A tarde estava chegando ao fim. O sol se punha bem ali, colorindo o céu em um laranja vivo. O anjo caído estava no alto do maior arranha-céu do centro da cidade de Brookhaven, Geórgia, e dali ele podia ver todo o sol e sua beleza.

Havia muita vida lá em baixo. Pessoas trabalhando, estudando, caminhando, jantando, enfim, vivendo. E ele estava ali, fazendo nada pelo que pareciam horas. Este era o único jeito que ele arranjou para se despedir.

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Que bela despedida, ele pensou, vendo o sol se pôr no alto de um arranha-céu. Mas era como deveria ser. Ele não podia, ele não se permitia misturar-se com os humanos. Com os estúpidos e irracionais humanos. Afinal, ele já fora um anjo do Senhor, um ser superior.

– Superior. – ele repetiu a palavra que pensara.

Ele fora superior. Era, até sua caída. E após aquele dia ele virou um ser desprezível. Sedutor, aproveitador, um jogador, porém imortal. Ele se aproveitou de todas as drogas humanas.

Bebidas, drogas, jogos, sexo. E tudo parecia tão bom... e tão errado. Mas lembrando-se ali, naquele momento tudo fora tão estúpido. Tão irracional, tão bobo, tão inútil... tão humano.

Tantas mulheres inocentes. Tantos roubos, lutas em bares, coisas erradas. E ele foi de anjo do Senhor para um demônio. Uma criatura sem alma, sem sentimentos, vivendo apenas para satisfazer-se.

Com um suspiro exasperado ele se levantou. E ali, de pé, ele viu o sol sumir e dar lugar a lua. Estrelas brilhavam no céu, e era tão alto que ele não ouvia o barulho dos carros.

Aquela era sua deixa. Um adeus silencioso foi dito em seus olhos, e dali ele partiu.

Era uma partida. Era um adeus. Era até melancólico.

Mas, afinal, aquele fora um bom dia.