Incertezas Mutantes

Reencontro


Os dois fugitivos levaram horas para percorrer os mesmos caminhos do dia anterior no sentido oposto. A volta parecia se arrastar e o percurso parecia muito mais longo. Jully sentia-se tola por ir e voltar em um mesmo caminho, mas Gambit havia lhe garantido que seria uma ótima forma de não se perder de Jean e ainda despistar seus inimigos.

Era próximo ao meio dia quando os dois cruzaram por mais um trecho de águas correntes. Jully se atirou na grama à beira do rio e levou a água limpa aos lábios. Foi um pequeno alívio para seu estômago que novamente começava a reclamar por estar vazio. A cabeça de Gambit estava processando tudo muito rapidamente, principalmente se poderiam ficar ali por alguns minutos ou se deveriam seguir o caminho. Suas decisões, porém, foram tomadas por Jully:

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– Sente aí, cajun. Preciso de uma folga para meus pés. Estou com bolhas.

Jully tirou as botas e levou os pés de molho à água. Ela relaxou e fechou os olhos quando a onda gelada absorveu sua pele machucada trazendo alívio e concentrou-se apenas nas sensações, dando ouvidos ao canto dos pássaros que estavam em todos os lados das árvores.

Gambit deitou-se ao lado da garota sobre a grama macia. Ele cruzou as mãos atrás da cabeça e as fez de travesseiro. Ele sabia que era arriscado demais para os dois estarem juntos, mas sua curiosidade em descobrir os planos de Magneto superava seus medos. Gambit almejava por vingança e precisava estar de qualquer forma um passo a frente. Jully interrompeu seus pensamentos quando voltou a sentar-se e encarou o rio:

– Você sabe pescar? Estou com muita fome.

– Estamos relativamente perto da sua casa.

– Relativamente perto é muito longe para meu estômago.

Gambit sucumbiu ao protesto dela e levantou-se para observar o rio. Era possível ver alguns peixes passando e ele não pode negar que seu estômago já estava pensando em como seria mais propício cozinhá-los. Gambit deixou as botas no gramado e ergueu as barras das calças para entrar no rio. Jully o observou preparando-se para pescar com seu bastão. Ele ergueu a arma e ficou estático por um momento até que o lançou até o fundo do rio. A arma apenas movimentou as águas, voltando vazia. Jully riu e Gambit fez sinal para que ela ficasse em silêncio.

Três outras tentativas foram necessárias antes que Gambit entendesse os conceitos de pegar peixes de maneira tão rústica. Jully vibrou com a conquista do almoço e pulou em direção ao pescoço do homem o abraçando, deixando-o constrangido em retribuir o gesto. Ela o fitou:

– E agora? Como vamos assá-lo?

– Hora de sair da água antes que você pegue um resfriado, vamos! – Gambit a guiou para fora do rio – E deixe a comida comigo.

Ele segurou o peixe com ambas as mãos e Jully assistiu às ondas cinéticas dele invadirem o corpo já sem vida do animal. Gambit estava usando sua energia para simular a ação de um forno de microondas e, ao final do processo, a carne estava dourada e exalava um cheiro estonteante. Eles dividiram o peixe e comeram à sombra de uma árvore. Jully resolveu apostar alto para ver até onde ele iria.

– Sabe, para um riquinho metido você cozinha muito bem.

– Eu não sou isso.

– Ah se é! Metido, exibido e dramático ao extremo.

– De onde você tirou isso? – Gambit ergueu uma sobrancelha desconfortável com a situação.

– Você passa essa impressão... Seu sotaque, seu jeito... Você só foi pescar para provar que é ágil. No mínimo devia ser um menino mimado no passado. – Jully revirou os olhos.

– Nunca tive tempo suficiente para ser mimado. – Gambit desviou o olhar e sua voz tornou-se sombria – E meu passado não é tão limpo assim.

Ele ficou em silêncio e não revelou mais nada. O plano de Jully de descobrir mais sobre o suposto protetor havia falhado. Ele parecia muito chateado com as acusações dela e ela precisava fazer algo melhorar a situação e não tornar o resto da viagem insuportável. Ela notou que ele segurava displicentemente seu bastão retrátil e resolveu distraí-lo de seus pensamentos:

– Você só pescou para mostrar a habilidade com esse negócio.

Jully agilmente roubou o bastão de Gambit e se afastou dele. Ele levantou-se e foi atrás dela respirando pesadamente.

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– Cuidado, você pode se machucar com isso!

– Ou posso quebrar sua arma? É com isso que você se preocupa?

– Também. – Ele admitiu.

– Venha aqui buscar! – Ela provocou acenando com a mão livre.

Gambit foi até Jully que ficou parada, mas movia agilmente o bastão entre as mãos. Gambit jogou-se sobre ela tendo o cuidado de cair ele de costas sobre a grama. Ela o fitava com um sorriso divertido, levando sua raiva a sumir instantaneamente. Agilmente ele girou e segurou os braços de Jully contra o chão. O ar que ele expirava batia de leve em seu rosto ao mesmo tempo em que Gambit percorria o braço direito de Jully até sua mão, onde estava o bastão. O toque dele provocava e arrepiava. Gambit segurou seu bastão, mas não soltou Jully, contemplando-a naquela situação. Ele sentiu vontade de beijá-la, mas antes que pudesse decidir o que fazer, algo quente e forte atingiu suas costas. A pancada foi suficiente para fazê-lo chocar-se com uma árvore nos arredores.

Gambit ignorou a dor e preparou o bastão e o baralho para a batalha. Ele reparou no ambiente e percebeu que os X-Men haviam chegado e havia muitos deles para que ele tivesse chance de lutar.

– Liberte-a, Gambit, ou teremos que enfrentar você.

Jully virou-se e reconheceu Scott Summers. Ao seu lado, Jean Grey, Logan, Kitty Pryde e Kurt Wagner. Todos vestiam o uniforme X-Men e estavam em suas posições de batalha.

– Ora se não é a escolinha do Professor Xavier. Bem a tempo.

– Sem ironias, Gambit. É melhor não resistir. – Jean gritou.

Chérrie! – Gambit fitou uma Jully em choque ainda sentada no chão – Foi um prazer imenso.

Ele tirou uma carta do baralho e antes que qualquer um da equipe pudesse reagir, energizou-a e a lançou na terra. A poeira encobriu a área onde ele estava. Noturno se teletransportou para onde ele estava antes e Ciclope e Wolverine logo o alcançaram, mas o outro mutante já havia sumido. Logo todos haviam se agrupado em volta de Jully e Scott a questionou visivelmente nervoso:

– O que ele fez com você? Ele te atacou?

– Não... – Jully estava estupefata olhando para o local onde antes Gambit estava. Scott o havia machucado sem nem questionar.

Jean checou se Juliette estava ferida e constatou que poderiam voltar imediatamente para o Instituto. Enquanto isso, Wolverine farejou o ar e analisou o ambiente em volta. Andou até a árvore com a qual Gambit havia colidido e usou seu olfato apurado mais uma vez:

– Ele está ferido. Não vai muito longe.

– Agora que encontramos ela, as prioridades mudaram, Logan. Vamos retornar ao Instituto. – Jean ajudou uma Jully ainda em choque a levantar.

– Vou ir buscar a X-Van. Aguardo vocês na estrada. – Noturno estalou os dedos e teletransportou-se para onde haviam estacionado o veículo.

– Deveríamos ir atrás dele. Ele deve ter informações sobre tudo.

– A prioridade agora é a segurança dela e do Instituto. Vamos, rapazes. São ordens diretas do Professor.

– Pode ter certeza que ele não vai ficar solto por aí por muito mais tempo.

Logan rosnou ainda sentindo o cheiro do cajun no ar, mas abandonou a caçada após receber um olhar de desaprovação de Jean. Kitty chamou todos e o grupo caminhou até a parte mais próxima da estrada, onde Kurt já os esperava no carro. Jully estava feliz que havia encontrado os X-Men, mas não podia deixar de se sentir desconfortável com o jeito que Gambit havia sido tratado, sabendo que não poderia revelar a eles como ele havia sido generoso com ela.