I Never Can Say Goodbye

It´s just a spark.


P.O.V Jill

Era a quarta vez que eu olhava para o relógio em menos de uma hora. Eu não sei o que estava acontecendo comigo, eu só estava me sentindo extremamente ansiosa. Eu nunca tomei tanto café, acho que depois da saída com Lilá na noite anterior, eu estava me sentindo cansada. Eu sei que não me dou bem com a cafeína, mas valeu a pena.

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Sair com Lilá foi legal, desabafar com ela foi melhor ainda. Eu senti falta desses momentos entre irmãs, como eu estava sempre com Dylan e ela com Will, nós nos desencontrávamos muitas vezes. Estava com saudades dela, minha maninha. Eu admiro muito ela, Lilá passou por tanta coisa e continua sendo essa menina de ouro.

Centrada, divertida e humilde. Papai e mamãe estariam orgulhosos.

Olhei para o lado e fiquei encarando o porta retrato em minha mesa.

Eu, mamãe, Lilá e papai. Nossas férias no México, bons tempos. Eu ainda usa aparelho nos dentes, meu cabelo estava até a altura dos ombros e minhas sardas eram mais aparentes. Lilá estava usando maria chiquinha, o sorriso torto e as covinhas fofas, que ela ainda as possui. Papai nos olhava com amor, e mamãe sorria olhando para ele. Que saudade deles, saudades da nossa família junta.

Eu puxei mais para papai, meus cabelos são mais castanhos. Lilá herdou os cabelos vermelhos da mamãe. É inevitável acordar todos os dias e não lembrar deles. O cheiro, os móveis, os retratos e Lilá. Ela virou um xerox exato da dona Beatrice Grant. Fiquei encarando o retrato quando senti alguém se aproximando.

–Sabe, você não consegue esquecer o passado, não é? - Olhei para cima e notei que era Dylan. Ah. - Isso é uma das coisas que mais me irrita em você.

–Hum, que legal. Então tá, tchau Dylan - Me concentrei em um caso colocado em minha mesa.

–Jill, qual é. Você sabe que eu te amo, vamos voltar - Ele sorriu.

–Não, Dylan. Eu já falei que não quero mais continuar esse relacionamento. É tão difícil pra você entender? - Ele me olhou fundo nos olhos. Ele estava quase suplicando.

–É ele, não é? - Dei de ombros, me fingindo de desentendida. - Céus, Jill! Você nunca vai perceber que esse cara não vai mais voltar e mesmo se voltasse ele traria a noiva junto? Você não tem mais chances com ele, supere isso. Você tem que ficar com alguém que goste de você, que te queira bem. Deixe esse cara pra lá enquanto há tempo, vai doer menos.

–Pare com essa babaquice de psicologo. Não sou uma das suas pacientes - Ele revirou os olhos - Dylan, acabou para nós dois. - Me levantei e sai detrás da mesa - Quem tem que superar isso é você. Você tem que ficar com alguém que goste de você, que te queira bem. Não é mesmo? - Lancei meu olhar sarcástico e saí da sala.

Fui até a sala do meu chefe e coloquei os casos resolvidos em cima da mesa dele. Por sorte, hoje eu não teria nenhuma audiência ou algum caso para assessorar. Tinha a tarde livre e estava pronta ir para casa. Deitar na minha cama e comer um brigadeiro enquanto assisto um filme clichê de romance. Provavelmente Lilá não estaria em casa, então um Nicholas Sparks estava liberado.

Me despedi do pessoal do escritório e já desejei um bom final de semana. Peguei meu carro e fui para casa. Despejei todos os livros e minhas pastas sobre a mesa. Fui até o meu quarto para colocar uma roupa mais confortável. Mexi no meu armário, mas acabei derrubando uma pilha de caixas enquanto tentava tirar um casaco. Peguei todas elas e as empilhei de novo, menos a última, que estava sem tampa. No fundo dela estava um caderninho rosa, com meu nome na capa. Era meu diário, e de anos atrás. Guardei tudo de volta e fui até a sala de estar. Abri o diário e comecei a folheá-lo.

"12 de outubro,

Oh, deus, como Charles estava lindo hoje jogando. Malditas pernas, porque eu não consigo usar vocês direito? Enquanto Chloe fica lá, perto dos jogadores e animando a torcida, eu fico aqui, assistindo na arquibancada. E então ele faz uma cesta, na comemoração ele olha para o público e sorri levantando os braços. Que sorriso. Esse maldito sorriso que venho sonhando há quase dois anos. Porque tem que ser ele? Porque ele tem que ser irmão da minha melhor amiga? Porque ele é dois anos mais velhos? Porque ele é popular e anda com a galera descolada, enquanto eu sou uma caloura entediante e que não serve nem para ser animadora de torcida. Poxa, nem pra dançar meus pés servem.

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If you could see

That I'm the one

Who understands you

Been here all along

So why can't you see?

You belong with me"

Taylor Swift, uau. Sai do meu mar de pensamentos e escutei um barulho de carro em frente a minha casa. Olhei pela janela e vi Lilá no banco de carona. O garoto que estava dirigindo eu não conheço, mas é bem bonitinho. Ela saiu do carro sorrindo e com uma sacola em cada mão. Me levantei para abrir a porta, mas parei quando vi que um papel tinha caído do diário. O ajuntei, e não era um papel, era uma foto. Eu, Chloe e Charles. Uma festa na casa dos Robb quando éramos mais jovens. Charles está no meio de nós duas, e olhando agora, eu percebi uma coisa. O jeito com estou olhando para ele, é o mesmo jeito que mamãe olhava para meu pai.

–O que você tá fazendo? - Lilá entrou em casa e sentou no sofá.

–Nada demais, to lendo uma coisa aqui. Bobagem minha - Ela fez uma cara de desconfiada - Mas e aí? Quem era o bonitão que te deu carona?

–Fred Baltimore - Ela encarou o teto - Ele não é ninguém, ainda. - Ela sorriu - Mas olha o que eu tenho aqui - Ela me entregou uma sacola - É pra você.

Abri a sacola e tirei de dentro o vestido preto mais bonito que já vi, ele era muito delicado e o tecido era maravilhoso.

–Que lindo, Lilá. Tem algum motivo especial? Vai usar quando? - Perguntei passando a mão no vestido.

–Não é pra mim, tolinha. Ele é seu - Fingi uma cara de espanto e ela me atirou uma almofada.

–Muito obrigada, maninha. Posso saber em que ocasião devo usa-lo?

–Amanhã - Ela sorriu - Os Robb vão dar um jantar, e eles nos convidaram. Quando vi esse vestido eu lembrei de você na hora, e não foi difícil compra-lo - Ela riu sozinha.

–Ele não é meio chique para um simples jantar?

–Jill, uma mulher deve sempre ficar linda. Nunca se sabe o que o futuro nos reservar - Ela se levantou e foi em direção a escada - Amanhã fique pronta cedo, nós vamos no salão - Ela sorriu e subiu.

Peguei o vestido e meu diário e subi também. Me olhei no espelho, e coloquei o vestido na minha frente. Ele era perfeito, pena que não para uma garota como eu. Eu não sou especial, não sou a mais bonita, a mais querida, a mais inteligente. Eu sou, eu. Eu sou daquele tipo de pessoa que já se acostumou com a infelicidade. É, eu não era feliz. Acho que puxei isso dos meus pais, só tenho um amor para vida inteira. E esse meu amor era Charles. Peguei a foto dele e me joguei na cama.

–Porque depois de todos esses anos parece que coce ainda tá aqui? Porque eu nunca te esqueci? Será que um dia eu vou te esquecer? - Bufei e escondi a cara nos travesseiros.

Devo ter dormido assim, porque acordei com Lilá berrando dizendo que nós estávamos atrasadas. Coloquei qualquer roupa que vi na frente, passei uma água no rosto e coloquei meus óculos escuros.

–Meu Deus, Jill! Já é meio dia! - Ela me arrastou até o carro e foi dirigindo até o salão.

Fizemos pé, mão, a sobrancelha, maquiagem e o cabelo. Quando

Mary - minha cabeleireira - me mostrou um espelho eu não pude acreditar. Eu estava muito bonita, e aquele vestido combinaria com essa Jill. Eu estava diferente, e com isso me sentia diferente, confiante. Ficamos até as seis horas da tarde no salão, e eu continuava sem saber o porque de tanta arrumação. Era só um jantar.

Lilá foi se arrumar, e eu também o fiz. O vestido serviu e ficou perfeito. Era um vestido mágico, só pode. Desci as escadas e encontrei Lilá sentada já pronta.

–Espera, eu vou assim e você vai desse jeito? - Ela usava sapatilhas e o look bem menos formal.

–Sim, porque eu não quero que o Will pense que eu estou me arrumando para ele.

–Tá, mas eu não tenho ninguém para qual eu devo me arrumar - Falei pegando minha bolsa na cozinha.

–Jill, você tá linda. Faz um tempo que não te vejo feliz desse jeito. Aproveita, vai. Se dá uma chance - Ela sorriu e pegou em minha mão

– Vem, tá na hora.

Fomos apé, afinal a casa não era tão longe da nossa. Pareceu uma eternidade - já que estava de salto. Fui andando rápido, quando já estava na porta notei que Lilá estava mais afastada.

–Pode ir entrando, eu esqueci minha carteira..

–Mas, carteira pra que? - Mas ela já tinha virado de costas - Tá, né.

Bati na porta, mas acabei notando que o forro do vestido estava aparecendo. Tentei coloca-lo no lugar.

–Jill?

Não, não pode ser.

–Charles? - Olhei para cima e o encarei e ele sorriu.

Os mesmos olhos de menino brincalhão, o mesmo sorriso que fez meu coração derreter de novo. Fiquei um tempo estática apenas o encarando, só faltou eu me beliscar para ver se era mesmo real. A tensão era grande, então ele a desfez. Se aproximou de mim e me deu um abraço.

Então todo meu sentimento que estava escondido embaixo do colchão voltou.

E junto com ela a esperança.

It's just a spark

But it's enough to keep me going

And when it's dark out

No one's around, it keeps glowing...