Beautiful Bones

Memórias


Dessa vez, meu e-mail começa com um nome diferente, que eu digito com rapidez.

"Sophie." É uma mudança legal.

"Os vestidos chegaram hoje de manhã, bem a tempo! E são maravilhosos, todos eles. Mas infelizmente, eu não posso usar todos, então estou vestindo o roxo drapeado. Se você já sabe de qual eu estou falando, vai lembrar que ele é longo, maravilhoso e sem mangas. Então eu estou cobrindo meu busto a cada cinco minutos, porque eu me sinto... exposta. Mas minha mãe disse que parecia bonita, e a minha amiga Ramona também, então vou tentar usá-lo a noite toda.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Estou te mandando isso enquanto eu espero meu (pausa dramática) acompanhante. Sim! Me convidaram! Ele não me beijou. E acho que não vai beijar hoje, também. Mas eu não me importa, sabe por que? Ele disse que podia esperar por mim. Dá pra acreditar? Eu estou sonhando?

De qualquer forma, eu estou esperando ele, nervosa. Mamãe passou a tarde inteira fazendo cachos no meu cabelo, e ele está recheado de curvinhas. Ela prendeu duas mechas da frente, lá atrás e fez minha maquiagem. Não que eu esteja usando muita, mas estou diferente.

Estou nervosa também. Não com relação a Owen (o garoto que eu estava falando para você agorinha), mas Cathy vai estar lá, e todo o resto da escola também. Eu só não quero que algo estrague esse momento, mas eu sei que alguma coisa vai estragar. Pelo menos eu ESPERO que não.

Vocês vêm para o casamento, não é? Acho que minha mãe avisou papai que o casamento está de pé outra vez. E, se eu não estivesse na pressa, eu contaria detalhadamente como tudo isso aconteceu. Vou apenas dizer que foi lindo."

Aquele frio na barriga volta, quando eu escuto minha mãe gritando.

-Willow, Owen está aqui. -Eu acho que começo a tremer.

-Já estou indo. -Então eu começo a digitar BEM mais rápido.

"Ele chegou. Preciso ir, obrigada pelos vestidos; como vocês estão? Prometo ligar.

Com amor,

Willow."

Então eu espero até o barulho de mensagem enviada ecoar e levanto da minha cadeira. Minha mãe bate na porta, depois abre. Ela me encara surpresa, e abre a boca, mas não parece achar as palavras certas.Ela pisca, e se recompõe.

-Ele está aqui. Uma gracinha de terno e gravata. -Ela diz, para me deixar mais nervosa ainda, mas eu não estou interessada nisso, eu estou interessada em outra coisa.

-E quanto a mim? -Apesar da produção, eu ainda não estou confiante que eu vou estar... bem, na altura de Owen. Ele deve estar lindo, e eu... eu estou diferente. Mas...

-Você está linda. Essa cor realmente combina com você. -Eu sorrio, um pouco mais tranquila, por mais que ela seja minha mãe, e as opiniões de mãe nunca sejam confiáveis, ela está falando a verdade. Se eu estivesse horrorosa, ela diria. Eu respiro fundo.

-Obrigada. -Ela deixa a porta aberta e sai, provavelmente para o seu quarto. Eu tento não pensar em hoje. Porque quanto menos eu pensar, menos em pânico eu vou estar quando a gente chegar na escola. Eu desço as escadas, prendendo a respiração a cada passo que eu dou. Parece que meu coração vai sair pela boca, e meu estômago revira. Só de pensar que Owen está lá embaixo. Quando eu piso no último degrau, eu me forço a olhar para cima.

E eu eu estou linda, Owen está um deus.

Parece aquelas cenas de filme, exatamente como nós estamos fazendo agora, mas quando meus olhos percorrem pelo corpo dele, eu congelo no lugar. Porque ele está lindo. Todo de preto, com uma rosa enfeitando o terno, na altura do coração. Ele me encara, também. Eu sinto seus olhos percorrem meu corpo como eu fiz com ele, e nossos olhos se encontram ao mesmo tempo, quase como se nós tivéssemos combinado o momento certo. Ele sorri para mim, um pequeno sorriso, no canto da boca. Eu fico vermelha.

-Oi. -Eu digo, rezando para que minha voz não tenha saído tão trêmula quando eu ouvi. Ele cruza a distância que faltava entre nós e chega perto de mim.

-E aí. -Eu rio, com a casualidade dele. E pior que ele não parece nem um pouquinho nervoso. Ele parece... feliz. Como SEMPRE. Ele me dá um beijo na bochecha. Na tevê da sala, uma música qualquer começa a tocar. -Eu amo essa música. -Ele comenta.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

-Não conheço. -Eu dou de ombros, mais relaxada por estarmos falando de uma coisa tão banal. Mas eu sei que no minuto que ele pôr os olhos em mim novamente, eu vou pirar. Porque eu nunca fiz isso na minha vida. Eu estou com um garoto. Eu vou para o BAILE com um garoto. E não é um garoto qualquer. É Owen. Um cara legal, divertido e que não tenta me beijar. Não que eu duvide que ele QUEIRA.

-Qual é o protocolo a ser seguido mesmo? -Ele pergunta brincalhão, eu fingo pensar.

-Acho que, se eu me recordo, você tinha que dizer que eu estou linda.

-Você está linda. -Ele diz, mas com sinceridade. É um daqueles momentos que por mais feliz que ele esteja, ele consegue se mostrar sério, para mostrar que está falando a verdade.

-Obrigada. -Eu sorrio. -Vamos? -Mas ele não se move um centímetro. Ele só me encara.

-Você parece feliz. -O comentário me pega de surpresa. Então eu penso que eu deveria ter parecido miserável nos primeiros dias, em que eu comecei a falar com ele e Ramona. Eu tento por dois segundos encontrar aquele sentimento angustiante que eu sentia, mas parece que sumiu. Parece que tudo que restou foi aquele sentimento que eu não consigo identificar, aquele burburinho baixo, mas que não me incomoda. Me deixa... me deixa feliz.

-Eu estou feliz. -Eu respondo, sorrindo que nem ele.

-Bom. -Então ele dá um passo para trás, e estende o braço para mim, como um coreografado cavalheiro. Eu enlaço meu braço com o dele e nós saímos de casa.

-Até depois, mãe! -Eu grito, mas não sei se ela ouve, porque não responde. Eu entro no carro, e depois nós vamos em direção a escola.

É esquisito não ter Ramona no carro, com a gente. Ela foi mais cedo, porque a mãe dela pediu. Só para supervisionar enquanto tudo era preparado. Aparentemente, a mãe dela sabe que Owen vai me levar e não queria que o supervisionamento do baile atrapalhasse nossos planos, então mandou Ramona. Acho que, por ela não ter um par, não se incomodou muito. Acho que seria meio doloroso para ela, não ter ninguém para esperar no pé da escada, ou levá-la para o baile. Isso deprimiria qualquer um. Até, talvez, eu.

A ida até a escola é silenciosa, mas não desconfortável. E demora tempo suficiente para que eu relaxe. Pena que, assim que entramos no estacionamento da escola, a tranquilidade acaba, e eu viro uma pilha de nervos. Dá pra ouvir a música lá de dentro e eu quero fugir outra vez. Tem muita gente. Som alto. Pessoas bem vestidas. Isso DEFINITIVAMENTE não é para mim. Owen entrelaça os dedos nos meus, e aperta minha mão, quando vê que eu estou nervosa, e a gente fica alguns segundos encarando a porta do ginásio.

-É muito tarde pra desistir? -Eu pergunto, meio horrorizada quando vejo uma garoto rindo que nem uma bêbada, segurando um copo de ponche. É. Eles já devem ter posto álcool. Lá se vai o ponche gostoso de morango.

-É. Além disso, se você não entrar, não vai saber como ficou seu trabalho.

-Nosso trabalho. -Ele ri com a minha correção.

-É nosso trabalho. E Ramona está morta de curiosidade para ver como você está. -Isso também me pega de surpresa. Quero dizer... Ramona nunca pareceu o tipo de garota que se preocupava com outra... nunca. E tudo bem, ela deu várias indicações que ela se preocupava comigo, mas ainda não me acostumei com o fato de que agora ela é minha amiga, e ela PENSA em mim. E é bom perceber que a minha amizade com ela, não é igual a minha amizade com Cathy.

Com Cathy, eu sempre ficava na sombra, enquanto dava meu espaço para ela brilhar. E eu não ligava, porque ela era melhor que eu em tudo, então só me poupava da humilhação de ter todo mundo me analisando. Eu ficava lá observando enquanto ela vivia feliz, e estava lá quando ela precisava de ajuda também. Mas ela nunca estava lá por mim. É como se nossa amizade se baseasse apenas na minha preocupação com ela e a preocupação dela com o resto do mundo.

-Então vamos lá. -Eu digo, respirando fundo e deixo Owen me guiar pelos corredores até a entrada do baile. Antes de abrir a porta, ele vira para mim.

-Pronta? -Eu solto um gemido de angústia.

-Não. -Ele ri.

-Dê uma chance. -Eu respiro fundo. Eu posso fazer isso. Eu posso com certeza fazer isso. Não vai ser tão ruim. Eu vou me divertir. Vai. Ser. Legal.

Ele abre a porta.

E ao invés de pensar que eu vou ficar bem, eu penso em como esse lugar está lindo. Eu estou sem palavras. Uma torre Eiffel posicionada bem no meio do ginásio, reluz as luzes do globo de espelhos, lá em cima, as luzes que iluminam se intercalam em azul, amarelo, vermelho e rosa. E uma música francesa está tocando, de fundo. As mesas, ao estilo francês, estão apinhadas de estudantes e do outro lado da sala, há uma ponte com os cadeados dos alunos que já botaram seus nomes e pessoas dançando. Owen me puxa para um lugar, depois da torre Eiffel e então eu percebo.

São os nossos desenhos.

-Bem vinda ao SEU baile.