Nick sacou o rádio com a velocidade de um raio. Garramansa, se você não atender agora, eu juro que... Ele pensava enquanto corria pelos corredores em direção à garagem do ZPD. Encontrou o oficial Delgatto pelo caminho. Ele era um dos dois agentes que haviam pego o caso da Bellwether antes do Nick.

— Wilde, o quê... – ele começou a dizer. Nick não o deixou terminar.

— Delgatto, nós precisamos ir!

— Como?

— Está havendo um sequestro! Nós temos que ir! – Nick não esperou Delgatto se decidir, mas pôde ouvir o outro oficial correr atrás dele. Então o Garramansa finalmente atendeu.

— Garramansa! – Nick berrou – temos uma emergência nível três. Está havendo um sequestro! Avise Bogo!

— Espere, onde é o sequestro?

— Na fazenda da família Hopps!

— Como? Na fazenda de quem?

— Dos Hopps! A família da Judy! – Nick havia chegado ao primeiro carro, e Delgatto pulou no banco do motorista. Nick saltou no banco do carona, ainda falando com Garramansa. – são pelo menos 300 mamíferos sequestrados de uma vez! Mande todos que puder!

— Tá, tá, tô mandando reforços. Mas onde é a fazenda?

— Eu tô aqui na frente do DPZ! Eu mostro o caminho mais rápido!

Em alguns segundos, o carro onde Nick estava foi cercado de viaturas com as sirenes ligadas. Nick deu as direções ao oficial Delgatto, pedindo pra ele pisar fundo.

O comboio policial saiu à toda, derrapando em cada esquina.

— Direita! Direita! Agora esquerda! – ele falava pro oficial ao lado, que fazia as curvas com reflexos... Bem... Felinos. – entre na primeira à direita!

— Wilde! – a voz de Bogo trovejou no painel do carro. – O que significa isso?

— A oficial Hopps ligou. Ela foi sequestrada. Eles estão levando todo mundo. Parece que estão sequestrando a família dela... Eu não sei.

— Como assim, não sabe?

— Foi tudo muito rápido. A ligação mal começou e alguém pegou o celular. Não pediu resgate. Não ofereceu uma troca de reféns. Nada.

— Espero uma explicação melhor depois, Wilde.

***

As viaturas derraparam pelo gramado, espalhando poeira e detritos de grama. Nick saltou do carro, correndo em direção à casa. O silêncio era quase ensurdecedor. Folhas avermelhadas foram carregadas pelo vento, rodeando os pés de Nick, enquanto ele desacelerava. Vários carros civis estavam estacionados à beira da estradinha ladeada por vários cedros.

Nick passou por eles, aguçando os ouvidos para ver se ouvia algo. Nada. Só então percebeu que não havia levado nenhuma arma. Mas ele não iria retroceder. Chefe Bogo pôde ser ouvido dando ordens aos oficiais para se dividirem. Nick não se importou. Ele entrou. Pratos de plástico com pedaços de bolo amassados jaziam pela maior parte do salão. Copos quebrados e refrigerante ainda soltando bolhas espalhados ao acaso, denunciavam uma fuga desesperada.

Nick seguiu o rastro de destruição até uma das portas externas, e deu a volta no prédio. Ninguém. Entrou no prédio vizinho, que parecia ter orelhas de coelho enormes sobre a entrada. Um cartaz rasgado estava pendurado pela metade, e nele lia-se “feliz aniversá...”.

Nick virou à direita, por um corredor que parecia ter sido projetado para alguém muito menor que ele. Abriu a primeira porta. Nada além de uma cama desarrumada e um pequeno bidê. Ele olhou debaixo da cama. Nada também. Ao se levantar, ele bateu a cabeça no teto. Continuou abrindo as portas, e em todas, o cenário era parecido. Até que ele entrou num corredor maior, que deveria ser feito para animais de tamanhos maiores.

Ao abrir a primeira porta, Nick topou com um cenário diferente. Uma cama levemente bagunçada havia sido puxada para longe da parede, e no centro da sala jazia um celular quebrado. Nick abaixou-se para pegá-lo, e logo abaixo das rachaduras na tela ele viu uma foto sua, com algumas manchas pretas devido à quebra. Abaixo, a mensagem era simples: “chamada finalizada” acima do seu nome, Nick.

Ao pegar o celular de Judy, Nick as viu. Espalhadas pelo chão haviam dezenas de flores lilás com manchas azuis. Uivantes. Nick de repente se sentiu sem chão. Uma massa indefinida de emoções tomou a sua garganta. Então ele ouviu, acima do ruído do seu coração acelerado.

Um pequeno estalo embaixo da cama.

Nick Wilde puxou os cobertores levemente para o lado, enquanto se abaixava levemente. Uma respiração rápida e entrecortada pôde ser ouvida quando ele pôs a cabeça entre as cobertas para olhar embaixo da cama. Ali, no canto mais escuro, estava uma pequena coelha assustada. Devia ter uns sete anos, talvez menos. Nick tentou suavizar a sua voz o máximo que conseguiu.

— Não vou machucar você.

— Quem é você? O que você quer?

— Sou Nick. Sou amigo da Judy. Você sabe onde ela está?

A pequena coelha começou a chorar.

— Onde... est... está... a minha mãe?

— Bonnie?

— S-sim.

— Eu não sei, meu amor. Eu vou encontra-la, mas preciso que você venha comigo, tudo bem?

— Você vai achar minha família?

Nick estendeu a mão para a pequena coelhinha.

— Bom, é isso o que fazemos no ZPD.

A pequenina pegou a mão de Nick, e ele a puxou para fora. Nick colocou o celular de Judy em um saco plástico como evidência e carregou a pequena coelha até o lado de fora, conversando com ela o tempo todo.

— Qual é o seu nome?

— Teresa.

— Prazer em conhecer você, Teresa! Que nome bonito. Quantos anos você tem?

— Oito.

— Ah, errei por um! Eu tinha certeza que você tinha sete.

Teresa fez uma expressão zangada.

— Eu fiz oito na semana passada!

Nick foi direto encontrar-se com o chefe Bogo, mas deixou Teresa dentro do carro antes de falar os assuntos sérios.

— Todos foram levados, chefe. Mais de trezentos coelhos. E também alguns outros animais, talvez amigos da família. Eu nunca vi nada parecido. É como se eles tivessem desaparecido no ar. Talvez o relato de Teresa ajude, mas precisamos de um psicólogo infantil.

— Como você soube?

— Judy me ligou durante o sequestro. Ela disse que estavam levando todo mundo. Mas alguém interrompeu a ligação – Nick mostrou o celular quebrado ao Bogo – eu disse que iria encontra-lo. Ele me disse “boa sorte”. E também, no chão eu encontrei um monte de...

— Chefe Bogo! – um dos agentes chamou, do lado de trás de um dos prédios – você tem que ver isso!

Nick seguiu o chefe até o local de onde o agente chamava. Em frente a uma das paredes, havia uma grande pilha de uivantes arrancadas e jogadas ali. E, escrita em letras garrafais na parede, a mensagem.

BOA SORTE, NICK.

-Doug