"Ela cuspiu a palavra, como se fosse a pior coisa que lhe poderia acontecer. Talvez fosse para mim."

À medida que os dias foram se passando, os alunos entravam e saíam, os problemas eram criados e resolvidos, eu sentia que algo ali estava errado. Demorei semanas, meses, para perceber o que era. A profecia.

Desde o dia em que me lembrei, a cena de minha tia caindo no chão e recitando a maldita profecia se repetia diariamente em minha cabeça, distraindo-me em minhas funções.

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Lembro-me de ter ido me aconselhar com minha querida Ana, como sempre fizera. Lembrei-lhe sobre a profecia de mais de 15 anos antes, quando eu era um garoto, um aluno seu.

E lembro-me de suas claras e doces palavras de quando mencionei a ideia de explicar a situação aos outros três.

- Ah, querido! – disse. – A profecia foi dada a você, apenas a você, e é sua a responsabilidade por conhecê-la! Não conte, mas convença-os de que é correto aceitar apenas estudantes de sangue-puro!

Suspirei e assenti. Daria um jeito.

E era naquela hora. Eu pedira uma reunião com os outros líderes de casas. Podia sentir os três pares de olhos curiosos pairando sobre mim, e o que mais pesava era o de Rowena.

- Então – ela disse, a voz melodiosa. – O que tanto queria nos dizer?

Respirei fundo antes de começar a falar. Era difícil, mais do que parecia.

- É que... – comecei, hesitante. – Bem, por motivos que, infelizmente não posso contar a vocês, pelo menos não agora... Bem, não podemos mais aceitar alunos mestiços e nascidos trouxas. (N/A: Nota-se que ela não utilizava a expressão “sangue-ruim”.)

Eles me encararam, estáticos, por alguns segundos.

- O quê? – perguntou Godric, os cabelos ruivos presos em um rabo de cavalo.

- Acho... Acho que... – gaguejei, nervosos. – Acho só que deveríamos aceitar apenas estudantes sangue-puros...

Todos ainda me encaravam. Menos Rowena, que olhava para o chão da estensa sala. Suspirou.

- Então era mentira? – perguntou. – Foi tudo apenas fingimento?

- O quê? – perguntei. – Do que está falando?

- A briga. – mencionou e eu me lembrei daquele dia. Doía rever a imagem de meu pai. – Desde... Desde o dia em que brigou em defesa daquele garotinho mestiço eu o admiro. Mas agora... Descubro seu... PRECONCEITO! – ela cuspiu a palavra, como se fosse a pior coisa que lhe poderia acontecer. Talvez fosse para mim.

Ela se levantou, saindo da sala da diretoria. Tentei ir atrás dela, mas algo me impediu. Talvez o fato de eu saber que ela não iria parar.