Depois de mais uma noite mal dormida, por causa do excesso de pensamentos, acordei decidida a falar com ele, dessa vez não hesitaria em falar com Christopher. Teria feito isso pela manhã, mas tivera que adiar para o fim da tarde, porque passara o dia ajudando a comprar presentes de natal, era a véspera da comemoração.

Era raro nevar em San Francisco, mas parecia que esse ano tínhamos sido premiados. Acredito que tenha nevado mais que o considerado normal para a região. Uma camada fina de neve cobria suavemente os jardins das casas e as copas das árvores sem folhas. Sai de casa e logo pude notar o frio incomum, me fazendo perceber que meu casaco era insuficiente. Mas não queria atrasar minha confissão (sim, seria exatamente como uma confissão) mais um segundo, mesmo sentindo frio, comecei a andar na direção da clínica, o único lugar que tinha a certeza de encontrá-lo.

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Lá estava ele, encostado no tronco de uma das árvores do jardim da clínica, completamente sozinho. A oportunidade era perfeita, respirei fundo e comecei a me aproximar. A cada passo meu coração acelerava, eu tentava manter minha respiração regular. A dois passos de distância dele, eu parei.

—Olá. –disse da maneira mais natural que consegui.

—Oi. –ele me deu um meio sorriso– O veio fazer aqui hoje, é véspera de Natal. –aparentemente surpreso.

—Eu precisava falar com você. –respondi.

—Então fale. –ele sorriu, me encorajando a dizer.

Prendi o ar por alguns segundos e poderia jurar que senti meu coração hesitando em uma batida. Um ventinho cortante soprou e lembrei do quanto estava frio e de que meu casaco era muito fino, minha espinha congelou.

—Você deveria estar usando um casaco mais quente. –Christopher disse, tirando seu casaco e me oferecendo.

—Não precisa. –repliquei. Ele ignorou completamente e colocou o casaco sobre meus ombros.

—Agora diga, estou ficando curioso.

Tentei pensar em uma boa maneira de contar, porque não bastava dizer o quanto eu estava apaixonada por ele, eu precisava contar a história inteira.

—Bom... Tudo começou no dia seguinte a morte da minha prima. –ainda doía muito tocar nesse assunto, mas continuei– Eu não lembrava o que tinha acontecido na noite anterior, você me contou, mas eu achava que tinha acontecido alguma coisa além do que você tinha dito. Eu fiquei muito tempo tentando lembrar o que mais acontecera, até que um dia eu consegui. –Christopher arregalou os olhos– Mas eu não tinha certeza se realmente tinha lembrado ou se era um delírio. E depois de pensar muito, eu decidi te perguntar, mas você tinha arrumado uma namorada e eu achei que era melhor deixar pra lá.

—Eu não estou mais namorando. –ele disse, seu olhar era esperançoso, eu não levei em conta o que ele havia acabado de falar.

—Mas eu simplesmente não conseguia tirar aquilo da cabeça e eu também comecei a me sentir... estranha, principalmente no dia em que te vi com aquela garota. E eu acho que é porque...

Ele sorriu ainda mais e, em uma fração de segundo, passou seus braços pelas minhas costas, aproximando nossos corpos. Perdi o ar completamente e não consegui desviar meus olhos, arregalados, dos dele. Christopher pousou uma mão em minha nuca, como imãs, nossos rostos se aproximaram inevitavelmente. Seus lábios tocaram os meus, meus batimentos disparam, minhas pálpebras se fecharam e, por um momento, não pensei em nada. Nosso segundo "primeiro beijo". Em um momento, desejei que isso fosse eterno: seus lábios nos meus, seus braços ao meu redor, minha mente vazia, só nós dois.

Christopher se afastou devagar, eu continuava parada, olhos fechados e respiração oscilante. Ele tocou meu rosto, abri os olhos e por um instante tudo pareceu certo e fácil.

—Eu... Eu... –tentei formular uma frase, desviando o olhar para baixo.

—Eu te amo. –ele disse, me fazendo erguer os olhos, e me beijou novamente. E mais uma vez eu desejei que fosse um momento eterno.