Living In The Sky With Diamonds

Capítulo 3-Enfrentando a fera


Ao chegar em casa, cumprimentei minha mãe e subi para o meu quarto. Eu sabia que eles iam brigar, por isso me retirei - antes que ela tentasse acertar alguma coisa nele.

Deitei na cama e olhei para o teto. Fiquei pensando no que dizer às meninas e em como a minha vida vai mudar daqui para frente. Apesar de me sentir diferente neste lugar, sempre fui feliz aqui. É o lugar onde eu nasci e vivi por todo esse tempo. Sair daqui vai atrapalhar tudo o que eu havia planejado para mim. Não vai ser como mudar de cidade ou estado. Eu vou para outro país. São costumes diferentes, idioma diferente, tudo diferente. Adaptar-se vai ser muito mais difícil.

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Ouvi um estrondo, que provavelmente deve ter vindo do andar de baixo. Parece que meu pai já havia dado a notícia da viagem para minha mãe. A porta do quarto rangeu quando foi aberta. Sentei-me de modo que deixasse espaço livre na cama. Meu irmão, Danilo, entrou no quarto, sentou na cama e ficou me encarando.

- Que foi?- perguntei.

- Você sabe de alguma coisa? - fez um gesto com o polegar, indicando o andar de baixo.

- Sei – suspirei - O que foi o barulho lá embaixo?

- Mamãe jogou um copo com Coca-cola no papai.

- Vidro? - perguntei assustada.

- Plástico.

- Ufa - falamos ao mesmo tempo.

- Como foi lá no shopping?

- Nós bundeamos por um tempo...

- Bundear? - ele riu - Verbo intransitivo. Brasileiro, popular. Significa andar a léu, vagabundear. Certo?

- Eu sei, Dicionário Aurélio. Posso continuar? - esperei por um tempo e ele acenou com a cabeça.

- Depois ele me levou para comprar roupas de frio - ele já ia fazer algum comentário estúpido, mas fiz menção para que me deixasse prosseguir - e eu a conheci quando nós paramos para comer.

- E como ela é?

- A princípio, ela parecia legal, - lembrei de quando ela e meu pai estavam rindo da minha mãe - mas depois, percebi que ela é uma vaca.

- Por que você pode chamar ela de vaca e eu não posso te chamar de vaca?

- Cala a boca - joguei um travesseiro nele. Apesar de falar como alguém mais velho de vez em quando, Danilo só tem 10 anos. Por isso, vez ou outra, ele vinha com perguntas sem-noção como esta.

- E por que a mamãe jogou um copo cheio de coca no papai? - ele riu e dessa vez eu o acompanhei.

Contei toda a história da viagem para ele, cortando a parte que meu pai tem a ideia de levar minha mãe na justiça. A mente dele ainda é ingênua. Ele pode acabar comentando isso com a minha mãe achando que não tem nada de mais e acabar causando mais um desentendimento entre nossos pais. Eu não queria isso, já bastam os que eles têm no dia-a-dia.

- Quer dizer que eu vou me livrar de você? - ele falou, incrédulo.

- Alguns sonhos se realizam, não é mesmo? - falei, lembrando do meu, que parece impossível.

- É, mas eu não entendo por que não estou feliz. - ele fitou meu lençol de caveiras com lacinho.

- Porque bem lá no fundo você sabe que me adora e não quer que eu vá embora. – a frase acabou rimando, o que me fez rir.

- Credo, não fala uma coisa dessas. Eu posso te amar, mas eu não gosto de você. - ele falou com voz de choro. Sorri ao ouvir essa frase meio contraditória e o abracei. Nossa relação era assim: brigávamos feito cão e gato, mas não conseguíamos ficar longe um do outro. Quando eu dormia fora, na casa de uma amiga, por exemplo, ele sempre perguntava por mim. Quando eu estava em casa, ele me ignorava. Eu ia sentir falta disso.

Depois do momento de irmãos não tão melodramático assim, percebemos que o primeiro andar estava silencioso. Tensão tomou conta da atmosfera do meu quarto. Ou minha mãe havia acertado mesmo o meu pai com o copo, ou eles se resolveram. Descemos e encontramos nossos pais rindo e conversando. Minha mãe parecia não estar com raiva e meu pai parecia não estar mais com medo. Comecei a pensar que convivia com dois bipolares. Tirando isso, fiquei feliz de ter acontecido a segunda opção.

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- Ai meus filhos, sentem aqui! – minha mãe apontou para uns lugares vazios no sofá- Seu pai me explicou tudo. No começo não gostei muito da ideia, - admitiu - mas depois comecei a pensar nas possibilidades que você vai ter. São tantas faculdades boas que tem lá, querida.

- Mãe...

- E pelo menos as aulas de inglês que eu paguei vão servir para alguma coisa!

- Mãe, eu não quero ir. – finalmente falei o que queria desde o começo dessa história de viagem. Eu pensava que ela iria me apoiar, iria fazer meu pai desistir dessa ideia absurda. Mas não foi assim como eu esperava. Agora eu não tinha saída.

- Você vai. E não se fala mais nisso.

Subi para meu quarto. Em um dia normal, eu bateria a porta com toda a força para descontar minha raiva. Hoje, apenas tranquei a porta para que ninguém pudesse me incomodar e me joguei na cama, colocando um travesseiro em cima da cabeça. Depois disso, fechei os olhos.

Ouvi uma batida na porta. Tirei o travesseiro do rosto e olhei em volta. Já era manhã. Eu havia dormido.

- Alguém quer te ver. - minha mãe gritou.

Ainda estava com as roupas do dia anterior, então, antes de descer, resolvi tomar um banho rápido. Desci as escadas sem vontade nenhuma. Não fazia ideia de quem queria me ver àquela hora. Quem me conhece bem sabe que eu não fico mais porre de sono a partir das 11 horas da manhã.

Finalmente olhei para quem me esperava. Eram minhas amigas. Jumi estava sentada no sofá, chorando. Bruna estava ao seu lado, amparando-a. Drica estava dispersa, encarando o nada. Máh era a única que parecia mais calma e racional.

- Di, nós já sabemos. – nem precisei perguntar, eu já sabia do que se tratava.

- Eu ia contar hoje. –algo me ocorreu - Quem contou para vocês?

- Seu irmão me ligou hoje.

- Danilo? - fiquei surpresa.

- É. Ele implorou para gente vir aqui. Fazer o possível para convencer a sua mãe a não te deixar ir.

- E?

- Nós tentamos e não deu certo.

- É, quando minha mãe mete algo na cabeça é difícil convencê-la do contrário.

Me dirigi até o sofá onde Jumi e Boo Boo estavam sentadas. Drica pareceu espertar do transe e Máh se juntou a nós.

- Não tem jeito, não é? - Jumi perguntou. Ela ainda tinha esperanças. Eu acenei tristemente com a cabeça.

- Então as Diamond Girls acabaram?- Boo Boo se manifestou.

- Não!Lógico que não! - falei um pouco alto. Eu sentiria raiva de mim mesma se as garotas terminassem a banda por minha causa. Elas simplesmente estariam desistindo dos seus sonhos.

- E o que podemos fazer? - Drica falou pela primeira vez - Achar outra pessoa para tocar no seu lugar? - do jeito que ela falou parecia que estava sendo forçada a cometer um crime.

- Você está falando como se fosse trocar de amiga e não de guitarrista. - falei sem a intenção de ser ríspida, mas não teve o efeito que eu queria.

- Desculpa. - ela falou. Logo em seguida escondeu o rosto e começou a soluçar. Eu nunca a havia visto chorar. Isso foi o suficiente para meus olhos se encherem de lágrimas também.

- Ei Drica, você sabe tocar guitarra também. -Máh falou.

- Mas eu não sou boa, você sabe disso. Eu sou um desastre. – a voz dela estava abafada graças às mãos que cobriam seu rosto.

- “Neste mundo é preciso ser bom um pouco para se ganhar o hábito de ser bom o bastante.”- falei.

-Tem outra frase de efeito aí? - ela falou,meio sarcástica. Ela já estava voltando ao normal.

- “As únicas pessoas que nunca fracassam são as que nunca tentam.”

- Essa também é boa. - ela disse, limpando as lágrimas.

- Ai Di... Eu vou sentir falta da sua “nerdeza” - Jumi falou.

Todas riram e o clima tenso ficou mais leve. Então todas me apertaram num grande abraço.

O restante do mês de julho foi bastante agitado. Eu tentei aproveitar ao máximo o tempo que restava saindo com minhas amigas e minha família (mãe e irmão). Foram os dias mais felizes que eu passei na minha cidade.

O tempo passava e a viagem se aproximava. À medida que isso acontecia, eu sentia algo crescendo dentro de mim. Era um sentimento involuntário. Como uma expectativa. Não sabia muito bem o que ansiava. Como se coisas boas fossem acontecer. Isso deixou meu espírito um pouco mais feliz, já que tudo ao meu redor estava parecendo uma despedida.

Será mesmo que coisas boas me esperavam no estrangeiro?