Reticências De Uma Semideusa

A Salvação Traz Consequências


Charlie me encarava boquiaberto. Até deixou seu cartão escorregar pelos dedos e cair no chão. Observei sua expressão e vi mais do que apenas incredulidade. Havia mágoa em seus olhos marejados. Apesar das circunstâncias, eu não poderia prosseguir com a missão deixando Charlie magoado daquele jeito. Fingindo que tudo estava bem, levantei do chão e me aproximei dele, passando meus braços por sua cintura e recostando a cabeça em seu peito.

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- Ah, Charlie! Que bom que eu te encontrei! – disse ao filho de Hefesto.

Ele não retribuiu o abraço, e me afastou.

- Deixe de ser hipócrita, Stefanie – ele me disse. Seu olhar demonstrava mágoa visivelmente, e havia desprezo em sua voz – Você saiu correndo desse lugar para encontrar um cara melhor do que eu para essa missão, não é? E deixe-me adivinhar! Vocês agora estão juntos não é? São íntimos o suficiente para se pegarem no chão de um playground! Eu achei que você fosse melhor do que isso, garota.

Fiquei ofendida. Afastei-me de Charlie e gritei com meu amigo.

- Me desculpe Charlie, mas se você soubesse metade do que aconteceu comigo não me julgaria tão rispidamente – disse eu. – Além do mais, o que você fez para ajudar na missão mesmo? Ah, é. Nada!

Por um momento sua expressão mudou. Antes que ele pudesse reagir, continuei:

- Caso você não lembre, a profecia dizia claramente que uma filha de Poseidon e um filho de Hefesto deveriam prosseguir com um sátiro – disse, com sarcasmo na voz. – E quem está aqui? Um filho de Zeus! Agora podemos, por favor, parar de criancice e prosseguir? Ainda temos que achar Haley.

Ele estudou minha expressão feroz e deduziu que seria melhor acreditar em mim. Ele deu de ombros e virou-se para Peter, estendendo a mão.

- Sou Charlie, filho de Hefesto.

Peter apertou a mão de Charlie e se apresentou. Encarei os dois, procurando sinais de que iriam se atacar caso eu virasse as costas. Não vi nada, então virei-me e olhei o GPS. O ponto vermelho estava do outro lado do parque. Seguimos por corredores cheios de brinquedos tentadores, que nos convidavam a parar e gastar um tempo jogando. Mas mantive o foco. Eu não poderia me dar ao luxo de perder esse tempo. Seguíamos pelos corredores com pressa. Eu não tirava os olhos do GPS, e rezava para que Haley não saísse do brinquedo que ela estava. Peter e Charlie estavam logo atrás de mim, lado a lado, falando apenas para me alertar de quando alguém estava vindo. Finalmente fizemos a última curva, entrando no corredor que Haley estava. Felizmente, ela estava lá. Infelizmente, ela estava prestes a entrar no bungee jumping.

Saí correndo em sua direção, com os garotos em meus calcanhares.

- HALEY, NÃO FAÇA ISSO! –gritei.

Eu conhecia a sensação de hipnose causada pelo tal bungee jumping, e não era boa. Uma vez que você via o brinquedo, não tinha como escapar do transe.

- HALEY, ESPERE! NÃO PASSE O CARTÃO AÍ!

Olhei de relance para trás e gritei.

- VOCÊS BEM QUE PODIAM ME AJUDAR AQUI, NÉ?

Charlie correu mais rápido, me ultrapassando. Vendo que ele não chegaria a tempo para impedir que Haley passasse o cartão, Peter lançou uma lufada de ar que arrancou o cartão de plástico da mão dela. Ela parou, piscou e virou-se, procurando o cartão. Charlie jogou-se no piso liso, deslizando com velocidade. Apanhou o cartão que estava a um centímetro das mãos de Haley e bateu com a cabeça no brinquedo ao lado, que provocou um som oco. Alcancei Haley e passei meus braços pela dobra dos seus cotovelos, colocando minhas mãos em sua cabeça e aguentando como podia. Ela era forte e não parava de se debater. Peter ficou me olhando sem saber o que fazer.

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- AJUDE CHARLIE! – disse a ele.

Em vez de fazer o que eu pedi, ele veio em minha direção. Ficou atrás de mim e passou seus braços por onde os meus estavam, colocando as mãos por cima das minhas e segurando Haley. Chegou mais perto do meu rosto e sussurrou ao meu ouvido, causando arrepios pelo meu corpo.

- Ajude Charlie. Pelo ângulo que sua cabeça acertou o brinquedo ele pode não estar respirando. E seria um tanto... constrangedor eu fazer respiração boca a boca em seu... amigo.

Assenti. Desvencilhei-me de seus braços e fui em direção a Charlie. Virei-o de barriga para cima e encostei meu ouvido no seu peito. Seu coração batia, mas seu peito não se movia.