Capitulo VI

Sam estava submersa em aguas aromáticas e mornas, e mergulhada em seus pensamentos, quase numa posição fetal, enquanto Carly esfregava suas costas e tagarelava alegremente sobre qualquer coisa não importante no momento.

- ... foi por isso que eu descobri que cachorros não combinam com penas e tinteiros quando você está usando um chapéu azul numa segunda. Não é mesmo Sam?

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- ...

- Sam?

- Sim?

-Você não ouviu metade do que eu disse. – não foi uma pergunta que precisasse de resposta. Ela sabia. Carly terminou seu serviço e percebeu que seu vestido vinho estava tão molhado quanto a própria princesa.

- E quando eu ouço? – indagou com seu usual sarcasmo, erguendo-se da banheira e rumando para o quarto anexado ao seu banheiro. – Carls eu não estou muito afim hoje.

- Por quê?- Seguiu-a e parou na porta, recostando-se - É o seu casamento, Sammy. Por seu reino. Você vai ajuda-los se unir os reinos.

- Ajudar a quem Carly?

- Pense naquela vila que visitamos. Lembra-se de como eram as crianças?

Sim, ela lembrava.

“Quando tinham quase doze anos, o rei John levara as meninas para uma pequena vila no extremo do seu reino”. Seu pai ensinara que de todo seu reino, a extensão dele nada importa se comparado as pessoas que nele vivem. Eles precisam de cuidado e seu pai dissera que era seu dever como futura rainha cuidar deles também. Fora um dia certamente memorável. Infelizmente não de uma maneira boa. Conversavam animadamente sobre as coisas quando por fim adentraram a vila.

Todos estavam calados.

A vila adquirira um tom cinzento e tristonho, assim como o céu nublado que a encobria. As pessoas estavam sujas de uma lama preta e nojenta por todos os lados do corpo e as crianças pareciam não ter roupa. Passos ocos e o relinchar de cavalos miseravelmente magros juntavam-se àquela triste sinfonia. Tudo que se ouvia era um martelar numa bigorna ao longe que ressoava no eco triste e sem risadas daquele vilarejo.

Sam apenas observava, muda enquanto assistia o outro lado de seu mundinho perfeito: a pobreza.

As crianças pareciam trabalhar assim como seus pais, sem o brilho da infância em seus olhos. Sam teve vontade de chorar, de sair correndo da carruagem e alimentar a todos, dizer que tudo ia ficar bem, mas como futura rainha, conteve-se. Teria de ser forte pelo seu povo”.

- Sim, eu lembro. – falou amargamente. A imagem das crianças passava como uma lamina afiada por sua cabeça. Seu pai como bom rei que era, ajudou a todos e depois de alguns anos e a vila voltou a ter cor e vida novamente. Mas Sam nunca iria esquecer daquele povo. Daquele sofrimento. Carly era testemunha do juramento que Sam fizera naquele dia: de nunca deixar seu reino sofrer daquele jeito novamente, custe o que custar.

- Custe o que custar – Carly falou, como se estivesse mais uma vez lendo os pensamentos da loira.

- E o que eu devo fazer? – perguntou derrotada, jogando-se em sua cama, ainda nua. A nudez na frente de sua ama já não era mais novidade.

-Fingir que está feliz, sorrir para todos como se este fosse o melhor dia de sua vida e o mais importante ...- Carly sentou-se ao seu lado na cama. – Você deve...

-Dá-lo uma nova chance? Esperar e ver o que acontece?

-Eu ia falar que você deveria vestir seu vestido, mas isto também conta.

Ainda deu tempo de jogar uma almofada vermelha na morena e cair na gargalhada depois disto.

Tudo pronto.

O Grande Jardim fora ornamentado em tons que variavam do lilás ao branco, com rios de flores arroxeadas enfeitando o local tais como o buquê da noiva. A noite presenteara os noivos com incontáveis luzinhas faiscantes mergulhadas em uma imensidão negra e um clima agradavelmente bom para que o pátio pudesse ser utilizado. Cerca de quinhentas cadeiras foram disponibilizadas para os convidados das famílias reais. Sam não conhecia nem metade. Já com o vestido, e ainda com os cabelos desorganizados, Sam encarava-se no espelho. Deveria estar feliz, mas não estava. Casar-se-ia com o homem que pegou seu coração e fê-lo em pedaços, e fingia que nada havia acontecido. Suspirou derrotada. Ergue o queixo e olhou para a Sam refletida no espelho. Ninguém era capaz de tirar a felicidade de Samantha Joy Puckett. Ninguém.

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“Deve ter tido algum motivo”, uma vozinha sussurrava em seu consciente, enquanto Carly ajudava a pentear seus belos cachos loiros, formando um pequeno coque no topo,

“Ele sumiu”, tentou convencer-se do que ela acreditava que era correto: Freddie a deixara sem mais nem menos, e por isso merecia seu ódio eterno. “Disse que iria falar com o pai e nunca mais voltou. Deixou-me plantada naquele coreto, sozinha por mais de quatro horas. E eu estava sorrindo feito uma boba achando que ele realmente me amava e ele simplesmente não voltou”. O pensamento do ato executado no passado fez os olhos de Sam começarem a arder. Piscou com força e forçou-se a sorrir novamente. Pelo seu povo. Custe o que custar.

Freddie era só sorriso. Mesmo sabendo que sua futura esposa não o amava, tinha certeza que era o homem mais sortudo no mundo. Iria desposar a mulher mais linda que já vira e de longe a mais sagaz que conhecera. Não sabia ao certo o motivo , mas seu coração acelerava apenas em pensar nela. Suas mãos suavam quando estava na presença dela e as palavras pareciam embaralhar-se e não ter sentido quando falava.

Estava apaixonado.

Freddie estava em seu quarto, e por uma sorte, a cama com tecidos escuros da maneira com ele gostava estava perfeitamente posicionada em frente a janela. Ele só queria saber o porquê de toda esta recusa. Freddie sabia que já a conhecera. Marisa fez questão de informar que eles já haviam se conhecido durante sua infância e uma pequena parte da adolescência antes do ... Era ai que tudo perdia o sentido. Eles já se conheciam. Todavia, uma peça estava faltando. O que ele sentia agora não era, não poderia ser algo novo. Quando estivessem rumo a sua noite de núpcias ele perguntaria por fim a Sam. Agora não parecia ser o momento correto.

Freddie foi tirado de seus pensamentos graças a uma batida incômoda na porta. Levantou-se rapidamente, pois, a intensidade das batidas demonstrava que o “convidado” já estava ali a certo tempo. Sua surpresa não podia ser maior.

- Gibbeah! – Anunciou abraçando o amigo de infância como um urso e entrando no quarto, claro sem necessidade de convite. Sentou se em uma das pontas da cama e pegou uma caixa de tecido vermelho-sangue que estava em cima da cama, analisando-a- Como está o futuro rei da Espanha?

- Bem, eu acho. – falou em tom cansado, juntando-se ao amigo. - Já tentei de tudo, Gibby. – desabafou. Gibby sempre estivera do seu lado então já era comum Freddie desabar a sua frente- Todas as dicas que a mãe dela me deu. Tentei presenteá-la com milhões e variados presentes. Levei-a para passeios. E quando parecia estar funcionando, ela retomava a mesma postura fria. – jogou-se na cama, ignorando completamente os conselhos da mãe para não amassar a roupa. - Parece que algo ainda falta.

- Algo que você esqueceu- Gibby tomou um ar sério deixando a caixinha de lado. Quando queria, o gordinho incorporava um ótimo conselheiro. – Você já me falou sobre ela.

-E como você nunca me disse? – Freddie levantou-se de supetão- Estive jogando flechas ao vento por todo este tempo, quando na verdade você sabia que eu já tinha conhecido ela? E eu já te contei algo importante sobre ela? – Gibby corara violentamente e engasgara-se com as palavras. – Eu preciso saber! – Freddie deu por si segurando com força os ombros de Gibby. Soltou-o envergonhado e esperou o gordinho recuperar sua postura.

-Freddie- Gibby massageou os ombros doloridos – Você já a beijou.