Yakusoku

Capítulo 3 - Agony



"- Há quanto tempo eu não venho até a casa dele...? Acho que a última vez... foi quando eu ainda era Nadeshiko".


O sol se punha no horizonte, anunciando o fim da tarde. Os poucos raios de sol restantes tremeluziam sob os cabelos dourados de Hotori Tadase, dando-lhe um aspecto de ouro derretido. Nagihiko não pôde deixar de admirar o quanto isso era belo. O Valete ainda estava meio perdido em seus próprios pensamentos, recordando que, na última vez em que visitara a casa do Rei, ele ainda estava sob o disfarce de uma garota. Pra falar a verdade, nas outras vezes também foi assim... pensando bem, essa seria a primeira vez em que ele visitaria o "amigo" sob sua aparência normal, a de um garoto. Parou pra analisar se isso era bom ou ruim, e se Tadase também havia percebido isso, mas acabou perdendo a linha de raciocínio ao contemplar o brilhante ouro líquido que eram os cabelos do Rei.

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- Fujisaki-kun? - Tadase o chamou, despertando-o de seus devaneios - É por aqui.


Tadase o guiou por um corredor estreito e deserto, e eles entraram pela segunda porta em que passaram. Esta dava para a sala, e lá já estava o resto da família do garoto reunida, os pais e o tio do jovem Rei.


- Finalmente chegou, Tadase! Okaerinasai - cumprimentou sua mãe sorridente - Ora, trouxe um amigo?
- Essa pessoa é... não, não é a Nadeshiko-chan, é...? - perguntou o pai do garoto meio na dúvida
- Permitam-me apresentá-lo. Este é um dos estudantes do colégio, o Valete atual dos Guardiões. E irmão gêmeo da Nadeshiko-chan - apressou-se a dizer Tsukasa com um sorriso tão meigo e deslumbrante que enganaria qualquer detetive particular
- Ahh entendo, por isso se parece tanto com ela - concluiu o pai de Tadase - Gozado, não sabia que ela tinha um irmão gêmeo...
- Mãe, pai, esse é Fujisaki Nagihiko-kun. Como o Tsukasa-san disse, ele é um dos Guardiões e está na minha classe - apresentou Tadase - Nós vamos ter prova logo, então achamos que seria mais fácil estudarmos juntos, tudo bem?
- Claro, claro, não se preocupe, filho. Sinta-se em casa Nagihiko-kun - disse a mãe do Rei com um sorriso
- Obrigado senhora - Nagihiko fez uma reverência - E desculpe vir sem avisar
- Ah, não se preocupe Nagihiko-kun, você já é de casa... bom, de certa forma... e-eu quero dizer, é sempre melhor estudar quando se tem companhia, então vão lá estudar, vão meninos - Tsukasa se atrapalhou um pouco com as palavras, já que se referiu ao Valete na época em que ele ainda era Rainha, mas parece que ninguém percebeu. Os dois se retiraram e seguiram para o quarto de Tadase.


"Acho que essa é a primeira vez... que venho até o quarto dele". - Nagihiko não pôde evitar de pensar.


O Valete sentiu uma pontinha de felicidade invadir seu peito e espalhar-se por todo seu corpo apenas pelo fato de poder estar ali, no quarto de Hotori Tadase. Ele sabia que isso era ridículo e devia sentir-se patético por estar pensando assim, mas não conseguia deixar de se sentir feliz.


- Nee Hotori-kun - Nagi resolveu conversar para afastar esses pensamentos estranhos de sua mente - Seus pais não sabem a verdade sobre mim, não é?
- Claro que não! Afinal, isso é um segredo, não é? - Kiseki respondeu a pergunta no lugar de seu dono
- Apenas eu e o Tsukasa-san sabemos, não contamos para mais ninguém - esclareceu Tadase - Eu prometi guardar o seu segredo de todos, não foi? Isso inclui meus pais
- Imagina a cara que eles fariam se descobrissem que o Nagi não tem irmã gêmea nenhuma e que, até pouco tempo atrás, se vestia de garota... cara, queria tanto ver a cara que eles fariam se descobrissem hahahaha!! - Rhythm caiu na gargalhada só de imaginar
- Rhythm fale baixo! Alguém pode te ouvir! - ralhou Nagihiko preocupado
- Relaxa Nagi, ninguém vai ouvir! - respondeu seu Chara no tom despreocupado de sempre
- Adultos não podem ver nem ouvir Shugo Charas, esqueceu, seu plebeu tolo?! Isso inclui os pais do Tadase - lembrou-lhe Kiseki
- Ah é... esqueci - murmurou o Valete - Sempre perco a noção de tudo quando o assunto é o meu segredo...
- Deve ser difícil conviver com um segredo desses pelo resto da vida, e passar o tempo todo se preocupando pra que não descubram, não é? - comentou Tadase solidariamente
- Já me acostumei - respondeu Nagihiko conformado - Desculpe ter que fazer você mentir pros seus pais, Hotori-kun
- Ah, não se preocupe com isso, eu prometi guardar seu segredo por conta própria, não foi? Ninguém está me obrigando a nada, estou fazendo isso porque quero - tranquilizou-o o Rei - Bem, agora chega de conversa, vamos começar a estudar que é melhor.

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Os dois se sentaram à mesa, pegaram seus livros, estojos e cadernos e começaram a estudar. Resolveram começar pelo mais difícil: Matemática. Seus Charas bem que tentaram ajudar no início, mas Rhythm desistiu nos primeiros cinco minutos, dizendo que aquilo era entediante demais (de certa forma ele até que tinha razão) e resolveu ir disputar corrida (ou seria vôo?) com os pardais que sobrevoavam o jardim; e Kiseki não aguentou de tédio e adormeceu nos dez minutos seguintes, agora estava esparramado em cima da cômoda de Tadase, roncando e babando, completamente apagado. Sendo assim, só restou aos dois garotos continuarem estudando.


Tadase tentava explicar como funcionavam as equações e como se achava o valor de X, mas aquilo simplesmente não era interessante o suficiente para prender a atenção do outro garoto. A única coisa que ele conseguiu assimilar é que esses "Xis" das equações lhe lembrava Batsu Tamas: Um bando de "Xises" malvados que só lhe davam trabalho e dor de cabeça, e eram uma dificuldade para fazê-los voltar ao normal.
Sem falar que era tremendamente difícil se concentrar em um assunto tão chato e entediante quanto Matemática quando ele tinha a figura esbelta e radiante de Hotori Tadase bem à sua frente. Kiseki tinha razão em dormir, Matemária era realmente tão chato que dava sono em qualquer um. Em Nagihiko, porém, só fazia com que sua atenção se desviasse para o garoto bem à sua frente. Como aquele menino tão frágil, tão gentil, podia entender de um assunto tão sem cabimento quanto Matemática?! Era um mistério... um mistério que acaba totalmente com a teoria de que todos os loiros eram burros.


Nagihiko não podia evitar de sentir-se frustrado por estar a sós com Hotori Tadase, na casa dele, no quarto dele, e mesmo assim estarem perdendo tempo com um assunto tão chato e tão sem explicação como Matemática. Era uma agonia terrível estar tão perto do Rei e mesmo assim não poder fazer nada, nem mesmo dizer o que realmente sentia por ele. O fato de estar naquela casa pela primeira vez como um garoto ainda mexia com ele... pensou no que seu Shugo Chara dissera anteriormente: "Imagina a cara que os pais do Tadase fariam se descobrissem que ele não tinha irmã gêmea nenhuma e que, até pouco tempo atrás, se vestia como garota?!". Para alguns isso seria realmente engraçado e até interessante de se ver, mas para ele, lhe causava um terrível calafrio na espinha. Imagine o que eles diriam se descobrissem que o melhor amigo de seu filho é um travesti? Ou pior ainda, imagine o que eles fariam se descobrissem o tipo de sentimentos que este travesti em questão nutria pelo precioso filho único deles?!


"- Eles certamente... irão me afastar do Hotori-kun se descobrirem" - pensou Nagihiko tristemente - "Claro, não posso culpá-los... eles estariam certos em fazer isso, só estariam agindo como pais dedicados, protegendo o único filho deles. Mas não seria necessário. Se descobrissem... se o Hotori-kun descobrisse isso... ele mesmo se afastaria de mim por conta própria".


- Entendeu? - Tadase perguntou, arrancando o Valete de seu divagar sem sentido
- Hein?! Ahh... d-desculpe, acho que não entendi a última parte - mentiu o Valete, envergonhado demais para admitir que não estava prestando atenção. O que ele estava fazendo, desperdiçando a boa vontade de Tadase desse jeito?! Devia sentir vergonha!
- Você não estava prestando atenção, não é? - concluiu Tadase astutamente
- Ahn... bem... eu...e-eu não...


Tadase soltou um suspiro, já adivinhando qual seria a resposta.


- Nikaidou-sensei tem razão, você anda muito distraído - concluiu o loiro - O que há com você Fujisaki-kun? Tem algum problema te incomodando? Se quiser eu posso ajudar.


Na verdade Tadase era a pessoa que menos podia ajudar, e ao mesmo tempo, o único que podia fazer isso. Ele era a única pessoa para quem Nagihiko não poderia contar qual era o "problema" no qual não parava de pensar, e ao mesmo tempo, a pessoa que ele mais queria que soubesse.


- Ano nee Fujisaki-kun... quando uma pessoa fica o tempo todo distraída e nas nuvens, assim como você está agora, é porque está apaixonada, sabia? - Tadase o despertou de seus devaneios de novo, fazendo o coração do Valete dar uma cambalhota ao ouvir aquela frase
- A... A-Apaixonada? - repetiu Nagihiko nervoso
- Sim, apaixonada. Pelo menos foi o que a Hinamori-san me contou - explicou o Rei, fazendo com que Nagi sentisse involutariamente uma raiva descomunal de Amu - Então, é este o caso? Tem alguma menina que você goste?


Nagi sentiu-se murchar como um balão de gás no final de festa. Claro que, se Tadase achava que ele estava apaixonado, ele naturalmente pensaria que era por uma garota. Sentiu-se completamente patético diante daquela situação.


- Não... não tem nenhuma menina que eu goste - respondeu Nagihiko sem encará-lo nos olhos - É só que... b-bem, tem várias coisas me preocupando... dentre elas, isso.


Ele retirou o ovo de Temari do bolso e mostrou-o ao Rei.


- O ovo da Temari... entendo, ele ainda não chocou né? - comentou o Rei pensativo
- Sinto falta dela. Temari está comigo há tantos anos, é estranho não tê-la por perto. Eu fico pensando em qual teria sido o motivo pra ela ter me deixado... e se ela vai voltar algum dia.


Nagihiko abaixou a cabeça tristemente, sentindo uma terrível onda de culpa. Não era bem em Temari que ele estava pensando naquele momento, mas ele realmente sentia falta da sua primeira Shugo Chara. E não havia mais ninguém com quem ele pudesse falar sobre isso a não ser Tadase, já que os outros Guardiões não sabiam que o Valete possuía dois Shugo Tamas ao invés de um só.


E para a imensa surpresa do Valete, Tadase o puxou para um tímido abraço. Receoso e desajeito, apenas com o braço esquerdo, talvez temendo exagerar, afinal, ele estava abraçando outro garoto! Mal sabia ele que uma onda de felicidade preenchera o coração de Nagihiko naquele momento. Era como se estivesse nadando em um mar de chocolate e algodão-doce, como se tivesse criado asas e estivesse flutuando até o paraíso. Também tendo o cuidado para não exagerar, para que o pequeno Rei não percebesse seus reais sentimentos, Nagihiko retribuiu o abraço, escondendo seu rosto que parecia queimar em brasas no ombro do menor.


- Sabe, mesmo eu me considerando seu melhor amigo, não tenho o direito de dizer que te entendo. Não posso nem imaginar como você se sente. Deve ser terrível o que você está passando, eu não sei o que faria se o Kiseki me deixasse de repente sem nenhum motivo aparente - Tadase murmurava em seu ouvido, causando fortes arrepios no Valete - Mesmo eu sendo o Rei dos Guardiões, eu não sei dizer quando ela vai voltar. Nem mesmo o Tsukasa-san, que é o Rei Fundador, saberia dizer isso. Tudo o que eu posso dizer é... que você não deve perder a esperança. Pode levar dias, semanas, meses talvez, mas Temari certamente voltará pra você um dia. Se pensar bem, ela nunca te deixou, afinal, ela é um de seus "supostos eu", ela faz parte de você, e sempre estará com você, mesmo estando adormecida no ovo. Ela só está esperando que você encontre a resposta que está procurando, que resolva a dúvida que tanto atormenta sua vida, pra que possa retornar pra você... e quando você encontrar a resposta, ela certamente voltará. Afinal, Temari é sua Shugo Chara, ela te ama mais do que tudo no mundo. Só depende de você trazê-la de volta.

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Tadase apertou um pouco o abraço, provavelmente tentando confortá-lo, e o soltou. Ele sorriu meio sem graça e disse:


- Bom, acho melhor fazermos uma pausa agora e irmos jantar, que tal?
- Ah... sim, claro. Vamos jantar.


Tadase abriu a porta e já estava saindo do qurto quando Nagi o chamou:


- Hotori-kun!
- Sim?
- Obrigado... pela ajuda
- Não há de quê - sorriu o Rei - Mas depois da janta, vamos estudar a sério, já que você não aprendeu nada até agora, ouviu?!


Tudo bem que não foi pelos estudos que Nagi agradeceu, e Tadase provavelmente entendera isso, mas talvez fosse embaraçoso demais para ele falar sobre isso, então o Valete resolveu deixar pra lá e seguiu o loiro para fora do quarto.
Ao chegarem na cozinha, porém, encontraram apenas um bilhete dos pais do Rei dizendo que tiveram um imprevisto de última hora e precisaram sair às pressas, e não tinham hora para voltar. Tsukasa também precisara sair para resolver um problema na escola e voltaria tarde. Ou seja, os dois estavam sozinhos.


- Ahh e agora... que faremos Fujisaki-kun? - perguntou o Rei preocupado.


"- Excelente pergunta essa... e agora??" - pensou Nagihiko, também preocupado, mas com outra coisa - "Não acredito nisso... estou sozinho com o Hotori-kun, na casa dele. Os pais dele saíram, e o Tsukasa-san também. Será que... poderia ser isso uma chance do destino? Se pensar bem, é a oportunidade perfeita".


Nagi olhou de relance para o "amigo" e comtemplou aquele rostinho tão delicado e inocente com o canto dos olhos. Como podia pensar uma coisa dessas?! E com um menino tão frágil e doce como Tadase ainda por cima!!


"- Não, o que estou pensando...? Uma chance de quê?! É óbvio que não vai acontecer nada.... droga, estou pensando demais."


- Nee Fujisaki-kun! - chamou Tadase de repente, assustando-o - Que faremos agora? Não tem nada pronto, e nós precisamos jantar... droga, e estou morrendo de fome
- Ah certo, a janta... vocês têm comida na geladeira Hotori-kun?
- Temos sim, mas... não sei cozinhar nada do que está aqui - respondeu Tadase, encarando tristemente a comida crua na geladeira
- Deixa eu dar uma olhada.


Tadase se afastou para o lado, e Nagi examinou a comida de que eles dispunham. Em seguida, começou a pegar alguns ingredientes e colocá-los em cima da pia.


- Ovos, farinha, queijo... está pretendendo fazer uma omelete? - perguntou o Rei
- Algo melhor do que omelete - respondeu o outro garoto - O que acha de essa noite comermos comida ocidental?
- Comida ocidental?
- Sim. Essa noite jantaremos pizza, que tal? - sugeriu o Valete, já começando a misturar os ingredientes
- Ehh? Dá pra fazer pizza em casa?? - perguntou o Rei assombrado
- Claro que dá. Vou te mostrar como é fácil
- Gomen nee Fujisaki-kun... sou completamente inútil na cozinha, então não posso te ajudar em nada - desculpou-se o Rei, fazendo um biquinho triste e terrivelmente fofo
- Não tem problema. É o mínimo que posso fazer por você estar me ajudando com os estudos - Nagi desviou o olhar de Tadase antes que ele perdesse a concentração por causa daquela carinha fofa - Ah, mas a louça é sua, ouviu?!
- Hai, pode deixar!


Cerca de uma hora depois, a pizza estava pronta, e eles estavam na sala, comendo diante da enorme TV, bebendo refrigerante e assistindo um filme de terror escolhido por Nagi. Resolveram apagar a luz pra fazer parecer cinema, o que provavelmente não foi uma boa decisão.


- Uaaau, está muito boa mesmo... bem melhor do que as pizzas que encomendamos por fora! - exclamou Tadase admirado - Você pode mesmo cozinhar qualquer coisa hein Fujisaki-kun!
- I-Imagina, você está exagerando... - pela primeira vez na vida Nagi sentiu-se feliz por ter sido criado como uma garota que sabe cozinhar, e agradeceu imensamente por eles terem apagado as luzes, impedindo que Tadase visse o quanto seu rosto estava corado
- Nee.. qual o nome desse filme mesmo? - perguntou o loiro
- O Grito 2 - respondeu Nagi, tremendamente feliz com a mudança do rumo da conversa - Eu assisti O Grito 1 mês passado, então queria ver a sequência. Parece que nesse filme, a maldição saiu do Japão e se espalhou pelos EUA também
- Humm...


Tadase parecia estar mais concentrado em sua pizza do que no filme em si, o que fez o assunto morrer, e Nagi voltou involuntariamente a ter pensamentos estranhos.


"- Espera aí... nós estamos sozinhos, comendo pizza no escuro, e vendo um filme juntos... isso está parecendo até um encontro! - ele pensava atordoado - Se estivéssemos num cinema e não na casa dele, isso definitivamente seria idêntico a um encontro! Não, o que estou pensando... claro que não é um encotnro. Estamos apenas vendo um filme enquanto jantamos, não há nada demais nisso".


De repente Nagi sentiu a mão trêmula de Tadase agarrando sua camisa por trás, estragando toda a sua teoria.


- Err... etto... H-Hotori-kun...? O que está fazendo?! - ele gaguejou nervosamente, novamente agradecido pela escuridão da sala esconder a vermelhidão de seu rosto
- É que... e-esse filme é... e-ele é de terror, então... err... e-eu quero dizer...


De repende a mulher do filme soltou um grito angustiante ao se deparar com a fantasma, e Tadase gritou junto com ela, se possível, mais alto e mais apavorado do que a mulher do filme. Ele se agarrou ao braço do Valete, escondendo seu rosto no peito dele. No impulso de esconder sua visão daquele filme terrível, ocultando sua face no peito do maior, o Rei acabou caindo no chão, derrubando o Valete junto e caindo em cima dele.


Nagi teve que fazer um esforço descomunal pra não agarrar aquele garoto fofo ali mesmo e protegê-lo daquela fantasma malvada com todas as suas forças. Era uma sensação estranha ter Tadase agarrado ao seu braço com todas as suas forças. Era como uma criança amedrontada se agarrando a um adulto, ou como uma menina assustada se abraçando ao namorado para afastar o medo. Nagi não pôde deixar de notar o quanto Tadase ficava irresistivelmente fofo naquela situação. Nagihiko respirou fundo, tentando se controlar, e perguntou:


- Etto... Hotori-kun... poderia ser que... você tem medo de filmes de terror??
- E-Eu não tenho medo! - ele negou veementemente, embora não conseguisse enganar ninguém - E-Eu só... não gosto de filmes com fantasmas, ou com serras elétricas, ou monstros, ou casas mal-assombradas, ou zumbis, ou coisas do além... eu não gosto, só isso!


Nagi soltou um suspiro, fazendo um tremendo esforço pra não rir. Ele se levantou e desligou a TV.


- Se não gosta desse tipo de filme, devia ter falado desde o começo
- M-Mas você disse que queria ver a sequência...
- Não importa, eu vejo outro dia. Além do mais, hoje eu vim aqui pra estudar e não pra ver filmes, certo? - lembrou Nagihiko sorrindo - Agora que já jantamos, podemos voltar aos estudos? Dessa vez vou me concentrar, eu prometo
- H-Hai! - concordou o Rei, imensamente aliviado em não ter que ver aquele filme assustador - E Fujisaki-kun... será que pode não contar pra ninguém que... sabe... que eu...
- Que você não gosta de filmes de terror? - Nagi completou a frase pra ele - Claro, sem problemas. Afinal, você guardou meu segredo por tantos anos, eu posso muito bem guardar o seu também
- Hai! Arigato Fujisaki-kun!


Depois de lavar a louça, eles voltaram pro quarto, e dessa vez Nagi realmente se concentrou nos estudos. Pensando bem, Tadase realmente explicava muito melhor do que Nikaidou ou qualquer outro professor que o Valete já tivesse tido. Depois que terminaram Matemática, eles passaram pro Inglês, e Nagi finalmente começou a entender um pouco da matéria. O tempo passou depressa, e quando viram, já ia dar meia-noite.


- Meu Deus, como é tarde! Ahh cara, minha mãe vai me matar - lamentou Nagihiko
- Já está tarde demais, acho melhor você passar a noite aqui Fujisaki-kun - sugeriu o Rei - Ligue pra sua casa e avise sua mãe que você vai dormir aqui
- Eh? Dormir aqui?! Não tem problema?? - indagou o outro hesitante
- Claro que não. Até seu Shugo Chara já está dormindo mesmo, olha - Tadase apontou para o ovo de Rhythm, que estava sob a cômoda, ao lado do ovo de Kiseki, e daonde vinham sonoros roncos - Posso te emprestar um pijama se quiser.. embora provavelmente vá ficar meio curto em você - ofereceu Tadase, rindo sem graça.
- Não tem problema... eu quero sim, obrigado.


Depois de ligar para casa e avisar que passaria a noite na casa de Tadase, o Rei lhe emprestou um pijama branco simples, enquanto vestiu seu costumeiro pijama azul-claro. Os dois se trocaram (Nagi fazendo um tremendo esforço para não espiar o Rei se trocando) e os dois se deitaram nos futóns, colocados um ao lado do outro. O pijama emprestado realmente era pequeno demais em Nagihiko, mas isso não importava nem um pouco pra ele. Na verdade o garoto sentia-se imensamente feliz por estar vestindo algo que pertencia à Tadase, que tinha o cheiro dele. Nagi não pôde evitar de desejar que o cheiro do Rei naquela roupa impregnasse todo seu corpo e ele pudesse ficar com o cheiro do loiro para sempre. Nagihiko se forçou a sacudir esses pensamentos estranhos para longe de sua mente, desejou boa noite ao "amigo", apagou a luz e foi tentar dormir um pouco.


Nagihiko mal podia acreditar na sorte que tinha... ou talvez azar. Era tremendamente agonizante saber que estava na casa de Tadase, no quarto de Tadase, deitado bem ao lado dele, e mesmo assim não poder fazer nada. Tadase estava bem ali ao seu lado, e não fazia a menor idéia dos verdadeiros sentimentos que "amigo" nutria por ele.


"- Como a vida é cruel... é uma brincadeira do destino, só pode ser" - concluiu o Valete em seus pensamentos - "O senhor Destino deve estar rindo da minha cara agorinha mesmo, aposto".


Nagi olhou pro lado e viu que o Rei já estava completamente adormecido. E, ainda que dormindo, ele parecia fazer umas caretas estranhas, como se estivesse com medo de alguma coisa. E então começou a murmurar:


- N-Não... não, Kayako*... me deixe em paz... f-fique longe...

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Nagihiko deixou escapar uma risada baixinho. Aquele filme realmente assustara o pobre garoto. Nagi queria confortá-lo de alguma forma, afinal, fora idéia dele assistir filme de terror, e ele se sentia meio culpado.


"- Bom, ele está dormindo agora... e parece estar com medo... acho que... enquanto ele estiver dormindo e não puder ver isso, não tem problema".

Nagi arrastou silenciosamente seu futón para perto do dele e, bem devagar, envolveu Tadase em seus braços, com cuidado para não acordá-lo. Para sua imensa surpresa, o loiro o agarrou com força, ainda que adormecido, suas pequenas mãozinhas segurando com firmeza a blusa do seu pijama. Ele parecia ter se acalmado, e aos poucos foi parando de murmurar o nome da fantasma.

"- Ehh... não acredito que deu certo mesmo. Ainda bem que ele não está mais com medo... boa noite, Hotori-kun. Tenha bons sonhos".


Nagihiko sentia seu rosto queimando como se estivesse em brasas, era como se uma onda de felicidade invadisse todo seu ser só por estar com aquele loirinho tão frágil em seus braços. Ele sabia que era apenas por uma noite, que isso jamais se repetira e que, se Tadase estivesse acordado, ele jamais faria algo assim, e provavelmente o xingaria de tarado e o colocaria pra fora de sua casa. Mas Nagihiko não podia evitar. Uma ocasião como essa jamais se repetiria nem em um milhão de anos, e ele provavelmente se sentiria bastante culpado e arrependido mais tarde, porém... se arrependeria mais ainda se não aproveitasse aquela chance diante dele. Ao menos uma vez na vida... ele podia dormir ao lado de seu eterno e secreto amor.


* Kayako é o nome da fantasma do filme O Grito que eles assistiram.