Revenge Of Lorien

Capítulo Oito


Desde que tive o sonho com o Número Cinco as coisas ficaram mais estranhas. Malcolm começou a passar dias e dias em seu escritório, quase não saía, nem para me treinar, Scott e eu costumávamos passar o dia conversando, rindo e até treinando. A peste me implorou para ensiná-lo como utilizar uma arma e não pude dizer não, afinal sabia que um dia talvez ele fosse obrigado a usá-la em defesa própria, não que eu quisesse que ele se transformasse em um caçador de mogs, mas não queria deixá-lo como um garoto humano qualquer.

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Caminho pelos corredores do apartamento até o escritório de Malcolm com uma caneca de café. Entro sem bater e ele se levanta assustado com minha entrada repentina.

– Ahn...Desculpa?

Ele apenas sorri e se senta novamente voltando-se para as telas.

O escritório parece mais uma sala de câmeras. Cada visor transmite um canal de notícias diferente, de países diferentes enquanto nas telas mais baixas ele procura por notícias que possam nos ajudar a achar Número Cinco.

Me aproximo dele.

– Nada ainda? – pergunto.

Malcolm não tira seus olhos da tela.

– Nada, a última notícia que vi sobre algo assim foi um incêndio em um campo próximo de Londres, mas não parecia ser nada, apenas algo feito pelos Rebeldes.

Assinto, mesmo não sabendo o que são os rebeldes, e me sento ao seu lado.

Meus olhos correm pelas telas procurando algo que talvez Malcolm não tenha visto, mas não há nada. Suspiro e me levanto.

– Se precisar de algo, me chame.

Saio do cômodo e ele nem parece perceber, seus olhos estão fixados nas telas. Eu pude perceber quando me sentei que ele tinha algumas rugas e olheiras debaixo dos olhos, deixando claro que não dormia havia um bom tempo e isso me deixou preocupada, mas tenho uma maneira de me distrair: treinando.

Me encaminho lentamente até o que gosto de chamar de ginásio e pego a primeira arma que vejo entre a vasta coleção de Malcolm. Ligo a simulação e coloco os protetores de ouvido me posicionando entre os bonecos para o treino. Toda vez que um acende eu atiro.

É quase automático. O boneco acende, eu miro e atiro. E isso se repete toda hora sem parar, rapidamente me fazendo esquecer de minhas preocupações, mesmo as que tenho com Malcolm.

De repente os bonecos se apagam e são devolvidos para seus ganchos nas paredes automaticamente. Abaixo a arma surpresa e tiro o protetor de ouvido, nesse exato momento ouço risos atrás de mim e rapidamente me viro.

Atrás de mim está Scott sorrindo, sentado no chão.

Reviro os olhos e ando em sua direção, quando me aproximo o bastante tento agarrá-lo pelo braço para levantá-lo, porém ele se dissolve ao meu toque.

Encaro o espaço vazio, olhos arregalados e um vazio no estômago, é como perder meu irmãozinho. De repente ouço uma voz conhecida chamar meu nome.

– Harley. – me viro para encontrar Malcolm parado do lado da porta.

Ele é o Malcolm que eu conheço, mas ele parece mais velho, os cabelos dourados estão mais pálidos e os olhos vazios.

– Harley, corra. – ele manda.

– O que você quer dizer? – pergunto nervosa me aproximando dele, mas imediatamente ele desaparece.

O que está acontecendo? Primeiro Scott e agora Malcolm? Eles são as duas pessoas mais importantes para mim.

– Querida, você não pode fingir que não tem sentimentos. – diz uma voz feminina.

Viro para encontrar uma mulher ruiva com um olho castanho e outro azul elétrico.

– Você não é de ferro, Harley. – diz ela delicadamente se aproximando, mas como os outros, ela some.

Recuo, claramente assustada, o que está acontecendo? Por que comigo?

Ouço uma risada fria e sádica atrás de mim. Me viro para encontrar o meu pior pesadelo: Sétrakus Rá, rindo de mim.

– Pobrezinha. A inútil, aquela que depende dos parceiros, você acha mesmo que aquele seu amiguinho idiota vai lhe salvar? Qual era mesmo o nome dele? Ah, claro. Albert. E o outro, morreu? Ou irá morrer? Quantas pessoas morreram para que possam salvar seu planeta e qual é o ponto? O que farão quando essa guerra acabar?

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Quem é Albert? E o que ele quer dizer com aquilo? Como ele estava ali.

Mas eu aprendi a combater mogs como ele, sem pensar duas vezes miro com a arma que percebo estar na minha mão e atiro, mas nesse momento ele some.

Dois garotos estão rindo juntos, um aquele que eu vira na noite anterior, antes do pesadelo e o outro é completamente desconhecido para mim: cabelos castanhos e olhos azuis elétricos. Eles se viram para mim e dizem meu nome e novamente a voz muda, uma garota também está me chamando, os três começam a falar comigo ao mesmo tempo e as vozes vão crescendo e aumentando o tom, vorazes familiares e outras completamente desconhecidas. O garoto loiro do pesadelo, uma morena de olhos azuis, duas ruivas, um idiota loiro, um nerd moreno e várias outras faces que não consegui gravar na minha mente. Sinto meu coração acelerar e a cabeça começar a doer e latejar, minhas pernas e braços parecem gelatina de tão moles, começo a tremer, a dor de cabeça é muito forte e não consigo aguentar: eu grito o mais alto que posso antes de desmaiar.

Recobro meus sentidos provavelmente algumas horas depois, mas para mim pareceram anos até que estivesse consciente. Lentamente abro meus olhos e a primeira coisa que percebo é que estou em meu quarto, que rapidamente reconheço pelo teto branco e o conforto da cama.

Me sento lentamente, porém sinto uma tontura e uma vontade imediata de vomitar. Seguro meu estômago com os dois braços, tão rápido quanto veio a impressão desaparece.

Scott entra no quarto com duas canecas de, provavelmente, chocolate quente. Ele gosta de beber isso, impressionante.

– Ei! Você acordou, que bom. – ele sorri se sentando do meu lado na cama estendendo-me uma das canecas.

Olho para o conteúdo da caneca e começo a beber.

– O que houve? – pergunto fracamente engolindo o adocicado chocolate derretido.

Seu sorriso se desfaz e sua face fica dura, não é o tipo de expressão que você vê em um garoto de onze anos.

– Malcolm estava no escritório e eu estava vendo TV quando ouvimos seu grito, pensamos que estivéssemos sendo atacados por mogs, quando chegamos no ginásio você estava tremendo no chão, segurando a cabeça e murmurando sobre vozes e gritava para que parassem. Malcolm teve que te carregar até aqui, há alguns minutos você parou de falar e se enrolou nos cobertores começando a dormir calmamente.

Eu volto a beber da caneca enquanto ele me observa.

– Pare de me encarar. – mando.

Ele desvia o olhar rindo, logo se levanta da cama e sai andando do quarto, mas antes de desaparecer ele coloca sua cabeça para dentro do quarto.

– Eu vou falar com o Malcolm, ele deve estar roendo as unhas de nervosismo.

Sorrio para ele e volto a me enrolar nos cobertores da cama deitando minha cabeça nos travesseiros.

Sinto uma mão quente tirar meus cabelos de meu rosto e colocá-los atrás da orelha. Sorrio ao perceber que é Malcolm, me levanto rapidamente e lhe abraço, quase chorando.

– Eu sei que não contou nada para Scott sobre o que houve, mas quer contar para mim? – ele pergunta.

Deixo-lhe um espaço para sentar na cama e me enrosque em seus braços começando a chorar relembrando a dor. Ele me abraça e aquela sensação de carinho de pai me envolve.

– E-e-eu vi vocês dois, mas vocês sumiram, não conseguia tocar em nenhum dos dois. Você me mandou correr e...Eu vi Sétrakus Rá e o Número Cinco, novamente.

Malcolm continua a me confortar, mas ouço ele rir.

– Por que você está rindo? – pergunto, a voz tremendo.

– Porque eu estou muito orgulhoso de você. Acabou de desenvolver um novo legado.

Eu não sinto a felicidade que senti da última vez, dessa vez eu começo a sentir uma agonia. Aquilo vai acontecer toda hora a qualquer momento? Não, eu não quero um legado assim, não desse jeito.

Malcolm se levanta e me deita novamente na cama.

– Durma um pouco, mais tarde falaremos disso. – ele diz e beija minha testa.

Eu fecho os olhos e durmo sem sonhos, nem pesadelos, apenas com uma pergunta na cabeça.

O que farão quando essa guerra acabar?