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Como já descrevemos, a Moeda tem o efeito de causar certos danos, em nível físico [...]
Em termos gerais, também foi observado que esses efeitos estão relacionados com a psique do controlador desta Moeda. Por exemplo, [...] e assim, uma desavença é interpretada como uma agressão, que deve ser resolvida com a intervenção das propriedades da Moeda [...]
Essa tecnologia [...] foi concebida [...] para uma ligação refinada e progressiva com o sistema nervoso do usuário [...]

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— Meu Deus, David. Você tá fedendo cachaça e tá com a cara machucada.

Meu aluno, após ouvir, ajeitou o corpo torto na escada, do lado de fora de nossa porta, focalizou o olhar mareado em meu rosto, e conseguiu sussurrar:

— Que horas são?

— Hora de você parar de beber. Onde esteve no resto da nossa night?

Antes de eu continuar contando sobre esse encontro na escada, pela manhã, um pouco antes de eu sair para as corridas matinais, uma breve recapitulação.

Viver com David era como viver com duas pessoas: iguais no essencial, mas extremamente diversas em hábitos. Por quê? Na mesma medida que o rapaz consumia álcool como um automóvel antigo e fumava como uma chaminé do século XIX, também praticava exercícios, artes marciais, possuía o próprio saco de boxe pendurado no quarto e um woodendummyinstalado num canto, usando os dois para praticar kickboxing e wrestling (segundo ele mesmo, vale pontuar, porque não entendo muito dessas coisas) durante pelo menos uma hora por dia. Além disso, tinha uma alimentação regrada e todas aquelas frescuras de quem quer ficar rasgado sem tomar bomba. Todas essas coisas funcionavam e garantiam ao rapaz um físico atlético, além disso, por incrível que pareça, todas as vezes que testemunhei o rapaz em seus cansativos exercícios, jamais notei falta de fôlego ou coisa parecida que o cigarro ou o excesso de bebida poderia causar.

Por isso tudo, sempre enxerguei um equilíbrio bizarro nas ações de meu aluno. De um lado, parecia que o moço gostaria de acelerar a morte ao máximo possível. De outro, no entanto, levava até as últimas consequências a importância de exercícios e boa alimentação.

Assim, por enxergar este equilíbrio, não senti qualquer remorso ao convidar David para uma rápida noite de bebedeira na badalada, barata e suja, Rua Augusta, faltando exatos três dias para o começo do torneio.

Naturalmente, Lucas e Clara também foram convidados, para matarmos saudades. David, que nunca era visto ao lado de alguém, exceto ao meu, não mudou o padrão e não chamou qualquer conhecido ou amigo, entretanto e sem razão aparente, fez questão de levar o baralho, agora refinado e atualizado graças ao nosso treinamento constante.

Lá pelas oito da noite, após uma hora de chegada no barzinho, Clara e Lucas já estavam completamente bêbados, uma vez que tentaram acompanhar o ritmo do possuidor de Volcanics. Este último, por sua vez, parecia capaz de realizar uma cirurgia neurológica de alta precisão, tamanha a desenvoltura e articulação nas palavras que demonstrava. Sinal de alcoolismo pesado? Sem dúvidas.

Em algum momento, um pouco nublado em minha memória, admito, conversei mais “intimamente” com o rapaz, afinal de contas, sou solteira e sabia que Clara não quereria nada além de diversão com o jovem. Fui ignorada sistematicamente por David. Estranhamente, julgo eu, por duas razões: a) David também era solteiro, ou pelo menos nunca referenciou mulheres ou relacionamentos; b) eu não era exatamente alguém para jogar fora, modéstia à parte. Minhas corridas diárias davam aquele aspecto magro, definido e saudável ao meu corpo. O cabelão ficava bem comigo e, devo admitir, da minha vida mais confortável conservei uma dose alta de vaidade em termos de maquiagem, acessórios, etc.

Ele não deu a mínima.

Além de beber sem parar, David examinava a porta todo minuto, parecendo esperar alguém.

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De repente, o meu aluno levantou, disse que iria pagar a conta, coisa que realmente fez e, sem deixar rastros, sumiu. Em síntese, foi minha tarefa levar meus amigos deslocados do mundo real por excesso de álcool para a casa. Assim foi feito e, depois de mais algumas paradas para forrar o estômago, fui para casa, notando, ao chegar, que David não estava lá.

Então, voltemos à manhã, à escada, David caído, fedendo, machucado, aquela coisa toda.

— Eu... Eu... Cecília... Eu... Preciso de um café — falou ele, cancelando uma eventual resposta no meio da fala.

Quando o rapaz entrou em casa, tirou a camiseta e vi hematomas em suas costas e costelas, além de marcas no abdome. Na luz artificial, reparei também que os machucados no rosto eram seguidos de inchaços e cortes pequenos.

— Você... — comecei temendo a resposta.

— Cê precisava ver o outro cara — falou, irônico.

Para agilizar as coisas, enquanto David tomava banho, preparei um café preto, sem açúcar ou adoçante, como habitualmente o rapaz tomava. Ao sair do chuveiro, acendeu um cigarro, preparou qualquer besteira fitness para comer e começou seu desjejum.

— Eu não tenho aula essa hora, hoje, por isso ia sair pra correr. Mas não vou. Não sem entender o que foi isso — comentei, apontando para os machucados dele.

— Eu... Eu vi alguém, e, acabei me metendo numa furada, nada demais.

— Furada?

— Sim.

— Tipo com assaltantes e tal?

— Por aí.

No meio da nuvem de fumaça, aproximei meu rosto, com uma expressão dura.

— Sua carteira estava no seu bolso, David, eu vi quando você tirou. Você se meteu numa briga, na verdade. Que porcaria é essa? Seu vício te coloca nesse tipo de situação?

Ele suspirou, antes de responder.

— Você quer a verdade?

— Toda.

Com a mão, David fez um sinal de espera. Terminou a tapioca recheada em poucas mordidas, acabou com o café num gole, e acendeu outro cigarro antes de começar.

— O cara que citei quando tivemos aquela conversa sobre a matéria que tô escrevendo, Rafael, Miguel... Sabe? — As palavras de David saíram firmes, didáticas. Sua entonação não dava sinais de dores, embora, de acordo com o que eu vi, o duelista deveria estar incapacitado.

— Sei, claro.

— Bem, no passado esse filho da mãe se meteu comigo também, como eu disse. O padrão, como sabemos, é que ele some após fazer as besteiras dele, sejam quais forem. Só que, ontem, eu soube pelos meus colegas que tinha a possibilidade de ele estar por lá.

— Por lá...?

— Pela Augusta.

— E você não falou nada?

— Não.

— Posso saber por qual motivo? Essa situação interessa tanto eu quanto você — Eu já não mais controlava certo protesto estressado na voz.

O cigarro estava na metade. David colocou o cilindro no cinzeiro, aproximou o rosto do meu, depois, segurou minha mão. De um instante para outro, passei a sentir um leve incômodo. Ele estava apertando meus dedos, sem força, embora de modo desconfortável.

— Que isso? — protestei.

— Tira minha mão daí.

Sacudi meu punho, usei a outra mão, nada adiantou e desisti. Então, ele soltou e retomou o cigarro e a posição inicial relaxada.

— Esse cara é um assassino, entende? Um assassino. E você não consegue se soltar de alguém apertando sua mão. Eu consigo e foi isso que consegui ontem — completou, apontando para o rosto.

— Isso tá mal contado — bufei.

— Beleza, deixa eu ir mais fundo, ser mais exato.

***

Perdoe pela honestidade, mas só topei sair naquela noite para conseguir achar o desgraçado. A possibilidade era ínfima, porém, existente. Em algum momento, você começou a dar em cima de mim, coisa que não prestei muita atenção, já que acho que você nunca faria isso sóbria. E aí, por um segundo, um segundo, eu avistei o desgraçado. Seguido pelo namorado e por uma garota.

Hum? Você não sabia? Sim, quando conheci esse... Esse cara, ele tinha um namorado. Acho que ele é bi, porque sei que você não é a única garota vítima dele.

Enfim.

Paguei a conta, voando, e saí atrás do trio. Eles cortaram a rua no final da descida, bem mesclados na multidão, evitando que qualquer um pudesse perseguir correndo para, então, caminharem por mais uns bons minutos até uma rua quieta, lá pros lados da Consolação já. Depois, pararam.

Desde o princípio, eles sabiam da minha perseguição.

— Há quanto tempo! — falou o Rafael, Miguel, Gabriel, ou sabe lá Deus qual o nome verdadeiro desse cara.

O brutamontes que namorava ele na época que travamos contato sorriu ao notar minha presença, e disse:

— Pronto pra outra surra?

A moça que completava o trio gargalhou baixinho.
Sem responder, apenas continuei encarando os três, com os punhos fechados. No passado, já levei umas boas pancadas do brutamontes citados e, desde então, treino com perseverança pra não rolar de novo. Isso você já viu.

— Tá com medo de apanhar mais? É... Qual era mesmo seu nome? — disse nosso conhecido em comum.

— Eu falei pra você, naquele dia, que nunca iria esquecer seu rosto, porque um dia eu ia te pegar. Então, não se preocupa com o meu nome. Faz que nem eu: fica atento ao meu rosto, grava minha cara — gritei, finalmente.

O grandalhão avançou alguns passos, punhos fechados.

— Espera um pouco, Sam! — Rafael protestou.

— O quê? Não é pra lavar o chão com a cara desse otário ainda?

— Não. Ei, é... Levi! Soube que você competirá no nosso torneio, não?

— É David — corrigi.

— Que tal um treinamento? — sugeriu ele.

Algo foi dado ao gigante namorado de Rafael, que, então, arremessou para mim: uma pequena caixa branca de papelão, menor que a palma da minha mão. Um carro passou na rua. Mantivemos a distância, mudando nosso posicionamento. Agora, o trio estava em uma calçada e, eu, na outra.

— Abra! Sem medo! — estimulou o tal “Sam”.

Dentro da caixa, enrolado em plástico bolha, uma pequena pulseira com uma luz esverdeada em cima, e uma espécie de monóculo colorido, com apoio na orelha e uns botões no apoio.

— É um D-Gazer! Não faz holografias na rua, visíveis para outros além dos duelistas, mas só pra quem tá com o visor— comentou a moça, pela primeira vez. — Aproveita! Ainda nem saiu no mercado.

— Pra fazer funcionar, é só apertar o botão, passar suas cartas pela luzinha. Ele reconhece o selo no canto de toda carta e poderemos duelar sem Discos! Olha que maravilha! — Rafael comentou tudo isso com a animosidade teatral de um psicopata.

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Demorei um pouco para fazer tudo isso, visto que poderia ser um truque para fazer com que eu abaixasse a guarda e levasse porrada sem nem ter a chance de fugir. Contudo, vi logo que ele estava passando o baralho no escâner verde, e que os outros dois eram como cães de guarda, sem muita vontade própria.

Um pouco mais tranquilo, passei carta por carta pelo escâner. Enquanto fazia isso, notei Rafael colocando uma pequena moeda em um compartimento na pulseira. Por fim, coloquei o estranho monóculo e, na medida em que passava as cartas pela pulseira, aparecia em minha visão uma imagem aumentada de cada carta.

Posteriormente, um menu de opções, que eu controlava com um pequeno cursor giratório em minha têmpora, fez com que eu definisse o uso das cartas reconhecidas ali: para um duelo. O dispositivo entrou em espera. De repente, foi dada a opção de iniciar o combate com o rapaz do outro lado da outra calçada que, olhando pelo monóculo, brilhava mais que o resto da rua. Selecionei o “sim”, e assim, o duelo começou.

David – Life Points: 4000

Uriel – Life Points: 4000

— Peço perdão, este duelo será rápido, porque estes D-Gazer não têm conectividade para duelos profissionais ainda, estão em teste, por isso, ficam só nos quatro mil — falou... Pois é, ele sempre muda de nome... Falou Uriel.

— Não vai me ameaçar, pro caso de eu perder? — comentei.

— Não preciso, você sabe exatamente o que acontece quando você perder.

Em meu D-gazer era exibida uma “mão” digital de meu deck, flutuando no ar, cuja carta eu selecionava e jogava por um cursor na pulseira.

— Pode começar, Raí!

— É David. Minha vez! Invoco oVolcanicRocket (1900/1400). Por seu efeito, eu adiciono do meu baralho para minha mão, o BlazeAcceleratorReaload (Armadilha Contínua). Eu deixo três cartas invertidas, fim de turno! — Encerrei a jogada com meu monstro flutuando em minha frente, três cartas ajustadas do mesmo modo atrás dele e com duas cartas na “mão”.

— Ah! Volcanics! São tão fracos quanto inúteis no competitivo. — Enquanto puxava a carta que iniciava seu turno, fazia este comentário. — Eu deixo quatro cartas invertidas, e encerro aqui — Rafae... Digo, Uriel, terminou a jogada com duas cartas na mão.

— Bem, que seja. Minha vez! — Puxei. — Invoco o Snipe Hunter (1500/600). Por seu efeito, eu descarto uma carta e rolo um dado... — Fui interrompido, antes mesmo de ativar o efeito do monstro invocado.

— Armadilha! Torrential Tribute (Armadilha Normal). Todos os monstros em campo são destruídos, ou seja, os seus!

— Antes que o efeito da sua armadilha seja concluído, eu ativo minha Backfire (Armadilha Contínua)! Agora, apesar disso, você tem um prejuízo de quinhentos pontos! — berrei, triunfante.

— Já que estamos em um chain, aqui vai mais uma cadeia de ligação: Rainbow Life (Armadilha Normal). Por uma carta de minha mão, todo o dano que eu receberia este turno é transformado em ganho.

Uriel – Life Points: 4500

No fim da confusão, meus dois monstros abandonaram o campo.

— Ainda é meu turno. Da minha mão, ativo Magic Planter (Mágica Normal). Mandando a Backfire pro cemitério, eu compro duas cartas. Agora, uso a armadilha invertida Blaze Accelerator Reload. Descarto o Volcanic Shell, comprou uma carta. Por fim, encerro meu turno deixando mais uma invertida. — Concluí minha rodada com três cartas na mão.

— No final do seu turno, ativo Destiny Board (Armadilha Contínua). E pelo efeito dela, já que é final do seu turno, eu adiciono para minha zona de mágicas e armadilhas a SpiritMessage “I” (Mágica Contínua).

Preciso relatar duas coisas, além das letras “F” e “I” fantasmagóricas atrás de meu oponente: primeiro, a luz que saiu da pulseira. Antes, era um sutil pontinho verde no meio da penumbra noturna, naquele momento, porém, pareceu um incômodo brilho amarelo. Esse brilho amarelo, por sua vez, é parte da segunda coisa... Ele pareceu ser a causa de uma sensação terrível em mim. Meu fôlego sumiu por alguns instantes. Meus sentidos pareceram, por um microssegundo, deixar de funcionar. Por um microssegundo, naquele microssegundo, eu senti algo muito próximo da morte. Depois disso, gradualmente, meu espírito foi sendo abalado, como por um enorme e externa depressão.

Eu sei, é viagem, mas... Eu sei o que eu vivi.

— E agora, no meu turno, pra valer, eu puxo! Pois bem... Mais uma invertida, só. — Ele encerrou com uma carta na mão.

Eu contava com exatos três turnos para puxar um MST e dar cabo daquela porcaria, ou, já era.

— Minha jogada. — Comprei uma carta. — Pra começar, eu uso o efeito do Shell no cemitério. Por quinhentos pontos, eu adiciono outro dele pra minha mão. Agora, ativo a invertida, Callof The Haunted (Armadilha Contínua). Trazendo de volta o campo o Snipe Hunter (1500/600)!

David – Life Points: 3500

— Estava esperando por ele. Armadilha! BottomlessTrapHole (Armadilha Normal).

Meu Caçador foi removido de jogo, de novo, sem jamais usar o próprio efeito.

— Que seja! Uso mais uma vez o efeito do BlazeAcceleratorReload. Descarto outro Shell, e compro uma carta nova. — Como você pode imaginar, eu precisava desesperadamente atualizar minha mão, reduzir meu baralho em busca de um MST ou coisa do tipo, ou tudo seria inútil. — Invoco normalmente agora o VolcanicCounter (300/1300). Batalha! Ataque diretamente.

Meu pequeno reptiliano flamejante lançou uma modesta esfera flamejante em meu adversário.

Uriel – Life Points: 4200

— Termino meu turno — concluí com quatro cartas na mão.

— Lembre-se! No final do seu turno, mais uma vez... — Veio ao campo a SpiritMessage “N” (Mágica Contínua). — Agora, eu puxo. AtivoPotofGreed (Mágica Normal). Depois, GracefulCharity (Mágica Normal). Depois, invoco o GiantGerm (1000/100).

Antes que a bola asquerosa, parecida com uma doença viva, avançasse contra meu pequeno Volcanic, sorri.

— Eu posso usar o efeito do BlazeAcceleratorReload em qualquer um dos turnos. Incluindo no seu, como resposta à sua invocação. Por isso, estou descartando o VolcanicScattershot (500/0), a alma deste baralho! E então, pelo efeito dele, mando outras duas cópias do mesmo para o cemitério, destruo seus monstros e para cada cópia, você toma quinhentos pontos de dano. No total, mil e quinhentos!

Uriel – Life Points: 2700

— Esse é só o primeiro dos seus erros! — berrei, animado.

— Tsc! Tenha paciência. Deixo uma invertida. Fim de turno. — Uriel concluiu com uma carta na mão.

— Minha jogada. — Saquei. — Venha ao campo: Royal FirestormGuards (1700/1200). Pelo efeito dele, retorno as três cópias do Scattershot pro meu deck, mais o Rocket e compro duas cartas... — Lá estava ele! — Ativar Mystical Space Typhoon (Mágica Rápida)!

— Ativar!SolemnJudgment (Armadilha de Contenção).

Uriel – Life Points: 1350

— Achou que isso não foi previsto? — indagou ele.

— Não importa. Você já era! Batalha!

— Também não. ThreateningRoar (Armadilha Normal)! Sua fase de batalha está cancelada, Ravi.

Desisti de repetir meu nome. Encerrei em silêncio, quatro cartas na mão.
Naquele final de turno, a penúltima carta foi posta em campo. SpiritMessage “A” (Mágica Contínua).

— Eu puxo. Pra dar uma amostra do que é poder de fato, veja isso. Removo do meu cemitério, o Marshmallon e o Giant Germ que descartei agorinha... Luz e trevas... Para invocar especialmente da minha mão: Black LusterSoldierEnvoyoftheBeginning (3000/2500). Ativo seu efeito, e removo de jogo o seu Counter. Por fim, deixo uma invertida e tudo que te peço é diversão nessa última jogada.

Meu silêncio anterior... Eu sabia que só um milagre viraria a situação. Essa constatação aumentou ainda mais a depressão de fora para dentro que parecia esmigalhar cada vez mais meu espírito. Uriel concluiu sua vez sem cartas na mão e um titã em campo. Além de outra invertida, que certamente seria tão desgraçada quanto as demais. Puxei e fui adiante. A sensação de frio (uma novidade à toda aquela sensação esquisita) estava, além de tudo, balançando todos os meus ossos.

— Minha vez! — A carta que veio... Gold Sarcophagus.

Embora com bem mais cartas na mão, por sentir aquele frio e aquele peso estranho sobre meu espírito, senti que não adiantava mais lutar. Não adiantava mais nada. Eu fiquei vazio de vontade de viver e encerrei o turno, sem sequer tentar o efeito do BlazeAcceleratorReload para uma nova carta, uma nova tentativa. Eu estava... Incapacitado. Mentalmente destruído. Sem motivo racional algum.

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Antes de eu encerrar meu turno, ele usou a invertida Reckless Greed (Armadilha Normal)para puxar duas cartas. Mas não fez a menor a diferença. A única coisa que fez diferença foi a últimaSpiritMessage “L” (Mágica Contínua).

Do brilho que antes incomodou os meus olhos, agora saiu uma neblina. Mais uma vez, meus sentidos falharam, pelo mesmo tempo, pelo mesmo microssegundo. Eu desabei, não sei se física ou psicologicamente, eu não senti mais nada por um tempo, ou meu cérebro escolheu ignorar qualquer coisa naquele período.

Em meu ouvido direito, antes de sentir uma mão tirando o D-Gazer da minha orelha, ouvi:

David – Life Points: 3500

Uriel – Life Points: 1350

Vencedor: Uriel! Usando os efeitos de “Destiny Board”!

Depois, acordei. Sentia, sabia, que estava quase amanhecendo... Senti uma dor terrível por todo o corpo. Fui espancado, ou... Sei lá. Nada foi roubado de mim, no entanto. Andei até o bar mais próximo, tomei uma dose de cachaça para aguentar a dor, que estava insuportável naquele momento, e caminhei até aqui e... Cedi ao esgotamento físico.

***

— Eu faria isso sóbria — falei, com um tom demonstrando meu choque, quando ele terminou.

Eu senti a honestidade no relato dele. Senti, porque além de tudo, percebi a ponta que ele tentava suprimir... A ponta de medo daquela experiência, daquele encontro.

— Hum? Faria... O quê? Não entendi.

— Eu ficaria com você sóbria.