Unica Et Opposita

Capítulo X


Lizzie

Jude podia não ser a pessoa mais perspicaz, ou demorar alguns segundos para compreender a ambiguidade numa fala. Mas isso não significava em absoluto que ela não fosse inteligente. Eu mal precisara me demorar explicando a matéria para que ela compreendesse e quitasse suas dúvidas, e assim passamos a maior parte do nosso tempo na biblioteca fazendo os deveres de casa ou conversando em voz baixa.

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Faltava pouco mais de meia hora para o jantar – e, consequentemente, para o toque de recolher – quando eu terminei meus deveres e me cansei de ficar ali fazendo nada. Mas, mesmo com o aviso de Jude sobre isso, decidi dar uma caminhada sozinha pelo campus.

Comecei a passear pelo colégio sem rumo certo, passando por um dos blocos de chalés, pela praça gramada com a fonte, pelo bosque e pelo ginásio.

Quando cheguei à quadra externa, logo ao lado do ginásio, vi um grupo de meninas jogando basquete. Entre elas, Carrie, uma garota que vivia no chalé 70 e conversava comigo as vezes – ou melhor, insistia em puxar assunto comigo, por mais que nada tivéssemos a ver uma com a outra.

– Hey, Lizzie! – Ela sorriu, deixando o jogo e aproximando-se de mim.

Seus cabelos loiros e cheios de cachinhos balançavam, presos num rabo de cavalo, à medida em que ela andava.

Sorri de canto.

– Hey.

Ela me olhou, seus olhos azul-escuros com um misto de simpatia e um certo interesse.

– Quer jogar?

Mirei as minhas roupas.

– Posso jogar assim?

Ela deu de ombros.

– Relaxa, é só um jogo pra se divertir mesmo.

Repeti seu gesto.

– Sendo assim…

Carrie sorriu e pegou a minha mão, puxando-me para a quadra.

– Vamos lá.

Depois de ser apresentada ao resto das meninas, comecei a jogar.

Não havia passado muito tempo de jogo quando uma das meninas – uma francesa, da qual eu havia esquecido o nome – lançou-me a bola de um modo desajeitado, fazendo-a atingir minha barriga com força.

Dei alguns passos para trás com a força do impacto, fazendo com que o jogo parasse por alguns instantes.

– Oh mon Dieu! Me desculpe! Je suis désolé! – A francesa exclamou, como que aflita por ter me atingido.

Logo as outras garotas se aproximavam, sendo Carrie a mais próxima.

– Está tudo bem, Lizzie?

Assenti, olhando para baixo e erguendo um pouco a blusa, apenas para ver a marca vermelha de formato circular na minha pele.

Carrie se aproximou mais de mim, deslizando de um modo um tanto quanto lento – e não exatamente preocupado – os dedos pela minha pele, quase como que seguindo os contornos dos músculos ali.

– Não está doendo? – Ela perguntou, sem nem ao menos erguer os olhos do meu corpo, mordendo suavemente o lábio inferior.

Sorri de canto e coloquei a minha mão sobre a dela, retirando-a dali e voltando a abaixar a minha blusa.

– Não foi nada. – Dei outro sorriso, mais direcionado a ela, mirando deliberadamente seus olhos azuis. – Vamos continuar o jogo.

As meninas concordaram, e logo o jogo foi retomado.

Era perfeitamente óbvia a tensão que havia se formado entre eu e Carrie naqueles segundos após a bolada da francesa – Marie, como eu descobri depois –, e isso não era necessariamente ruim.

Seus olhos azuis pareciam não desgrudar de mim no decorrer do jogo, e a metade simpática de seus olhares parecia ter se tornado interesse também. E eu não deixava de corresponder a isso.

Quando as meninas ficaram com fome, percebemos que o horário do jantar se aproximava, e então o jogo chegou ao fim. O pequeno grupo se dirigiu ao refeitório, mas Carrie ficou na quadra, sob pretexto de levar a bola de volta ao ginásio.

– Não vai jantar? – Ela perguntou a mim, sorrindo de lado enquanto brincava com a bola alaranjada.

– Não estou com fome. – Dei de ombros. – Faz pouco tempo que eu comi.

– Eu também. E estou com preguiça de andar até o refeitório… – Ela revirou os olhos e eu ri baixo.

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– Então não vai aceitar o meu convite para dar um passeio pelo colégio, certo?

Carrie riu.

– Errado.

– Vai aceitar?

Com uma expressão doce e falsamente inocente, ela assentiu.

– Isso é bom.

A essa altura, já estávamos no ginásio. Carrie guardou a bola de basquete no local destinado a ela e então seguimos para fora dali.

– Para onde quer ir?

Dei de ombros.

– Ainda não estou totalmente familiarizada com esse colégio. Principalmente ao anoitecer.

Ela olhou para mim.

– Eu posso ser a sua guia.

Sorri.

– Gostei da ideia.

Começamos a caminhar pelo campus em um passo lento, fazendo o caminho contrário ao de muitas garotas que se dirigiam ao refeitório.

Enquanto andávamos, começamos a conversas sobre amenidades. O assunto iniciou-se nas aulas, passou pelos professores, pela minha impressão da escola, e pela impressão dela. Pelas alunas, pelos chalés e até por Jude e pela sua colega de quarto. Não percebi quando começamos a falar sobre relações, e, ao chegarmos diante de uma estrutura fechada que eu só vira por fora, falávamos novamente sobre a bolada da francesa na minha barriga.

– E aqui é…

– A piscina. – Carrie respondeu prontamente.

– Piscina? – Repeti.

– Sim. É coberta e aquecida, por causa do frio.

Assenti.

– E podemos entrar aqui?

– Depois do toque de recolher é proibido, claro. Mas as alunas podem usar, eu acho. É mais usada para as aulas de natação, quando tem.

Assenti.

– Mas podemos entrar? Quero dizer, ela fica aberta? Ou é trancada, sei lá?

– Ah… Aí sim, eu acho. A porta só é fechada. Não acredito que tenha tranca.

– Podemos descobrir isso agora. – Dei de ombros e sorri de lado, andando até a porta da construção que abrigava a piscina enquanto ouvia os passos de Carrie atrás de mim.

Não demorei a constatar que a porta não era realmente trancada e, ao entrar ali, as luzes se acenderam automaticamente – assim como o aquecedor.

– É grande aqui. – Exclamei, sem conseguir conter a surpresa. Por fora, o espaço e a piscina não pareciam ser tão extensos.

Carrie sorriu.

– É, sim.

Andei até a piscina enquanto ouvia o ruído da porta se fechando e o som dos passos de Carrie atrás de mim. Ao me abaixar, constatei também que a água não estava fria.

– E aí, Carrie? Está a fim de nadar?

Ela ergueu as sobrancelhas e riu, surpresa.

– Sério?

– Por que não? Já estamos aqui mesmo. E duvido que deem falta de nós por alguns minutos.

Ela ponderou meu argumento por alguns segundos, sorrindo depois.

– Faz sentido.

Sorri.

– E aí? Vamos?

Com uma risada e um revirar de olhos, vi minha nova amiga ceder.

– Mas… De roupa?

Sorri.

– Não necessariamente.

E, para comprovar isso, tirei os tênis, os jeans e a camiseta que eu vestia, ficando com as minhas roupas íntimas – uma boxer cinza e um top preto.

Carrie demonstrou um início de surpresa, mas depois mordeu o lábio e acabou sorrindo e, imitando meu gesto, retirou as sapatilhas, os jeans, o casaco e a camiseta que vestia, se mostrando, então, com um sutiã e uma calcinha lilases.

Com um breve olhar, consegui captar a regularidade das suas curvas, a cintura delgada, o busto farto, a barriga lisa, a pele branca e praticamente sem imperfeições, exceto por um pequeno sinal na coxa direita.

Abri um sorriso e exclamei um “vem!”, poucos segundos antes de pular na piscina. Sem se demorar, Carrie fez o mesmo, pulando na piscina com um sorriso nos lábios.

Nós nadamos, no verdadeiro sentido da palavra, por pouco tempo. O fiz apenas para alongar os músculos, mergulhando e voltando à superfície junto a Carrie, e fazendo-a rir com isso. Mas logo nos cansamos, e assim que isso aconteceu, nos retiramos para uma das bordas da piscina.

– Você tem o costume de quebrar regras assim mesmo? – Carrie perguntou-me, encostando as costas na borda da piscina. Nos lábios, abria-se um sorriso de lado.

– Nem sempre. Só quanto elas são inconvenientes.

Carrie riu.

– Quer dizer que um toque de recolher para a segurança das alunas e uma piscina fechada é inconveniente?

– Quando eu quero trazer uma pessoa aqui para se divertir, é sim.

– Uma pessoa?

Sorri de canto.

– Uma pessoa que pareceu gostar da minha barriga no jogo de basquete. – Desci o olhar para o local onde eu citava.

Carrie riu.

– Não só dela.

Ergui as sobrancelhas, fingindo surpresa.

– Não?

Ela balançou negativamente a cabeça, sorrindo de um modo quase angelical, se não fosse tão malicioso.

Carrie possuía essa habilidade de se fingir de anjo, mas, ao mesmo tempo, demonstrar nessa mesma expressão que a pureza não era predominante.

Se aproximando de mim e me fazendo encostar as costas na parede da piscina, ela voltou a tocar meu abdome com a mão, subindo, dessa vez, as unhas até a barra do meu top e erguendo-a de leve, e então voltando a descer a mão até quase o cós da boxer.

– Não.

Sorri e segurei o seu braço de um modo suave e firme, a puxando para mim e segurando-a sem demora pela cintura. Antes de reduzir ainda mais o espaço entre eu e ela, encostei as suas costas contra a parede, deixando um espaço apenas para que eu pudesse subir os dedos pela sua pele, até finalmente chegar ao fecho do sutiã.

– Fico feliz por isso.