New Scars

Cap. XVII — Êxtase Mental


"Já não posso ficar sem você, não mais."

Aquele beijo foi profundo, até que...

– Eeee aí, gente! - Toru apareceu cambaleando, na porta.

– Ah, oi. - Yopparai respondeu seco, interrompendo o beijo.

– Que que ceis tão fazendo?! - caminhava todo alegre em nossa direção.

– Ân, nada não, e você? - respondi, espontânea.

– Aaaah, mano... - se apoiou em Yopparai. - Uma vez, meu pai disse pra mim... "Filho, faça que nem eu, traia sua mulher.". - choramingou e riu (?) ao mesmo tempo.

– Hum... - Yopparai e eu nos entreolhamos. - Ér, quer saber Toru-kun, por que você não vai lá pra dent...

– Preciso tanto de um abraço, soooh... - o interrompeu.

– É-Ér... Tudo bem, hehe... - o abraçamos, olhando um para a cara do outro, segurando a risada.

– ... eeeee é melhor vocês pararem de se pegar, hein! Se não eu... - olhou para o lado, avistando um balde cheio d'água.

– Não faz isso, velho! - Yopparai tentou segurá-lo, enquanto ria da situação, acabei por rir também, até que conseguimos acalmá-lo e ele entrou. - ... tenso. - me olhou, dando um sorriso (céus!).

– Haha, seu amigo né! - sorri também, mostrando a língua.

– Hehe, sim, sua fofa. - me beijou novamente. Adorava quando ele me chamava assim, com aquele jeito mórbido de ser.

– Ér, - corei, ao terminarmos o beijo. - vamos entrar agora, ok?

– Ok. - assentiu.

Ao entrarmos, vimos Toru-kun largado no sofá, rindo de qualquer besteira à toa. Ainda bem que Yoppa-senpai nunca ficou naquele estado perto de mim, nem saberia o que fazer!

– Vou ao banheiro, peraí. - disse Yopparai.

– Ah, tudo bem!

Tirei meu celular do bolso e me sentei no sofá dos fundos, já que Toru havia monopolizado o da frente.

– 18:42, merda merda merda. - pensei alto.

– O-Oi?!

– Nada não, Toru.

Yoppa-senpai voltou do banheiro nesse momento.

– Vai, sai daí mano, quero sentar. - bufou, tentando levantá-lo do sofá. - Vem, Yoru-chan. - me chamou, assim que se sentou. Toru voltava para o computador enquanto isso, parecia estar voltando ao normal.

Assim que ia me sentar, Yoppa-senpai esticou seu corpo, ocupando o sofá todo.

– Deita aí. - falou.

– Ér, ok...

Dentei em frente a ele, assim como dormir de conchinha, enquanto ele brincava com meus longos cabelos.

– Preciso ir no banheiro de novo. - se levantou.

– Nossa, mas de novo? - ri sarcasticamente. - Vai lá.

Continuei assistindo TV enquanto Toru assobiava, tentava, na verdade.

– ... você não sabe assobiar? - perguntei, um pouco surpresa.

– Sim, nunca consegui! - tentava insistentemente, sem sucesso.

– Poxa, mas é tão fácil... Olha. - assobiei um trecho de música, ele prestava bastante atenção. - Viu? É simples!

– N-NEM FERRANDO EU CONSIGO FAZER ISSO! - riu de si mesmo, ainda tentando.

– Cheguei. - Yopparai voltou para a sala, deitando na minha frente dessa vez.

Toru puxou assunto sobre um anime, enquanto eu mexia no cabelo de Yoppa-senpai, descendo minha mão até sua orelha e acariciando seu rosto com as pontas dos dedos.

"Hoje está sendo uma dia bom, quem me dera ser sempre assim."

– Ai! - resmunguei, ao sentir que Yoppa-senpai mordeu meu dedo.

– Nháa. - falou de um jeito meigo, virando metade do seu rosto para mim.

– Fofo. - dei um sorriso.

– Você que é. - segurou minha mão, tentando mordê-la.

Continuavam conversando, quando vi que já estava na hora de ir.

– Tenho que ir agora, gente...

– ... tem certeza? - Yopparai sussurrou, virando-se para mim.

– Uhum, não quero ninguém na minha orelha depois, se é que me entende... - sorri, meio sem graça.

– Entendo... Bom, vou indo Toru.

– Ok, ah, leva esse dinheiro e já traz uns pacotes de saquê na volta, vai voltar né?

– Claro, vou dormir aqui, lembra?

"Droga, esqueci disso!"

– Ah, é... Pode crer!

– Bom, até já. - fizeram aquele velho cumprimento com as mãos.

– Até, tchau Yoru-chan!

– Tchau! - sorri.

Yopparai me acompanhou até em casa, quando tive uma idéia.

– ... então, é aqui que te deixo, moça. Boa noite. - se virou.

– ... Yoppa-senpai.

– Sim? - olhou para trás.

– Podemos ficar mais um pouco? Ali. - apontei para o outro lado da rua.

– Hum, tudo bem, mas... Preciso ir antes das 20hrs.

– Ok. - esbocei um leve sorriso.

Logo em frente minha casa havia um tipo de praça, com belas árvores e uns bancos de pedra, na luz do dia nem era tão chamativo. Ao cair da noite, era como se aquele lugar ganhasse vida, um brilho a mais, aquelas árvores tornavam o ambiente sombrio, mas nem por isso menos interessante.

– Podemos ficar por aqui... - me sentei ao seu lado, perto das árvores. Ficamos em silêncio, enquanto ele me mostrava algumas músicas.

– Psiu, pensando em quê? - perguntou, ao perceber que estava um pouco aérea.

– Ah, nada... Apenas alguns problemas.

– Hum... Sabe qual é o seu problema, na verdade?

– Q-Qual?

– ... você pensa demais...

Yoppa-senpai chegou bem perto de meu rosto, afagando meus cabelos com uma das mãos, encostando levemente seus lábios aos meus.

– Era para você ter ficado lá, comigo. - me repreendeu, de repente.

– Eu sei que você queria, mas não tinha como... Desculpe.

– ... relaxa. - segurou meu queixo.

"Tudo é tão complicado."

Pousei minha cabeça em seu largo ombro. Pela primeira vez, eu estava sentindo algo bom, algo certo e errado, ao mesmo tempo. Notei, por um instante, aquele límpido céu negro.

– Acho que vai chover...