Xanadu

Capítulo 4


Capítulo 4 - Mil anos vieram e passaram


Ele nada mais era do que um escravo, uma propriedade e um objeto. Aprendera isso rapidamente; era por isso que usava a coleira.


Como escravo, Severus aprendera de maneira rápida (ainda que extremamente dolorosa) a satisfazer seu dono. Ele tomava a iniciativa de chegar junto dele e atender suas necessidades. Natural, portanto, que ele fizesse isso também agora, mesmo que tivesse mudado de dono.


Ele era um escravo. Isso era o que ele fazia.


Seu dono estava a seu lado, na grande cama, ainda adormecido. Nada mais natural que Severus o acordasse do jeito que provavelmente o deixaria de bom humor.


Com cuidado, Severus removeu as roupas e pôs-se a manipular o membro flácido e farto. Seu dono não acordou imediatamente, e ele aproveitou para inclinar-se e tentar abocanhar o órgão, a fim de firmá-lo. Não foi fácil, e Severus não pôde deixar de imaginar o estrago que o membro, quando ficasse ereto, poderia fazer nele. Mas foi apenas um momento, porque como escravo ele não podia reclamar.


Cumprindo seu dever, Severus abocanhou o que pôde e pôs-se a estimular seu dono. Finalmente, ele acordou. Severus ergueu o olhar e seus olhos encontraram-se com os de seu dono. Mas estavam estranhos. Não estavam vermelhos e cruéis, mas sim pretos e ternos.


o0o o0o o0o o0o


O que Severus estava fazendo?


Hagrid não tinha se dado conta de que tinha feito a pergunta em voz alta até Severus responder, com toda naturalidade:


- Estou servindo você, meu dono.


Hagrid ficou chocado, mas só o que ele disse foi:


- Você não precisa fazer isso, Severus.


- Sim, eu preciso. Sou seu. Lupin me deu a você, então você é meu dono. Você me deixa dormir em sua cama e pode fazer uso de meu corpo. Devo satisfazer meu dono sempre.


As palavras fizeram Hagrid se sentar na cama num único pulo. Severus se assustou e se encolheu.


- Não, Severus, não. Não, não precisa nada disso. Eu não sou seu dono. Não precisa ter medo.


Um brilho de dor e rejeição passou pelos olhos do ex-professor.


- Não me quer? Posso entender que Lupin não me quisesse, pois ele nunca gostou de mim. Mas pensei que fôssemos amigos, Hagrid. Pensei que fosse me querer.


Se fosse possível, Hagrid podia jurar ter ouvido sons de um coração se quebrando: o seu próprio. Com voz suave, ele tentou explicar:


- Oh, Merlin, Severus. Você não precisa fazer nada disso. Não sou dono. Somos amigos, e você precisa de tratamento. Estou aqui para ajudar.


Severus baixou o olhar, deprimido. Hagrid recompôs-se e pegou a mão de Severus:


- Você está salvo agora, Severus. Aqui somos seus amigos e queremos ajudá-lo. Ninguém é seu dono, só amigos.


- Eu sou seu prisioneiro.


- Não, claro que não! - Hagrid estava escandalizado. - Mas você está em grande perigo. Nós estamos escondendo você, não prendendo.


- Para ele não me achar?


Hagrid não precisou perguntar a quem Severus se referia. Por algum motivo, Hagrid o achou tão triste, tão rejeitado, que o envolveu em seus braços. Sentiu algo duro: o tal colar.


- Isso parece desconfortável. Deixe-me tirar isso.


Severus gostaria daquilo. De não ter coleira. De não ter mais dono. De não se sentir tão usado.


Mas não era possível. O Mestre tinha explicado que Severus não era bom o suficiente para coisa alguma, só para ser escravo. Ele não podia ter amigos, pois ninguém ia querer ser amigo dele. Aliás, as pessoas o odiavam, e ele só era um escravo. O Mestre o aturava porque Severus ia fazer uma tarefa que ninguém mais queria fazer.


Ele continuaria pensando essas coisas, mas Hagrid colocou as mãos no seu colar e tentou arrancá-lo usando apenas as mãos nuas. Ele fez força descomunal, e Severus sentiu dor, mas então uma explosão saiu do artefato, jogando Severus longe.


- Severus! Severus! - Hagrid foi até ele. - Você está bem?


O corpo estava imóvel, mas respirava. O colar continuava no mesmo local, intacto. Hagrid recolheu Severus com cuidado, ajeitou-o na cama e foi buscar ajuda.


o0o o0o o0o o0o



- Sr. Lupin - começou Madame Pomfrey -, estou muito preocupada. O quadro que Hagrid me descreveu está muito além do que eu inicialmente previa. Severus está sedado, mas ele obviamente está afastado da realidade. Acredito que seja efeito da tal coleira que ele usa no pescoço. Tem que ter algum tipo de Maldição Imperius muito forte no objeto. Se fosse uma Imperius comum, Severus resistiria. Mas o quadro geral também pode ser afetado por seu estado de espírito.


Hagrid parecia envergonhado ao admitir:


- Foi culpa minha. Fui tentar tirar o troço para ele ficar mais confortável, e tudo explodiu bem na cara dele.


- Não é culpa sua, Hagrid.


Lupin explicou a Madame Pomfrey:


- Quando Hagrid me contatou, eu fui a Xanadu falar com o Chefe da Ordem. Ele me aconselhou a descobrir mais sobre o que está errado com Severus. Ele indicou o uso de Veritaserum, mas é claro que prefere verificar isso com você, Poppy.


- Não sei que bem isso traria, Sr. Lupin - confessou a velha enfermeira. - Não sou especialista, mas não acredito que Veritaserum funcione muito bem com pessoas que não distinguem a verdade da imaginação. Sem mencionar o risco que isso pode significar para Severus. Eu não sei se ele está sob outros feitiços que podem reagir ao soro, ou o efeito psicológico no meu paciente. Claro, se o chefe acha melhor, eu farei isso.


- Não, não é imprescindível.


Do seu jeito simples, Hagrid indagou:


- Quem sabe a gente pode tentar perguntar para Severus?


- Mas, Hagrid, acha que isso adiantaria?


O meio-gigante deu de ombros:


- A gente vai conversando, sem querer, dizendo coisas que não diria normalmente. Se ele não quiser responder, ele não responde. Só achei que deveríamos tentar isso antes de começar a enchê-lo de poções que podem fazer mal ao pobrezinho.


Remus olhou para o amigo. Hagrid era assim: não podia ver um animal doente, que logo queria cuidar dele. Obviamente, Severus também estava se enquadrando nessa categoria. Mais do que isso: ele se sentia culpado.


- Não foi sua culpa, Hagrid - repetiu Madame Pomfrey.


O meio-gigante olhou para o corpo imóvel no grande leito, reparou na respiração lenta e tranqüila e imaginou quanto tempo ele respiraria daquele jeito.