Guardiã do Rei

Monstro que Sangra


Annabeth acordou ao som de estocadas contra uma árvore.

Toc, toc, toc.

- Tente por cima, um pouco mais – a voz de Grover disse.

De Percy saíam apenas resmungos.

- Calma, você não está cortando a árvore fora, está apenas matando uma Fúria – lembrou-lhe o sátiro, mas Percy pareceu não se importar. As estocadas continuaram, em um ritmo violento e irritado.

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Toc, toc.

Ela suspirou deitada sobre a relva verde. Abanou um mosquito que passou por seu rosto e piscou os olhos várias vezes. O sol ainda era um amontoado de raios pequenos e rosados no horizonte escuro, indicando que era bastante cedo. Quem diria que Percy levantaria antes dela? Então, Annabeth lembrou-se da conversa da noite anterior, e compreendeu que o menino provavelmente não dormiu a noite inteira.

Ela se levantou e caminhou silenciosa na direção dos dois. Grover acenou para ela, mas Percy mal percebeu sua presença.

- Bom dia, Percy.

Ele continuava concentrado em acertar a árvore, que já estava toda marcada com profundos sulcos de Anaklusmos.

Grover pigarreou. Percy olhou para ele, curioso, até o sátiro apontar com a cabeça para Annabeth. Percy virou-se para ela e corou.

- Oh, me desculpe – pediu urgentemente, como o príncipe que dificilmente deixaria de ser. – Não a vi, me perdoe.

Ela deu de ombros.

- Esqueça, não tem problema. Você... acordou cedo. Está tudo bem?

- Está – ele assentiu, um tanto nervoso, olhando para a espada.

- Você ao menos dormiu direito?

Ele a olhou surpreso.

- Você dormiu? – perguntou retoricamente. – Porque eu não consegui com tudo o que acontece ao mesmo tempo.

Houve um silêncio por parte de Annabeth, que suspirou perigosamente calma. Grover interveio:

- Na verdade, a culpa foi minha. Pelo menos, em parte – sorriu sem graça. – Disse-lhes que ia embora pela manhã, e por isso acordei antes. Mas vi Percy de olhos abertos e decidi perguntá-lo se ele treinava. Ele... ele descansou – garantiu a Annabeth.

Percy rolou os olhos. Annabeth lhe encarava aflita.

- Obrigada Grover – ela agradeceu. - Mas, não se preocupe conosco. Ainda hoje estaremos no Acampamento. E Percy treinava esgrima no castelo, se me lembro bem.

Percy voltou a estocar a árvore. Sua expressão era cansada e tinha olheiras escuras sob os olhos, mas seus golpes eram perfeitos, leves e rápidos. Talvez ele tenha percebido que Grover e Annabeth assistiam seu treinamento, e então parou. Olhou para Annabeth.

- Desculpe – murmurou a contragosto.

Annabeth sentiu aquela culpa que odiava sentir. Pousou a mão direita sobre o ombro dele.

- Não peça desculpas. Está tudo bem, lembra? – afirmou, sorrindo com pouca certeza sob o olhar desconfiado de Percy.

- Bem, creio que devo partir – anunciou Grover, juntando sua bolsa de couro cru. – Vou me afastar de vocês para que não volte a causar problemas, mas tenham cuidado com os outros grupos na floresta.

Percy e Annabeth sorriram para o sátiro.

- Obrigado, Grover – Percy disse, de forma sincera.

- Ajudou-nos muitíssimo – acrescentou Annabeth. – Talvez nos encontremos novamente?

Grover abria a boca para respondê-la, quando teve de se abaixar bruscamente. Uma coruja cinzenta passou raspando por sua cabeça, como se tentasse atacá-lo. Pousou levemente sobre um galho da árvore que era alvo de Percy e, de lá, ficou a fitar incansavelmente o sátiro e todos os seus movimentos.

- Acho que sei como encontrarão o caminho – ele disse, de olhos na ave e ansioso por ir embora. Então, olhou novamente para Annabeth. – Sim, talvez um dia... nos vejamos de novo – falou rapidamente.

Grover deu uma última olhada amedrontada para a coruja, que o seguia com os olhos, e acenou. Percy e Annabeth acenaram-lhe de volta, e ficaram olhando até que a figura desengonçada e engraçada de Grover desaparecesse dentre as árvores.

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- Sua mãe está com pressa – comentou Percy quando Grover partiu, tentando manter a boa paz. A coruja pareceu entender e bateu as asas de onde estava.

- Sim – sorriu Annabeth, amistosa. – Vamos, ainda falta um bom pedaço.

.

.

Pelo resto do dia, caminharam, mas pouco conversaram. Percy evitou voltar a falar sobre o pai doente, e Annabeth tentava mantê-lo distraído de preocupações. Em partes do caminho, quando paravam para descansar, Percy voltava a lutar contra uma árvore. Annabeth riu das primeiras vezes, mas depois passou a acompanhá-lo.

Fazia tempo que não treinava usando sua adaga, e viu o quanto isso lhe fez mal durante os quatro meses no castelo. Já Percy estava em completa forma, e não facilitava para ela. Sua espada era longa e parecia encaixar-se nele como parte de seu corpo, e Annabeth estava quase sempre sendo derrubada. Certa vez, ela estava cansada e fingiu jogar-se no chão, segurando com força a perna esquerda e gritando de dor. Percy baixou contracorrente e aproximou-se dela preocupado, mas Annabeth levantou-se num salto e apontou a adaga para o pescoço do príncipe.

- Atenção, Perseus – ela sorriu vitoriosa. – Inteligência também conta.

Quando a fome surgia, Percy e ela compartilhavam as frutas que Grover lhes dera, que agora eram guardadas em uma bolsa parecida com a do sátiro – um presente dele.

Em determinada altura do caminho, tiveram de se afastar do curso do rio, pois a trilha tornava-se tortuosa e difícil. A coruja, pairando de cima, muitas vezes desaparecia e voltava em poucos minutos, tentando encontrar um caminho seguro para eles, mas parecia não existir. Antes que pudessem imaginar, viram-se andando na estrada real, que cortava a floresta.

Apesar da tensão de estar literalmente andando em uma linha de alto risco, o caminho começava a parecer familiar a Annabeth. Quando viera da primeira vez a viagem fora mais curta, mas ao voltar com Percy, tiveram que dar a volta no Pico e acabaram demorando-se ainda mais.

Annabeth, ao reconhecer o caminho, inicialmente sorriu e comemorou com Percy, mas logo passou a sentir-se mal. Uma mistura de ansiedade e insegurança encheram seu estômago de borboletas, e ela teve de esforçar-se para manter-se firme no que estava fazendo.

Estavam andando há quase três horas quando as pernas doeram e escolheram parar. Annabeth olhou para o céu, e o sol já começava a se pôr novamente. Engoliu uma maldição, ao constatar que provavelmente levariam outro dia ainda para chegar ao Acampamento. Imaginou que Quíron provavelmente já teria chegado, com a rapidez de sua metade cavalo e notícias de Percy para os outros semideuses. Agora a demora a irritava, pois pensava que Quíron começaria a acreditar que teriam se perdido ou até mesmo morrido.

Ambos sentaram-se no chão, e Annabeth ainda usava a capa da invisibilidade que ganhara da mãe, Atena, mas apenas por cima dos ombros. Enquanto Percy alongava as pernas e respirava pesadamente o ar frio da floresta, Annabeth sentiu um desconforto. Já o vinha sentido há bastante tempo, desde que comera uma fruta estranha pela primeira vez. Agoniada, pediu a Percy que ficasse onde estava enquanto ela procuraria por água.

Percy protestou, mas ela preferia que ficasse onde estava. Seria breve, e do jeito que conhecia a impulsividade de Percy, temia que ele saísse em busca de água e não voltasse mais. Combinaram de se encontrar próximo a um chorão, distante alguns metros da estrada real e bom o suficiente para manter-se escondido. Annabeth lhe ofereceu a capa, mas Percy recusou.

Qual não foi a alegria de Annabeth ao encontrar água, em uma poça pequena, próxima dali. Juntou as mãos em uma concha e jogou sem medo a água contra o rosto. A água estava fria, mas Annabeth sentia que melhorava. A alergia que a fruta lhe provocara lhe deixou com manchas avermelhadas pelo rosto, conforme viu no reflexo da poça. Ainda estava enjoada e nauseada, mas lembrou-se de Percy sozinho. Pensou se seria imprudente deixá-lo lá, e então recolheu um pouco de água em um cantil que Grover lhe dera, feito de casca de coco, para levar para ele.

Seu reflexo tremeu na água, e Annabeth sentiu as pequenas e frias gotas de chuva cair em suas costas. O céu passou a escurecer lentamente, e um trovão sacudiu a terra. Annabeth cobriu-se com a capa tornando-se invisível e correu para o chorão.

Quanto mais chegava perto, mais o coração pesava dentro de si. Focalizou o chorão entre as gotas agora grossas da chuva, mas não encontrava Percy. Lembrou que estava invisível e, desesperada, passou a gritar seu nome, mas ninguém respondia.

- Percy! – chamou. – PERCY!

Gritou uma, duas, três, mil vezes o nome dele, mas ele não veio. A culpa atingiu-lhe como uma facada no peito, e ela sentiu que lágrimas começavam a brotar em seus olhos, deixando sua visão embaçada.

Tremia quase que involuntariamente, e a chuva a deixava atordoada. Sua tontura e enjoo a deixavam lenta, mas ela continuou chamando por ele, segurando com força o cabo dourado de sua adaga. Cansada, deu um ou dois passos para trás, olhando a sua volta, até tropeçar violentamente sobre uma pedra.

A adaga voou para longe, e a capa a descobriu. Annabeth arrastou-se na terra lamacenta atrás da adaga, até alcançá-la. Antes, porém, de se levantar, topou com o casco de um cavalo.

Ergueu a cabeça temerosa e preparada para o pior. Acima dela, pairava a imagem de um imponente e frio cavaleiro.

- Então, o que o povo diz é meia mentira – ele disse. – O príncipe está vivo, o que é verdade, e a menina também, ao que me parece – sorriu. Atrás dele surgiram outros quatro, montando os mesmos belos animais e fardados com as roupas azuis e brancas do reino Jackson.

Annabeth foi erguida do chão com força e sacudia-se teimosamente nos braços do homem, buscando com os olhos o príncipe. Encontrou-o sobre um dos animais, com uma expressão assustada no rosto, enquanto erguia com cuidado um pedaço de madeira de dentro da roupa, tencionando acertar o cavaleiro à sua frente na nuca. Annabeth balançou negativamente a cabeça em uma tentativa desesperada de evitar que Percy fizesse qualquer besteira.

Com tanta movimentação, um guarda só não pôde segurá-la. Ela conseguiu um pouco de espaço e, num último ato, chutou estabanadamente o ar, acertando o cavalo do guarda que antes lhe falava. O cavalo, assustado, empinou e relinchou. Os olhos verdes de Percy arregalaram-se subitamente, e então ele os fechou. Dois segundos depois, todos os cavalos passaram a balançar a cabeça e empinar, exceto o que Percy montava.

O guarda, provavelmente o líder do grupo, amaldiçoava e gritava com o animal, mas não o domava. Dois dos cavalos correram, e os outros derrubaram de cima deles seus cavaleiros. O guarda que segurava Annabeth a soltou assustado e correu na direção de seu cavalo.

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Percy abriu os olhos e deu um sorriso travesso. Annabeth ainda recuperava-se do susto, quando um dos homens falou:

- Aqui! Eles estão aqui!

Annabeth olhou para Percy pálida, e o menino a ajudou a subir no cavalo manso. Ele bateu as rédeas do animal e este desatou a correr, mas não foi suficiente. Muito próximo deles ouvia-se o trote de mais cavaleiros, e Annabeth sabia que em pouco tempo os alcançariam.

- Como você se meteu nisso? – ela gritou raivosa atrás de Percy.

- Não acho a melhor hora para discutir – ele devolveu, de olhos fixos no voo rápido da coruja, que agora voava sob tom de urgência.

- Percy, eles vão... – dizia Annabeth, olhando por cima do ombro, quando Percy a interrompeu:

- Calma, calma! – ele gritava, com os músculos tensos. – Vai dar tempo, vai dar tempo – repetia, como se o ajudasse a se manter forte.

Annabeth olhou novamente para frente, mas era tão horrível quanto olhar para trás. A velocidade do cavalo transformava a paisagem em borrões indefinidos que, somados à chuva, tornava-se praticamente impossível de definir. Os fortes galopes do animal contra o chão começaram a piorar o estado de Annabeth, deixando-a cada vez mais e mais enjoada. Em pouco tempo, não conseguiria mais continuar.

Abraçou-se a Percy e afundou o rosto contra as costas dele, tentando ignorar a tontura e medo que sentia. Atrás dela, Annabeth ainda ouvia o som de vários cavalos muito próximos a eles, e a tensão a deixava ainda mais assustada.

Quando o cavalo de um salto para passar por cima de um pequeno desnível, um forte empurrão foi sentido no lado direito. O cavalo foi jogado para a esquerda e caiu sem vida. De seu lombo emergia uma flecha comprida, que fez brotar uma vertente de sangue.

Percy e Annabeth foram jogados ainda mais longe, batendo com força contra a pedra de uma encosta. Annabeth ergueu a cabeça zonza, e os sons pareceram abafados. Não ouviu Percy chamando-a, por isso o menino teve de puxá-la pelas mãos para que pudessem sair dali juntos.

Annabeth tropeçava a cada dois passos, e Percy ajudava-a a caminhar debaixo da chuva torrencial. Ela havia perdido totalmente o foco e o mundo parecia girar rapidamente à sua volta. Quando começou a retornar ao estado normal, encontrou a si mesma e a Percy cercados por inúmeros cavaleiros, que mantinham armas apontadas para os dois.

Ela ainda apoiava-se sobre Percy, quando uma figura baixa em um alto cavalo branco cortou caminho entre os outros soldados. Annabeth quase perdeu o equilíbrio novamente quando o reconheceu, de cima de toda sua arrogância e crueldade.

- A paz seja convosco, queridos – a voz de Fritz era carregada de sarcasmo e desprezo. – Ou, talvez não.

A mão de Percy fechou-se em um punho, e Annabeth deu um passo vacilante à frente. Ela ainda era a guardiã, e não permitiria que mal nenhum chegasse até Percy.

- É a mim que buscam – ela disse, sentindo o estômago revirar-se e reclamar dentro dela. – Levem-me, mas Percy é um príncipe, e não deve obrigá-lo a retornar convosco.

Fritz deu um risinho falso, como se julgasse a atitude de Annabeth infantil.

- É claro que a levaremos, criatura diabólica – vociferou ele. – Mas não queimará sozinha na fogueira desta noite – seus olhos pálidos e frios pousaram sobre Percy, e o sorriso de Fritz assemelhava-se ao de uma cobra sibilante.

Annabeth continuava como um escudo entre Percy e Fritz. Ergueu sua adaga instintivamente, mas, com ódio, lembrou que não feriria o homem mortal – embora ele não parecesse um. Antes que pudesse raciocinar, Percy gritou atrás dela.

- Basta! Não tolerarei tamanha estupidez, sacerdote – falou gravemente Percy. – Deixe-me passar – ordenou, com um tom de ameaça.

- Não adianta, senhor – respondeu Fritz. – É tarde demais. Todos no reino sabem o que você é, e inclusive a senhora sua mãe já pagou por isso.

- Deixe-me... passar – repetiu Percy friamente.

Fritz deu um passo à frente com o cavalo.

- Homens, prendam-no... – Fritz encerrava a frase quando seu cavalo empinou e ele foi jogado de costas contra o chão. Annabeth sabia que era novamente Percy falando com os cavalos, mas não sabia exatamente o que ele pretendia, até o menino dar um grito de guerra.

- Rááááá – ele avançou na direção do sacerdote, sendo cercado ainda mais de perto pelo outros soldados. A coruja desceu em um rasante e bateu contra o rosto desprotegido de um dos homens. Annabeth pegou a espada do homem atacado pela coruja e a brandiu contra os outros.

Quando viu Percy novamente, ele erguia Anaklusmos e a mirava no sacerdote que ainda estava deitado no chão. Annabeth gritou “Percy, não!”, acreditando que a arma não machucaria o velho e que Percy houvesse se esquecido disto, mas o menino desceu a espada mesmo assim e a transpassou por Fritz.

Ouviu-se um grito, e Fritz ergueu-se com um corte profundo no braço direito, onde Percy havia lhe atacado, porém sem muita precisão. Os olhos de Annabeth arregalaram-se ao ver o sangue escorrendo do filete que Percy lhe deixara.

Entretanto, não teve tempo de raciocinar. Ao grito do sacerdote, os homens avançaram terrivelmente contra Percy e Annabeth. Percy largou Anaklusmos e empurrou um cavalo, roubando a espada de seu cavaleiro. Agora, ambos lutavam sozinhos contra aproximadamente vinte homens armados, e Annabeth temia que não aguentasse muito tempo.

A tontura a tomava e a deixava desnorteada, atacando o que quer que fosse que estivesse a sua frente. Em um momento, quase decepou o próprio Percy, se o menino não tivesse se abaixado no momento exato. Derrubou alguns homens, mas a espada que usava era pesada e ela não tinha a habilidade de manejá-la como tinha com sua adaga.

Percy, porém, lutava bravamente, com as costas coladas às de Annabeth. Usava ao mesmo tempo sua influência sobre os cavalos, o que confundia os soldados. Fritz gritava de dor, atirado contra o chão, com seu corte suspeito a verter sangue vermelho, comum.

De tempos em tempos Annabeth recuperava o equilíbrio e acertava o golpe, mas as coisas pioraram drasticamente quando recebeu um corte nas costelas direitas. Contorceu-se de dor e caiu de joelhos ao chão, respirando com dificuldade. Percy não tinha tempo de socorrê-la, então ela movimentava-se com uma dor aguda a latejar em seu corpo.

O homem que a atacara ergueu sua espada acima da cabeça para matá-la, mas foi impedido pela coruja, que voou de encontro ao seu capacete. O homem batia as mãos ao ar, tentando afastar a ave, quando Annabeth levantou sua espada e o acertou na perna. O homem caiu e ela então cravou friamente a arma na barriga dele.

O esforço, entretanto, a fazia quase delirar. Annabeth via Percy cansado, ainda lidando com três ou quatro soldados, quando chamou por ele. Percy veio recuando, brandindo a espada e dando estocadas vez ou outra contra os adversários, até alcançá-la. Derrubou um dos homens, e então um cavalo interpôs-se na briga. Durante a distração causada, Percy ergueu Annabeth pelos braços e afastava-se com ela, que mancava.

Um relinche doloroso se ouviu e ambos souberam que o cavalo foi morto. Annabeth olhou para trás rapidamente, e viu que um dos dois soldados restantes estava mais perto do que Percy julgara, e mantinha a espada ao ar, e agora descia com ela sobre as costas descobertas do príncipe.

Em um súbito ato de desespero, Annabeth desvencilhou-se do apoio do menino e desferiu a espada que carregava consigo contra o homem, quase o cortando ao meio. Percy virou-se no minuto preciso e deu cabo do último cavaleiro real.

Annabeth caiu ao chão desmaiada, com a dor do corte a queimar como fogo cada parte de seu corpo e pensamentos. Tremia violentamente de frio e a chuva a cobria, cada vez mais pesada. Antes de entregar-se por completo à inconsciência, acreditando fielmente que seu trabalho como guardiã do herói havia chegado ao fim, sentiu duas mãos sob suas costas arrastando-a com cuidado pela relva molhada e pedregosa.

Então ela suspirou fracamente, e tudo escureceu.