Unica Et Opposita

Capítulo XXIX


Lizzie

– Relaxa, Jude, vai dar tudo certo.

A garota que dividia o quarto comigo mordeu o lábio e respirou fundo, me fazendo pensar que, se estivéssemos sozinhas, eu a abraçaria naquele momento.

– Eu estou nervosa.

Sorri de lado.

– Mas não é nem você quem vai apresentar! A Karen que foi sorteada, e ela está afiada na matéria. Isso sem falar que a professora te adora.

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Vi um sorriso despontar em seus lábios, seguido de uma risadinha.

– Tudo bem. Acho que vou me acalmar.

Ri baixo.

– Acho bom.

Era novamente sexta-feira. Havíamos apresentado e entregado grande parte dos trabalhos, e agora apenas uma tarde nos separava do tão esperado feriado de Natal. Naquele dia as alunas escolhidas pela professora apresentariam o trabalho de Biologia, que era um dos únicos que faltavam. E então, teríamos férias.

E, para a minha surpresa, eu estava ansiosa. Não que isso fosse surpreendente, mas era um tanto incomum em mim. Normalmente, eu não sentia ansiedade, curiosidade pelo futuro. Isso só costumava acontecer em algumas situações especiais, principalmente envolvendo outras pessoas, que não eu.

Suspirei, sentindo uma agitação ao mesmo tempo estranha e conhecida no estômago, segundos antes de ouvir a sala explodir em palmas.

– Meus parabéns, Karen. Ótima apresentação. – A professora inclinou a cabeça e então voltou-se para eu e Jude. – E meus parabéns a vocês duas, pelo trabalho.

Acenamos com a cabeça em agradecimento e Karen veio em nossa direção, dando pequenos pulinhos e sorrindo. Jude, ao meu lado, parecia igualmente animada, e foi logo parabenizá-la, com a minha concordância ao lado.

Quando o sinal tocou, minha colega de quarto sorria.

– Estamos quase livres! – Exclamou, fazendo-me sorrir de lado enquanto andávamos em direção ao refeitório.

Anne, que parecia ter se materializado ao nosso lado quando chegamos à escada, também sorriu.

– Jude, você animada pelas férias? – Perguntou, o tom surpreso. E então, voltando os olhos para mim, com um ar entendido. – É um milagre.

Vi a minha colega de quarto corar e rir ao mesmo tempo, mordendo o lábio então, e olhando-me antes de se sentar no banco.

– É. Milagres acontecem. – Sorriu, me fazendo sorrir também.

– Não sei se isso é bem um milagre. – Uma voz com um leve tom de deboche soou, fazendo com que desviássemos o olhar. – Oi, Anne.

– Oi, Rebecca. – A garota loira acenou com a cabeça, uma cordialidade fria.

– Eu tenho mais o que fazer, então vou falar logo. – Seu olhar recaiu sobre eu e Jude, e então voltou para Anne. – Vou sair hoje. Você sabe, para ver Richard. – Vi-a dar ênfase em “ver” e “Richard”, como se quisesse mostrar que possuía segundas intenções. – Ou seja, não vou dormir no chalé.

A loira deu de ombros com um ar de enfado.

– Não vou acobertar nada.

– Que seja, só vim para avisar. – E, voltando o olhar para Jude. – Espero que pelo menos você ainda seja normal. Até mais.

Sem responder, Anne observou com um olhar afiado Rebecca se afastar. Voltei-me para Jude, percebendo a gravidade daquela conversa apenas quando vi seus olhos baixos, o lábio mordido numa expressão um tanto aflita.

Dedos gelados agarraram o meu estômago e eu busquei Anne com o olhar.

– Tem alguma chance disso ter se espalhado?

Anne hesitou um pouco.

– Eu não ouvi nada, absolutamente. E nem vieram falar comigo. Pelo que eu conheço desse colégio, se tivesse um boato desses correndo, não teríamos mais paz. – E, dando de ombros. – Ela deve ter falado aquilo só para assustar.

Toquei suavemente o braço de Jude, sorrindo de leve para ela.

– Pode ficar tranquila, Jude. – Anne sorriu, segurando-lhe a mão sobre a mesa. – Ninguém sabe disso.

– Nós somos discretas. – Sorri de lado. – Ou melhor, eu tento.

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Vi um sorriso despontar dos lábios de Jude e sorri junto, aliviada. Em pouco tempo, o assunto entre nós três já havia voltado ao tom alegre de antes.

Ao final do almoço, tivemos aula de Física. A professora permitiu que usássemos aquele horário para finalizar o trabalho, que deveria ser entregue naquele dia, e a sala acabou-se dividindo em dois polos: o grupo de meninas que se voltou para a professora, a fim de ajuda e o outro, que, sem paciência de ter de esperar para ter sua dúvida explicada, preferiu pedir a minha ajuda. E, daquela forma, mesmo tendo terminado o meu trabalho, passei o horário refazendo-o e explicando suas questões. O horário que se seguiu, Matemática, correu exatamente idêntico ao de Física, e ao final da aula eu me sentia tão cansada quanto se houvesse passado o dia inteiro fazendo trabalhos.

Ao entrar no chalé, bocejei.

– Já com sono, Lizzie? – Jude sorriu, olhando-me.

Sorri de lado.

– Aquelas meninas me cansaram.

Vi-a com uma certa censura na expressão.

– Eu não devia ter deixado elas abusarem assim. Você já tinha conseguido se cansar o suficiente sozinha.

Voltei a sorrir, me voltando para a janela apenas para sentir o vento frio que vinha dela.

– Não devia ter deixado? Ia brigar com todas elas para cuidar de mim?

Jude sorriu, aproximando-se de mim e assentindo rapidamente, uma expressão travessa no rosto.

– Mas Jude, elas estavam com dúvidas. Eu ia deixá-las com dificuldade?

Minha linda colega de quarto empinou o nariz, cruzando os braços e virando-se de costas para mim.

– Se se importa tanto assim, vai lá estudar com elas.

Sorri sem querer, percebendo que Jude nem se dava ao trabalho de esconder o ciúme. Com um sorriso de lado, fechei a janela, andando até ela.

– Eu não iria de jeito nenhum. – Respondi, abraçando-a por trás. – Você sabe que não me importo com elas.

Percebi que ela suprimiu um sorriso, olhando para o outro lado.

– Ah, Jude. – Afastei o seu cabelo do ombro esquerdo, deixando o pescoço macio a mostra. – Você sabe bem quem é a única aqui com quem eu me importo assim.

Abaixei o rosto, pousando-lhe um beijo casto no pescoço.

– Você sabe que é você. – Falei baixo, sem afastar os lábios de seu pescoço, sentindo-a se arrepiar e estremecer nos meus braços.

– Lizzie... – Ela murmurou, a voz baixinha e eu sorri, fazendo-a se virar para mim.

Segurei o seu queixo e roubei-lhe um selinho inocente, que foi interrompido pelo som da janela batendo, antes que pudéssemos avançar um pouco mais.

– Esse vento está louco. – Jude riu então, enquanto eu ia novamente fechar, e agora trancar, a janela.

– Não duvido que logo comece a nevar.



E então, o feriado de Natal chegou, e não tardou para que eu e Jude acordássemos às sete da manhã do sábado, ouvindo por todo o colégio o burburinho de algumas centenas de garotas indo embora.

Nós não nos demoramos nos vestindo ou arrumando as malas, mas, mesmo que esse processo tenha sido rápido, aquilo não significava, de forma alguma, que queríamos ir embora logo. Na verdade, o sentimento que se apossava de mim era confuso; misturava a satisfação de não ter aulas por pouco menos de mês com um tipo de receio, preguiça de se afastar, vontade de ficar. Era como se eu temesse não ver Jude por todo esse período de tempo, o que seria praticamente uma tortura, mesmo que eu houvesse garantido que adoraria sair com ela, e isso fosse a pura verdade.

– Acho que eu não quero mais ir para casa. – Ela disse então, rindo, ao deixar o banheiro. – Não quero ficar sem você tanto tempo.

– Mas você não vai ficar. – Sorri de lado, me aproximando dela para tocar-lhe o rosto. – Eu não aguentaria ficar quase um mês sem te ver.

Um tom claro de rosa coloriu suas faces, e um sorriso iluminou-se em seus lábios.

– Gosto disso.

– Eu sei que sim. – Voltei a sorrir e fiz um carinho em seu queixo, mas antes que eu a puxasse para mim o suficiente para roubar-lhe um beijo, ouvimos batidas na porta.

Para a nossa infelicidade, a Inspetora Murphy foi quem apareceu quando abri, dizendo que o carro que buscaria Jude já a esperava e saindo logo depois.

– Bom, é agora. – Sorri, me voltando para a bolsa de Jude com a ideia de carregá-la.

– Não. – Ela tocou meu ombro, segurando-me. – Não vou embora sem te beijar de novo. – Sorriu então, me olhando com uma expressão de anjo, que de inocente não tinha nada.

Acabei rindo, extremamente surpresa ao vê-la fazer aquele pedido, ainda mais com um olhar daquele. E então, sorrindo de lado, puxei-a para mim.

– Não seja por isso.