Unica Et Opposita

Capítulo XI


Lizzie

– Eu tenho certeza – Carrie começou, enquanto terminava de abotoar os jeans. – em seis anos estudando aqui, eu nunca tinha feito nada como isso.

Abri um sorriso de canto.

– Então viva a primeira vez!

Ela riu enquanto eu vestia a minha blusa de mangas longas por cima do top semi seco.

– Viva, com certeza. – Ela mordeu o lábio, olhando-me de um jeito safado. – Porque eu também nunca senti nada parecido.

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Abri um sorriso de satisfação.

– Que bom.

– Você acha? – Ela me olhou e eu me aproximei mais dela, tocando seu rosto e fazendo uma carícia leve em seu queixo.

– Claro, Carrie. – Respondi, meu rosto a poucos centímetros do dela. – Espero que tenha matado a sua curiosidade.

E, sorrindo de lado, voltei a me afastar, enquanto Carrie me olhava, os lábios entreabertos numa perfeita expressão de surpresa.

Obviamente, nosso pouco tempo de conversa não envolveu vida pessoal e experiências, e, por isso, eu não sabia com certeza se ela era gay ou apenas muito curiosa. Mas era possível perceber a segunda opção apenas pela sua forma de agir. E, para que eu não tivesse problemas com ela depois desse acontecido, precisava tomar algumas precauções.

– Bom, vamos embora? – Respondi por fim, após terminar de me vestir.

Carrie, que terminava de abotoar a blusa, fez que sim com a cabeça, e então me seguiu para fora dali.

. . .

– Mas, Lizzie… Nós ainda vamos continuar a conversar? Quero dizer… – Carrie mordeu o lábio, parecendo repentinamente tímida. – Você não vai fugir, não é? –

Dei de ombros, vendo seu rosto marcado pelas sombras projetadas pela iluminação fraca da área dos chalés.

– Não vou ficar com você, e realmente espero que você não espere isso de mim. Mas, se você entender que foi sem compromisso, continuamos, sim, conversando, como você quer.

Carrie assentiu, dando um sorriso pequeno.

– Tudo bem, Lizzie. Eu entendi que você não é do tipo que aprofunda qualquer relação. Pode relaxar, eu não vou correr atrás de você.

Sorri de lado, mudando de assunto.

– Vamos dormir.

Carrie concordou.

– Até amanhã, Lizzie. – Ela disse, aproximando-se de mim, mas parecendo tímida para tomar qualquer iniciativa.

Com outro sorriso, me aproximei da garota e, com uma leve carícia, afastei-lhe o cabelo do rosto e me inclinei para deixar um beijo em sua bochecha, satisfatoriamente perto dos lábios.

Voltando a me afastar, respondi-a.

– Até amanhã.

Ela sorriu, um pouco mais timidamente que o comum e se dirigiu ao seu chalé, enquanto eu observava o seu caminhar. Antes de entrar, acenou outra vez para mim, que respondi com um sorriso e um menear de cabeça antes de adentrar o meu chalé.

Jude

Lizzie não aparecera. Por mais que a preocupação ocupasse um pequeno lugar em mim, não era dominante, pois eu sabia que ela se viraria suficientemente bem sozinha. No entanto, seu sumiço no jantar e depois do toque de recolher, sem ao menos dizer aonde ia, era bastante irritante.

Eu não conseguia entender por que ela não se dera ao trabalho de avisar, e fiquei ainda mais irritada ao saber, por Anne, que ela estava jogando basquete e conversando com Carrie, aquela garota que vivia em cima dela.

Não que eu me incomodasse propriamente com isso, mas o fato dela ter sumido por horas sem ao menos falar nada era, no mínimo, incômodo.

Sem o menor ânimo de prosseguir com a leitura do livro que eu pegara na biblioteca – e também surpreendentemente enjoada de todo aquele romance, coisa que eu nunca imaginei acontecer – deitei-me cedo, porém os pensamentos, tão confusos na minha cabeça, me fizeram passar um bom tempo olhando para o teto.

Quando a porta fez barulho, indicando que alguém a destrancara, eu ainda não tinha dormido, e pude ouvir um trecho da conversa entre Carrie – eu achava, pela voz que soava baixa e sorridente – e Lizzie.

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Sem querer, ouvi-as falarem sobre manter contato, mas sem compromisso. Era impossível não entender o que havia acontecido e, quando Lizzie adentrou o quarto, rindo baixo e se movendo silenciosamente, me virei para o lado e tentei, de todas as formas, ignorá-la.

Dentro de mim, alguns sentimentos conflitavam. A irritação extrema com Lizzie, por ter desaparecido sem avisar e até por motivos completamente idiotas, pois eu me irritava com ela por ter chegado tarde e ter a chance de me acordar, se eu estivesse dormindo. Mas eu também tinha outro sentimento, algo sem nome e que me dava reações ainda mais estranhas. Em meu íntimo, uma curiosidade nova me impulsionava a querer saber mais do acontecido. Eu, de certa forma, talvez admirasse Lizzie pelo seu ato, e queria saber mais. De repente, estava curiosa para saber o que ela e Carrie haviam feito, onde, e como.

Sem conseguir dormir, acabei acompanhando os sons que Lizzie fazia, seus passos cuidadosos, os movimentos silenciosos.

Vi quando a minha colega de quarto entrou no banho, e a vi deixar o banheiro de uma forma que me fez quase agradecer pela escuridão do quarto; Lizzie vestia nada além de suas roupas íntimas: top e uma cueca box.

– Droga. – Murmurei, antes de realmente pensar em verbalizar qualquer coisa.

Ao som da minha voz, Lizzie sobressaltou-se.

– Jude? Está acordada?

Revirei os olhos, impaciente.

– Sim.

– Me desculpa. Cheguei um pouco tarde. Já vou deitar, okay? Não te incomodo mais. – Lizzie respondeu, num tom tão delicado e preocupado que, de repente, eu quase me arrependia de me irritar com ela.

Sem querer demonstrar essa queda nas barreiras, nada respondi, observando-a terminar de se vestir no escuro e deitar-se na cama.

Inspirei e expirei lentamente algumas vezes, atenta à regularidade da minha respiração, quando, de novo, as palavras saíram da minha boca sem que eu permitisse.

– Lizzie?

Comecei a contar o ritmo da minha respiração, torcendo para que ela já estivesse dormindo.

Não estava.

– Sim, Jude?

Senti meu coração se acelerar e mordi o lábio, hesitando.

– Você acredita… Acredita em amor de verdade? Acredita que um dia vá amar uma pessoa e não querer mais nenhuma outra?

Aguardei.

Não via Lizzie, mas estava certa de que ela sorria.

– Talvez.

Eu sabia que aquele não era nem de longe o momento de conversarmos sobre isso, mas eu sabia que, se não falasse naquele momento, perderia de vez a coragem. Mordi o lábio com força e voltei a falar ao escuro.

– Talvez?

– É. – Ela respondeu simplesmente e, por alguns segundos, acreditei que essa seria toda a sua resposta. Felizmente (ou nem tanto), não foi. – Isso é complicado, Jude. As vezes quem você ama de todo coração não te ama nem de longe da mesma forma. E, as vezes, quem você acredita que vai amar a vida toda de repente… Não é mais essa pessoa. Seria bom que fosse como nos livros que você lê, mas não é. Amor de verdade não é fato, é sorte.

Quando Lizzie voltou a se silenciar, temi que meu pulso pudesse ser ouvido por ela. Me sentia tão nervosa que mal conseguia olhar para a sua silhueta no escuro.

Poderia, naquele instante, fazer-lhe dezenas de perguntas. Poderia perguntar se era esse o motivo dela ficar com tantas pessoas, ou poderia perguntar se ela já havia vivido amores assim. Mas, naquele momento, não era a razão que imperava. E a emoção me levou a dizer outras palavras.

– E você espera ter essa sote?

Distinguindo as sombras e silhuetas no escuro, quase pude ver o olhar penetrante de Lizzie sobre mim. Quando ela falou, parecia sorrir.

– Talvez.