O medo me dominou e me impossibilitou de fazer qualquer coisa que fosse. Mas eu não podia perder Charlie. Busquei as lembranças de uma aula de primeiros socorros que tive e só agora me dei conta da sua importância. Com uma das mãos segurei o nariz de Charlie, e com a outra puxei seu queixo, abrindo sua boca. Colei meus lábios nos seus e soprei uma lufada de ar até que seu tórax se movimentasse. Afastei-me para que ele expirasse e tornei a tentar salvá-lo. Seus lábios eram quentes e macios, e seu rosto estava tranquilo, como se não soubesse o que ele mesmo estava passando, como se fosse abrir os olhos e levantar a qualquer momento, dizendo que estava bem e que precisávamos prosseguir. Desejei que isso acontecesse, mas infelizmente não acontecia. Segurando as lágrimas, comecei a falar com Charlie.

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- Charlie, eu sei que você está aí. Você pode me ouvir? Aqui é a Stef. Eu estou tentando te salvar, seria bom para todos se você respondesse.

Encostei meu ouvido em seu peito. Seus batimentos estavam ficando fracos. Juntei minhas mãos e comecei a forcar seu tórax para baixo, bombeando seu sangue. Uma vez, duas, três, quatro. Duas respirações. Mantive o ritmo.

POV Charlie

Eu estava correndo para salvar Haley. Stefanie havia gritado por ajuda e eu não poderia negar isso a ela. Deuses, eu faria tudo por aquela garota. Tudo estaria melhor se Peter não tivesse aparecido para atrapalhar. Mas ainda assim eu tinha que salvar Haley. Peter derrubou o cartão das mãos de Haley e eu me joguei no chão, deslizando até pegá-lo. Estava tudo bem. Então algo aconteceu errado. Tinha que acontecer alguma coisa. Eu estava muito rápido, e acabei batendo no brinquedo que estava logo adiante. Pontos pretos dançaram diante de meus olhos e eu os fechei. Sentia minha cabeça latejar e meus pulmões lentamente se contorceram com a falta de oxigênio. Então senti alguém me virar de barriga para cima e apoiar-se em meu peito. Era ela. Tive vontade de sorrir, mas não conseguia me movimentar. Senti-a segurar meu nariz e afastar meus lábios, puxando meu queixo. Então eu estava no paraíso. Ela colou seus lábios nos meus, e senti o sabor doce de seus lábios macios e quentes. Era muito melhor do que eu imaginei. Ela soprou uma lufada de ar, suprindo minha necessidade de oxigênio. Era o paraíso. Então ela falou comigo.

- Charlie, eu sei que você está aí. Você pode me ouvir? Aqui é a Stef. Eu estou tentando te salvar, seria bom para todos se você respondesse.

Eu queria responder. Dizer que era claro que eu estava aqui, que a estava ouvindo e que sabia que era ela que estava me salvando. Mas não consegui pronunciar sequer uma palavra. Eu apenas queria que ela estivesse com seus lábios nos meus, como o príncipe acordando a bela adormecida, só que com os papéis invertidos. Ela forçou meu tórax para baixo, fazendo com que meu coração continuasse a bater.

“Eu vou te amar até que você desista de me salvar. Até que meu coração pare de bater” prometi a ela em pensamento.

Não sei como eu havia me apaixonado por ela, tudo havia acontecido tão de repente. Mas eu simplesmente não pude evitar. Seu jeito de ser simpática comigo, de parecer uma criancinha muito frágil e ao mesmo tempo madura e muito forte. Só sei que eu havia me apaixonado pelo seu jeito de ser, pelos seus olhos, por ela. E não aguentaria vê-la chorar. Então comecei a lutar junto com ela para conseguir dizer isso tudo a ela. Senti seus lábios nos meus novamente, e isso me encorajou a lutar mais bravamente. Se ela estava lutando por mim, eu não iria desistir.

POV Stefanie

Senti o coração de Charlie pulsando mais forte e fiquei imensamente feliz. Ele estava começando a responder. Duas lágrimas rolaram por meu rosto enquanto eu voltava a juntar nossas bocas, forçando-o a respirar.

“Eu não vou deixar você morrer, ok? Você pode ser teimoso, mas eu sou mais. Principalmente quando se trata de um amigo meu. E morrer seria muito fácil para você. Já estaria no mundo inferior, sem trabalho nenhum, apenas esperando que eu chegasse lá e desse um jeito de te trazer de volta. Então você vai ficar vivo, por que eu não vou arrastar nenhuma alma de volta” pensei para ele enquanto o fazia respirar.

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Então fiquei com uma pontinha de raiva dele. Eu estava fazendo tudo isso para salvá-lo e ele simplesmente estava ali deitado. Então dei um soco em seu peito, não muito forte, mas o suficiente para dissipar minha raiva. Então ele abriu os olhos, assustado e inspirou muito fundo, sentando-se no chão. Cobri minha boca com as mãos, escondendo o enorme sorriso que surgiu em meu rosto. Meus olhos estavam cheios de lágrimas, algumas insistiam em correr e eu não me preocupei em enxugá-las. Ele virou-se para mim e sorriu, vendo que eu estava igualmente feliz. Então aproximou-se de mim e me abraçou, ambos ajoelhados no chão frio e com enormes sorrisos. Seu abraço caloroso espantou todo o medo que eu sentia segundos atrás. Abracei-o como se ele fosse partir caso eu o soltasse. Então ele se afastou de mim e disse:

- Eu estou te devendo uma por não ter deixado que eu morresse. Por ter sido teimosa o suficiente e não ter desistido de me salvar.

Então ele aproximou seu rosto do meu com cautela, suas mãos ainda estavam em minha cintura. Tocou meu nariz com o seu e eu fechei os olhos. Meu coração disparou e batia freneticamente. Ele finalmente cobriu os poucos centímetros que separavam nossos rostos e pressionou sua boca contra a minha, suavemente. Foi a melhor coisa que acontecera comigo em toda a minha vida. Esses poucos segundos pareceram intermináveis, mas ele enfim separou seu rosto do meu e sorriu gentilmente. Levantou e estendeu a mão para mim, ajudando-me a levantar. Nos viramos para onde estavam nossos amigos, encarando seus olhares surpresos.

POV Charlie

Ela me dera um soco. E isso fora o suficiente para me fazer recobrar os sentidos. Sentei no chão, respirando fundo, enquanto ela sorria maravilhada, com os olhos cheios de lágrimas. Aproximei-me dela e a abracei, ainda no chão, e senti seus braços ao meu redor também. Me afastei um pouco, apenas o suficiente para olhar em seus olhos enquanto falava.

- Eu estou te devendo uma por não ter deixado que eu morresse. Por ter sido teimosa o suficiente e não ter desistido de me salvar.

Eu não poderia deixar essa oportunidade passar. Por mais que havíamos nos conhecido muito recentemente, eu sabia que era ela quem meu coração havia escolhido. Com medo de que ela pudesse recuar, aproximei meu rosto lentamente do seu. Toquei seu nariz com o meu e a vi fechar os olhos. Então avancei a curta distância que separava nossos lábios e pude agradecer de fato por ela ter me salvado. Nenhum “obrigado” agradeceria mais do que isso. Eu estava explodindo de felicidade por dentro, mesmo que eu não havia dado mais do que um selinho. Separei nossos rostos, sorrindo e levantei, estendendo a mão para ela. Eu conseguiria me acostumar facilmente com isso, embora não acreditasse que ela permitiria. Pelo menos ainda não. Viramos para Peter e Haley, encarando suas expressões de incredulidade. Encarei Peter com um olhar vitorioso, e ele me fuzilou com os olhos. Mas tal discussão teria que esperar. Eu ainda estava muito feliz.