Nós podemos esperar e podemos rezar
Que tudo vai dar certo
Você não pode só ficar de joelhos
A revolução está lá fora
Você quer fazer a diferença
Saia e começe agora
É um mundo tão frio, tão frio
E eu não posso sair
Então vou fazer o melhor
De tudo o que eu nunca terei
Hello Cold World - Paramore

*-*-*-*-*


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- Uma intimação... de comparecimento... à audiência de guarda do meu filho.

- Como é que é?!

- Aquele crápula do Allan abriu um processo pra tirar o meu filhinho de mim, Tom.

Por meio minuto fiquei sem fala. Perguntei a única coisa que me veio à cabeça:

- E você falou alguma coisa pro Lucas? Onde ele está?

- Contei, tudo o que foi possível. Está aqui do meu lado desde a hora em que dei com a oficial de justiça... Tive medo de que o infeliz pudesse ir atrás dele e fazer alguma coisa, então eu fui na hora pegá-lo com a sobrinha da minha colega de trabalho e no caminho liguei pra lá avisando que não voltaria hoje. – longo suspiro. – Eu não sei o que eu faço, só sei que eu não quero perder o meu filho de vista até isso acabar.

- Puta merda, você precisa de alguém.

- Preciso – funga–, mas eu não tenho ninguém.

- Quando que é a tal audiência, se me permite perguntar?

- Quarta-feira.

- Vai ficar sem trabalhar até lá?

- Até quando for preciso. Mas não vou ficar um só minuto longe do meu filho.

- E se eu fosse pro Brasil?

- Quê?

- É isso mesmo que você entendeu. Quer que eu vá pra aí? Pelo menos você não fica tão sozinha. Isto é... se você confia na minha pessoa...

- Tom... como você quer vir pra um país de língua desconhecida, sem conhecer ninguém...

- Você não é ninguém. E eu falo inglês. Posso ficar num hotel perto da sua casa, sei lá...

- Não. Se você faz isso por mim, eu aceito de muito bom grado porque não há mais nada que eu possa fazer. Mas sendo por mim, eu faço questão irrevogável de que você fique na minha casa. Mas espere... você não tem que trabalhar também?

- Na verdade eu tenho – respondi pegando o tablet e começando a procurar passagens para voos para o Brasil -, mas isso não é problema. Eu tenho férias programadas pro mês que vem, eu só justifico a necessidade de adiantamento, pego este mês e depois eu me acerto.

- Oh, Tom, nunca vou te agradecer o suficiente.

- Então, pra onde eu tenho que ir? Estou vendo os próximos voos aqui.

- Venha para São Paulo.

- Tem um aqui... Deixa eu ver...

- Veja se pousa no aeroporto de Guarulhos ou Cumbica.

- Por que não num só? Não fica mais fácil?

- É o mesmo, Tom.

- Ah tá. Achei. Domingo à tarde.

- Pode ser. Aí você chega na segunda de manhã. Depois me informe o horário e o número do voo direitinho que Lucas e eu vamos te buscar no aeroporto.

- Tudo ok. Vou comprar a passagem.

- Certo. Ah, Tom... Obrigada. De novo. Pela enésima vez.

- Não tem de quê. Até.

- Até.

Talvez eu esteja ficando louco, mas... eu não podia fazer outra coisa.


Pra encurtar a ópera, cheguei ao Brasil na segunda-feira de manhã e já tomei o desjejum na casa da Maria (duas horas depois de deixarmos o aeroporto – O QUE É o trânsito dessa cidade, eu perderia as taças do armário se fosse eu no volante).

- E aí, você resolveu alguma coisa? – perguntei quando nos sentamos para conversar.

- Vou ter que pagar as minhas faltas, claro. Mas eu fui lá na Volks na sexta e consegui uma licença de uma semana.

- Isso é bom. Mas e depois, como vai fazer? Se não quer deixar o garoto nem com a moça que você disse que costumava cuidar dele, imagina mandá-lo para a escola.

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- Não, na escola eu mando. As aulas só começam no fim do mês.

- Ah, sim. Nunca esqueço daquela vez que você me contou que aqui o ano letivo começa no começo do ano.

- Nossa, Tom. Re-enterra isso.

Eu ri.

- Enfim. É depois de amanhã, né?

- Sim.

- Você quer que eu vá depor?

- E lá vai adiantar alguma coisa? O que você vai poder dizer? Uma das alegações que ele fez foi que eu levei o guri pra fora do país. Sem contar que só adiariam a audiência, pra irem atrás de um tradutor juramentado pra entender você.

- Então tá. Mas o que diabos ele tá alegando pra tirar a guarda do Lucas de você?

- Primeiro diz que eu viajei pra fora do país e deixei o Lucas. Depois que eu fui pra fora do país com ele. Depois que eu não tenho tempo pra me dedicar a ele que eu não tenho estrutura familiar para criá-lo, uma porção de babaquices. E pra completar ainda citou, bem destacado, que eu não tenho estrutura psicológica porque eu tive receita de um calmante tarja preta por um tempo.

- Que absurdo! E você lá tomou tarja preta?!

- Tomei. Na época em que o Bill... bom. Mas foram só alguns meses, eu voltei ao estado emocional normal gradativamente com acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Eu fiquei muito alterada naquela ocasião.

- Entendi. Mas que canalhice desse... Qual é o nome dele?

- Allan. Allan Mangueira Russo. Tem a minha idade, é contador e casado com uma agrônoma de trinta e cinco anos que tem uma filha de dezesseis e está grávida. Moram num prédio de um apartamento por andar no Morumbi.

- Morumbi...?

- É, onde tem o estádio. É um bairro de classe altíssima.

- E aqui?

- Jardim São Bento. Não é o melhor bairro da cidade, mas eu gosto.

- Que legal. Você sabe bastante da vida desse Allan, né?

- Não sabia até semana passada. O cunhado de uma amiga lá da Volks é investigador particular, ela se ofereceu pra encomendar um dossiê personalizado.

- Ah, sim. Se me permite a sugestão, com base no que você me falou, você pode alegar que ele pode deixar o Lucas em segundo plano, já que a mulher dele tá grávida. Fora que vai render um custo extra para uma família que já está aumentando.

- Eu não tinha pensado nisso. Você é um gênio.

- Obrigado – sorri. – Aproveite para enfatizar a sua situação. Eu sei que não é da minha conta, mas pelo que me parece, vocês têm uma vida confortável aqui.

- Temos mesmo. Obrigada, Tom. Agora temos que ir pro fórum e ver o que acontece.

- Eu estou torcendo por você.


POV MARIA

A fatídica quarta-feira chegou e eu não podia estar mais agoniada. A audiência é daqui a uma hora e eu ainda tenho que me preparar psicologicamente.

- Tom, já vou indo. Marquei de me encontrar com a advogada antes de ir lá pro fórum, vou antes que me atrase.

- Espere. Não quer que eu vá junto?

- Não precisa... Achei que você podia ficar em casa com o Lucas... – dei um sorriso de tacho. Ele deu risada, mas sabia que o negócio era sério.

- Ele não vai junto com você?

- Não, imagine! Vai ficar fazendo o quê lá?

- Sei lá, achei que ele tinha direito de expressar sua vontade.

- Ainda não. Não lembro se é a partir dos oito, dez ou doze anos que o juiz ouve a vontade da criança envolvida nesses casos. De qualquer forma, ele só tem seis.

- Ah... tá.

- Então... pode cuidar dele pra mim?

- Confia em mim a esse ponto?

- Você é a pessoa em quem eu mais confiei durante toda a minha vida. Por que agora seria diferente?

Ele apenas sorriu e assentiu com a cabeça. Despedi-me dos dois e saí.

No encontro com minha advogada, apresentei a ela as ideias do Tom, e ela as aprovou. Logo depois fomos para o fórum, eu com o coração na mão, e quando chegamos, Allan e seu séquito já estavam lá.

- Ora, ora – já disse ele, me provocando. – Então você não trouxe o meu filho pra eu matar a saudade do pobrezinho?

- Que saudade, Allan? Você nunca mal viu a cara do garoto.

- Que ríspida, Maria. Nunca mal o vi porque você nunca deixou.

- Eu prefiro resolver esses detalhes dentro do tribunal. E com você toda a rispidez é pouca.

Minutos depois. Fomos chamados à presença da juíza.

- Se todos os interessados estão presentes, demos início à audiência referente à guarda do menor Lucas Albuquerque.