Capuz Vermelho

Capítulo 11


"Vó, a senhora não tem medo de ficar sozinha aqui todos os dias?" -Logam perguntou sentando na poltrona.

"E por que teria, querido?"

Logam pensou em como poderia tocar no assunto das mortes sem assusta-la.

"Bem... Você esta lendo o jornal, não?"

"Ah" -Ela soltou o ar pelo nariz, como uma breve risada- "Eu não leio os jornais a muito tempo."

"E por que?" -Logam a olhou.

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"Jornais forçam você a acreditar nas coisas. Eles escrevem uma besteirinha lá, e todos acham que é verdade ou que devem seguir aquilo."

"É, por um lado a senhora esta certa." -Logam assentiu- "Mas como se informa das coisas?"

"Não preciso." -Ela o olhou e sorriu- "Eu sou muito velha, Logam. Logo não estarei mais aqui. Não preciso saber das coisas, estou feliz assim, sem me preocupar."

"Não diga isso, vó."

"Eu não sou imortal, querido." -Ela riu e voltou a fazer seu tricô.

Logam suspirou e encostou na poltrona. O barulho das agulhas batendo uma na outra era o único som da casa.

"Por que não acende a lareira para nós?" -Sua avó disse apontando.

Logam se levantou e pegou a caixinha de fósforo na mesinha. Ele arrumou as madeiras e riscou o palito, botando fogo na lareira.

"Vó, quando soube que o vovô era a pessoa certa para você?" -Ele voltou a sentar-se na poltrona.

A velha riu.

"Por que quer saber disso, querido? Faz tanto, tanto tempo."

Logam sorriu.

"Gosto de ouvir suas histórias." -Ele disse.

Ela riu novamente.

"O segredo querido, é que você nunca sabe quando uma pessoa é a certa. Apenas acontece."

"E se eu escolher a pessoa errada?"

"Pode acontecer. E você pode aprender com isso, ou lidar com isso."

Logam assentiu compreendendo.

"Mas... se um dia eu escolher a pessoa errada, promete que não me julgará por isso? Quero dizer, continuará me amando, apesar do erro?"

Ela o olhou.

"Contando que esteja feliz." -Ela sorriu.

Ele suspirou e olhou para o fogo que estalava lentamente na rareira, aquecendo toda a casa e dando a sensação de paz e sucesso.

xxx

Depois do jantar, Logam subiu para o quarto e arrumou sua cama para se deitar. O dia tinha sido longo. Ele ajudou a sua avó a fazer uma torta e a trocar todas as lampadas da casa.

O dia havia esfriado, mas por sorte, não nevou nem choveu.

Logam tirou sua camisa e vestiu a do pijama, ele sentou na cama e olhou pela janela. Era possível ouvir as musicas animadas tocando no bar e as conversas altas entre os bêbados.

Ele tirou os sapatos e deitou na cama.

...E agora, fala comigo como se tivéssemos anos de amizade e depois me chama de mentiroso? O que você quer?...

As palavras agressivas de Haskel soavam na sua cabeça e se repetiam, repetiam...

Logam tentava explicar para si mesmo o que não conseguiu para o garoto. Mas não conseguiu. Algo em Haskel chamava sua atenção. Algo estranho... um interesse de saber mais sobre o garoto, uma vontade de ficar perto dele, de conversar com ele.

Mas agora o outro talvez o odiava.

Não era essa a intenção de Logam.

Ele se sentiu triste. Triste por ter agido errado, por ter sido tão idiota, por ter afastado Haskel... Haskel...

Por que ele sentia isso? E o que era isso?