ETHAN WAYNE HATHAWAY

º O PAVÃO º

“O amor é o egoísmo duplicado” – Machado de Assis

Marina and The Diamonds – Radioactive

O corpo de Peter, no chão, manchava a grande luz que refletia em Ethan no momento. O vermelho de seu sangue escorria pelos degraus do palco da Colheita, mas isso só tornava a cena um pouco menos radiante. Mas é claro que Ethan estava incrível, como sempre. Jogou o cabelo para trás, sorrindo de forma sedutora. Segurou a mão de sua companheira e a puxou para seu corpo, abraçando-a de lado. Danielle tentou se livrar, mas não era tão forte. Quando os Pacificadores levaram-nos dali para dentro do Edifício da Justiça, Danielle se desvencilhou e lhe deu um tapa na bochecha direita. “Eu gosto de mulheres difíceis” pensou, enquanto a companheira de Distrito era levada para sua sala particular de despedidas. Logo seria a vez de Ethan se despedir. Estava ansioso, papai deveria estar muito orgulhoso! Matou Peter com facilidade, a Capital viu ao vivo!

A mente de Ethan voava para todos os lados, menos para o lado em que tinha de ir. Os Jogos logo começariam e ele morreria se não criasse razão. Mas quem sou eu para colocar razão em um tributo que nasceu sem ela? Enquanto isso, Ethan caminhava com Pacificadores aos seus lados até a sala.

Era linda, digna dele. Paredes vermelhas se erguiam e o piso de mármore refletia o seu rosto. os móveis rústicos e as poltronas de veludo o convidavam para sentar, e a janela que revelava o Distrito Três, com suas fábricas e usinas soltando fumaça pelo ar, poluindo ainda mais. Ethan admirou as formas que emanavam nos céus, uma parecia um dinossauro, e outra uma águia. Quando a porta se abriu, virou-se, com um sorriso no rosto. Papai invadiu a sala, já com o rosto vermelho.

Ethan abriu os braços, pronto para o abraço. Era ótimo vê-lo com tanto orgulho. Mas o que levou foi um soco no queixo, que o deixou tão desorientado que caiu sentado sobre uma das poltronas. Papai o segurou pela gola de sua camisa e ergueu-o. Saliva espumava em sua boca.

– O que você pensa que fez, vagabundo?! – estava alterado, realmente.

– Eu estou nos Jogos. – respondeu, sentindo uma leve pressão. Aquilo lhe dava medo.

– Seu irresponsável! Matou o próprio irmão! Desnaturado, criança demoníaca! Seu... Seu bestante!

Piscou os olhos. Mamãe, no batente da porta, não derramava uma lágrima sequer. Ela sempre fora uma mulher fria, mas não precisava esconder seu orgulho e admiração... Encarou o olhar duro dela. O que deu neles? Tinham de parabenizá-lo, afinal tinha matado seu primeiro oponente rapidamente e com facilidade. Imagine o que faria na Arena. Papai o soltou e chutou uma das mesas próximas, virando-a de pernas para cima. Mamãe se encolheu, enquanto fitava o chão. Os Pacificadores apareceram para levá-los dali, antes que papai quebrasse tudo. Aquilo só podia ser uma explosão de felicidade, pensou Ethan.

Foi levado para o trem que buscaria todos os tributos para entregá-los a Capital. Uma vez lá, só um voltaria. E isso não o incomodava, sabia que seria ele. Enquanto comia delicadamente um dos ensopados, sua companheira Danielle parecia nunca ter comido antes na vida. Talvez ela fosse uma dessas malditas pobres que ficam pedindo esmola ou caçando comida nas latas de lixo. Bem, não era roubo, afinal ninguém iria comer mais aquilo, mas mesmo assim pegar o lixo dos outros é... Nojento. Ethan não podia se imaginar fazendo isso. Correu os olhos por ela. Era magrela e feia demais para que perdesse tempo com ela. Bellatrix ligou a televisão, onde o programa da Colheita passava. Ainda era cedo e como a Capital gostava de assistir ao vivo os tributos, as Colheitas aconteciam com uma hora de distancia cada. Agora passava a Colheita do Distrito Seis. A garota e o garoto pareciam muito transtornados tendo de matar os outros, mas o fizeram, como qualquer um faria. A tela se fechou na imagem deles e então a Colheita do Sete foi mostrada. Após trinta minutos de introdução, o sorteio foi realizado.

A garota e o garoto mataram seus oponentes e foram anunciados. A Colheita do Oito e do Nove... Quando chegou no Doze, já tinha se inclinado sobre a mesa e estava brincando com os cabelos. Então a imagem dos tributos do Um apareceram, e uma rápida reprise da luta também apareceu. E os tributos do Dois. Quando se viu na televisão sorriu, mas seu sorriso desapareceu quando os tributos do Quatro foram mostrado.

Era linda. Simplesmente linda. Muito além de Bonnie ou de qualquer outra mulher que conhecesse. Era digna de ser sua namorada, talvez até mesmo sua esposa. Ergueu a cabeça, procurando por seu nome. Willa Ambika. Willa.

Já sabia com quem iria se aliar.

Olhou para Bellatrix e perguntou se ela poderia informar ao mentor de Willa Ambika que ele queria uma aliança com a garota. Quando Bellatrix virou para Ethan, suas sobrancelhas estavam unidas e as maçãs do rosto pareciam vermelhas demais. Então ela assentiu e se levantou. Danielle a sua frente o encarou.

– Você vai se aliar a uma garota que nem conhece?

– Ela é bonitinha.

– E daí? Eu sou do seu Distrito. – ela reclamou. Oh, o ciúmes era tão lindo. Ethan adorava ver como as damas lutavam por sua companhia.

– Mas ela é mais bonitinha que você. E além disso, quer ser abraçada mais vezes?

– Não!

– Pois bem, aceite o fato. – virou-se, observando ainda a cena do rosto de Willa, sorrindo. Ela era tão perfeita... Seu nariz, a pele bronzeada, os cabelos louros... Aqueles olhos de sedução... Ah, que êxtase.

Ethan passou o resto da viagem pensando em Willa. Quando o trem parou no Distrito Quatro, ficou animado com o momento em que ela entraria no trem, mas não pôde ir vê-la, o mentor não deixou. Queria conhecê-la pessoalmente, talvez sua beleza a conquistasse, mas teria de esperar. Em breve poderia derramar todo seu charme sobre a garota, e ela o veneraria. Seus pensamentos o levaram para a cama, onde dormiu. Sem sonhos, Ethan demorou para pegar no sono. Ainda estava impressionado com a beleza de Willa. Ela era uma jóia rara, como ele, que se perdera no mar. Que bela metáfora para o Distrito Quatro! Sorriu. Willa...

O nome parecia saltar me sua língua. O jeito como formava o “Wi” e depois soltava o “lla” só o deixavam mais excitado. Quando, finalmente, dormiu, levou poucas horas para acordar novamente, sentindo o frio do trem. Lá fora o dia amanhecia. Era a Capital, magnífica, enorme. Pronta para devorá-lo. Os fleches o levaram a colocar uma boa roupa e a pentear os cabelos, indo até o vagão refeitório e mordiscando uma maçã. Bellatrix apareceu para instruí-lo até o Hotel dos Tributos, mas quando perguntou se poderia ver Willa, ela negou. Amargurado, Ethan seguiu.

Mesmo que estivesse triste, os fleches das câmeras o animaram e logo estava acenando e sorrindo aos fotógrafos. Mandou beijos, deixou que as pessoas o agarrassem e tirassem foto com ele. Outros pediam poses estranhas, mas Ethan não negou a ninguém. As pessoas jogavam-lhe flores e cartas de amor. Beijou algumas moças na bochecha e elas gritaram e lhe atiraram notas de dinheiro. Ethan agarrou tudo e foi empurrado para o Hotel por um Pacificador, aparentemente bravo.

– Você tem que ser sempre tão chamativo? – perguntou Danielle, emburrada, já sentada em um dos sofás da recepção do Hotel. Lá dentro câmeras filmavam a chegada dos tributos, mas ela não parecia notar. Danielle tinha um olhar parecido com sua mãe, Peter e Lívia. Inteligente. Ethan resolveu que não gostava dela.

– Eu sou, querendo ou não. – respondeu, dando de ombros e acenando para uma câmera.

A garota revirou os olhos, enquanto se virava para Bellatrix e questionava quando iriam conhecer a equipe de preparação. Bellatrix respondeu que em breve, quando todos os tributos estivessem no Hotel.

– Onde estão os outros, então? – Ethan se virou.

– Os do Um já foram para a avaliação com a equipe de preparação deles. O Dois subiu para o apartamento e vocês são os últimos a chegar, sugiro que... – antes que terminasse, Ethan ouviu os gritos vindos do lado de fora do Hotel. Eram gritos eufóricos, gritos de glória. Uma manifestação que arrebentaria os tímpanos de qualquer um. E então Willa passou pelas portas, acenando e mandando corações a todos que gritavam por ela. Por ela.

Ethan se levantou, se notar o ato, e começou a correr em direção a ela. Tinha de falar sobre a aliança, tinha de falar sobre como ela combinaria com ele. Tinha de falar que ela adoraria formar uma equipe com ele, falar que a viu matando a garota na Colheita, falar que viu tudo... Falar que pensava nas sílabas de seu nome, falar que ela era incrivelmente linda e que o fizera perder horas de seu sono. Talvez falar que deveriam se casar.

Enquanto corria, Willa o viu e se virou para ele. Com as sobrancelhas unidas, ela era ainda mais bonita. Ethan tinha de abrir os braços. Ah, a agarraria e a rodaria no ar. Mulheres adoram isso! Quando chegou perto o bastante para sentir seu cheiro, notou que eram notas de oliva e mel. Tão doce...

E então o impacto. O gosto do sangue invadiu sua boca, enquanto os saltos altos de Willa adentravam em sua bochecha. A perna dela era como um ângulo perfeito, girando conforme o chutava. Quando terminou o ato, Ethan estava no chão, cuspindo seu próprio sangue. Alguns Pacificadores foram ver como ele estava, mas quem mais interessava não prestou a menor atenção. Virou as costas e foi, com os cabelos louros ao vento.

Ethan Wayne Hathaway