Guardiã do Rei

(Bônus) Reino Abandonado


Sopraram a corneta de guerra com força, fazendo Rachel dar um sorriso triste. Há bastante tempo – talvez mil anos atrás? – Percy e ela correriam atrás das saias das empregadas, assustados, enquanto o rei Paul riria deles até as bochechas corarem.

Agora o som era abafado. As paredes de pedra impediam que qualquer som fosse ouvido com clareza. Existiam, porém, dois sons que Rachel ouvia dia e noite: as cornetas reais e o choro angustiado de Sally Jackson.

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Tudo acontecera rápido demais. Em um segundo, Percy e Annabeth caíram de um precipício e não foram mais vistos. Rachel não se lembrava de já ter visto a rainha tão desesperada como naquele dia. Ela chorava e gritava como se tentasse não ouvir os comentários de que “o príncipe morreu”.

Rachel fora presa no mesmo segundo. Foi acusada de ajudar a semideusa a se esconder no castelo, e Fritz piorou sua sentença quando condenou seus sonhos visionários. Lançaram-na à masmorra fria e úmida do castelo real sem direito a julgamento. Diziam que as buscas ao príncipe seriam iniciadas, e caso ele não fosse encontrado, o julgamento ficaria nas mãos do intendente de defesa, Dern Castellan, que responderia pelo rei moribundo.

Às vezes Rachel se pegava pensando se não teria sido melhor que Percy estivesse morto.

Quando os homens de Dern regressaram da busca, vinham trazendo as mais intrigantes notícias. Diziam ter visto Perseus vivo juntamente da semideusa chamada Annabeth, na floresta falando com animais e controlando a mente de alguns deles. Afirmavam sem medo que o príncipe era um semideus, afinal, sobrevivera a uma queda mortal e agora tinha poderes inimagináveis.

Quem lhe trazia tais notícias era Arnold Britneyz, que surpreendentemente tem a protegido dia e noite desde a queda de Percy. Traz comida de qualidade e lhe mantém informada. Apesar das perguntas acerca de seus sonhos, Arnold nunca se mostrara rude ou cruel com ela. O motivo, porém, ele se recusava a explicar corretamente.

Com uma expressão irritada – Rachel lembrava-se bem -, Arnold reclamou que era ridículo afirmarem tantas tolices sobre o príncipe. Fritz, porém, alienava ainda mais a população, levando-os a até mesmo aceitarem a prisão de Sally, por ter tido um filho com um deus. Já Paul havia entrado em um estado de terrível saúde, que o mantinha inconsciente.

Arnold explicou que o Conselho praticamente se desfizera. Dern defendia que Percy deveria retornar ao reino e ser julgado com um semideus comum, enquanto Ryan gritava que, agindo assim, não haveria um sucessor. Dern votou por casar Rachel com qualquer pessoa, até mesmo seu filho, apenas para alguém voltar a assentar-se sobre aquele trono. Arnold interpôs-se, impedindo o casamento repentino e batendo de frente com Dern.

Enquanto a briga se desenrolava na mesa de Conselho, era Fritz quem governava. Deixou Sally e Rachel sob um sistema quase fatal de má alimentação, que só não as obrigou a implorar por alimento pela ajuda de Arnold. Em tão complicada situação no reino, pequenos grupos se aproveitaram e fizeram explodir pequenas rebeliões em cada canto da Inglaterra. As línguas contavam que as ruas das cidades eram verdadeiras armadilhas; um campo de guerra em meio ao povo.

Tudo já estava suficientemente ruim, mas ainda pôde piorar quando Fritz, pessoalmente, decidiu encontrar Percy. Retornou com um grande ferimento de espada e amaldiçoando a todos que encontrava. Sobre Percy, ele disse apenas uma coisa: “a sentença do garoto é viver, o que não é melhor do que a morte”.

Agora, a corneta tocava dia e noite. Sally chorava e soluçava, e Rachel não se importava se aquilo tiraria seu sono ou não. A vontade de dormir diminuíra a cada noite, depois de cada pesadelo, e cada grito de terror que fazia despertar a todos os guardas. Fritz forçara-a a se confessar e ficar sete dias de jejum, mas Rachel negara-se tão duramente que fez o velho lhe dar uma bofetada. Em resposta, Rachel contou-lhe que havia sonhado com o ferimento de espada, deixando o sacerdote aterrorizado.

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Rachel já não sabia se queria o primo novamente no reino. Se ele voltasse, como seriam as coisas? O reino queria ver Perseus morto, por ser uma criatura que vai contra os ensinamentos da Igreja e da Lei. Quem gostaria de um meio-sangue, filho de uma união impura governando tal sacro reino como era aquele? Jamais. Se Percy realmente retornasse, Rachel temia que não durasse muito tempo.

Existiam tantas perguntas. Quem o sucederia? Ele voltaria vivo? Havia mesmo tornado-se cruel e cheio de poderes sobrenaturais? Rachel balançou a cabeça, atordoada com tantos pensamentos confusos. Desejou poder enxergar o céu, mas tudo o que via era escuridão. Abraçou-se para se proteger o frio agonizante, enquanto lutava para entender o futuro.

Com o passar dos minutos seus olhos foram se fechando, à medida que o sono a embalava. Com um resmungo em protesto, Rachel deixou-se deitar e sonhar com mais algum terrível presságio.