Change Of Heart

Complicated


Capítulo III

Tem alguém mais que se sinta como eu?
Sou complicado, fico frustrado
Complicated - Bon Jovi

Aiolia reclamava tanto de um colega de classe, mas tanto, que Mu admitiu para Aiolos que estava curioso. Como seria esse tal de Shaka? De acordo com o leonino, era a pessoa mais irritante do universo. Arrogante, metido, perfeccionista, nerd, mandão, etc. A lista era bem comprida. Milo ajudava a incrementá-la, mas não com tanto afinco. Marin e Afrodite só diziam que viviam vermelhos de tanto rir das discussões entre Aiolia e Shaka, ainda mais quando Milo se envolvia.

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Mas e o lado de Shaka? Devia ser diferente. Mu achava provável que o virginiano também pensasse coisas indelicadas sobre os colegas. O ariano os conhecia o suficiente para saber que foram crianças difíceis e que, agora, eram pré-adolescentes ainda mais complicados. Especialmente Aiolia.

O leonino mudava de humor e de ideias o tempo todo. Uma hora estava tranquilo e, no instante seguinte, se enfurecia por pouca coisa; em um momento queria ficar sozinho e logo depois queria estar rodeado pelos amigos; passava dias emburrado sem motivo aparente e outros dias rindo à toa; um dia dizia que ia deixar os cabelos crescerem, tal como seus ídolos do rock, outra dia desistia, pois com cabelos longos talvez se parecesse menos com Aiolos; às vezes, recusava-se a ir aos treinos por um tempo, outras vezes era quase impossível afastá-lo das quadras.

– Muitos pré-adolescentes são assim – comentou Dohko, informando que tais características podiam ser aplicadas a outras fases também.

Mu assentiu, mas ainda achava difícil que outras pessoas fossem tão intensas e extremistas quanto o leonino. Não tinha meio-termo com ele. Além de tudo, Aiolia adorava implicar consigo, o que já era normal desde que o mais novo superou o ódio que tinha de si, só que às vezes... Às vezes, Aiolia se enfurecia e vendia briga sem hesitar.

Foi o que aconteceu no dia em que Mu foi com Aiolos encontrar o leonino na saída da escola. Aiolia mal tinha cumprimentado os dois, quando uma voz o chamou:

– Aiolia! Onde você pensa que vai sem isso aqui?

Com uma careta, o leonino virou-se para trás e só mesmo seus reflexos excelentes impediram que seu rosto fosse atingido pelo seu próprio estojo.

– Valeu...? – Aiolia resmungou com má vontade, o tom claramente perguntando o porquê de o colega ter se dado ao trabalho.

– Estou de bom humor – o outro disse simplesmente, afastando os cabelos longos para trás. – Olá – acrescentou para os rapazes mais velhos, que o fitavam com curiosidade.

– Este é o Shaka... – o leonino apresentou com voz fúnebre.

– Ah, esse que é o famoso Shaka? – Aiolos perguntou, inocente, e o irmão deu-lhe uma pisada no pé. – Aw!

O virginiano nem piscou.

– Você é irmão do Aiolia, certo?

– Sim, meu nome é Aiolos.

Shaka olhou do rapaz para Aiolia e então sussurrou para o colega:

– São quase idênticos, mas ele parece mais inteligente do que você. Não que isso seja difícil.

O que você disse?

Sem se dar ao trabalho de responder, Shaka virou-se para o ariano com um olhar questionador. O rapaz sorriu e disse:

– Eu sou Mu, prazer em conhecê-lo.

Aiolia franziu o cenho. Como podia ser um prazer conhecer aquele metido?

– Hey, irmãozinho, viemos te buscar pra irmos a uma confeitaria que abriu esses dias. Meus colegas na universidade dizem que tem uns doces maravilhosos lá.

O caçula já estava com os olhos brilhando, doces flutuando por sua mente, quando foi puxado de volta à realidade por uma pergunta fatídica de Mu:

– Você gostaria de vir conosco, Shaka?

Por quê? – indagou Aiolia imediatamente, surpreso ao ver o loiro assentindo. – Você nem é chegado em doces!

O virginiano explicou, como se lidasse com uma criancinha pequena, que uma confeitaria não vendia apenas doces. Não tinha nenhum motivo para recusar. Shaka se dava bem com pessoas mais velhas do que ele e aqueles dois rapazes pareciam interessantes. Não valia a pena deixar de ir só por causa de Aiolia, o tolo selvagem.

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– Argh! Os doces vão ficar ruins desse jeito... – o leonino resmungou, andando atrás do irmão, bem longe de Shaka, que seguia mais à frente com Mu.

– Hmm... E você vai ficar com rugas bem cedo se continuar se estressando desse jeito... – Aiolos comentou divertido, recebendo um mostrar de língua como réplica.

Se lhe perguntassem como foi o momento na confeitaria, Aiolos diria que foi melhor do que imaginava. Aiolia se distraiu com os doces e ignorou Shaka quase o tempo todo. Não que o virginiano tenha se importado, estava muito ocupado conversando com Mu. Porém, quando tentava conversar com Aiolos, o leonino imediatamente interferia e atrapalhava a progressão de qualquer assunto. De tempos em tempos, Aiolia lançava olhares pontudos para Mu, mas não reclamou nenhuma vez.

Se perguntassem para Mu como foi o momento quando chegaram à casa dos irmãos, já tendo deixado Shaka em sua própria casa, ele diria que foi tenso. Podia jurar que sentiu uma aura de energia negativa assim que Aiolos foi tomar banho. Virou-se lentamente para Aiolia e lá estava aquele olhar raivoso que conhecia tão bem.

Ou achava que conhecia. Antigamente, não havia escárnio ou astúcia nos olhares do mais novo, só raiva pura e simples. Mu preferia o olhar antigo, livre das complexidades que a idade trazia.

– Algum problema, Aiolia? – perguntou muito educado, calmo como sempre.

– Você é um traidor, sabia?

Mu fez uma expressão que dizia que não, não sabia.

– Você estava confraternizando com o inimigo! – o mais novo acusou, apontando um dedo para o rapaz de forma malcriada. – Eu estava te achando confiável já, mas agora...

Mu endireitou-se no sofá, pensativo. Shaka não era um inimigo. Embora tivesse confirmado que o loiro possuía uma personalidade forte e orgulhosa, não o achara irritante e detestável como Aiolia e Milo descreviam. Pelo contrário, era inteligente e uma companhia conveniente. Mesmo tendo só doze anos, conversou facilmente com Mu. Descobrira que possuíam até algumas afinidades. Arriscou explicar isso para o leonino, acrescentando que talvez ele se entendesse melhor com Shaka se tentasse.

– Não seja tão idiota! – Aiolia rosnou e saiu batendo portas.

Mu suspirou. Idade difícil, definitivamente.

***

Aiolia poderia dizer que sua idade era um saco, na verdade. Odiava quando alguém lhe dizia que não tinha idade o suficiente para fazer algumas coisas, mas que também não era mais criança para fazer outras. Além disso, sua voz ficava oscilando de tons e sua altura parecia não aumentar nunca.

Por outro lado...

Aquela era a fase em que as garotas ficam interessantes. Mas não as garotas da mesma idade, com seus corpos que apenas começavam a esboçar algumas curvas e saliências. Não, as que realmente interessavam Aiolia, e também Milo, eram as garotas acima de quinze anos. Muitas vezes, os dois saíam da escola e iam para o colégio próximo dali só para ficarem observando quando as garotas saíam, com suas pernas compridas sob as saias de pregas que mal chegavam até os joelhos; os lábios coloridos e cheios; os olhos contornados de negro. Às vezes, a sorte lhes sorria e um vento forte pegava alguma garota distraída, dando-lhes uma visão privilegiada, feita de rendas, para ocuparem suas cabeças por um tempo.

Afrodite estava sempre interessado demais em si mesmo, para perder tempo admirando outras pessoas muito menos atraentes. Preferia um espelho a acompanhá-los naqueles dias. Marin e Shina diziam que Aiolia e Milo eram dois tontos, que gostavam de perder tempo, pois nunca conseguiriam nada com nenhuma adolescente. Eles faziam caretas para elas. As duas nunca poderiam entender a graça que existia em apenas admirar.

Foi nessa época, também, que começaram as benditas apostas. Segundo a tia astróloga, essas apostas eram motivadas pela falta de disposição tanto de Leão quanto de Escorpião – signo de Milo – em ceder nas coisas que consideravam certas.

Eram umas apostas bobas como, por exemplo, no dia em que estavam indo para a escola e perceberam que não se lembravam qual era o nome de um professor. Imediatamente, Aiolia apostou em um nome e Milo apostou em outro. Quem errasse teria que pagar um sorvete para o vencedor. Quase sempre, o prêmio tinha a ver com comida. E qualquer coisa poderia virar objeto de apostas.

Exceto tentar tirar a paciência de Mu.

Aiolia jamais permitiria que outra pessoa tentasse fazer isso. Era seu objetivo pessoal. Mostrou-se muito possessivo quanto a isso. Nem Milo, nem ninguém, tinha o direito de tentar. A única coisa que o escorpiano pôde fazer foi apostar, sarcástico, que Aiolia não conseguiria torrar a paciência de Mu em menos de cinco anos.

***

Dias depois da ida à confeitaria, Mu estava sentado no sofá da casa de Aiolos, lendo um livro enorme, quando Aiolia chegou da escola. O rapaz levantou os olhos para ele, notando sua exaustão, mas já esperava ser ignorado como vinha acontecendo desde a última reclamação do menor.

Aiolia, porém, o surpreendeu. Jogou a mochila no chão e sentou-se de qualquer jeito no sofá, ao lado de Mu, deitando a cabeça no colo do ariano e dizendo que estava cansado demais. E sem forças até mesmo para ser hostil com alguém, pelo visto.

– Hmm, mas eu tenho cara de travesseiro? – Mu perguntou, abandonando o livro e batendo levemente a ponta do dedo indicador na bochecha rosada do menino. – Hey?

Mas Aiolia já tinha pegado no sono. Mu ficou olhando para ele sem saber o que fazer. Aiolos chegou da cozinha logo depois, carregando dois copos de suco. Começou a rir assim que viu a cena.

– Dá pra acreditar nisso? – indagou Mu com uma expressão surpresa. – Três anos atrás, seria impossível ele chegar perto de mim pacificamente, mas agora...

– Hmm, mexe um pouco no cabelo dele atrás, na nuca. É engraçado.

Com uma expressão curiosa, o ariano fez o que o amigo sugeriu e deslizou os dedos por aqueles cabelos castanho-claros. Não passou muito tempo e percebeu que Aiolia estava... ronronando?

– Awn, não é fofo? – exclamou Aiolos satisfeito, entregando um dos copos para o amigo.

Mu sorriu em concordância e porque achava adorável a forma como Aiolos, muitas vezes, falava do irmãozinho.

– Mas por que está tão cansado? Acho que nunca o vi assim, tem sempre tanta energia...

Aiolos pegou a mochila do irmão e tirou um caderno de dentro dela. Na contracapa havia uma tabela com todos os horários das atividades de Aiolia. Segunda-feira era dia de basquete – com Milo –; terça-feira tinha aula de bateria; quarta-feira jogava tênis – com Afrodite –; quinta-feira praticava baseball – com Milo, de novo –; sexta-feira estava marcada com artes marciais; aos sábados, Aiolia tinha corrida e natação; apenas no domingo não havia nada marcado.

– Ele faz tudo isso desde bem novinho, você sabe, Mu. E ainda pratica bateria quase todos os dias, sempre que possível. Essa noite, ele deve ter ido dormir muito tarde e, agora, deu nisso – Aiolos comentou, olhando para a rotina do irmão. – E você acredita que ele disse que quer ter aulas de guitarra também?

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– Me pergunto onde vai arranjar tempo... – respondeu Mu, bebericando o suco enquanto ainda mexia nos cabelos do menino.

– E, ano que vem, pretende adicionar tiro esportivo aos sábados! Ele diz que vai largar o tênis e o baseball nessa hora, mas estou duvidando... – Aiolos espreguiçou-se, absorto. – Ah! Como somos gregos, ele quer praticar luta greco-romana um dia também, nossa mãe que não quer deixar...

– Quanta disposição você tem... – o ariano murmurou para o garoto adormecido.

Bem na hora que Aiolos se prontificou a levar o irmão para o quarto, o telefone tocou e ele foi atender. Porém, o som alto, estridente e contínuo – que se fez ouvir até que o sagitariano alcançasse o aparelho –, acabou por acordar Aiolia. Ele pestanejou e olhou para cima com uma expressão aturdida.

– ...Verde?

Verde? – ecoou o ariano, que o fitava com sua placidez infinita.

Aiolia levantou-se num salto e, por um instante, Mu achou que as faces dele estavam um pouquinho coradas.

– Você está bem?

– Claro! – exclamou e foi correndo para o quarto, deixando um ariano confuso para trás.

Olhos verdes... Mu tinha olhos verdes... Como nunca notou isso antes? Okay, essa era fácil. Aiolia era do tipo que nunca reparava nesses detalhes. Sabia a cor dos olhos de Aiolos simplesmente porque eram iguais aos seus. Também sabia a cor dos olhos de Milo, porque ficavam se encarando, numa troca de olhares faiscantes, quando se desentendiam - tipo, todo dia. Por último, sabia que Afrodite tinha olhos azuis de tanto que ele chamava atenção para aquela pintinha charmosa que tinha logo abaixo do olho esquerdo. Fora eles, não saberia dizer com certeza qual a cor dos olhos de Camus, Shina ou qualquer outra pessoa.

Não que isso importasse, mas foi estranho notar os olhos de Mu assim, grandes e próximos, de repente. Nos dias que se seguiram, o olhar de Aiolia foi atraído diversas vezes pelos olhos do ariano, simplesmente porque percebeu que eles mudavam de cor. Sabia que seus próprios olhos, às vezes, eram mais verdes ou mais azuis, mas os olhos de Mu eram tão mais interessantes!

Aiolia ainda não sabia, mas tinha descoberto uma característica do ariano que o encantaria pelo resto da vida: os olhos de Mu eram como as águas do Mar Egeu, ora verdes e profundos, ora de um azul-escuro ou violeta, sempre variando conforme a luz.

Naqueles dias pré-adolescentes, porém, a atenção de Aiolia se dispersava com enorme facilidade. Ele logo se viu interessado em observar outras coisas.

Era terça-feira e seu professor de bateria não poderia dar aula naquele dia, portanto, Aiolia treinou sozinho por um tempo. No fim da tarde, aceitou ir com Marin até o local onde Shina estaria terminando o treino. Pretendiam levá-la para tomar sorvete com eles. Ginástica artística era um esporte que o leonino nunca praticara e estava um pouco curioso para ver o desempenho da amiga.

– Hey, é aqui que você faz ballet, não é? - Aiolia perguntou casualmente, assim que chegaram.

Marin enrolou uma mecha do cabelo ruivo nos dedos e assentiu aborrecida. Sua mãe tinha decidido, algumas semanas antes, que seria uma ideia maravilhosa a filha praticar ballet. A dança a deixaria com uma boa postura, elegante e feminina. Afinal, Marin já era uma mocinha, não podia continuar se portando como um moleque. Só que Marin não gostava de dançar, não gostava da roupa branca e cor-de-rosa que tinha que usar, não gostava de pliés e nem de tutus.

– Acho que vou tentar convencer minha mãe a me deixar fazer ginástica artística, em vez de ballet...

Aiolia assentiu distraído, algumas pessoas passavam por eles, provavelmente indo embora, e ele tentava localizar Shina. Não demorou muito. Ela ainda estava treinando, as pernas abertas em um ângulo de 180°, uma para trás e a outra para frente, paralelas ao solo. Um spaccata completo.

– E aí, Shina! – o leonino cumprimentou. Então, incomodado por falar com alguém que estava no solo enquanto se encontrava de pé, aproximou-se da garota e espelhou seus movimentos, fazendo um spaccata também, sem nenhuma dificuldade. – Falta muito ainda?

– Não, já estou terminando – ela respondeu, piscando com surpresa diante da flexibilidade de Aiolia.

Enquanto isso, Marin olhava para os dois com as sobrancelhas arqueadas. Tinha ficado um pouquinho chateada com aquela interação. Os dois pareciam muito distantes de si, fazendo algo que ela não conseguia fazer.

Foi quando uma voz feminina os interrompeu:

– Ora, que rapaz mais flexível!

Aiolia olhou para cima e soube que tinha encontrado uma musa avassaladora para seus sonhos. Era simplesmente a garota mais bela que já vira na vida. Perto dela, todas aquelas colegiais pareciam sem graça e deselegantes. Ela devia ter, mais ou menos, a idade de Aiolos. Usava um collant preto que evidenciava todas as suas curvas e deixava as pernas, muito pálidas e firmes, à mostra...

Aw! – exclamou ao ser beliscado por Shina e olhou feio para a amiga.

– Esta é a Pandora, minha treinadora.

Ele levantou-se imediatamente e apresentou-se para a bela ginasta.

– Hmm, você tem muita flexibilidade – Pandora comentou, logo depois de ser apresentada a Marin também. – Quer ser meu aluno?

Aiolia quase respondeu um impulsivo sim. Porém, lembrou-se a tempo de que não tinha mais horário disponível e, principalmente, de que odiava a perspectiva de usar roupas agarradas ou algo assim.

– É uma pena... – disse Pandora, e, aos olhos do leonino, foi simplesmente fascinante o modo como ela balançou a cabeça, espalhando os longos cabelos escuros após soltá-los de um coque bem arrumado. – Terminamos por hoje, Shina – despediu-se e afastou-se com passos rápidos e leves.

Assim que ela se foi, Aiolia segurou Shina pelos ombros, balançando-a:

– Por que nunca me disse que tinha uma treinadora supergostosa?

– Por que eu diria uma coisa dessas, seu besta? – ela replicou com uma careta, mas o leonino já não prestava atenção. Viajava nas ideias, com os olhos brilhando de empolgação.

– Preciso ir! – ele exclamou e saiu correndo. Queria contar para Milo sobre aquela garota inspiradora.

– E o sorvete? – Marin ainda tentou perguntar, brava, mas ele já havia desaparecido.

***

Infelizmente, ninguém atendia ao telefone na casa de Milo. Aiolia ficou inconformado por um tempo, pensando em como o amigo era um tonto. Assim que Aiolos chegou em casa, sozinho, Aiolia resolveu conversar com ele.

– Aiolos, quando você tinha minha idade, gostava de garotas mais velhas?

– Ah, sim... – respondeu com um sorriso bobo, como se lembrasse de alguma coisa atraente. – Por quê? – desfez o sorriso e arqueou as sobrancelhas. – Não me diga que está apaixonado!

– É claro que não, aff... Eu só... Prefiro garotas mais velhas do que eu. Hoje conheci uma muito perfeita...

– Opa, quer me apresentar? – Aiolos piscou um olho para ele.

– Nem pensar!

O sagitariano riu e ficou implicando com o caçula, despreocupadamente, até que o menino lhe contou mais sobre a tal garota perfeita. No dia seguinte, porém, Mu teve que consolar o melhor amigo.

– Meu irmãozinho está crescendo! Não posso acreditar! Ele já se interessa por femme fatales de collant... Logo vou acabar encontrando revistas obscenas no quarto dele e... e... – Aiolos arregalou os olhos como se estivesse vendo algo horrendo se aproximar. – Não! Até pouco tempo atrás, ele ainda era um bebê...

– Aiolos... – Mu passou a mão pelos cabelos claros do rapaz, que estava sentado no chão e com a cabeça apoiada nas suas coxas. – Por que está falando como uma tia velha?

– Não estou!

– Se eu não te conhecesse tão bem, não poderia acreditar que o Aiolos tão responsável, inteligente e com um monte de fãs, está tendo uma crise assim agora...¹

O sagitariano fez um muxoxo e sorriu.

– Sou grego, tragédia e comédia correm em minhas veias... Mas você também tem um monte de fãs, lembra? – e, de repente, Aiolos ficou sério. – Por que está solteiro, Mu? Você é uma pessoa tão incrível.

Mu suavizou o sorriso e disse simplesmente:

– O que posso fazer se era impossível dar certo com as poucas pessoas que considerei interessantes?

Aiolos deslizou o polegar pelas costas da outra mão do ariano, traçando círculos na pele alva.

– Ehrm, desculpa...

– Que culpa você tem por ser interessante? Haha – como o rapaz ficou em silêncio, Mu continuou: – Acho que encontrei alguém que vale a pena conhecer melhor.

Aiolos imediatamente levantou a cabeça e apertou a mão do amigo, na agitação da curiosidade.

– Quem? Eu conheço?

Mu assentiu, um pouco sem graça.

– Hilda? Shura? Aldebaran? Não me diga que é um dos gêmeos?

Mu começou a rir e Aiolos bufou. Não conseguiu descobrir quem era, mas o ariano prometeu que ele descobriria em breve. O sagitariano só esperava que desse tudo certo para o amigo. Mu nunca tinha namorado ninguém seriamente. Dizia que precisava considerar a pessoa muito interessante para ter vontade até mesmo de sair com ela. Não importava se fosse homem ou mulher desde que valesse a pena. Interessava-se por pessoas, e não por gêneros, afinal.

Tinha dezenove anos e só havia se envolvido com duas pessoas. A primeira foi uma garota de quando ainda morava no Tibete. Mas não deu certo porque, assim que terminou o ginásio, Mu precisou se mudar para a Grécia. A segunda pessoa foi Aiolos, quando estavam no fim do colegial. Durou só um dia e alguns beijos, porque perceberam que eram amigos demais para correrem o risco de estragarem aquela amizade. Não estavam apaixonados ou algo assim. Foi por curiosidade. Aiolos, que só se envolvera com meninas, queria saber como era... Ele era interessantíssimo, por isso Mu não se incomodou. Teria ficado com ele, outras vezes, se não fossem tão amigos. Aiolos não achou ruim a experiência, embora nunca a tivesse repetido. Vai ver, preferia garotas mesmo...

***

Enquanto Aiolos era paciente com Mu, o mesmo não se podia dizer de Aiolia com Milo. No dia seguinte, o leonino entrou correndo na sala de aula pronto para puxar o amigo e contar sobre seu maravilhoso achado.

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– Por que você implica tanto comigo? – Milo estava perguntando para Camus em um tom inconformado.

O garoto sério arqueou uma sobrancelha e respondeu lentamente:

– É você quem implica comigo – deu o assunto por encerrado, abriu um livro e começou a ler, mal notando quando, no instante seguinte, Aiolia arrastou o escorpiano para o fundo da classe.

Conforme o leonino foi falando, Milo parou com os resmungos que tinham começado com o desinteresse de Camus. Não conseguiu acreditar muito na existência de tal garota perfeita e quis vê-la pessoalmente. Muito bem, Aiolia concordou, iriam ao próximo treino de Shina com a desculpa de buscá-la para fazer alguma coisa. Uma artimanha que viria a se repetir muitas vezes e que, logo, deixaria tanto Shina quanto Marin estupefatas.

Tão estupefatas quanto Aiolia ficou naquele dia, na hora da saída, ao ser abordado por um Shaka decidido:

– Vou com você hoje.

A boca do grego se abriu enquanto ele processava a informação e a naturalidade com que o loiro já caminhava a seu lado.

– Por quê?

As mãos de Shaka giraram cuidadosamente um livro que levava junto ao peito.

– Aquele dia na confeitaria... Mu disse que se interessava pela cultura indiana. Então, fiquei de emprestar este livro para ele. E você – adicionou rapidamente, antecipando a pergunta que viria – vai me mostrar onde é a casa dele.

Aiolia parou de andar, obrigando o colega a fazer o mesmo.

– Por que eu faria isso por você?

– Por que não faria?

O leonino mordeu o lábio inferior. Sempre voltava da escola caminhando e Mu morava perto de sua casa. De fato, não custaria nada apontar a casa do ariano para Shaka quando passassem perto dela. Só que não podia ceder ao loiro metido assim tão fácil.

Por favor? – Shaka pediu em um tom que mais parecia uma ordem e, por isso mesmo, irritou o colega.

– Você não se acha tão inteligente? Por que não descobre onde é sozinho?

– É desnecessário perder tempo com isso se posso simplesmente ir com você – respondeu já cansado da situação e acrescentou, após respirar fundo: – Vou ficar te devendo uma...

Aiolia imediatamente recomeçou a andar:

– Vamos lá!

O virginiano balançou a cabeça como se dissesse para si próprio é um tolo mesmo e o acompanhou.

Ah, aquilo sim compensaria tudo. Aiolia riu por dentro. Ter o todo-poderoso Shaka lhe devendo uma seria, sem dúvidas, extremamente proveitoso.

Continua...