Todas as nossas memórias

Capítulo 7 - As maldições que marcam e os escudos que nos protegem


Ele não a soltou.

Em meio a toda bagunça que se seguiu, os gritos, as ordens e os feitiços, Scorpius não se afastou dela. Não poderia, mesmo que quisesse. Vê-la desmaiada em seus, tão frágil e delicada, lhe compelia a protege-la.

Quando a ruiva desmaiou, o interrogatório foi interrompido. Então, Scorpius simplesmente deu a costas a todos, se dirigindo ao St. Mungus com Rose em seus braços. Logico que todos os seguiram, com Draco se encarregando de levar a pequena Sofie, mas o loiro sequer pensara nesse detalhe enquanto agia.

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Na verdade, só notou que estava acompanhado quando seu pai precisou obriga-lo a colocar a jovem desacordada em uma das camas do hospital, para realizar os exames. E, quando Scorpius enxergou todos os curandeiros que se revezavam nos cuidados de Rose e da Shacklebolt, a realidade o atingiu.

— Como ela esta? - Inquiriu ao pai. - Quando a Rose vai acordar? Ela vai recuperar a memória?

— Filho, se acalme. - Pediu o Malfoy, percebendo o crescente panico na voz do rapaz.

— Senhor, acho melhor se retirar. - Um dos curandeiros já se adiantava ao seu lado, indicando a saída.

— Quero ver você me tirando daqui. - Seu tom agora era gelado, encarando a homem que se encolheu sob seu olhar.

— Scorpius! Se pretende ficar plantado ao lado da Weasley, ao menos não atrapalhe. - Mas nem a repreensão na voz do pai o impediu de seguir o corpulento curandeiro com olhos irritados, até que ele sumisse atrás da cortina que separava Rose e Sofie. - Intimidar meus colegas de trabalho não nos ajudaram em nada.

— Respostas são de mais ajuda que a sua repreensão, pai. - O sarcasmo em suas palavras foram dirigidas ao mais velho, mas os olhos de Scorpius se mantinham na jovem ainda desacordada.

— Merlin me ajude. - Começou o medibruxo. - Os exames iniciais mostram níveis normais. A reação à estimulação das pupilas não aponta danos aos reflexos dos nervos cranianos e sua pressão, ainda que um pouco baixa, já esta sob controle.

— Ótimo, qual o próximo passo? - O loiro soltou um suspiro aliviado.

— Eu preciso fazer alguns feitiços para examina-la, além de instruir o preparo das poções que usaremos. - Nesse ponto, Draco já executava alguns pequenos encantamentos não verbais e dava ordens aos demais curandeiros. - Já você, precisa sair.

— O que? Não mesmo. - Scorpius ficou visivelmente tenso, mas não se moveu do lado de Rose.

— Sim, você vai. - Continuando em seguida, impedindo que o filho respondesse. - Porque preciso fazer meu trabalho corretamente e não posso fazer isso com você me sobrevoando. - Ele alcançou o filho e tocou seu ombro, dando um leve aperto. - Deixei que ficasse ao lado dela enquanto pudo, mas preciso que confie em mim e me deixe trabalhar.

— Eu a abandonei uma vez e foi a pior coisa que já fiz na vida. - Ouvindo aquelas palavras, mais peças começaram a se encaixar na mente do medibruxo.

— Isso é muito diferente do abandono, filho. Confie em mim e me deixe cuidar dela por você.

Scorpius jogou uma derradeira olhada para Rose, ajeitando uma mecha dos fios ruivos e obedeceu o pai.

— Estarei esperando notícias. - Foram suas ultimas palavras, antes de se retirar do quarto.

...

Scorpius percorria os corredores do hospital, ansioso e sem saber o que fazer enquanto esperava. Pensava que estaria sozinho, mas ao se aproximar da sala de espera, percebeu que todos os Weasleys já sabiam sobre Rose e esperavam notícias, assim como ele.

— Malfoy. - Chamou o pai de Rose, assim que o loiro apareceu sob o grande arco que dividia a sala do corredor principal. - Você viu a Rose? Sabe como a minha filha esta?

— Eu estava com ela há pouco tempo. - Respondeu, instantaneamente consciente da atenção que recebia de todos os presentes. - Meu pai esta cuidando dela agora. Ele me disse que seu quadro era normal e não havia indícios de danos aos reflexos dos nervos cranianos, depois me expulsou de lá.

— Quando podemos vê-la? - O questionamento partiu da mãe da ruiva, Hermione.

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— Eu ainda não sei, senhora Weasley. - Foi sincero. - Mas meu pai prometeu dar notícias quando puder.

— Quando aquela doninha puder? Isso vai demorar demais. - Rony reclamou. - Preciso ver minha filha agora.

— Eu entendo, senhor Weasley, mas ela precisa ser examina. - Scorpius tentou conte-lo, ignorando a ofensa ao seu pai. - Meu pai é o melhor no que faz, ela esta em boas mãos.

— Fique calmo, Rony. - Hermione pediu ao marido, seu olhar tão parecido com o da filha que Scorpius teve dificuldade de se concentrar no que a mesma dizia. - Nossa menina esta de volta, isso é tudo o que importa.

— Tem razão, Mione. Como sempre. - Ele concordou, abraçando a esposa.

— Eu mal pude crer nos meus olhos, quando ela entrou na minha sala. - Harry comentou com os amigos, dando palmadinhas no ombro do ruivo. - Pode acreditar que, depois de tantos tempo, foi ela a nos encontrar?

— Se eu acredito? - O Weasley retorquiu, com o mais orgulhoso dos sorrisos. - Eu sempre soube que ela era capaz e nunca duvidei que a teríamos de volta.

— Eu sei, meu amigo. - O trio de ouro. Com tantos anos de amizade e histórias, eles encaravam uns aos outros com a felicidade, por não serem obrigados a dividir mais uma dor.

Então, o falatório voltou forte e alto pela sala de espera. Dando a Scorpius a chance de se aproximar do amigo, sem ser observado pelos demais.

Albus, que estava em um canto da sala, abraçando e trocando sorrisos com a namorada, se animou ao ver o loiro se aproximar.

— E aqui esta ele! - O sorriso que nasceu no rosto do Potter, fez Scorpius se arrepender antes mesmo de parar ao seu lado. - Sabe cara, esse lance de ter mulheres desmaiado ao te ver não vai fazer bem ao seu ego. Devia diminuir um pouco esse charme.

— Fecha essa boca, Al. Parece um diabrete rindo assim. - Apesar da resposta atravessada, o loiro lançou um rápido sorriso ao amigo e, então, completou o gesto com um rígido aceno de cabeça, cumprimentando a namorado do mesmo. - Longbottom.

— Malfoy. - O silencio que se seguiu entre os três, foi acompanhado de um revirar de olhos do Potter do meio e só teve fim com a aproximação de um dos primos Weasley.

— Então, eu ainda não entendo uma coisa. - Começou Fred II, chamando atenção de alguns parentes próximos. - O que a Rosinha tem de tão especial com o Malfoy? Não acredito que ela lembrou dele por causa das brigas na época de Hogwarts.

— É, Malfoy. O que você e a Rose tem, afinal? - Instigou Alice, sem se importar com o olhar reprovador do namorado. - Será que dessa vez você vai ter culhões para admitir? Ou vai deixar a minha amiga sozinha outra vez?

— Alie, amor. - Albus falou baixinho pra ela, tentando não chamar atenção. - Esse não é bem o momento pra lavar roupa suja.

— Não me venha com essa de amor, Potter. Eu e Scorpius temos contas a acertar desde o sétimo ano. - Scorpius e Alice se encaravam, remoendo antigas feridas, sem nem perceber que já tinham todos os Weasleys e agregados como espectadores.

— Isso não é da sua conta, Longbottom. Deveria se concentrar no seu relacionamento, antes de querer me criticar. - O tom do loiro foi cortante e Alice recuou um passo, magoada.

— Scorpius. - O Malfoy percebeu o aviso na voz do amigo, mas estava tão irritado que não deixou transparecer seu arrependimento.

— Mantive minha boca fechada pra atender um pedido da Rose e por acreditar que você estava mesmo sofrendo. - A morena tentou ignorar o comentário, se dirigindo novamente ao loiro. - Mas não posso te assistir abandonando ela outra vez, não quando a Rosie só tem você.

— Isso não é verdade, Alie. Somos a família dela. Ainda que a Rose não se lembre, estaremos sempre aqui. - Alice sentiu o toque dele, deslisando em uma caricia por suas costas.

— Não é a mesma coisa, Al. Você a conhece tão bem quanto qualquer um de nós. A Rose sempre se mantem tranquila em meio a qualquer tempestade, bancando a forte e controlada pra que todos ao redor fiquem bem, mesmo que por dentro ela esteja quebrada. - Cada palavra foi certeira, mostrando o peso das responsabilidades de Scorpius. - Você sabe que ela nunca se mostraria pra qualquer desconhecido e é isso que todos nos somos pra ela agora, exceto ele.

— Eu estou aqui, não é? - Indagou o loiro, indicando sua posição com um movimento dos braços. - Te dei algum indicio de que ia embora?

— Eu fiquei tão surpresa quanto qualquer um que sabia de vocês em Hogwarts. - A morena emendou, tão envolvida na discussão quando o Malfoy. - Você estava la, até não estar mais.

— Não foi tão fácil quando você faz parecer. - A acusação do loiro estava repleta de ressentimento.

— Então me conta como foi. - Insistiu, dando alguns passos na direção do jovem, mas quando continuou, fez questão de incluir um olhar enviesado para o namorado. - Vocês desviam do assunto como se fosse um tabu tão impronunciável quanto o nome de Voldmort.

— O que você esta dizendo, Alice. - A pergunta de Rony, surpreendeu a dupla, que discutiam sem lembrar das pessoas ao redor. - Esta insinuando que a minha Rosinha tinha algo com esse filhote de doninha?

— Eu não sei de nada, senhor Weasley. - Alice disse num tom inocente, sem deixar de observar cada reação do Scorpius. - Vai ter que perguntar ao Malfoy.

O loiro não esperou a pergunta, falando para qualquer um que quisesse ouvir.

— Sou apaixonado pela sua filha desde os 15 anos, senhor Weasley. - Encarando Rony nos olhos, quis deixar bem claro a todos. - Antes disso, se pensar bem. Quando eu não era mais do que um pequeno idiota, arrumando briga pra chamar a atenção dela.

Rony o estudou com muita atenção, enquanto por toda a sala, não se ouvia nenhum barulho.

— Minha filha gosta de você, rapaz?

— Se passaram 10 anos, então eu não saberia dizer, senhor. - Ele foi tão sincero quanto pode. - Nos namoramos escondidos na época de Hogwarts, a Rose queria contar a todos depois da formatura. Era o plano. Nos tínhamos planos. Mas não eram pra ser como desejávamos.

— A Rose queria que fosse assim. - Longbottom assegurou, ascendendo um brilho de saudade nos olhos do loiro.

— A Rose sempre ligou mais pros outro do que para si própria. - Foi a resposta de Scorpius. - Mas a segurança dela era mais importante do um amor de adolescência. Ela é mais importante.

— Você a largou, disse que não queria essa vida pra ela, mas veja só aonde estamos. - Ela indicou o arredor com um gesto dos braços, inconformada. - Você ainda a ama, passou todos esses anos amargurando a própria decisão e a Rose, ainda assim, esta naquela cama de hospital.

— Amor, estamos todos nervosos. Reviver 10 anos de historias, que empurramos para baixo do tapete, talvez não seja a coisa mais sensata no momento. - O Potter sugeriu com certo receio do que a dupla revelava aos demais.

— Eu quero que a sensatez vá o inferno, Potter. - Apesar das palavras, a morena não sentia raiva, mas não tinha certeza se podia confiar no homem que um dia chamou de amigo. - Segurei a barra com a Rose a dez anos, quando ela achou que seriam os dois contra o mundo e ele a deixou. Quem me garante que não vai acontecer de novo?

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— Entendo que esteja com raiva e magoada por tudo o que aconteceu. Você é uma boa amiga. - E Scorpius realmente entendia. - Mas essa historia não é sua e eu agradeceria se não me obrigasse a reviver esse momento. Não agora e, principalmente, não na frente de todas essas pessoas. - Suas ultimas palavra se tornaram sussurros que apenas ambos poderiam entender.

— A opinião de terceiros ainda é tão importante pra você, Malfoy? - Com aquela, Scorpius se sentiu posto contra a parede pela morena.

— Inferno, Alice! O que você pretende com isso, afinal?

— Não vou estar la pra ela, Scorpius. - Sua voz se manteve baixa, adquirindo pequenos indícios da frustração que sentia. - Preciso saber que dessa vez é diferente.

— Não sou mais um adolescente assutado, Alie. - Ele engoliu o bolo que se formou em sua garganta e, quando falou, suas palavras foram firmes. - Sou um auror treinado, já passei por coisa demais pra ter medo de comensais e vivi o pior cenário que poderia imaginar para nos dois. Então, não tem nada que vá me afastar dela agora.

— Fico feliz em saber disso, Malfoy. - Rony surpreendendo a todos, arrancando um sorriso orgulhoso de Hermione.

— Esta satisfeita agora? - Scorpius dirigiu um olhar cansado a Alice.

— Na verdade, sim. - O sorriso da mulher lhe enviou fez o loiro estreitar os olhos em sua direção.

— Chega, vocês dois. - Albus se entrometeu, antes que a discussão recomeçasse. - Já tive o bastante desse duelo entre minha namorada e meu melhor amigo. - Então, abriu o seu melhor sorriso para ambos. - Agora, peçam desculpas e deem um abraço. Já passou da hora das crianças se acertarem.

— Vá a merda, Potter. - Mas resposta, em uníssono, só aumentou o sorriso do moreno.

— Por que sempre que eu apareço, chego a tempo de ouvir palavras como essas? - Questionou Draco, pegando de surpresa todos que se concentravam no trio.

— Porque, claramente, sou uma alma incompreendida, tio Draco.

— Não sou seu tio, Potter. - O Malfoy desceu o olhar pela prancheta que levava, tentando manter a expressão seria. - E sua alma não é a unica coisa... singular em você.

— Pois é, mamãe também me acha especial.

— Ninguem duvida que você é especial, Al. Agora fecha a boquinha. - O Potter do meio sorriu com implicância para a irmã que o ignorou, se aproximando do medibruxo. - Como a minha prima esta, Dr. Malfoy? Aceitando qualquer boa informação.

— Tem razão, queria. - Hermione concordou, ainda grata pela distração que o sobrinho proporcionou aos seus nervos. - Como esta a minha filha, Malfoy?

— Fisicamente, a senhorita Weasley esta estável. - Draco manteve os olhos nas fichas que levava, dessa vez para ler o prontuario da paciente. - Há questões como a má nutrição, cortes superficiais e hematomas, mas já estamos remediando esse quadro com poções e encantamentos de fácil execução.

— E a memória dela? - A pergunta partiu de Rony, mas era a questão que preocupava à todos.

— Não foi consequência de qualquer contusão e já descartamos a possibilidade do Obliviate. - Ele prosseguiu com as respostas, abandonando o prontuario e olhou pra aquela família, todos ávidos por respostas. - Isso nos deixa com a grandes chances de se tratar de um trauma psicológico.

— E isso é remediável? - Scorpius se pronunciou pela primeira vez, desde de que o pai chegou, dando voz aos seus medos.

— Pode levar algumas semanas, talvez meses, ou ela pode olhar pra qualquer um de você e lembrar de tudo hoje ou amanha. - Draco disse com sinceridade. - Mas também existe a possibilidade disso nunca acontecer.

A notícia foi acompanha de alguns suspiros de choque e lagrimas não controladas.

— Ainda não sabemos o que causou o possível trauma, mas considerando o estado geral dela, eu diria que a tortura é uma possibilidade. Afinal, a Weasley apresenta sinais compatíveis com maldições características dos Comensais.

— Esta se referindo as maldições imperdoáveis? - Rony foi o único que reuniu coragem para perguntar.

Draco concordou com um aceno de cabeça antes de voltar a falar.

— Em conjunto com os sinais físicos que ela apresenta, lapsos de memória que se referem a longas horas do período em que ela esteve desaparecida, podem sugerir o uso da Maldição Imperius. - O loiro procurou as melhores palavras que pode, mas sabia que nem as frases mais suaves aliviariam a tensão daquelas notícias. - Já a amnésia seletiva, pode ser decorrente do trauma psicológico causado pelo cruciatus.

— Alguns estudos apontam que é uma consequência mais comum entre os aurores. - A informação partiu de Alice, não surpreendendo nenhum dos presentes. Como medibruxa pesquisadora no St. Mungus, a Longbottom ganhou alguns prêmios de inovação medica e encabeçou varias pesquisas que vinham desenvolvendo a medicina bruxa. Possuindo um interesse pessoal por tudo que envolvia as maldições imperdoáveis, dadas as suas circunstancias familiares.

— Acredita-se que o cruciatus estimule os receptores de dor de forma agressiva, a tortura é tão excruciante que pode levar a insanidade. - Ela continuou a explicação. - Como forma de amenizar esses danos, os aurores vem trabalhando com encantamentos de conservação de memórias. Mas os casos de amnésia seletiva tornaram-se uma consequência comum nos casos de torturas mais prolongadas.

— Exatamente. - Malfoy concordou prontamente, recebendo um aceno positivo da maioria dos aurores presentes. - Há uma ciência semelhante aos patronos nesses encantamentos, as memórias mais fortes e felizes são as ultimas a se perderem, funcionando como um escudo e protegendo o bruxo da insanidade causada pela maldição.

— Mas isso só ficará claro com o prosseguir do inquérito, isso se as memórias dela trouxerem indícios do ocorrido. - Ele continuou, se dirigindo especialmente ao Potter mais velho e os demais aurores.

Draco ainda falava com Harry, mas o real significado daquelas palavras não gritavam na mente de Scorpius. E ele pensou que havia uma certa justiça poética em tudo aquilo. Já que, após todo esse tempo, foram suas memórias com ela que o fizeram resistir à sua falta.