Kramers Torment

Culpado!!


No escuro corredor do décimo andar, no edifício da justiça na capital, me vejo sozinho seguindo um longo rastro de sangue pelo chão. Sigo-o com a visão e no fim vejo a porta do elevador tão coberta pelo sangue quanto o chão. O som ecoa advertendo que o elevador parou no mesmo andar que eu e lentamente as portas metálicas se abrem revelando Merle com o seu sorriso consolador estampado no rosto. De algum modo aquilo me aliviou, mas quero saber de quem é o sangue pelo chão. Corro até o elevador e me aproximo de Merle, mas ele fica alí, apenas me observando com aquele sorriso.

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- Merle? - Pergunto enquanto tento tocá-lo com a mão direita, mas antes mesmo de eu conseguir, Merle agarra meu punho com tanta força que sinto os ossos estralando. Grito de dor enquanto observo ele quebrando e dilacerando meus antebraços. Sangue e mais sangue jorra e quando desvio o olhar para o seu rosto, aquele sorriso não existia mais, apenas a feição horrenda de alguém que acabara de ser violentamente surrado. Seu maxilar estava deslocado para a esquerda abrindo um corte em sua bochecha a qual escorria sangue. Ele ergue o dedo indicador para mim, e balbucia uma única palavra: "culpado".

Acordo abrindo os olhos com rispidez sentindo o suor gelado escorrendo pelo meu pescoço. Alguém me colocou na cama, alguém trocou a minha roupa, então alguém se preocupou comigo.

Quando penso em todos os novos problemas, lembro que hoje voltarei para a arena novamente. Isso me desperta e saio da cama com um salto e noto uma calça de abrigo cuidadosamente dobrada sobre a cômoda. Mas espera aí, eu conheço essa calça, é igualzinha a que eu usei pela primeira vez. Vou ao seu alcance e analiso-a com cuidado. Não, não é igual a da primeira vez, e sim a própria, notei pelos vários sinais de remendo feitos nos lugares em que a calça foi danificada, como quando rolei ladeira abaixo rasguei ela um pouco acima do joelho, e lá estava o sinal de que alguém concertou-a.

Saio dos aposentos mas não vejo ninguém para me orientar. Talvez saibam que sei o que fazer, já que agora não tenho mentor. Subo até a cobertura onde o enorme aerodeslizador se encontra. Embarco e sento-me entre a garota do distrito 3 e a do 9. Mas ainda resta um assento vago que pertenceria a Lizbeth.

A mesma mulher passa injetando os localizadores em nossos pulsos, e como todos nós na primeira vez, os tributos estão confusos procurando saber o que era aquilo.

- É a droga de um localizador, para saberem onde estamos na arena. - Digo ainda com os olhos no assento vago.

Todos me olham, e pelas feições devem ter se lembrado que estou aqui pela segunda vez. O aerodeslizador começa a se mover e a respiração dos tributos ficam mais ofegantes. Por algum motivo, sou o primeiro a ser retirado do aerodeslizador, o que me deixou com uma pulga atrás da orelha. Sou conduzido pelo mesmo corredor estreito, e no final dele está a mesma porta que logo a entrar, vejo o tubo que me içou para a ruína da outra vez. Mas não estava sozinho, que era o que eu esperava. Comigo, dividindo o mesmo ar, estava Coriolanus Snow.