Zeros e Uns

Capítulo 6: O encontro


02hrs12 de 15 de agosto

Zero,: Aposto que a sua cor favorita é azul!

Sem Saída: Errou, é preta.

Zero,: Droga, sou péssimo nisso.

Sem Saída: A próxima você acerta... Minha estação favorita?

Zero,: Você tem jeito de quem gosta do outono e de climas chuvosos.

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Sem Saída: Haha, acertou! Acho que a sua é a primavera...

Zero,: Bem gay, igual a mim.

Sabe quando você não consegue diferenciar ironia e verdade? Eu estava assim naquele momento, encarando a tela com perplexidade, o coração falhando aos poucos.

Sem Saída: Sério?

Palpitei em esperança.

Zero,: Odeio todas as estações, porque aqui só existe frio ou calor extremo e eu não gosto de nenhum dos dois.

Ele desconversou, eu notei.

Zero,: Vou tomar um banho, tá muito calor. Já volto.

Estávamos em um nível de amizade em que falávamos o que iríamos fazer um para o outro. Conversamos durante madrugadas inteiras desde o Dia Dos Pais, um tentando amolecer o outro, descontrair a tensão, abandonar a formalidade.

Nós dois sabíamos que precisávamos de um amigo, que seria legal ter com quem conversar por trás da tela, sem saber exatamente quem era.

— Você não desliga mais o computador logo depois que a quinta partida termina. O que tá pegando? – André deu um sorriso malicioso, espiando por cima do meu ombro.

Ah, André, meu querido irmão. Ele havia ficado super eufórico com a notícia do encontro e super pistola por eu ter abaixado as nossas posições no ranking. Sendo assim, André empenhou-se e conseguiu subir cinco lugares, enquanto eu apenas três.

Antes que eu pudesse me dar conta, meu irmão estava debruçado sobre a escrivaninha, com o mouse em mãos, subindo e descendo as mensagens do chat de “Zero,”.

Ele deu uma risada grave e carregada de segundas intenções.

— Parece que você fez um “amigo”, senhor Lucas. – André zombou.

— Cuida da tua vida, garoto. – tomei o mouse de sua mão e fechei o jogo.

— Já sabe o nome real dele? – André esfregou seu ombro no meu.

— Não, optamos por não revelar informações sobre nossas identidades. Queremos nos conhecer às escuras. – falei baixinho, sentindo minhas bochechas ficarem um pouco quentes.

Por algum motivo, soou estranha a maneira como eu falei.

— Owwn, que bonitinhos! – ele gargalhou.

— Não é nada do que você está pensando... – desviei o olhar e encolhi os ombros.

— E o que eu estou pensando? – André levantou as sobrancelhas, ainda com um sorrisinho insinuoso nos lábios.

— Tsc. – empurrei seu rosto e levantei-me.

xXx

17 de agosto

Como eu e André passávamos as madrugadas abusando do chat do Quod Creature, nosso rendimento no colégio caiu muito, quando não estávamos dormindo sobre nossas mesas, estávamos lutando para manter os olhos abertos.

Os valentões aproveitavam essa brecha para encherem as nossas cabeças de bolinhas de papel e até amarrar as nossas mochilas nas cadeiras; não podia fazer nada contra, nem retrucar, pois se minha mãe recebesse mais uma ligação, eu daria adeus ao meu computador. E isso não podia acontecer, não comigo quase alcançando o primeiro lugar no ranking do Quod Creature e tendo “Zero,” como um grande amigo.

Algo que notei de diferente no cotidiano escolar era que Matheus não mexia mais conosco, até parecia estar de bom humor, mesmo que fosse difícil interpretar suas expressões faciais.

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— Tchau, garotos! – Paulinha acenou para nós enquanto entravámos em casa.

Ela nunca ficou sabendo sobre a paixão de André. Meu irmão esforçava-se para manter a pose na frente dela, sem sair correndo para se esconder. Ele estava lidando bem com o coração partido, mesmo que às vezes choramingasse no meu colo, ele sabia que precisava seguir a vida.

— Certo, o encontro é amanhã. Precisamos de um plano. – André disse assim que eu fechei a porta, jogando sua mochila no sofá e sentando-se.

— Bom, não fica muito longe daqui, acho que podemos ir de ônibus. – sentei-me no outro sofá, abraçando minha mochila.

— E qual desculpa daremos para as nossas mães? – sussurrou, sabendo que elas estavam na cozinha.

Mordi o lábio inferior. Detestava mentir para as nossas mães, elas eram tão gentis conosco, sentia como se estivesse as traindo.

— Elas nunca deixariam a gente ir para outra cidade sozinhos, mesmo que só por algumas horas. – lembrei.

Mamãe e Marta eram as típicas mães corujas.

— Nunca. – André afirmou.

Pensamos durante algum tempo, dando sugestões bestas e pensando novamente.

— E se dissermos que iremos ao centro comercial? – falei.

— Boa! Podemos falar que queríamos sair um pouco e comprar algumas coisas. – André sorriu travesso e estalou os dedos.

xXx

20hrs40 de 17 de agosto

— Então o plano é o seguinte: falamos que vamos para o centro, mas pegamos um ônibus para outra cidade, chegamos lá pelo meio-dia e pedimos informações sobre como chegar ao shopping. – André andava em círculos pelo quarto.

— Aí chegamos no encontro, nos divertimos e pegamos o ônibus de volta para casa às quatro horas. – completei, passando a toalha por meus cabelos molhados.

— É um plano perfeito, você só se esqueceu de dizer que eu irei pegar o whatsapp de várias garotas. – ele sorriu convencido.

Ri e lhe dei um peteleco na testa, já me dirigindo ao meu posto no computador. Combinamos de dormir cedo naquela noite para estarmos dispostos para o dia seguinte.

O tema das perguntas era sobre acontecimentos há um milhão de anos. Sentia como se Quod Creature fosse uma viagem no tempo e a cada dia voltasse um pouco mais. Até que era divertido e meus conhecimentos estavam sendo testados. Um desafio divertido.

01hrs05

Zero,: Será que adivinho a camiseta que você estará usando no encontro?

Sem Saída: Você nem sabe se eu vou...

Zero,: Claro que vai, eu sei. Você não perderia a chance de me ver.

Deixei um pequeno sorriso escapar, sentindo um friozinho bom na barriga.

Sem Saída: Pois adivinhe, Senhor Convencido.

Zero,: Uma verde!

A única camiseta verde que eu possuía era uma em um tom musgo bem escuro com alguns pingos de tinta preta. Eu não costumava usar camisetas escuras, sempre optava pelas brancas ou cinzas claras, enquanto abusava do preto nas outras peças de roupa.

Sem Saída: Acertou.

Não consegui fazer uma adivinhação quanto a cor da camiseta dele, pois ele logo enviou outra mensagem.

Zero,: Eu quero muito te ver.

Essa frase fez meu coração pular uma batida e depois se aquecer intensamente, assim como o meu rosto. Era impossível tirar o sorriso dos meus lábios ou parar a tremedeira de meu corpo.

Sem Saída: Eu também.

Eu juro que nunca fui tão sincero em meus 16 anos de vida.

Zero,: Tô com certo receio... Você não acha isso, sei lá, estranho?

Sem Saída: Isso o que?

Zero,: Esse lance entre a gente. Ou só tá causando efeito em mim? Me avise, por favor!

Esse lance, esse lance, esse lance. Quis enfiar meu rosto em um travesseiro e gritar para que André me abanasse. Por sorte ou azar, meu irmão estava no banheiro e não pode ver meu rosto todo vermelho e minhas “mexidinhas” de felicidade.

Sem Saída: É normal, não?

Minha frase pareceu calma e formal, mas a verdade era que eu estava gritando internamente e sentindo um vulcão explodindo dentro de mim.

Sem Saída: Acho que também estou sofrendo efeitos...

Zero,: Ufa... Que alívio...

Zero,: Então, a gente vai tipo... Se beijar?

Fiquei estático na cadeira, sem saber o que responder, de vermelho passei a ficar branco como papel. Socorro, eu não conseguia nem respirar.

Aquilo... Ele estava flertando comigo? Alerta vermelho, alerta vermelho, ALERTA MEGA VERMELHO! Eu nunca flertei na vida e não sabia identificar um flerte, Jesus.

Zero,: Eu estou apenas brincando! Aposto que você quase enfartou, kkkkkk!

Demorei alguns segundos para voltar a realidade e responder de modo emburrado:

Sem Saída: Enfartei nada!

Zero,: Fico pensando... Como será a sua voz? Seu cheiro?

Meu coração começou a doer de tão palpitante. Aquelas perguntas... Tinham segundas intenções? Eu tinha noção do que estava acontecendo ou estava perdido na atmosfera do André? Era tudo tão confuso!

Eu estava com medo, o estômago se embrulhando a cada vez que eu relia aquela mensagem. Os lábios trêmulos oscilavam entre meios sorrisos e franzidas sérias.

Sem Saída: Preciso ir dormir. Boa noite.

Era isso que eu gostaria de ter digitado, mas o que saiu foi:

Sem Saída: Pesico ir dromi bos nnoife.

Curso de francês para que? Eu escrevia fluentemente sob os efeitos da vergonha.

Zero,: Boa noite kkk, durma bem.

Durma bem.

É claro que eu vou dormir maravilhosamente bem depois de todas essas mensagens, na verdade, acho que nem vou dormir repensando nelas a noite inteira.”, refleti.

Mordi o lábio inferior com força, contendo o rubor em meu rosto enquanto desligava o computador.

— LUCAS! – André adentrou o quarto de repente, fazendo-me dar um pulinho de susto.

— O-Oi. – virei-me para ele, a respiração irregular.

Contávamos tudo um para o outro, entretanto, eu não sabia como contar sobre o “Zero,” e o que ele me fazia sentir. Estava com vergonha de admitir.

— Não acredito que você está no primeiro lugar do ranking! – ele arregalou os olhos, apontando para o notebook.

— E-Estou? – foi a minha vez de arregalar os olhos.

Talvez eu estivesse tão ansioso para conversar com “Zero,” que nem me lembrei de conferir o ranking. Eu também havia jogado as cinco rodadas com bastante energia, tendo certeza no que estava fazendo.

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— Está! – André sorriu de orelha a orelha. – Me deixou para trás, né, bobão! – veio até mim e bagunçou meus cabelos.

Da última vez em que vi, André estava na quarta posição.

Ri um pouco, conseguindo respirar livremente, abandonando a vermelhidão em minhas bochechas.

— Bom, isso não importa muito para mim. – dei de ombros.

— Como não?! Você é tipo o rei do jogo! – André gritou, esquecendo-se de que já se passava da meia-noite. – O cara que sofre bullying no colégio é o rei do jogo! – bateu palmas animadamente. – Esse é meu irmão! – jogou-se em mim e me deu um abraço apertado.

Mesmo André tagarelando tanto sobre isso, eu não me sentia um rei. Realmente, minha posição não me importava, mas até que eu me senti um pouquinho orgulhoso. Será que “Zero,” estava feliz por mim?

Conversamos mais um pouco até irmos dormir, ansiosos pelo encontro. Naquela noite, consegui dormir tranquilamente.

xXx

9hrs17 de 18 de agosto

— Ao centro? – Marta passava manteiga no pão. – Acho que tudo bem. – olhou para minha mãe.

— É, mas não conversem com estranhos, deixem o dinheiro dentro do bolso e me mandem mensagens avisando em que lugar estão! – mamãe ditou preocupada.

— Mãe, é um centro comercial, não outra cidade. – André sorriu nervosamente.

— Lucas, fique de olho no André, quando ele era pequeno eu quase tive de comprar uma coleira para que ele não se perdesse de mim! – Marta avisou.

Não pude evitar uma risada e uma olhada discreta para um meio-irmão com as bochechas infladas.

— E voltem antes das seis horas! Da tarde, hein! – mamãe se serviu um pouco de café.

— Certo. – terminei de beber meu leite.

— Já que eles vão passar o dia fora, podemos ir ao bingo, né, querida? – Marta sorriu de orelha a orelha.

Mamãe suspirou pesadamente e fingiu estar estrangulando o próprio pescoço enquanto Marta não estava olhando. Eu e André rimos baixinho, sabíamos o quanto a dona Rita odiava bingo.

— Claro, meu amor. – mamãe assentiu.

Terminamos de tomar o café da manhã e fomos nos arrumar. Abusamos e exageramos dos perfumes e desodorantes após longos banhos. E como sempre, eu detestava o cheiro do perfume do André, era mega enjoativo.

— Você nunca vai mudar seu penteado? – André fazia um grande esforço para passar a perna pela calça.

Olhei-me no espelho, encarando meu cabelo penteado para o lado. Aquele jeito era a minha zona de conforto, não tinha coragem para tentar algo novo. Em contrapartida, André não sabia o que fazer com a cabelereira castanha avermelhada, um dia ela caía sobre seus olhos, outro dia estava jogada para trás, dali um tempo estava coberta por um boné e assim ia.

— Por que está vestindo essa camiseta? Pensei que você só usasse as mais claras. – ele sentou-se na cama para calçar os tênis verdes.

— Por que você está fazendo tantas perguntas? – amarrei meu fiel casaco em minha cintura. – Eu, hein, que chato!

— Tá nervosinho, é? – André provocou, rindo em seguida.

Joguei sua mochila em seu colo, fazendo-o gemer de dor. Abri a minha e chequei se tudo o que precisávamos estava ali: celular, documentos, dinheiro, garrafas de água, sanduíches enrolados em papel filme e outras coisas inúteis que eu costumava carregar por precaução.

— Tudo pronto? – o encarei, sentindo aquele friozinho na barriga.

— Pronto! – André ergueu-se empolgado.

xXx

Tive uma sensação ruim quando nos despedimos de nossas mães e atravessamos a porta, mas decidi ignorar.

O clima era agradável, apesar de quente, havia uma brisa fresca que secava nosso suor.

Como o evento seria em uma cidade próxima, haviam ônibus de vias normais que passavam perto de lá, só precisaríamos andar um pouco por conta própria até encontrar o shopping.

O percurso inteiro foi resumido a um André ansioso e animado perturbando um Lucas inseguro e nervoso. Não conseguia imaginar como seria o tal evento, as pessoas que estariam lá e quem eu encontraria. Enfiei as mãos trêmulas e suadas dentro dos bolsos da calça e tentei manter minha cabeça na linha.

12hrs21

— Olha! Acho que chegamos! – André gritou em meu ouvido e me puxou até o grande estabelecimento com paredes de vidro e fontes de água nas entradas. – Aquela senhora nos disse para virarmos aqui! – sorriu de orelha a orelha.

Fiquei encarando o shopping fixamente, vendo as pessoas saindo e entrando. Congelei no lugar, tomado pelo medo. E se nossas mães descobrissem? E se os criadores estivessem lá? E se “Zero,” não gostasse de mim?

Antes que eu pudesse criar mais paranoias, André me arrastou para dentro, fomos imediatamente envolvidos pelo abraço frio do ar-condicionado e aquele cheiro de lugar limpo invadiu nossas narinas.

O lugar era ainda mais bonito por dentro, com várias lojas coloridas, muitas luzes e plantas em vasinhos delicados encostados às paredes.

Andamos um pouco, nos acostumando com o ambiente, foi quando nossos celulares vibraram no mesmo instante. Com o coração na garganta, conferi o aparelho. Era uma mensagem de alguém desconhecido.

“Você chegou.

—Quod Creature.

Me decepcionei, pois achava que seria uma mensagem de “Zero,”, esquecendo-me completamente do fato dele não ter meu número. E como o Quod Creature tinha? Bem, eles sabiam de tudo.

Olhamos ao redor, encontrando várias pessoas espalhadas com os celulares nas mãos, elas pareciam desacompanhadas e passeavam com os olhos pelo local.

— E agora? – André sussurrou puxando a barra de minha camiseta.

Demorou um pouco, mas algumas pessoas começaram a se juntar, conseguia notar a vergonha inicial e os sorrisos tímidos em seus rostos. Logo, o primeiro andar foi tomado por pequenos grupos de jovens nervosos e animados. Alguns se davam bem no quesito “socialização” enquanto outros falhavam miseravelmente, como eu e André.

— Ei, acho que precisamos... Tipo, interagir. – ele murmurou, escondendo-se atrás de mim.

Eu estava distraído, procurando por alguém que eu nem sabia como era e nem sequer o que estaria vestindo (droga! Por que “Zero,” não tinha uma foto no perfil?). Bom, ele sabia qual camiseta eu estaria usando, viria até mim quando me encontrasse, não? Mas onde ele estava?

— Lucas! – André disse impaciente, controlando-se para não gritar. – Oláaa, vê se fica na Terra! – balançou a mão em frente aos meus olhos.

— Desculpe. – murmurei voltando a mim.

Meu coração quase saía do peito por causa da intensidade das batidas.

— Você não vai falar com alguma das “suas garotas”? – tentei me distrair.

Não devia ter mais de 35 pessoas ali, afinal, 3 eram desclassificadas a cada dia de jogo.

— E se eu a-agir como idiota? Não sei como conversar... – ele abaixou a cabeça, ruborizado.

— Bom, idiota você é sempre. – brinquei. – Só seja você mesmo, comece com um “oi” e desenrola. – dei de ombros.

— E você? Não tem ninguém especial para conversar? – André arqueou uma sobrancelha e deu um sorriso malicioso.

— Não. – engoli em seco e desviei o olhar para a porta de entrada.

14hrs05

Demorou muito tempo para que André tomasse coragem e fosse conversar com alguma menina, tivemos que tomar sorvete antes e fazer exercícios de respiração.

— Vai lá, daqui a duas horas temos que ir embora, você vai se arrepender quando chegarmos em casa. – sentei-me em um banco.

— V-Você não vai comigo?! – André arregalou os olhos, parecia um animal assustado.

— Não posso estar contigo sempre, irmão. – suspirei. – Vai lá, vou estar olhando daqui. – dei um sorriso sincero.

Ele engoliu em seco, retirou a mochila lentamente e a deixou sob meus cuidados. O coitado andou todo endurecido até uma garota que tinha uma mistura de cores desbotadas no cabelo e mascava um chiclete verde. Ela não lhe deu muita bola quando ele se aproximou, coisa que o fez voltar correndo para o banco.

— Você viu como ela me tratou?! – André choramingou.

— É porque você estava sendo um mané sem atitude. – revirei os olhos. – Precisa andar com mais confiança.

— Como? – ele mordeu o lábio inferior.

— Como se tivesse uma arma incomodando o seu quadril, as garotas adoram um zé droguinha. – zombei.

André bufou e olhou para as mechas de cabelo que caíam sobre seu rosto.

— Você consegue, chega chegando, como um galo dominante. – segurei a risada.

— Lucas, eu nem sei por que estou aceitando seus conselhos. Você não sabe nada sobre a arte da conquista e muito menos sobre meninas! – ele revirou os olhos.

— Ah, e você sabe? – ironizei.

Ele respirou fundo e deu meia-volta, parando ao lado da mesma garota que se manteve indiferente, ocupada demais conversando com sua recém-formada panelinha.

O observei abrir e fechar a boca diversas vezes, todavia, nenhum som saía dela. Conseguia notar o quanto suas pernas estavam bambas pelo modo como tremiam e via nitidamente o suor brilhando em sua testa.

Revirei os olhos e andei até ele a contragosto, afinal, meu irmão precisava de ajuda.

— Oi, com licença. – acenei brevemente, chamando a atenção do grupo. As garotas me lançaram olhares de descaso. Ô povinho que foi convidado para jogar, hein. – Esse daqui é o jogador “Cavaleiro”, aposto que vocês o conhecem, ele é o quarto no ranking. – comentei descontraído.

André encarou-me desacreditado e ruborizado dos pés a cabeça, contudo, soube que ele me agradeceu mentalmente no momento em que os olhos das garotas ganharam um brilho especial e elas começaram a rodeá-lo.

— Wow, você é tão pequeno! Que fofo! – uma delas disse admirada.

— Você é bem diferente do que eu imaginei, quantos anos você tem? Tão bonitinho! – outra apertou as bochechas dele.

— Que gracinha, queria colocar em um potinho! – mais uma colocou a mão em seu rosto.

André passou de galo dominante a pintinho. Bom, ao menos ele estava recebendo a atenção feminina que tanto ansiava.

Suspirei satisfeito ao ter completado minha missão e decidi dar uma volta pelo primeiro andar, na tentativa de esfriar a cabeça e evitar pensamentos negativos. Era um encontro, o objetivo era se divertir e não se entristecer, né?

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