemente, como se o susto de antes houvesse sido apenas impressão. — Bem vinda de volta! Cadê o papai?

Os olhos da senhora Ward percorreram o vestido da garota ao meu lado, e, exatamente como Jude fizera, vi a leve reprovação transformar-se em um sorriso simpático.

— Você não me apresentou a sua amiga.

— Ah, sim. Essa é a Elizabeth. Ela é do St. Leonards, e a gente já está saindo.

— Olá, Elizabeth. — a mulher sorriu cordialmente, acenando com a cabeça um cumprimento educado. Senti meu pulso acelerar.

— Bom dia, Sra. Ward. — respondi, com a maior segurança que pude conseguir.

Ela sorriu e, por alguns segundos, comecei a pensar em tudo que Jude já dissera sobre ela.

— Não vou atrasá-las mais. — ela concluiu, depois de encarar-nos por alguns segundos. — Bom passeio, minha filha. E prazer em lhe conhecer, Elizabeth.

Abri o sorriso mais cordial que pude enquanto Jude agradecia à mulher, e, instantes depois, estávamos dentro do primeiro táxi que passou. Foi só no momento em que a porta bateu que vi a expressão dela mudar diante de mim, e senti meu coração apertar ao ver seus olhos baixos.

— Ei. — murmurei, pensando se seria má ideia abraçá-la. Dando de ombros, passei o braço por sua cintura. — Não fica assim, vai.

Vi-a torcer as mãos sobre o colo e suspirei.

— Jude, relaxa. Não aconteceu nada de mais. — murmurei, segurando entre os dedos uma mecha do seu cabelo.

— Mas Lizzie... — ela suspirou. — e se ela... Sei lá?

— Não tem nada de mais, Jude. A gente não fez nada, ela não viu nada. Para ela, eu sou só sua amiga estranha.

Vi uma sombra de sorriso brincar no canto do seu lábio.

— Você não é estranha, Lizzie.

Acabei sorrindo também, e fiz uma leve carícia em seu rosto.

— Duvido que sua mãe ache o mesmo.

Jude

Com a ajuda de Lizzie e seus gracejos e sorrisos fáceis, não demorei a esquecer um pouco o pequeno incidente na sala da minha casa. E, ao chegarmos ao local onde a Sra. Bennet trabalhava, deixei aquilo completamente de lado, ao ver a avó da minha colega de quarto receber-nos com um sorriso grande para os padrões delas, abraçando-me apertado.

— Que bom que chegaram, meninas! — ela exclamou, enquanto meus olhos corriam pelo refeitório grande e bem decorado, parando na enorme árvore de Natal bem no centro, em toda sua imponência e luzes vermelhas. — Elizabeth, minha filha, lembra-se do Sr. Connor?

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Lizzie confirmou com a cabeça.

— Ele sentiu a sua falta. Me perguntou de você, disse que gostou da conversa que tiveram da última vez.

A minha colega de quarto sorriu de lado, mexendo nos cabelos, e eu me perguntei o que ela teria de assunto com um idoso, enquanto me admirava de sua atenção e paciência.

— Eu vou lá conversar com ele. — ela meneou a cabeça, e então se voltou para mim. — Vem, Jude, vou te apresentar tudo.

Abri um sorriso tímido, e quase pude perceber a Sra. Bennet acenando aprovativamente com a cabeça quando Lizzie segurou a minha mão na dela, puxando-me pelo salão.

Nos momentos seguintes, fui guiada pela minha colega de quarto por todo o refeitório do lar, sendo apresentada a diversos senhores e senhoras — alguns muito fofinhos, e outros um tanto rabugentos — e suas respectivas famílias.

— Elizabeth! — a voz da Sra. Bennet soou quando estávamos diante do grande pinheiro de Natal, Lizzie com as mãos nos meus ombros.

— Deus, vó, não precisa gritar. — a garota sorriu de lado, enquanto nos aproximávamos do chamado. — O que foi?

— Vamos colocar a ceia daqui a pouco. — ela anunciou simplesmente, e Lizzie assentiu com a cabeça.

— Jude, quer me esperar aqui? Agora eu vou ajudar as meninas da cozinha com a ceia.

Ergui os olhos para ela.

— Não posso ajudar também?

Ela sorriu de lado, fazendo um carinho suave no meu queixo.

— Se quiser.

E, assim, logo me vi carregando uma travessa assustadoramente grande de batatas assadas junto a Lizzie, enquanto diversas outras pessoas levavam mais pratos extremamente perfumados até a mesa maior.

— Isso é pesado. — murmurei, vendo o sorriso de Lizzie.

— Não quer que eu carregue? Sei lá, você parece delicada demais para essas coisas.

Balancei a cabeça, rindo.

— Nem parece que você me conhece há tanto tempo.

Lizzie riu também e, no segundo seguinte, deixamos a enorme travessa sobre a mesa.

Quando todos os pratos já estavam acomodados, a Sra. Bennet e outras duas mulheres postaram-se à frente da árvore de Natal. Sorrindo, elas agradeceram a presença de todos e deram as mãos, dizendo uma breve oração que me surpreendi em ver Lizzie acompanhando num silencioso movimento de lábios. Momentos depois, estávamos todos sentados ao redor da mesa grande, e uma mulher de meia idade distribuía crackers aos convidados.

— E aí, quem abre primeiro? — Lizzie olhou-me, segurando dois rolinhos envoltos em papel brilhante em formato de bombom.

— Você? — ergui as sobrancelhas, numa sugestão.

— Ok. O verde é seu, o vermelho é meu.

Confirmei com a cabeça, colocando o embrulho verde no colo e segurando com a mão esquerda a ponta que Lizzie me entregava.

— Um, dois...

— Três e...

— Já! — exclamamos e, juntas, puxamos as pontas do cracker, até ouvirmos um pequeno estouro.

Lizzie pegou nas mãos o brinde, uma coroa de papel, e colocou-a na minha cabeça. Acabei rindo antes de tirá-la, colocando no colo.

— Eu fiquei com o brinde, você fica com o bilhete. — ela piscou, entregando-me um papel branco dobrado. — Leia em voz alta, okay?

Confirmei com a cabeça e tomei o papelzinho de sua mão, desdobrando-o rapidamente e correndo os olhos na pequena frase escrita.

Jude, quer namorar comigo?”

Arregalei os olhos, um sorriso largo abrindo-se nos meus lábios sem querer. Olhei para Lizzie, que tinha seu sorriso de sempre no rosto.

— Lizzie! — exclamei, sem conseguir dizer mais nada.

Ela riu, erguendo a sobrancelha.

— E aí? Sim ou não?

Comecei a rir, esquecendo completamente que estávamos diante de uma mesa com algumas dezenas de pessoas, e abracei Lizzie por reflexo, beijando-lhe o canto dos lábios.

— Claro que quero.

Ela voltou a sorrir de lado, abraçando-me a cintura, e logo voltamos a nossas posições iniciais.

— O que vai querer comer? — ela voltou seu olhar para mim, colocando diante de nós um prato que eu não a vi pegar.

Encolhi os ombros, ainda sentindo o coração acelerado, e sem tirar o sorriso dos lábios.

— O que você quiser, sei lá. É tanta coisa.

Ela sorriu de lado e levantou-se, e eu observei enquanto ela pedia a uma mulher do outro lado da mesa para que servisse-lhe um pedaço de alguma coisa.

Enquanto comíamos, senti seus dedos roçarem os meus e voltei a sorrir, segurando a sua mão com força. Trocamos um olhar cúmplice e a vi abrir um de seus sorrisos largos, e não pude imaginar melhor presente de Natal.