Relógio Cuco

Reyna era tão complexa quanto um relógio cuco e o sol já ameaçava se pôr. O Capture a Bandeira começaria em cerca de meia hora.

Enquanto ele calmamente desembaraçava os longos cabelos que não lhe pertenciam, ela corria de um lado para o outro procurando a droga das pílulas que os fariam destrocar de corpos.

“Argh!”, ela resmungou. “Onde foi que eu coloquei essas coisas? Eu já olhei na gaveta, no armário, na cozinha e até embaixo do pinguim de geladeira!”

“Duas coisas: Nós temos um pinguim de geladeira? E por acaso você olhou na caixa de remédios?”

“Duas respostas: Sim, nós temos. E não temos uma caixa de remédios.”, ela respondeu, tentando colocar uma mecha de cabelo atrás da orelha.

Leo balançou a cabeça.

“Sou tudo eu nesta casa.”, pensou.

Calmamente, enquanto Reyna se desesperava e batia os pés como a Dorothy em ‘O mágico de Oz’, Leo abriu o armário menor do enorme banheiro e pinçou uma caixa branca com uma cruz vermelha.

“Touché.”, ele implicou.

Reyna mostrou-lhe a língua.

Estava extremamente afetada, sabem?

“Isso é por você dizer que as mulheres são superiores.”, ele fez questão de provocar ao lhe entregar a cartela de comprimidos.

Reyna tirou um e engoliu sem água. Leo fez o mesmo.

Foi necessário contar até 5. E então pronto. Reyna era Reyna e Leo era Leo.

“E isso,”, ela revidou, dando-lhe um chute nas partes baixas. “é por não calar a boca.”

XXX

Todas as caçadoras estavam apostas em fileiras organizadas, lideradas obviamente pela irmã mais velha de Jason, Thalia Grace.

Ela parecia mais assustadora que o normal, principalmente à noite e iluminada somente pela luz da lua. Aegis parecia tomar vida e petrificar de medo qualquer um num raio de 4 metros.

Exceto Reyna.

A ex pretora romana parecia não se intimidar facilmente.

Ajeitou a armadura e deu alguns passos a frente, quase chocando seu simplório escudo de ouro imperial com a face assustadora da Medusa.

Thalia sorriu. Não sentia como se estivesse intimidada.

“Nós poderíamos ser do mesmo time. Uma escolha.”, sussurrou a filha de Zeus.

Bem que Reyna queria dizer adeus a Leo e a todos os garotos e se tornar imortal para caçar e matar.

Mas ela não podia. Ou podia?

“Afrodite me lançou um feitiço. E nesse momento eu daria qualquer coisa para largar Leo e me tornar uma de vocês.”, ela murmurou em resposta.

“Eu só aconselho a caçada se você estiver extremamente irritada com Afrodite ou estiver para destruir o mundo quando fizer 16 anos. Eu realmente acho que você e Leo combinam, e talvez, pela primeira vez, Afrodite esteja fazendo algo certo. Dê mais uma chance ao amor. E eu sei que por mais estranho que isso pareça, experiência própria, ir pra caçada é uma experiência estranha. Você tem que abrir mão de tudo.”, Thalia respondeu. “Mas você seria uma excelente segunda tenente! Vejo que é uma das únicas, senão Annabeth que não tem medo disto.”, ela sorriu, apontando para o próprio escudo.

Reyna esboçou um meio sorriso e voltou para sua posição, enquanto Quíron soava a trombeta que iniciaria o jogo.

“Como foi sua conversa com a senhorita tenho-um-escudo-assustador?”, Leo perguntou, ajeitando as tiras da armadura de Reyna.

“Ela disse, que se eu precisasse, poderia pedir seu escudo emprestado para afugentar pessoas anormalmente irritantes e com uma propensão a me irritar.”, ela grunhiu em resposta.

“Eu posso fingir que não sei de quem você fala?”, ele ironizou.

Ela respirou fundo e rolou os olhos. “Idiota.”

“Então, senhorita-eu-quero-matar-o-Leo, enquanto os Jogos não começam, nós poderíamos conversar um pouco. O que acha?”

Reyna permaneceu imóvel.

“Conte-me sobre essa sua fixação por doces. Que tal?”, ele tentou puxar assunto.

“Eu não tenho uma fixação por doces.”, ela respondeu visivelmente calma.

“Seu Pégaso se chama Manteiga de Amendoim. Sua antiga sala de pretora tinha um estoque secreto de jujubas de ursinhos. E todos os dias você toma chocolate quente. Quer mais algum argumento?”

“Sim.”

“Você adora beijar minha doce boca.”, ele replicou com uma voz ridícula e pessimamente sedutora.

Reyna não teve nem tempo de pensar. E em cinco segundos, desferiu um golpe tão forte que teria o levado para a enfermaria se Leo não estivesse coberto por bronze celestial.

“Com licença, mas será que vocês poderiam se amar menos?”, implicou Clarisse de La Rue, a sebosa do chalé de Ares que gostava de enfiar pessoas nos vasos sanitários.

Reyna revirou os olhos e Leo tentou não rir, enquanto contraía os músculos para tentar recuperar o movimento da panturrilha esquerda.

Quíron soou a trombeta. As caçadoras se reuniram de um lado e os campistas do outro. E como sempre, o Acampamento pendurou sua bandeira no topo do punho de Zeus.

“Eu poderia jurar que isso parece uma pilha de cocô.”, Leo comentou ao passar pelas pedras empilhadas.

“Se você soubesse como esta piada é velha, calaria sua boca agora.”, Reyna replicou.

“Se você quiser calá-la, está bem doce e quente por sinal.”, ele implicou.

“Sua armadura está fora do lugar.”, ela fingiu não ouvir.

“Seu coração também, dulzura.”

Até a próxima (que será mais rápida.)

XOXO