Shaoran suspirou pesadamente, enquanto aceitava a recaída de suas pálpebras. Embalou-se para o outro lado de sua cama, tentando ocupá-la por inteiro. Inesperadamente, chocou-se com um corpo desconhecido, arregalando os olhos com grande espanto. Observou atentamente o corpo á sua frente, logo reconhecendo as formas de sua mulher e os leves suspiros que saiam de seus lábios. Esquecera-se por completo da jovem a sua frente, esquecera que agora pertencia a uma mulher e esta mulher pertencia ao chinês. Estremeceu com tal pensamento. A união o assustava, assustava-se com o fato de ter que lidar com os seus sentimentos, com sentimentos de seres ao seu redor. Relaxou em seu posto, virando-se de costas para a jovem Sakura.

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Nas belas janelas do quarto encontravam-se cortinas brancas, que impediam a passagem da luz solar para o quarto obscuro. Shaoran encontrava-se sentado em sua cama. Seus olhos âmbares fitavam uma flor indefesa. Seus movimentos eram delicados, seus suspiros eram doces melodias, seu leve ronco era curioso e divertido. Em certas situações, brotavam-se belos sorrisos nos lábios cheios da pequena cerejeira, o que deixou o rapaz intrigado. “O que se passa em seus sonhos?” Questionou-se em pensamento. Tudo era de fato diferente, era estranho, era incomum em seu mundo. Era admirável. Sakura remexeu-se para outro lado da cama, se espreguiçando. Shaoran manteve-se estático, se pôs apenas a observar, enquanto a flor abria seus olhos esverdeados com dificuldade. Observou o teto, acostumando-se com o seu despertar. Galgou com seus olhos para o lado, deparando-se com um rapaz de cabelos castanhos e rebeldes fitando-a com uma grande atenção. Sakura sentou-se rapidamente, esfregando os olhos, questionando a si se tal situação era real. – Algum problema, senhor Li?

Shaoran balançou sua cabeça, retirando-se de seus devaneios. Olhou novamente para a flor, reparando a transparência do espanto em seus olhos esverdeados. – Não. – Respondeu curto e firme. A jovem flor abaixou a cabeça, sentindo o rubor preencher suas bochechas. O jovem chinês riu por dentro, aliás, tudo aquilo era encantadoramente incomum.

Sakura levantou seu rosto, observando atentamente seu marido. O mesmo encontrava-se em um estado de puro cansaço. Suas vestes desabotoadas de forma desajeitada, seus olhos vermelhos de tamanho o sono e sua respiração pesada. A flor poderia sentir-se enojada pelo ser á sua frente, porém sua bondade era tanta que provocara grande preocupação pelo marido.

– Estás bem? – Questionou insegura. Shaoran a observou espantado. Raras as vezes que faziam tal pergunta para o jovem rapaz. Porém esta fora a primeira vez que sentiu a sinceridade estampada em pequenas e tão significativas palavras. Fincou seus olhos âmbares nos belos olhos esverdeados como se tentasse se comunicar com a alma da garota á sua frente. Passara longos segundos desta forma, apenas apreciando a comunicação em um silêncio total. – Estou bem. – Sussurrou.

Sakura sorrio com a resposta do marido, demonstrando seu apoio. De alguma forma, a ação da jovem proporcionou certo êxtase no confuso coração de Shaoran. Pigarreou desconfortável, retirando-se do quarto sem se pronunciar. – Por que o senhor Li sempre faz isso? – Questionou-se Sakura em um tom zombeteiro.

A flor vestiu-se de forma simples, porém bela. Recolheu seu livro, e dirigiu-se para a sala principal. Sentou-se no sofá, admirando a beleza do livro em suas mãos. Abriu o mesmo, afogando-se nas belas palavras, nas frases, nas situações citadas. Era um mundo melhor. – Sakura-chan, não queres fazer o desjejum? - Questionou Chun, se aproximando. Sakura sorrio, acenando um “sim” com sua cabeça. – Já está posto á mesa, senhorita.

Sakura fechou seu livro delicadamente, indo em direção da mesa. Sentou-se em qualquer cadeira, observando a quantidade de comida posta. “Isto tudo é necessário?” Perguntou a si mesma. – Bom dia, Chun-san. – Cumprimentou o chinês, aproximando-se da mesa. Sua aparência ainda estava em estado de fatiga, porém suas vestes eram outras. – Bom dia, senhor Li.

Sakura o observou. Deparou-se com um sorriso torto nos lábios do jovem chinês. – Bom dia, senhorita Sakura.

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– Bom dia. – Sussurrou. Shaoran sentou-se em frente à flor, observando-a curioso. – Chun, sente-se, por favor. – Propôs a jovem. Chun hesitou em ditar alguma palavra, mas logo fora interrompida pelo jovem Li.

– Não, senhorita Sakura. Ela não deve sentar conosco, ela trabalha para nós. – A cerejeira o fitou irritada.

– Quanta bobagem. Venha Chun-san, sente-se. – Revidou Sakura levantando-se e oferecendo sua cadeira. – Já me pronunciei senhorita. Ela não deve. – Contrapôs Shaoran. A flor sentira seu sangue subir ás bochechas de tamanha irritação. Como ele pôde dizer estas palavras? Com toda certeza a Chun era de fato, mais humana do que o próprio Li.

– Sente-se, Chun-san. – Disse entredentes. Shaoran se levantou com uma postura superior aos demais que se encontravam na sala.

– Não me faça repetir novamente, senhorita Kinomoto. – Falou Shaoran autoritário. Sakura bufou, retirou-se do local com passos largos e fortes. “Desumano” Pensou.

Pegou o seu livro, o espremendo em seu peito. Fora de imediato em direção ao jardim da mansão. Suspirou com a beleza das flores ao seu redor. Caminhou mais um pouco, logo se deparou com uma enorme cerejeira á sua frente. – Oh meu Deus, como é bela.

Sentou-se embaixo de sua nova ‘amiga’, abrindo seu livro. As horas voaram de forma assustadora, porém a jovem nem reparara. A ventania a acalmava, assim como as cantigas dos pássaros. Sakura caiu em sono profundo.