Capuz Vermelho

Capítulo 20


Bertha estava muito preocupada, a dois dias o sobrinho não saía do quarto e como trabalhava quase o dia inteiro, quase não tinha tempo para ver como ele esta.

Ela preparava o café da amanha para levar ao quarto do garoto na tentativa que ele comesse algo, quando ouviu batidas na porta. Ela desligou o fogo onde preparava o mingau e foi atender.

"Bom dia, Carolla." -Ela disse- "Entre."

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Carolla entrou e as duas foram até a cozinha.

"Quer beber alguma coisa? Acabei de fazer café."

"Sim, por favor." -Carolla disse tirando as luvas.

Bertha serviu duas xícaras de café e sentou-se a mesa junto com a garota.

"Como... Como vão as coisas?"

Carolla pegou a xícara e a segurou para esquentar as mãos.

"Complicadas." -Carolla disse tristemente- "Hoje será o enterro..."

"Carolla, se precisar de qualquer coisa, qualquer coisa, pode saber que eu ajudo. Nem que seja com dinheiro ou apenas uma xícara de açúcar."

"Obrigada senhora Musil." -Carolla sorriu desajeitadamente, como se não sorri-se a anos e não soube-se mais como fazer.

"Annita era muito amiga de Logam, então é o melhor que posso fazer por você e sua família."

"Obrigada. E como esta Logam?"

"Muito abalado." -Bertha negou com a cabeça- "Não saiu do quarto dês do... incidente."

"É, todos ficamos bem abalados com isso." -Carolla abaixou o olhar.

"Nunca pensei que... A floresta parecia tão segura."

"Acharam outro corpo depois." -Carolla disse tristemente- "Os policias o reconheceram como o guarda que ficava por lá."

"Deus." -Bertha tampou a boca com a mão.

"Nada esta mais seguro." -Carolla olhou para Bertha- "Você deveria tomar mais cuidado com Logam também."

Bertha assentiu.

"Bem, eu tenho que ir. Só vim para avisar sobre hoje."

"Estaremos lá, querida." -Bartha sorriu e acompanhou Carolla até a porta.

"Obrigada pelo café."

"Não precisa agradecer. Desejo o melhor para vocês agora."

Carolla saiu e Bertha fechou a porta. Ela foi até a cozinha e pois em uma bandeja uma xícara com leite e um prato com mingau. Ela subiu as escadas e foi até o quarto de Logam. Quando abriu a porta, viu o garoto sentado na frente da janela e olhando para o céu nublado.

"Olá, querido."

Logam a olhou tristemente, fazia tempo que não via a tia.

"Tia." -Ele disse quando a mesma se aproximou e colocou a bandeja a sua frente- "Me desculpe."

Bertha o olhou e assentiu.

"Por tudo que eu disse e como agi com a senhora.. Me desculpe." -Logam tentava não chorar, mas sua tristeza era mais forte.

A tia passou a mão pelo seu rosto limpando as lágrimas que escorriam pelo seu rosto.

"Tudo bem querido." -Ela sussurrou.

"A culpa foi toda minha." -Ele disse fechando os olhos.

"Não foi... Não diga isso." -Ela o abraçou e sentiu os braços do garoto apertando a sua cintura.

"Sinto muito." -Logam sussurrou.

"Eu te perdoou-o." -Ela beijou sua testa e sorriu.

"Carolla esteve aqui?" -Ele perguntou se afastando da tia.

"Esteve, o enterro será hoje." -Ela disse.

Logam assentiu e abraçou as pernas.

"Coma um pouco querido." -Ela disse.

Logam olhou para o prato com mingau e sua barriga gemeu. Fazia dias que ele não comia, mas já tinha se acostumado com a dor.

"Tome um banho e se arrume, talvez depois que sair um pouco se sinta melhor. Eu não vou trabalhar hoje, então ficaremos juntos a tarde, tudo bem?"

Logam assentiu e puxou o prato para si.

"Eu sei que dói querido, mas vai passar." -Ela disse acariciando seu rosto.

"Sinto falta dela." -Ele disse mexendo o mingau com a colher.

"Eu também, todos sentimos."

Ela se levantou e saiu, Logam comeu o mingau com se fosse a melhor comida do mundo e bebeu o leite quente que desceu pela sua garganta dando uma sensação de calor. Sua tia preparou o banho e sua roupa para o enterro e foi se arrumar.

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Ele entrou na banheira e esfregou todo o corpo como se aquilo pudesse tirar todas suas lembranças, pensamentos, sensações, conversas e atos que ele queria esquecer para sempre. Tudo seria diferente agora, ele pensou.

Logam vestiu o terno que só usará para ir ao teatro com a avó, mas como ela acabou dormindo no meio da peça, nunca mais quis ir. Era engraçado como situações diferentes exigiam a mesma roupa.

Ele arrumou sua gravata e pegou seu sobretudo preto. Quando desceu as escadas, sua tia terminava de ligar para o taxi, já que o cemitério ficava no outro canto da cidade.

"Como se sente?"

"Como se tivesse acordado de um sono de trinta anos, mas cansado."

"Querido." -Ela disse passando novamente a mão no seu rosto. Logam gostava daquele gesto, ele sentia o calor da mão da tia e parecia que tudo ficaria bem, como se aquela mão no seu rosto o protegesse de tudo.

"Estou bem." -Ele disse forçando um sorriso.

Ela sorriu e beijou sua testa.

"Quer o cachecol?" -Ela perguntou pegando o casaco.

"Sim." -Logam disse pegando o cachecol da mão da tia.

A campainha ticou e eles foram para fora, onde o taxi esperava. Logam foi no banco de trás e sua tia na frente.

"Para onde?" - O motorista perguntou.

"Cemitério Seelen Gerettet." -Ela disse.

Logam olhava pela janela as coisas passando rapidamente. Talvez a morte fosse assim, tudo passasse rápido e indolor; ele gostava de penar que era assim, pois as pessoas não sofreriam tanto. Não deviam sofrer, pois era o ultimo momento de sua vida, para que sofrer?

Quando chegaram no cemitério estava nevando, mas isso não impediu o enterro. Não havia muitas pessoas, mas muitos que Logam conheciam. Ele viu Margoh, a família de Fredye, alguns professores da escola junto de alguns alunos, o carteiro que era apaixonada em segredo por Carolla e Logam apenas sabia porque um dia viu ele pondo uma cartinha decorada na sua caixa de correio, e Thomas com sua mãe.

Logam ficou impressionado quando não viu o avô de Annita entre as pessoas.

O padre chegou e começou a oração em frente ao túmulo. Algumas pessoas choravam, outras rezavam em silêncio e algumas até conversavam baixinho. Ele olhou para sua tia, que estava de olhos fechados e cabisbaixa.

O caixão de Annita era todo marrom e bem simples, ele queria ter pego uma flor... Se não tivesse jogado a quela fora. Por que ele tinha que ser tão idiota?

Ele sentiu uma mão no seu ombro e quando se virou viu sua avó.

"Vó." -Ele disse sorrindo.

"Querido." -Ela sussurrou- "Como esta?"

"Melhor." -Ele disse- "Achei que não viria."

Ela sorriu e entregou para ele uma rosa branca.

"Um rapaz gentil me acompanhou até aqui. Eu não podia deixar de vir... Annita era uma boa garota."

Logam olhou para a rosa e para a avó, que sorriu. Ele caminhou até a frente e a colocou em cima da caixão da amiga.

"Sentiremos sua falta." -Ele sussurrou.

Alguns homens se aproximaram para abaixar o caixão, Logam se afastou e foi para perto da tia.

"Agora ela se foi." -Ele disse.

Ela pois a mão no seu ombro e sorriu.

"Agora ela esta em paz." -Ela disse.

Logam olhou o caixão sendo enterrado e realmente percebeu que não teria mais volta, Annita estava morta e para sempre. Todos foram se afastando e indo embora, como se o momento trágico já tivesse passado, e agora ela era apenas mais uma lápide no lugar. Carolla ficou e chorou mais um pouco pela prima, Logam queria dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas não sabia o que.

"Vamos querido." -Sua tia disse.

"Eu já estou indo." -Logam disse.

Ele precisava de um tempo sozinho. Ele foi andando entre as lápides espalhadas pelo terreno, todas as quelas pessoas mortas e abandonadas, agora apenas lembranças passadas.

Ele se apoiou em uma arvore morta e olhou para o rastro de neve que havia deixado. Por que era tão difícil deixar alguém?

"Como esta?"

Logam se virou e viu Haskel.

"Como acha?" -Ele perguntou desviando o olhar.

"Fiquei preocupado, você sumiu... Achei que..."

Logam o olhou e Haskel ficou quieto.

"O que faz aqui?"

"Achei que seria educado vir." -Haskel disse fazendo um montinho de neve com o pé.

"Você não a conhecia." -Ele sussurrou.

"Mas ela foi alguém..." -Haskel respondeu o olhando.

Logam sentiu seus olhos embaçarem e tentou evitar ao máximo, ele não queria chorar na frente de Haskel.

"E eu sei que ela era sua amiga então..."

"Ela ainda é minha amiga, sua morte não desfará isso."

Haskel assentiu.

"Eu sinto muito."

"Você não a viu?" -Logam o olhou.

Haskel levantou uma sobrancelha.

"Quando me encontrou na floresta, não viu mais ninguém? Nem ouviu?" -Ele ficou na frente de Haskel e olhou nos seus olhos.

"Eu... Não, só vi você."

"Como não a viu? Ela estava lá também. Você disse que precisou sair, mas chegou a vê-la?" -Ele agora gritava- "Como não a viu?"

"Logam eu..."

"Você é um mentiroso!" -Ele empurrou seu peito. A raiva ardia nas suas mãos, ele se segurava para não bater em Haskel- "Como não chegou a vê-la?" -Ele empurrou outra vez o seu peito, fazendo Haskel cambalear para trás.

"Logam você esta bravo, eu sei... Mas precisa pensar no que esta dizen..."

"Seu idiota! A deixou morrer." -Logam o empurrou de novo, dessa vez com tanta força que Haskel caiu para trás.- "A ignorou jogada na floresta! Você é o culpado por isso."

Haskel se apoiou na arvore e levantou.

"Não... não sou."

"Você não fez nada!" -Logam bateu no seu peito, mas de repente suas forças acabaram. As lágrimas embaçaram sua visão.

Haskel o olhou tristemente.

"Ela estava lá... Estava lá e eu não fiz nada." -Ele disse apoiando no seu peito, como se não tivesse mais força para se mover.

Haskel pois as mãos no seus ombros e olhou para o Logam.

"A culpa não é sua." -Ele disse.

Logam o olhou, seu rosto estava molhado pelas lágrimas. Ele passou os braços pelo pescoço do amigo o abraçando e escondeu seu rosto entre seu pescoço.

Haskel ficou surpreso com a atitude do garoto e ao mesmo tempo triste por saber o quanto ele sofria. Ele abraçou Logam de volta e o outro o apertou mais ainda. Ele sentia a respiração pesada de Logam no seu pescoço e as lágrimas quentes molhando sua camisa.

"Isso vai passar." -Haskel sussurrou.

"Tenho medo que não passe." -Logam disse com a voz abafada.

"Se não passar eu estarei aqui..." -Haskel disse olhando para a neve que caía.

Logam se afastou e olhou para Haskel.

"Promete?"