New Scars

Cap. XVI — Suntuosa Tentação


"Não devemos dar valor a quem não merece, certo?"

É, pelo jeito estava conseguindo me desligar do Yopparai. Não ficava preocupada, não pensava tanto nele... As coisas estavam indo bem e me sentia orgulhosa por isso.

Me preparava para dormir na noite de terça-feira, quando Hareru me ligou, aos prantos.

– Alô?

– Yoru-chan, você não sabe o que a Ukkari fez... - esbravejou, com uma certa melancolia em sua voz.

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– ... o que aconteceu? - comecei a me preocupar.

– E-Eu não acredito que ela fez isso...

– Hare-chan, se acalma... Só me diz o que aconteceu.

– ... a U-Ukkari... - começou a chorar. - A Ukkari, ela contou pro Hiro-san que eu gostava dele, ela estragou tudo!

– Mas como isso aconteceu?!

– ... eu resolvi contar para o Hiroshi que gostava dele e ele falou que já sabia, a Ukkari já tinha contado... - soluçava.

– E o que ele falou sobre você gostar dele?

– O que eu esperava, ele disse que nem ao menos me conhece, não quer nada comigo... Eu estou muito mal Yoru-chan, não sei nem como olhar pra cara da Ukkari... Que ódio dela!

– Não adianta ficar nesse estado agora, né. Pode ser que ela nem fez por mal, Hareru... - tentava a acalmar.

– Mesmo assim Yoru-chan, ela não tinha esse direito! Quem tinha que contar era eu mesma! - parecia estar revoltada com aquilo.

– Eu sei Hare-chan, concordo com você, mas pensa, pelo menos você fez sua parte em contar, certo? Se ele aceitou ou não, foi uma escolha dele. Você foi muito corajosa em falar o que sente, eu sei como é difícil se declarar para alguém e você conseguiu... Veja tudo isso como um desafio superado. - a confortei.

– Valeu mesmo, Yoru-chan... Mas pode ter certeza que não esquecerei isso que ela fez tão cedo. Bom, vou desligar agora, Yoru... Preciso ficar um pouco sozinha.

– Hum... Tudo bem, melhoras, ok?

– Obrigada, beijos. - desligou.

Era uma situação bem chata. Eu conhecia o jeito de Ukka-chan, tinha certeza absoluta de que ela não havia feito por mal, mas convencer a Hareru disso que era difícil.

Conforme a semana foi passando, Hare-chan não mostrava tantas melhoras, vivia cabisbaixa e meio solitária pelo colégio, tentava animá-la sempre que possível. Era horrível vê-la daquele jeito, sem nem ao menos poder fazer algo. Hare-chan costumava ser uma pessoa bem forte, mas por ter passado por isso e saber como era torturante, teria que aguentar e saber lidar com aquilo sozinha, não que eu não quisesse ajudá-la, mas sim porque certas coisas na vida só conseguimos aprender por nós mesmos.

Tudo a minha volta estava tão monótono que já não ligava para absolutamente nada. O que me fazia ter raiva de mim mesma era saber que eu ainda me iludia, pensando que a vida poderia ter cores novamente ou pelo menos, ter um pingo de felicidade...

"Felicidade? Isso nem deve ao menos existir..."

– Número 23? - era aula de Filosofia e meu professor parou bem ao meu lado, sem eu nem ter notado.

– Ân, ér... Oi. - me virei rapidamente.

– Devia prestar um pouco mais de atenção invés de rabiscar a mesa. Está tudo bem?

– U-Uhum. - assenti, balançando a cabeça.

– Espero que esteja, mocinha, você sempre foi de manter atenção na explicação. - bufou, mas em tom compreensivo.

– *suspiro* Como posso te explicar... Talvez nem todo mundo tenha dias bons. Mas enfim, pode dar sua aula, prestarei mais atenção desta vez.

– Certo, vamos prosseguir, turma. Como eu ia dizendo...

No fim da semana, como de costume, fui para casa do Toru-kun acompanhada do Yopparai. De tédio, aquilo passou longe.

– Ae, podem parar de se beijar, vocês dois! - Toru estava bem mais bêbado que de costume.

– Fica de boa aí, mano.

Eu e Yoppa-senpai estávamos deitados no sofá, Toru estava jogando video game dessa vez, bebendo algumas doses de saquê. Já estava bem tarde.

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– Yoru-chan, vamos lá fora? - Yoppa-senpai sussurrou no meu ouvido.

– Vamos. - respondi, seca.

Estava com uma calça jeans, All-Star (como sempre), cabelo solto, mas levemente enrolado, uma blusa preta um pouco decotada e um blaser verde musgo. Não estava num dos meus melhores dias, fisicamente falando, mas não me importava com isso, já que não precisava conquistar ninguém. Só queria saber o que ele tinha a me falar.

– Vem. - murmurou, me levando para perto dele, que estava encostado em uma grade da varanda. Já havia escurecido e o céu estava bem chamativo.

– Pode falar.

– Hum... - me olhou de um jeito estranho, enquanto acendia um cigarro. - Seu pai deixa você dormir na casa das suas amigas?

– Às vezes. - respondi, um pouco apreensiva. - Por quê?

– ... nada não. - olhou para longe, soltando a fumaça.

– Hum. - olhei para longe também, esperando um assunto.

– ... eu vou dormir aqui hoje, bem que você poderia ficar. - falou de repente, virando-se para mim.

– ... d-dormir? Acho que...

– Ah, deixa pra lá, foi bobagem minha. - me interrompeu, ficando sério e em silêncio novamente.

"O-O que eu faço..."

– ... eu acho que poderia. - falei, totalmente incerta e confusa.

– Bom, - me encostou na grade, juntando seu corpo ao meu. - você que sabe.

– Eu...

Ergui minha cabeça, encontrando seus olhos que estavam incrivelmente mais brilhantes que o normal, olhando diretamente para os meus... Eu não ia me entregar, não queria me entregar...

"Que seja."

Selei meus lábios aos dele, mesmo tendo a consciência que me arrependeria muito depois. Aquele calor que vinha do corpo dele era tão único...

"Já não posso ficar sem você, não mais."