Living In The Sky With Diamonds

Capítulo 2-Conhecendo a madrasta


Meu pai havia me levado ao shopping para comprar roupas de frio e também para conhecer ela. Achei muito estranho, não o fato de conhecer a namorada dele, mas o fato de comprar roupas de frio. Sério. No Norte pode chover muito, mas faz muito calor. Muito mesmo.

- Ah, ali vem ela - disse meu pai quando paramos para sentar em uma das mesas vazias na praça de alimentação. Eu a procurava no meio das pessoas que passavam, até que a avistei.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ela era alta e loura natural, era o que parecia. Tinha um ar gracioso e elegante. Isso de longe. Ela se chama Mallorie e tem um sotaque estranho, como se ela fosse de algum outro país, provavelmente era, pelo nome já dava para desconfiar.

Tivemos uma conversa agradável, tinha que admitir que ela era legal. Mas a curiosidade estava me matando e eu tinha que perguntar:

- Mallorie, onde você nasceu?

- Ah, nos Estados Unidos, querida - dava para saber que ela enrolava a língua para falar o português. Fiquei maravilhada com a resposta. Mas ainda havia algo que estava me deixando inquieta.

- Uau! - exclamei. E depois, como quem não quer nada, perguntei - E onde vocês se conheceram?

Ela ficou surpresa por um instante, depois parecia receosa. Olhou para meu pai como se esperasse algum tipo de autorização. Franzi o cenho. Eles estavam me escondendo algo.

- Bom - ela começou cautelosa - foi na Feira do Empreendedor* que aconteceu há algum tempo.

Algum tempo? Isso tinha acontecido há uns 10 meses! Eu ainda tinha 16 anos. Foi há quase um ano!

- Há tanto tempo assim? - falei, me virando para o meu pai - Por que você demorou tanto tempo para me contar?

- Por que não sabíamos como te dizer isso, sabe... É que vamos nos casar!

- Que bom, pai... – eu disse, realmente feliz por ele, então me dei conta - o senhor estava com medo de mim?- eu ri, mas parei - Medo não justifica ter me escondido isso por tanto tempo.

- Nós sabemos, mas não é só isso que temos para te dizer - dessa vez foi Mallorie quem se manifestou - Nós temos uma proposta para te fazer.

- Proposta? - ergui uma sobrancelha.

-Na verdade, não é uma proposta, - meu pai interrompeu - você é minha filha e ainda é menor de idade, por isso, ainda deve me obedecer. - eu o olhei confusa - Minha filha, a Mallorie mora nos Estados Unidos e tem que voltar para lá por causa dos seus negócios.

-E?

-E nós vamos com ela!

- Como? -perguntei, ainda sem acreditar.

- Nós vamos morar com ela. O casamento vai ser lá. Você termina o ensino médio lá e vai poder entrar numa boa faculdade, com uma bolsa, é claro. Os meus negócios vão aumentar. Vai ser bom para todos.

- Mas... - tentei argumentar, mas as palavras não saíam.

- Dessa vez você não vai me convencer com seus argumentos, está decidido.

- Você já falou com a mamãe? - ela pode ser minha única salvação.

- Ainda não. Mas não importa o que ela disser, você é minha filha também. Eu tenho o direito de te levar. Sua mãe não pode ficar com os dois filhos só para ela - ok, agora ele estava sendo infantil – Eu voute levar.

- Pai, o senhor sabe que ela vai fazer o maior barraco.

- Que faça! Eu vou à justiça e peço sua guarda!Eu nunca atraso para pagar a pensão! - sei... - Eu sou um bom pai. Eles não vão negar o meu pedido.

- Pai, o senhor não acha um exagero levar a mamãe na justiça? Talvez ela nem faça um barraco... Tão grande. – tentei imaginar a cena - Lembra do mês passado? Ela nem fez uma confusão tão grande quando o senhor atrasou a pensão...

- Eu nunca atraso a pensão - ele me interrompeu impaciente.

- Atrasa sim, mês passado atrasou.

-Não atrasei não - ele já estava gritando. Algumas pessoas que estavam lá o olharam com uma cara do tipo “quem deixou esse louco sair do hospício”.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Sim, eu me lembro, só faltava pagar a conta de luz, o dinheiro a mamãe já havia acabado e a pensão ainda não havia chegado e acho que ela vai se lembrar disso no tribunal e...

- Ok, eu não levo a sua mãe na justiça - ele finalmente tinha desistido da ideia - mas você vai falar com ela.

- Eu? Tá brincando, né? O senhor que quer me levar para fora do país! Enfrente a fera!

- Diana...

-Pai! Não fui eu quem teve essa ideia absurda, foi o senhor! Eu não quero que ela desconte a fúria dela em mim! Fala com ela! Seja homem! - sem querer acabei falando essa frase um pouco alto e um grupo de pessoas que estavam comendo McLanche Feliz olhou chocado para mim.

O meu pai também me olhou chocado.

-William - Mallorie chamou meu pai. Já tinha me esquecido que ela estava aqui. - Acho que Diana está certa, - sorri vitoriosa- você deve ter uma conversa civilizada com a mãe dela. Explicar o que se passa. Lembre-se de que você não vai pedir permissão a ela e sim reivindicar um direito seu. Se ela não contribuir...

- Eu chamo a justiça para controlar aquela louca - meu pai completou e os dois riram.

Minha mandíbula caiu. Peraí! Isso era um complô contra a minha mãe? Mas que vaca!

- Pai, eu estou aqui! Se lembra? - falei, irritada.

- Desculpa, minha filha.

- Tanto faz -suspirei - quando você pretende contar para ela?

- Ainda hoje, nós vamos ao final de julho, você vai terminar o ensino médio lá.

- Quê?-minha voz saiu aguda e um pouco alta.

- Shii, minha filha, fale baixo, está parecendo sua mãe.

- Nós vamos no fim do mês?

- É, já tenho tudo planejado. Tiramos o seu passaporte também.

Fiquei arrasada. Como eu ia mudar minha vida toda de uma hora para outra?Eu até já tinha um show marcado. Seria a oportunidade das Diamond Girls fazerem sucesso. Eu poderia até me tornar uma estrela, aliás, esse era meu sonho.

Um dos meus problemas é sonhar demais. Me senti como se tivesse levado um banho de água fria para acordar. Melhor dizendo, um banho de realidade. Senti as lágrimas tentando sair, mas me controlei. Foi difícil, mas consegui. Chorar com facilidade é uma habilidade que eu sempre apreciei. É bom para se conseguir o que quer, mas atrapalha porque eu realmente sou muito emotiva e fica difícil controlar. Não é fraqueza, só sensibilidade em excesso. Minha mãe dizia que a Globo está perdendo um talento!

- Bom, são 19:30. Minha filha, você precisa estar em casa as 20:00. Acho melhor irmos, - olhou no relógio e deu uma risada - não quero irritar a fera antes da hora.

Resolvemos deixar Mallorie em casa primeiro - minha mãe podia matar ela também - e depois seguimos para a minha.

Coloquei meus fones de ouvido e liguei meu mp3 (era daqueles bem antigos, acredite) para não ter que ouvir meu pai falando. Selecionei a pasta do meu artista predileto, você já deve imaginar, se não, começa com Cobra e termina com Starship e deixei no modo aleatório.

Estava torcendo para tocar alguma música calma para poder ficar de fossa, mas a vontade do mp3 era de tocar Prostitution Is The World's Oldest Profession (And I, Dear Madame, Am A Professional) (nome grande...). Tudo bem então, já que é a vontade dele...

Do you know who I am?

Good, neither do I

Got nothing to say, (I got nothing to say)

But if you pay me, I can play the fool

Go on believe, if it turns you on

Take what you need 'til your body is numb

Prostitution, is revolution

You can hate me, after you pay me

My submission, is your addiction

So just get out while you can

Pode parecer a hora mais imprópria para ouvir essa música, mas a deixei tocando. Apesar da letra ousada, a batida é agitada e contagiante, o que me deixou um pouco mais feliz. Resolvi cantar o refrão um pouco alto, só para provocar meu pai. Funcionou. Na hora em que eu terminei de cantar “Prostitution, is revolution” ele não quis nem ouvir o resto (ainda bem) e perguntou:

- Que diabo é isso que você está ouvindo?

Quando eu ia abrir a boca para responder, percebi que estávamos parando no portão da minha casa.Minha mãe estava parada em frente com uma expressão preocupada. Assim que nos viu, alívio inundou suas feições. Olhei meu relógio. 20:05. Depois a exagerada sou eu.

Meu pai ainda me encarava, esperando uma resposta.

Resolvi não responder e apontei com a cabeça o lugar em que minha mãe estava nos esperando.

Sinceramente, eu nunca havia visto meu pai com tanto medo. Ele ficou até meio verde. Acabei lembrando do ditado “cutucar onça com vara curta”. Era isso que íamos fazer.

- Bom, está na hora de enfrentar a fera. – ele falou mais para si mesmo quando saímos do carro e íamos em direção ao perigo.