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Ashley Dakotta Vancou


Capítulo 57

Ashley

“O perfume da saudade é como de certas flores, que só se percebe quando de longe o recebemos. Se, iludidos, o tentamos aspirar de perto, dissipa-se” – Júlio Diniz

OneRepublic – Love Runs Out

Encarou-os, enquanto seu seqüestrador erguia o punho para seu salvador. Era ainda um pouco estranho aceitar que acordara de repente em uma ilha no meio do nada, em um chalé onde um rapaz chamado J.C e uma menina chamada C.C moravam. Porém Ashley realmente não sabia como Denzel conseguira encontrá-los. A cozinha do chalé era estreita, principalmente com os três lá dentro, por sorte CC estava caçando na floresta. Jace segurava firmemente o facão, com o qual estava cortando a carne que faria para comerem.

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– O que você quer? Sua mãe não te ensinou a respeitar a propriedade privada dos outros, americano? – Jace disse “americano”, do mesmo como diria “imundo”.

– Minha mãe morreu antes que eu pudesse saber a cor dos seus dentes. – Denzel rosnou, em um russo terrível. Por sorte, Ashley sabia muito bem falar o inglês, o russo, o espanhol e japonês.

– Então terei de te ensinar a respeitar. – Jace fungou, a voz grave.

Denzel riu com sarcasmo, impulsionando-se para a frente. Ao mesmo instante, Ashley saiu de trás do sofá e saltou, colocando-se entre ambos e segurando o punho fechado de Denzel. Ele a encarou e a empurrou violentamente, antes de arrumar a camisa e lançar um olhar mortal para Jace.

– Parem de agir crianças! – gritou, enquanto se recuperava do empurrão. – Podem, por favor, agir como homens? Jace!

– O que foi? Ele invadiu minha cozinha.

– Essa coisa aqui é a sua cozinha? – Denzel gargalhou.

A fúria uivou pelas veias de Ashley.

Denzel!

– O que foi? Eu não sou seu cachorrinho para abaixar as orelhas quando você grita comigo, como esse aí. – Denzel cruzou os braços – Mas tudo bem, eu já achei o que queria. – Agarrou seu pulso – Vamos. Boa tarde, senhor Jace, espero que sobreviva ao inverno.

Jace se moveu para a frente, porém Ashley levantou a mão. Denzel era mais forte e habilidoso, disso podia ter certeza. Não queria envolver Jace em seus assuntos, por isso permitiu que Denzel a puxasse para fora da casa, como se fosse seu dono, até que, enfim, ele começasse a tremer em meio a neve. Ele se virou, vermelho, fungando e espirrando. Passou os braços ao seu redor e apertou seu peito contra o dela.

– Calor humano é bom para espantar o frio. – ele disse, respirando pela boca.

– Não quer pedir alguns casacos emprestados de Jace?

– Eu sou homem, tenho minha dignidade. E eu já me arrisquei demais por você. – seus olhos a riscaram como navalhas. – Quando tudo terminar e você estiver nos braços do papai, é melhor me agradecer.

– Você vai mesmo me devolver para meu pai?

– Desde que ele me pague o dinheiro que preciso para viver meus últimos dias de vida bem e com conforto.

– Últimos dias? – Ashley sentiu-se horrorizada com tal pensamento, por mais que Denzel fosse seu seqüestrador.

– Quanto tempo você acha que a Praga leva para começar a matar? Estou vivo há três meses, com sorte. Mas já sinto-me cansado e febril. Logo começarei a gritar como um maníaco e a dilacerar qualquer coisa que vir pela frente, como uma animal maníaco.

– Até que...?

– Ora, até que arranque meu próprio coração, é claro. Você nunca ouviu sobre a Praga? A doença que transforma os humanos em loucos, maluquinhos de pedra, suicidas?

– Não. – engoliu em seco. – Você me atacaria?

– Provavelmente antes de arrancar meu próprio coração. Mas não se preocupe, você fará o mesmo. Afinal já está doente. E lamento informar que você provavelmente espalhou a Praga para seu amiguinho do chalé.

“Pobre Jace...”, pensou, enquanto reprimia um soluço. Denzel a observou de cima a baixo e suspirou.

– Talvez possamos voltar para buscar alguns casacos.

º º º

– O chá estava uma delícia. – elogiou Denzel, embora Jace não tenha expressado qualquer sinal de alegria. Ele simplesmente encheu novamente a xícara de Denzel, tanto que era possível desvendar o significado daquilo: beba tudo e cale a boca. Jace concordara em emprestar alguns dos casacos que ele e CC não usavam mais, porém Denzel achara melhor ficar mais tempo por ali, até a neve começar a derreter, o que não demoraria muito tempo, de acordo com ele.

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– É inverno, a neve só aumentará. – corrigiu Jace, porém Denzel não quis dar ouvidos.

De repente Jace pousou o jarro de chá sobre a mesa e bufou alto o suficiente para que Ashley percebesse que não estava tudo bem. A princípio pensou que fosse por causa de Denzel, então logo entendeu que não era isso. Jace olhou para a porta do chalé, e então para as botas de caminhada ao lado da prateleira de livros velhos. Por fim, ele desabou sobre a cadeira mais próxima e colocou a cabeça entre as mãos, preocupado.

– O que aconteceu, Jace? – perguntou.

– Cece. Já deveria ter voltado. – respondeu ele, curto. Denzel lhe lançou um olhar de “Quem é CC” e Ashley respondeu com os lábios “Irmã”. Era adorável o modo como Denzel sabia ler as expressões labiais de alguém. Jace cerrou o cenho. – Vou atrás dela.

– Não, a neve está forte, lá fora a tempestade começou.

– É minha irmã – ele revirou os olhos – É claro que vou atrás dela.

– Você só pode estar brincando. – Denzel riu – Ela cresceu aqui, sabe se virar sozinha.

Jace se ergueu de uma vez só e se arqueou sobre a mesa, ofegante. Sua mão se aproximava da xícara de chá vazia.

– Pare de agir como se conhecesse o que é morar aqui! Seu mimado filhinho de papai.

– Ah, obrigado. Eu já contei que tenho sangue nobre? – Denzel piscou – Vamos embora, Ash, esse cara é maluco de pedra.

– Eu, maluco? – Jace riu. – Eu vou atrás de Cece, e Ashley ficará comigo. Não confiaria minha amiga nas suas mãos.

– Francamente, você cuidou dela por quanto tempo? Um dia? Eu fiquei com ela por três. Não há outra pessoa capaz de protegê-la tanto quanto eu. E aliás, acho que você nem saberia como levá-la para o papai em segurança. Você nem mesmo consegue cuidar de sua irmãzinha. – Denzel deu de ombros – Vamos, Ash, pegue o casaco. Está frio lá fora.

Jace levantou-se, vestiu as botas com tamanha velocidade que apenas anos de prática seriam possíveis gerar, agarrou seu casaco de inverno e vestiu-o. Abriu a porta. A tempestade do outro lado estava realmente forte. Ele lançou um olhar para Ashley e logo em seguida desapareceu porta afora. Denzel se demorou um pouco, terminando o chá e enfim se virando para ela. O sorriso no rosto, alcançando o facão sobre a bancada da cozinha.

– Ele não vai se importar se ficarmos com isso. Vamos.

Ashley não queria sair com aquele tempo, também não queria deixar Jace sozinho, nem se aventurar somente com Denzel. Ele ainda era assustador. Porém Denzel segurou sua mão e levou-a sem perguntar se ela precisaria de ajuda. Assim, eles cruzaram centenas de árvores, antes de finalmente pararem, ofegarem e repetirem o trajeto em direção ao sul. Denzel informou que havia mapeado mentalmente a floresta, embora Ashley duvidasse muito. Ele viera até ali com um navio americano pesqueiro, que por acaso fora abandonado no caís da Inglaterra, ou melhor, estava desocupado e ele tomou emprestado, com a ajuda de alguns amigos.

– Você tem muitos amigos. – comentou ela.

– Apenas os necessários. – respondeu ele.

Ashley achava que Denzel era o tipo de sujeito que só se aproximava de alguém por interesse. Assim como só estava ali para levá-la até seu pai e assim ganhar dinheiro, como só pedira ajuda aos seus “amigos” que deviam algo a ele. Era como se ele soubesse exatamente como comprar alguém, para usá-la depois e descartar. Porém seu carisma exagerado lhe permitia parecer não tão doentio e monstruoso. Era aquele tipo de vilão de quem todos amam.

De repente ouviram alguns galhos se quebrando. Denzel parou, com a mão em frente ao seu corpo, impedindo-a de continuar. Fez sinal de silêncio com o dedo e olhou ao redor. Abaixou-se, pegou uma pedra e atirou-a dentro de um arbusto. Assim que a pedra caiu, uma lebre saiu saltitando do arbusto. Ele sorriu, e Ashley suspirou, aliviada. Prosseguiram por mais alguns minutos, antes dela finalmente se recusar a continuar, firmar os pés no chão e fazer biquinho.

– Meus pés estão doendo.

– Perdão princesa, mas o navio está sozinho e alguém pode roubá-lo.

– Jace disse que poucos caçadores moram na ilha e que a maioria tem medo de sair daqui. Há lendas do mar, os homens odeiam o mar. Odeiam o desconhecido, as mudanças. As ondas e tempestades.

– Problema deles. Eu não quero arriscar, milady. Com licença. – Denzel ajoelhou-se. Ashley pensou que ele iria amarrar as botas, entretanto seus braços a envolveram pelos joelhos e ele a empurrou gentilmente para cima do ombro. Quando se levantou, Ashley estava de ponta cabeça, pendurada sobre as costas de Denzel.

– Me solte! – exclamou, socando inutilmente suas costas. Denzel soltou uma gargalhada rouca e continuou caminhando.

O passar do tempo lhe dava mais tontura e por fim Ashley encontrou uma posição confortável, onde não precisava manter a cabeça para baixo. Denzel não era o cavaleiro filho de duquesa mais gentil e atencioso que conhecera. Ele deixava que os galhos das árvores batessem em sua cabeça, ele saltava pedras e simplesmente girava mil vezes, só para vê-la quase vomitar o almoço. E no fim, ria, gargalhava e continuava andando, até que finalmente saíram na praia de areia cor de pedra e águas gélidas. Denzel a colocou no chão, caminhando até o barco pesqueiro. Ashley encarou, atônita.

– Isso é... Isso é uma canoa! – exclamou, indignada. – Qualquer onda poderá nos matar!

– Ah, verdade, princesinha? – Denzel jogou os cabelos para trás da orelha – Adivinhe como foi que eu vim até aqui te resgatar da torre.

– Você não me resgatou! Me raptou!

– Ah, pare de reclamar. – ele bufou – Eu poderia ter morrido, sabia? Ondas de onze metros de altura! Imagine o quanto eu deveria estar fascinado por você para enfrentar isso.

– Aposto que só pensou no dinheiro.

– É claro. Meu amor, eu tenho a Praga. Para mim, morrer no mar ou morrer rasgando minha própria garganta... Não importa. – ele deu de ombros. – Mas morrer rasgando minha própria garganta em uma mansão é bem mais legal.

Ashley revirou os olhos, duvidando que seu pai realmente daria todo o dinheiro que Denzel imaginava receber. Mas ele tinha razão, não? Já estavam condenados a morte, então que mal fazia morrer agora ou morrer depois? Depois seria mais doloroso. Mas agora seria... Simplesmente não queria morrer agora. Não sabia o que fazer.

Estava prestes a protestar mais um pouco, porém Jace saiu correndo da floresta, a impedindo de falar. Ele estava vermelho, ofegante, porém corria com pressa de verdade. Denzel cruzou os braços, encarando-o, entretanto o caçador apenas saltou dentro do barco de Denzel e apontou em direção a floresta.

– Rápido! – ofegou – Eles... Estão... Vindo!

– Eles quem?

– Russos!

Os olhos de Denzel piscaram, um pouco atônitos, porém logo voltaram a ter o brilho da adrenalina rebelde. Ele não preciso gritar para que Ashley também saltasse dentro do barco e assim começassem a remar em direção ao alto mar. Os soldados surgiram, carregando armas. A maioria estava bem vestida.

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– Onde está Cece? – Ash perguntou, porém o rosto em formato de escultura de mármore. Compreendeu. Enlutou-se pela irmã de Jace, porém ele continuou ajudando Denzel a remar, sem se importar com o fato agora. Mas Ashley sabia que em algum momento ele teria de superar de alguma forma. Só esperava que esse tempo não fosse em alto mar. Quando a primeira onda balançou a lateral do barco, sentiu os enjoos se acumulando.