Zohar

Ligação


Quando coisas acontecem

Taehyung abriu os olhos assim que a maquiagem estava pronta e se olhou no espelho à frente. Uma faixa branca deixava suas sobrancelhas à mostra enquanto seu cabelo castanho claro estava dividido de lado. Ele se levantou, se inclinando levemente enquanto agradecia sua noona, e foi para o outro lado do camarim. Olhou pelo lugar à procura de Joongkook e o encontrou ainda se maquiando.

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Depois do show da noite anterior, assim que voltaram para o hotel e se prepararam para dormir, Taehyung se deitou na cama e ficou por muito tempo pensando se ligava para o hotel em Londres ou não. Iria ligar. Tinha decidido aquilo na sexta-feira e não iria sair de Hong Kong sem antes fazer a tal ligação. O problema era que toda vez que sua mente se lembrava de fazer aquilo uma ansiedade enorme tomava conta e ele simplesmente não conseguia nem fazer a ligação. Ele não conseguia entender. Sentia os mesmos sintomas de ansiedade que sentia antes de um show, como coração acelerado, frio na barriga, as mãos suando de nervosismo. Mas nada disso o impedia de subir ao palco com toda a confiança que tinha e dar o seu melhor. O que tinha de tão difícil em clicar em um botão numa tela de celular?

Depois de ficar meia hora com o número exibido na tela, decidindo se ligava ou não, e largar e pegar o celular de volta várias vezes nesse tempo, riu de si mesmo ao lembrar-se de um episódio da adolescência. Não tinha sido por causa da demora em fazer uma ligação que tinha perdido a chance de se declarar para a menina que gostava naquela época? Ou tinha sido a chuva...?

Ele sabia que poderia culpar a chuva e dizer isso para quem quer que fosse e isso até poderia convencer, mas no fundo sabia o que realmente tinha acontecido.

Ao pensar nisso, era como se a mesma situação estivesse se repetindo, embora o contexto fosse diferente. Tentou usar isso como motivo clicar de uma vez no botão, mas uma batida na porta e uma reunião surpresa o obrigou a soltar o celular.

Agora, ali no camarim, preparando-se para a última noite de show em Hong Kong, ele decidiu que ia compartilhar sua ideia com Jungkook. Sabia que ele ficaria mais eufórico do que já era e com certeza não o deixaria em paz até que ele colocasse a ideia em prática e mostrasse os resultados. Seria obrigado a ligar.

Enquanto pensava nisso e esperava o momento em que JK saísse da cadeira, Taehyung se sentou no chão com as pernas estiradas e esticou os braços até que a ponta dos dedos tocassem os pés. Ficou naquela posição por alguns longos segundos, sentindo cada nervo da perna se esticar, quando de repente um par de mãos impulsionou suas costas, fazendo-o se inclinar ainda mais para frente.

—Faltam quinze minutos.- Jimin falou, se afastando de Taehyung após um tempo.

Ambos se levantaram e em seguida Jimin pediu ajuda para fazer um alongamento nos braços.

—Você parece meio tenso. A voz não tá’ boa?

—Tá’ sim. Só estou pensando...- Taehyung respondeu, mais para si mesmo do que para ele.

—Pensando em que? Na Billboard?- Jimin tentou olhar para ele por cima do ombro. –Uma semana!

—Sim! Exatamente no domingo que vem!- Taehyung abriu o sorriso ao ouvir aquilo, esquecendo-se de todo o resto, e Jimin resmungou.

—Meu braço, cara!- ele exclamou, e só então Taehyung percebeu que os estava apertando demais.

—Desculpa. Não medi minhas forças.- ele riu, tentando se redimir com uma careta, e o soltou.

Minutos mais tarde todos estavam atrás do palco indo para suas posições quando a contagem regressiva começou. Quando faltavam nove segundos Taehyung se lembrou de Jungkook. Por sorte ele estava ao seu lado, embora meio distante, e tentando fazer sua voz soar mais alto que os gritos, ele chamou a atenção do amigo.

—Tenho uma coisa pra te contar.- ele praticamente gritou, mas Jungkook apenas fez uma careta, não entendendo absolutamente nada.

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Taehyung riu com aquilo e ajeitou o ponto no ouvido. Assim que a primeira música acabasse e eles fossem cumprimentar as fãs, iria dar um jeito de passar por ele e diria o que queira. Só não podia se esquecer de tirar o microfone da mão dele pra ele não dar com a língua nos dentes.

Quando voltaram para o hotel, Taehyung ainda tinha a imagem da cara de espanto, surpresa e choque de Jungkook gravada na mente quando contou que ia ligar para Londres para tentar entrar em contato com alguém. Naquela hora Taehyung tinha tirado o microfone das mãos dele e quando ele foi atrás querendo saber mais informações, Taehyung disse para ele se concentrar nas fãs. O que tinha funcionado bem. Mas quando o show terminou JK não largou do pé dele, fazendo perguntas e querendo saber que história era aquela quando não tinha ninguém muito perto. Taehyung o enrolou o quanto pode, não conseguindo parar de rir com tudo aquilo, e se embasbacou várias vezes ao tentar dar explicações do motivo de tanto riso quando alguém se aproximava. Se antes achavam que ele não era certo, ali eles tiveram a certeza.

Mas ele não estava nem aí. Quando as pessoas olhavam estranho pra ele, ele não conseguia deixar de sorrir, pensando que eles não faziam ideia do que ele tinha em mente. Se soubessem que suas ideias estavam indo além de apenas uma ligação...

Como de praxe, uma reunião rápida no quarto do manager apenas para dar alguns avisos terminou com felicitações pelo show, e assim que todos estavam liberados cada um foi para seu quarto.

—Não se esquece de me mandar a mensagem!- Jungkook intimidou Taehyung.

Ele concordou, rindo e dando um empurrão em JK, e quando tirou o cartão do bolso da calça, percebeu que Jimin estava olhando para ele.

—Tua cara tá’ podre.

—Cala boca.- Jimin riu e entrou no quarto.

Taehyung olhou para o cartão antes de abrir a porta do quarto, deu um passo para trás e conferiu se o número 1509 conferia.

Assim que entrou, fechou a porta e foi em busca do celular. Ele se deitou de costas na cama e procurou o número que estava salvo como HdL. Ele passou a mão nos cabelos, sentindo o coração se agitar novamente, e suspirou.

—Tá’. O que eu vou falar?- ponderou sobre aquilo. -Olá, boa noite. Eu gostaria de falar com a jardineira que trabalha aí? Eu poderia falar com a jardineira do hotel? A jardineira está aí hoje?- ele suspirou, não gostando das ideias. Já tinha ensaiado aquilo um milhão de vezes e sempre achava aquilo horrível demais.

Ficou com o dedo suspenso sobre a tela, prestes a ligar, quando de repente recebeu uma mensagem. Decidiu abri-la primeiro.

“E aí? Já ligou?” – JK

Taehyung sorriu.

“Ainda não. Não tô’ achando as palavras.” – TH

Ele esperou alguns segundos por uma resposta e recebeu uma ligação.

—Tá’ com medo?- ele ouviu uma risada debochada do outro lado da linha.

—Tô’ com medo de gaguejar e a mulher não entender nada.

Taehyung ouviu a risada mais uma vez, sendo seguida do som de um ramyeon sendo engolido.

—Liga e pergunta. Simples.- ouviu o som da comida sendo mastigada mais uma vez. –Se quiser eu vou aí.

—Então vem.- Taehyung disse, resoluto. E menos de um minutos depois Jungkook bateu à porta.

Taehyung abriu e o encontrou vestido de pijama, com um pote de ramyoen na mão.

—Liga e pergunta se tem como falar com a jardineira do hotel.- Taehyung foi direto ao ponto. –O resto deixa comigo.

Mas ao ouvir aquilo JK parou de mastigar e olhou sério para Taehyung.

—Jardineira?

Taehyung percebeu a frustração na voz dele e riu, embora num estalo sua mente captasse a possível reação que ele teria quando descobrisse que Zohar era uma refugiada.

—Concentre-se na sua parte. A minha parte, que vem logo depois, eu posso falar.

JK suspirou e trocou o pote de ramyeon pelo celular. Olhou para a tela, a sequência de números ali apenas esperando a confirmação para fazer a ligação, e deu de ombros.

—Ok, então...- ele clicou no ícone do telefone e levou o celular ao ouvido.

Taehyung se sentou no sofá, de frente para Jungkook que permaneceu de pé, e começou a comer a janta do amigo já que tinha que se ocupar com alguma coisa para aliviar a ansiedade.

—Tá’ chamando.

—Então coloca no viva-voz!

JK riu e assim fez.

London Heathrow Hotel. Anna Hughes, boa tarde.- uma voz amistosa falou do outro lado da linha após alguns toques.

—Boa tarde.- ele respondeu, lembrando que Hong Kong estava algumas horas à frente. –Eu gostaria de pedir uma informação.- ele fez uma breve pausa e continuou. -Eu gostaria de falar com a jardineira que trabalha aí no hotel, se possível. É que esse é o único número que eu tenho pra entrar em contato com ela...

—Sinto informar, mas não temos nenhuma jardineira trabalhando aqui.

—Não?- Jungkook olhou para Taehyung, que ficou perplexo.

—Não... O serviço foi terceirizado há um tempo, então não é sempre uma mesma pessoa que vem. E sempre são homens vem aqui para cuidar do jardim.

—Ah, então...- JK não sabia mais o que falar e sinalizou para Taehyung.

—Mas trabalhava uma moça aí, certo? Vinte e cinco anos...- Taehyung pegou o celular e o tirou do viva-voz, levando-o ao ouvido.

—Eu não sei te dizer... Eu comecei há pouco tempo aqui...

—Eu preciso saber... Você pode perguntar pra alguém? Esse é o único número.

Ouve um momento de silêncio do outro lado da linha.

E qual seria o nome dela?

Taehyung abaixou a cabeça e passou a mão nos cabelos, bagunçando-os. Andou de um lado para o outro tentando pensar em alguma coisa.

—Eu não sei o nome dela. Ela me ajudou um tempo atrás e... Eu queria agradecer.

—Desculpa, mas...- houve uma pausa e logo ela voltou ao telefone. –É, infelizmente não podemos dar informações pessoais dos funcionários. Mas teve uma moça que trabalhou aqui no jardim do hotel, sim.

—Um jardim japonês, certo? Passa por um corredor e tem um salão...

Sim, isso mesmo... Mas ela não trabalha mais aqui e eu não posso te dar mais informações.

Taehyung suspirou e fechou os olhos.

—Tá’ tudo bem. Obrigado.- e dito isso desligou o telefone e se jogou de costas na cama. –Já era.

Ele encarou o teto ao passo que vários flashes do que tinha acontecido vinham à mente, e sentiu uma ardência no nariz. Ele mordeu os lábios e fechou os olhos enquanto tentava pensar em nada e não chorar, e ouviu JK voltar a comer o pouco que sobrou do ramyoen. Abriu os olhos, achando graça daquele barulho do meio do silêncio, e olhou para ele. JK estava sentado no sofá, com as pernas cruzadas, concentrado na refeição.

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—Já que o que você queria fazer infelizmente não deu certo, eu posso perguntar?- JK olhou para Taehyung. –O que exatamente aconteceu pra você precisar da ajuda de uma jardineira e... Se isso foi sério, por que só agora você resolveu ligar?

Taehyung bufou.

—Eu só resolvi ligar agora porque eu fui um idiota esse tempo todo!- ele se queixou, começando a pensar em tudo o que tinha acontecido. –Uma coisa importante aconteceu na minha vida sem ajuda de agência nenhuma pra me treinar e eu deixei isso escapar entre os meus dedos porque me disseram que eu tinha que esquecer, que ninguém podia saber...

A frustração era tanta que ele nem se importou com as lágrimas que se acumulavam no canto dos olhos. Se nesses dois meses e meio a logística de um hotel tinha mudado e a pessoa mais próxima entre ele e Zohar estava agora fora de alcance, que garantia ele tinha de que Zohar ainda estaria na ong?

Ele balançou a cabeça e tentou colocar a mente para funcionar, não deixando que a frustração tomasse conta e anuviasse seus pensamentos. Teria que procurar pela ong o mais rápido possível e, mesmo que Zohar não estivesse mais lá, tinha que torcer para que Suzan ao menos pudesse saber onde ela estava.

—Entendi...- Jungkook chamou a atenção de Taehyung.

Ele se sentou na cama de pernas cruzadas e passou a mão nos cabelos, ajeitando-os.

—E a resposta da primeira pergunta, eu posso saber?

Taehyung passou a mão no rosto e apoiou o cotovelo sobre a perna, apoiando o queixo na mão. Olhou para o olhar de curiosidade de JK e pensou seriamente se contava ou não.