Capítulo IV

Há uma razão para o modo como você é
Ou isso vem naturalmente?
Para ter indisciplina e ser um tolo como você
Fool Like You – Ozzy Osbourne

O contraste era evidente. Aiolia andava com os braços cruzados atrás da cabeça, a jaqueta do uniforme aberta e as mangas enroladas para cima; Shaka, por sua vez, andava com a postura reta, o uniforme perfeitamente alinhado e os olhos escondidos sob a franja. O silêncio era total enquanto caminhavam afastados um do outro o máximo que a calçada permitia.

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Aiolia olhava de soslaio para o outro de vez em quando. Estava começando a ficar impaciente por não conseguir ver os olhos do colega. Desde que percebera os olhos de Mu, vinha tentando reparar nos olhos de outras pessoas também. No caso, porém, mal conseguia se lembrar de já ter visto o virginiano com os olhos abertos, que dirá saber a cor.

Alheio, Shaka não estava facilitando. Aiolia pensou em fazer uma pergunta qualquer só para que ele se virasse em sua direção, mas lembrou-se de que o loiro era metido e não se dignaria sequer a olhá-lo. O leonino bufou, já com ganas de puxar a franja loira para trás e...

– O que você pensa que está fazendo? – Shaka exclamou, surpreendendo-se quando o colega selvagem parou de repente em sua frente e atacou seus cabelos.

Antes que o loiro tivesse tempo de reagir, Aiolia o soltou após uma rápida encarada – okay, olhos azuis – e voltou a andar como se nada tivesse acontecido.

– O que foi isso? – Shaka insistiu, franzindo o cenho.

– Aff, que saco! Só queria ver a cor dos seus olhos – respondeu com pouco-caso, recebendo um olhar descrente em troca.

– Ah, aí você vem e puxa meu cabelo? Não podia simplesmente perguntar, seu estranho?

Aiolia deu de ombros. Shaka revirou os olhos e resmungou qualquer coisa sobre o absurdo do colega nunca ter reparado em algo assim.

– Você vive dormindo, acho que ninguém sabe como são seus olhos...

– Eu já disse que nunca durmo em sala de aula!

O leonino apertou os punhos, arreliado, mas não contestou.

– Tá, que seja. Eu não costumo reparar nessas coisas. E duvido que você saiba dizer qual a cor dos meus olhos, com absoluta certeza, sem conferir – disse, abaixando um pouco a cabeça para que a franja impedisse a visualização de seus olhos.

Shaka nem ao menos tentou checar. Continuou olhando para frente enquanto respondia com convicção:

– Eles mudam, no momento estão bastante esverdeados.

– Ahn? – Aiolia arqueou as sobrancelhas e olhou para o virginiano como se o estranhasse. – Você fica me observando, é? Depois eu que sou o estranho...

– Você acabou de olhar bem dentro dos meus olhos, a milímetros de distância do meu nariz! – protestou indignado.

– Mesmo assim! Se você sabe que mudam é porque observa... – Aiolia sorriu, inclinando-se na direção do loiro. Assim que Shaka o encarou, o leonino colocou as mãos no próprio rosto e pestanejou da forma mais meiga que pôde, só para provocá-lo. – Ah, então o glorioso Shaka-sama tem algum interesse em mim, um reles mortal? Que emoção!

Shaka apertou o livro que segurava, parecendo levemente desconcertado, mas com autocontrole o bastante para não utilizar o objeto como arma contra aquele engraçadinho.

– Quem se interessaria por um tolo como você? Eu sou uma pessoa atenta. Só isso.

– Sei, sei... – disse debochado, parando de andar e de sorrir ao apontar para uma casa. – O Mu mora aqui.

Shaka murmurou um agradecimento qualquer e foi, rapidamente, em direção à porta da casa que o outro tinha mostrado. Enquanto isso, pronunciava coisas indistintas sobre karma. O virginiano nascera na Índia e era budista. Pensava no que poderia ter feito de tão terrível na vida anterior para ter que aturar alguém como Aiolia na vida atual. Devia ser algo gravíssimo.

Em vez de ir embora, o leonino ficou observando, lembrando-se subitamente de que Shaka era um inimigo e de que Mu simpatizava-se com ele. E, agora, os dois iam ficar sozinhos, conversando sobre sabe-se lá o quê... A expressão de Aiolia foi se tornando mais e mais aborrecida conforme Mu abriu a porta e sorriu para o loiro.

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Francamente!

Sem pensar direito, o leonino foi correndo na direção dos dois. Passou por Shaka, sobressaltando-o, e quase derrubou o ariano ao abraçá-lo pela cintura.

– Hey, Mu!

Surpreso, o rapaz de cabelos compridos abraçou o garoto de volta por reflexo. Logo que o grego o fitou, com o queixo apoiado em seu tórax, Mu notou claramente que havia raiva cintilando nos olhos do menor, embora este sorrisse amplamente.

– Ehrm, olá, Aiolia... – cumprimentou-o, esboçando um sorriso confuso. Tinha algo muito errado ali. Aiolia nunca, nunca mesmo, fazia aquele tipo de coisa, mas agora estava ali, abraçando-o de uma forma quase... possessiva?

– Eu vim mostrar onde você mora pro Shaka... – explicou, lançando um olhar enviesado para o loiro.

Shaka, que até então os observava com surpresa, cruzou os braços e estreitou os olhos para o colega. Por que aquele tolo estava com um sorrisinho superior?

Mu sentiu a tensão no ar e, antes que algo desagradável acontecesse, os convidou a entrar.

– Não posso, tenho tênis agora – Aiolia respondeu, apertando mais uma vez o rapaz e passando uma espécie de aviso que significava não se atrevam a conspirar para, depois, finalmente soltá-lo. Despediu-se e foi embora rapidamente, deixando tanto Mu quanto Shaka sem entenderem nada.

***

Naquele dia, Afrodite teve muito trabalho para rebater os saques raivosos do leonino.

Aiolia só esqueceu um pouco o ocorrido no final do treino. Estava no vestiário, arrumando suas coisas para ir embora, quando foi abordado por um menino de cabelos castanho-escuros, mais ou menos da sua idade.

– Oi, Aiolia! – cumprimentou, mas, ao notar que o garoto não parecia reconhecê-lo, acrescentou: – Sou Seiya, do futebol, lembra? Nós jogamos juntos outro dia.

O leonino assentiu. Tinha cogitado entrar para o clube de futebol recentemente, por isso foi convidado pelo treinador para jogar uma partida com eles.

– E aí, vai entrar pro time? Você joga bem pra caramba!

– Valeu, mas não vai dar – disse, encarando o outro menino com curiosidade conforme se dirigia para a saída. Afinal, por que ele estava andando ao seu lado?

Seiya possuía feições orientais e, apesar de ter catorze anos, era praticamente da mesma altura que Aiolia. Ao contrário do leonino, porém, não cresceria muito mais do que aquilo. Era um adolescente determinado, mas um tanto precipitado em suas conclusões. Aiolia já iria descobrir.

– Viu, eu queria te perguntar... – Seiya coçou a cabeça, parecendo desconfortável em chegar ao ponto que desejava. – Como é o nome daquela sua amiga?

– Qual delas? – Aiolia inquiriu, pensando em Marin e Shina.

– Aquela que estava jogando com você agora a pouco...

Pela segunda vez no dia, Aiolia lançou um olhar de estranheza para alguém. Ele estava falando de...

– Afrodite?

– Ah, claro! Linda daquele jeito, só poderia ter um nome desses! – o oriental suspirou satisfeito.

– Hey, espera aí! Afrodite não é uma menina!

Seiya não entendeu muito bem. Perguntou se Afrodite tinha doze anos, como Aiolia, e, ao receber um sinal afirmativo, exclamou:

– Ah, você tem razão, já não é uma menina, é uma mocinha!

O quê? Cara-... – tentou dizer, mas foi interrompido por um aperto de mão agradecido.

– Valeu, Aiolia! Você vai me apresentar a ela, né? Por favor? – perguntou já se afastando e correndo, sem esperar resposta, sorrindo feliz enquanto acenava para o leonino.

– ...

No dia seguinte, na classe, Afrodite riu demais quando Aiolia contou o que aconteceu. Riu tanto que a pele alva de seu rosto ficou toda vermelha. O tonto do Seiya nem tinha dado tempo para que lhe explicassem a confusão!

– Não ligue – disse após parar de rir e respirar fundo. – Vai se tornar uma coisa típica meus admiradores tentarem descobrir mais sobre mim através dos meus amigos.

– Ele acha que você é uma me-ni-na! – Aiolia enfatizou, apertando a bochecha do amigo.

– E daí? No fim, tudo o que importa é minha beleza – replicou sorridente, apertando a bochecha do leonino também.

Afrodite era do signo de Peixes, mas Aiolia não conseguia ver o lado sensível e romântico que sua tia atribuía aos piscianos. Novamente, muito estranho!

– Quer dizer que agora vou ter que ficar aguentando um monte de gente interessada em você?

Afrodite riu de novo. Redarguiu que era justo, pois não reclamava quando tinha que lidar com as garotinhas que vinham procurá-lo para saber mais sobre Aiolia e... Ué, nunca falou nada sobre elas? Ora, era porque pensava que o leonino ia namorar a Marin!

O garoto o fitou sem entender. O pisciano esperou pacientemente, penteando os cabelos com os dedos.

O quê? – Aiolia reagiu finalmente. Afrodite estava maluco? Não podia namorar Marin, ela era sua amiga. Além disso, era mais alta do que ele! Algo assim seria muito...

– Ridículo! – exclamou Milo, aparentemente brotando do nada, sobressaltando os dois amigos.

Mal chegou e já começou a reclamar sobre como Camus era bizarro. Sim, porque o colega preferia ficar na biblioteca, com um monte de livros antigos e poeirentos, a fazer qualquer coisa divertida! Camus era um velho preso no corpo de um pré-adolescente, certeza! Do tipo antissocial ainda por cima. Não importava a situação, Camus estava sempre com aquela cara de nada. Aquela voz monocórdia. Um olhar gelado e uma resposta seca, quando tentavam atazaná-lo. Nunca ia arrumar uma namorada daquele jeito!

– Que exagero! – o pisciano protestou. – Camus até que é legal.

– Só se for com você...

– Eu concordo com o Afrodite – Aiolia comentou, ganhando imediatamente um olhar traído do escorpiano.

Ora, ficava ao lado do leonino contra Shaka e era essa sua recompensa? Aiolia deveria estar ao seu lado também!

O leonino explicou que era diferente. Shaka era insuportável, Milo sabia muito bem disso. Já Camus nunca tinha feito nada demais. Ficava sempre na dele, lendo ou estudando, e não saía por aí achando que as pessoas deveriam venerá-lo como se fosse a reencarnação de Buda ou algo assim.

Milo bufou, pois o pior melhor amigo tinha razão. Mas quanto a Camus ser legal, duvidava muito.

***

Assim como Aiolia duvidava das intenções de Shaka ao visitar o ariano. Por isso, logo que teve chance, abordou Mu sobre aquela visita do loiro.

– Ele foi me emprestar um livro – disse o rapaz de cabelos longos, sorrindo enquanto preparava um chá para si mesmo, Aiolos e Aiolia.

– E o que mais? – indagou, estreitando os olhos para o ariano.

O sorriso de Mu começou a fraquejar quando notou aquele olhar no garoto.

– Hmm, nada... Depois, nós ficamos conversando por um tempo.

– Falaram de mim em algum momento? – quis saber, desconfiadíssimo.

– Ahn... – Mu hesitou. Na verdade, tinham falado do leonino sim, mas não era nada demais. Tinha certeza de que o garoto acharia que estavam conspirando contra ele, ou algo assim, se admitisse isso.

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Felizmente, Aiolos se manifestou em seu auxílio:

– Que interrogatório é esse, irmãozinho? – puxou o caçula pelo pescoço e bagunçou-lhe os cabelos, fazendo com que Aiolia deixasse o assunto para lá.

Depois disso, uma semana se passou. Uma semana! E Aiolos ainda não sabia quem era a tal pessoa interessante de Mu. Era muita maldade! Ia morrer de curiosidade mesmo? Assim, tão jovem? O ariano só fazia rir de seu drama. Aiolos precisava ser mais paciente. Que absurdo! Só Mu conseguia ter uma paciência tão esplêndida assim, caramba!

– O que você tanto resmunga aí?

O sagitariano olhou na direção da voz, finalmente percebendo que estava andando a esmo pela universidade. Acenou para o rapaz de cabelos longos que lhe falara e sentou-se ao lado dele em um banco. Encostou a mão no queixo e ficou contemplando-o atentamente. O rosto inexpressivo dele não dava nenhuma dica, mas Aiolos acabou arriscando:

– Kanon?

– Muito bem! – concordou, sorrindo de lado e parabenizando-o com um tapinha nas costas.

– Vocês dois nunca facilitam, sabia? – Aiolos reclamou. Como se já não tivesse dificuldade em distinguir Kanon de seu irmão gêmeo, os dois ainda ficavam com aquela cara inexpressiva quando eram abordados, só para dificultarem.

– Claro, nos conhecemos há mais de um ano. Nossos amigos já conseguem nos distinguir com alguma facilidade, mas você...

Aiolos fez beicinho, ofendido. Então, se lembrou de que Kanon era uma das pessoas interessantes em potencial. Bem, Mu não queria lhe contar, mas não seria nenhum problema dar uma sondada, certo? Afinal, pelo pouco que sabia, o interesse do ariano era recíproco. Assim, valia a pena perguntar, como quem não quer nada, se Kanon estava interessado em alguém e tal.

Não deu muito certo. Kanon respondeu com um sorriso libertino:

– Sempre estou interessado em alguém... – envolveu os ombros do sagitariano com um braço e murmurou: – Por quê? Quer sair comigo?

Pela primeira vez, em muito tempo, Aiolos sentiu o rosto esquentar. Felizmente, Kanon não notou, porque foi chamado naquele instante. O sagitariano agradeceu mentalmente a Saga, o irmão gêmeo do rapaz que o assediava, por ter aparecido.

– O que estão fazendo aqui? – o recém-chegado perguntou, observando o gêmeo afastar-se de Aiolos.

– Nada! – o sagitariano respondeu, acenando ao ir embora. – Só parei um minuto, preciso ir!

Saga sentou-se no lugar que o sagitariano ocupara antes, lançando um olhar desconfiado para o irmão.

– Eu só estava brincando – Kanon se defendeu, entrelaçando o braço no do irmão e apoiando a cabeça no ombro deste. – O jeito do Aiolos dá muita vontade de provocá-lo, muita mesmo...

***

Enquanto Saga ponderava sobre o argumento do irmão, Milo estava finalmente conhecendo a garota perfeita. Terça-feira passaria a ser o melhor dia da semana a partir de então. Tanto para o escorpiano quanto para o leonino, que até mudou o horário das aulas de bateria para mais tarde.

Ah, como era maravilhoso ficar observando os movimentos da bela Pandora naquele collant sexy! A forma como ela se flexionava e saltava habilmente de um lado para o outro era demais. Até o jeito autoritário com que instruía as meninas era demais.

Shina estava lá, treinando, e Marin – que conseguira convencer a mãe a deixá-la trocar o ballet pela ginástica artística –, também. Mas quem disse que os dois tontos sequer se lembravam de que as amigas existiam naqueles momentos? Não, ficavam que nem dois retardados pervertidos babando pela treinadora! E o pior era que Pandora dava atenção quando eles conversavam com ela, sem saber que andava povoando os sonhos deles.

Naquele dia em que a viu pela primeira vez, Milo ficou tão encantado quanto Aiolia ficara antes dele. Quando acabou o treino, foram conversar com a moça, que perguntou se o escorpiano era tão flexível quanto o leonino. Milo respondeu que não, mas aquela foi a deixa para que começassem a puxar assunto com ela.

Logo descobriram que Pandora tinha dezoito anos e estudava na mesma universidade que Aiolos e Mu, embora não conhecesse os dois. A melhor informação foi que não, ela não tinha namorado. Que perfeito!

***

No dia seguinte, durante um intervalo no tênis, Aiolia foi abordado por um Seiya insistente e se viu obrigado a explicar-lhe os fatos. Duas vezes.

– Você tá brincando, né?

O leonino queria rir do absurdo todo, mas a lerdeza do outro era tamanha que começou a ficar impaciente.

– Aff, olha bem pra ele! – Aiolia apontou para Afrodite, distraído num canto da quadra. Parecia-lhe evidente que o amigo não era uma menina. Não lhe ocorria que isso acontecia, muito provavelmente, porque se conheciam desde a pré-escola, ou seja, já estava acostumado com Afrodite.

Seiya, por sua vez, não conseguia enxergar um garoto com a mesma facilidade. Não teve jeito. Aiolia precisou chamar o amigo para que Seiya acreditasse. Afrodite se aproximou calmamente, seus cabelos balançando em volta de seu rosto tão lindo, e... confirmou. Sim, era um menino mesmo.

Ouvir essa verdade cruel da boca do próprio Afrodite foi um choque. Seiya ficou alguns minutos com os olhos arregalados e a boca aberta. Aiolia e Afrodite se entreolharam. Já pretendiam jogar água na cara do colega, quando ele gritou com as mãos na cabeça:

Não pode ser! A primeira menina que curti é um homem! Não acredito!

– Ora, você pode continuar admirando minha beleza absoluta, sem problemas – Afrodite tentou ser condescendente.

– ...

– Hey, Seiya, vai começar o jogo! Vem logo! – um rapaz alto avisou, aproximando-se com uma bola de futebol nas mãos.

– Ikki! Olha esta menina aqui e me diga o que acha! – Seiya pediu, apontando para Afrodite. Queria ver se o amigo também se confundiria.

O olhar de Ikki passou pelo pisciano – que o encarou de volta com uma sobrancelha arqueada – e voltou para Seiya com mau humor:

– Onde esse aí é uma menina?

Seiya arregalou os olhos castanhos. Como assim? Não era possível que só ele tivesse se enganado! Ikki replicou que, de relance, até que parecia uma garota. Mas era só olhar bem para perceber que era um menino. Seiya devia ter algum problema de vista.

Aiolia e Afrodite ficaram rindo enquanto Ikki arrastava um Seiya reclamão para longe. Não os viram mais pelas semanas seguintes. O que de fato não importava. Naquela fase pré-adolescente, o leonino só estava interessado mesmo era nas terças-feiras.

Em uma delas, enquanto ele e o escorpiano admiravam Pandora – e Marin e Shina os olhavam com desgosto –, foi surpreendido por uma pergunta inusitada do amigo:

– Será que tenho alguma chance com ela?

– Claro que não – Aiolia prontamente retrucou, indignado. – E de todo jeito, eu vi a Pandora primeiro, lembra?

– Sim, mas... – olhou com piedade para o leonino. – Ela disse que é do signo de Virgem. E sabemos muito bem que você e virginianos não se dão bem, sua tia falou que Leão e Virgem são muito problemáticos. Você e o Shaka provam isso toda hora, né?

Aiolia mordeu o lábio inferior. Shaka era um caso à parte. Pandora não lhe dava ganas de espancá-la como o loiro fazia. Não, boa tentativa a de Milo, mas não iria deixar que lhe passasse a perna assim.

Então, o escorpiano resolveu propor uma nova aposta:

– Eu aposto que consigo um selinho dela e você não!

Aiolia olhou demoradamente para o amigo. Sabia muito bem que uma garota como Pandora nunca daria selinho nenhum em um garoto da idade deles. Achava que Milo sabia disso. Sim, ele sabia, mas e daí? Jamais desistia de uma ideia facilmente. E ainda riu, dizendo que Aiolia estava com medo de tentar.

Aquilo ofendeu o leonino, fervendo-lhe o sangue. Medo?! Depois dessa, obviamente teve que dizer:

– Pois bem! Eu aposto que eu é que consigo! Você vai ver quem é o medroso!

Satisfeito, Milo sorriu de canto.

– Então, quem ganhar... Bom, se ganhar um selinho dela já vai tá no lucro, né?

– Okay, e quem perder?

O escorpiano ficou pensativo por um momento.

– Quem perder vai ter que dar um selinho na pessoa que o vencedor escolher, que tal?

Ah, aquilo era ruim. Aiolia mordeu, mais uma vez, o lábio inferior – como sempre fazia quando estava ponderando algo ou estava nervoso. Milo era um sacana, com certeza ia querer que beijasse o Shaka!

– Mas que merda, hein? Okay, se eu ganhar, quero que você dê um selinho... Hmm... – semicerrou os olhos, para o escorpiano, e sussurrou malévolo: – No Camus...

Milo soltou uma enxurrada de palavrões entremeados com alguns você é louco, seu idiota!, mas Aiolia nem ligou.

– Ah, quem tá com medo agora? – indagou satisfeito.

– Poxa, não podia ser, sei lá, a Shina ou a Marin? Não quero encostar a boca na de outro menino!

O leonino fez uma careta para ele, lembrando-se de alguma coisa óbvia:

– Você já encostou a boca na minha, seu burro!

Milo fez uma careta também:

– É diferente! A gente tinha seis anos e a culpa foi do Afrodite, que empurrou nossas cabeças, fazendo nossas bocas baterem uma contra a outra!

Aiolia bufou, desviando os olhos e corando ao dizer:

– Milo... Você me deu um monte de outros selinhos depois disso...

As bochechas do escorpiano ficaram rosadas também:

– Eu era criança e parecia divertido, eu não sabia o que estava fazendo, okay? Eu parei quando descobri...

– Tanto faz – Aiolia revirou os olhos. – Como é, vai aceitar dar um selinho no Camus ou não?

– Poxa, se você quer que eu encoste minha boca na de um cara, não pode ser o Afrodite pelo menos? Antes dar um selinho em um menino que é meu amigo, do que em um que nem vai com a minha cara...

Não, Aiolia foi irredutível. Era Camus ou nada feito. E Milo seria considerado medroso, dali em diante, se recusasse.

– Aff, tá, eu aceito! – exclamou irritado. Então, teve uma ideia e aproximou-se do leonino com um sorriso sinistro. – Mas se você perder... Vai ter que dar um selinho...

– Hmm?

– No Mu!

– Filho da mãe!

Milo piscou com falsa inocência:

– Ah, você prefere o Shaka, é? Tá bom...

Não! – retrucou horrorizado. – O Mu tá ótimo! O Shaka não!

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– Muito bem então! Se eu perder, dou um selinho no Camus. Se você perder, dá um selinho no Mu – estendeu a mão para Aiolia. – Fechado?

O leonino apertou a mão do amigo.

– Fechado.

Continua...