Unica Et Opposita

Capítulo XXV


Lizzie

– Senhorita Bennet. – A voz levemente preocupada da professora de Matemática tirou-me das minhas distrações. – Sabe por que a Senhorita Ward faltou?

Surpreendentemente, Jude havia realmente faltado na aula do quarto horário, mas diferente do que a professora acreditava, eu desconhecia o motivo para isso. E estava tão preocupada com a sua ausência quanto a mulher a minha frente aparentava estar.

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Mesmo assim, temendo que aquela falta a comprometesse de alguma forma, pensei em algo rápido para dizer.

– Não sei. Ela deve ter ficado na biblioteca e perdeu a hora, talvez. Não almocei com ela hoje.

Vi a expressão da professora, que era preocupada com a falta da aluna de frequência perfeita, se suavizar um pouco, mostrando que a minha desculpa havia colado.

– Isso é preocupante, mas acho que não haverá problemas para ela. Você pode passar a matéria de hoje para ela, sim?

Assentindo, dei um pequeno sorriso cooperativo. A professora esboçou algo parecido com isso nos lábios finos.

– Sendo assim, vamos continuar falando dos algoritmos.

Apoiada na mesa, prestei uma semi-atenção na matéria que eu entendia, um tanto preocupada com onde Jude realmente estaria para faltar a uma aula. Segundo Lucy, Anne também havia sumido, e isso ao mesmo tempo me tranquilizava e preocupava mais, já que podia significar tanto que elas estavam juntas quanto que havia acontecido algo e a garota loira estava ausente por esse motivo.

Por alguns segundos, cogitei a possibilidade de Jude ter faltado para continuar me evitando, e com a mesma rapidez afastei essa ideia. Tentando não levar os pensamentos para o pior lado, acabei decidindo procurar a minha colega de quarto logo que a aula acabasse, para resolver logo aquilo. Porém meus planos foram estragados quando a Inspetora Murphy surgiu na porta da sala de aula.

– Sophie Jackson, Emma Bolton, Amy Piece, Elizabeth Bennet e Louise Dolman, por favor acompanhem-me até a diretoria. – Ela listou, olhando para um papel em suas mãos.

Senti um leve arrepio ao ouvir meu nome, até lembrar que, assim como eu, as outras garotas eram bolsistas. Após termos a autorização da professora, eu e as outras garotas seguimos em fila a Inspetora.

– Liz! – A voz de Anne foi a que me chamou atenção, enquanto eu me dirigia de volta ao prédio das salas no fim do quinto horário.

– Hey, Anne. – Sorri de lado, e ela retribuiu o gesto.

– Você não estava na aula?

Voltei a sorrir.

– É, não exatamente. – E, aproveitando. – Anne, você sabe por que Jude faltou no quarto horário?

Ela mordeu o lábio e desviou rapidamente o olhar.

– É… Ela passou mal. – Disse, e eu vi pela sua expressão que não era exatamente verdade. Mesmo assim, ela deveria ter algum motivo para mentir, então levei a sério.

– Mesmo? Está tudo bem? Ela está no chalé?

– Não, Lizzie, não se preocupe. Ela já está bem. Estava na aula agora.

Acabei sorrindo ao perceber o desencontro. Ela faltara ao quarto horário, onde eu tinha estado, e eu faltara no quinto, onde ela foi presente.

– E você? – Anne ergueu a sobrancelha. – Onde estava?

Dei de ombros.

– Diretoria. Tiveram problemas com as bolsas e eu e mais umas garotas ficamos o horário inteiro lá para resolvê-los.

– Ah, sim. Entendo. – Anne assentiu e eu sorri de lado.

– Acho melhor irmos para a aula.

A amiga loira de Jude concordou, e nos dirigimos lado a lado para nossas salas.

Jude

Ao ver Lizzie entrando na sala do sexto horário, eu senti meu pulso acelerar. Havia passado todo o quinto horário pensando nela, e naquele momento, tudo que eu mais queria era que ficássemos sozinhas para conversar em paz.

Entretanto, antes que a minha colega de quarto se dirigisse para o seu lugar de sempre – a carteira atrás de mim –, a professora de Religião interceptou-a.

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– Senhorita Bennet. – Disse. – Sente-se ali, ao lado de Ally. Nós faremos um debate hoje.

Com um suspiro, reprimi a leve irritação que me atingiu, observando enquanto a minha colega de quarto desviava seu olhar para mim, antes de assentir e caminhar para onde a professora havia indicado.

Se eu dissesse que prestei atenção na discussão sobre Islamismo, estaria mentindo. Na aula de Religião daquele dia, a única coisa que me importou foi Lizzie, sentada do outro lado do círculo feito com as cadeiras, alternando seu olhar enigmático e indefinido de mim para a professora. Olhando-a sempre que conseguia, eu só podia desejar que ela entendesse, através dos meus olhos, minha vontade de resolver tudo aquilo logo.

Quando o sinal finalmente bateu, meu alívio foi quase palpável, mas durou pouco, acabando assim que a professora pediu que uma das metades da turma – por acaso a metade de Lizzie – ficasse na sala, para resolver algo do debate da aula seguinte. E então, acabando também com as minhas esperanças de aguardar a minha colega de quarto do lado de fora, Bárbara, uma garota da turma, chamou-me.

– Jude, hey. Você pode me ajudar a escolher alguns livros na biblioteca para estudar? Se não estiver ocupada, claro.

Abri um sorriso pouco verdadeiro, suprimindo a minha vontade de negar.

– Pode ser. – Respondi. – Sobre o que você quer estudar?

Sorrindo, a garota morena e um pouco corpulenta me seguiu em direção à biblioteca.

Lembrei tarde do conselho de Anne.

Lizzie

Através do olhar de Jude, eu vi que já não estava mais tudo tão mal. Ela não estava feliz e sorridente como sempre, havia tensão em seus movimentos e olhares, mas não era a mesma tensão de antes. Jude não estava mais me evitando, ou pelo menos seu olhar não o fazia. E isso fazia crescer em mim uma vontade cada vez maior de falar com ela.

Após realmente entediantes quinze minutos com a professora de Religião dissertando sobre o Judaísmo depois do final da aula – segundo ela, uma vantagem para o debate da próxima aula, ganha pelo nosso grupo por termos nos saído melhor nesse – a nossa metade da turma foi finalmente liberada.

Caminhando de volta para a área dos chalés, me vi ansiosa para encontrar Jude logo. Sabendo que ela não mais me evitava, minha vontade de vê-la, conversar e passar aquele resto do dia como costumávamos fazer voltava a crescer como antes. Assim, ao chegar ao nosso quarto e ver que ela não estava, senti-me um tanto decepcionada.

Com um leve suspiro, joguei a minha mochila no local de sempre e deitei na cama, começando a admirar o teto branco até que, um certo tempo depois, batidas na porta chamaram a minha atenção.

Temendo que fosse novamente Mary a me importunar, levantei-me com uma certa preguiça, me arrastando com lentidão até a porta.

Entretanto, ao abri-la, fui surpreendida por uma pessoa um pouco mais baixa que eu, dona de cabelos longos e castanhos, abraçando-me num rompante, com uma certa força.

– Jude, meu Deus! – Abracei-a de volta, empurrando a porta desajeitadamente. – Aconteceu alguma coisa? Está tudo bem?

Ela ergueu os olhos, e eu fiquei aliviada ao ver que não havia lágrimas neles.

– Lizzie, me desculpa. – Sua voz soou então, baixa e tímida.

Sem querer, eu sorri.

– Está tudo bem, Jude.

Dando-me um pequeno sorriso meigo e tímido, ela não se afastou.

– Isso é bom.

Fiz um leve carinho nos seus cabelos.

– Não vai me soltar?

Ela voltou a sorrir.

– Acho que não. Gosto de te abraçar.