Wintershock

Uma noite no rio Hudson


Já era tarde da noite e Darcy voltava da casa de Kim, onde tinha deixado boa parte de suas anotações, justamente porque esteve concentrada por diversas horas, ensaiando sua apresentação para o TCC e fugindo de Bucky Barnes ao mesmo tempo, mas...

Agora era hora de voltar a si e parar de bancar a adolescente traumatizada.

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Era patético continuar evitando o soldado, ainda que estivesse completamente caída por ele... teria de engolir todos os seus sentimentos imaturos, respirar fundo e caminhar de cabeça erguida.

Não dormiria na casa de sua amiga mais... e estava decidido...

Sendo assim, ela estacionava seu carro na garagem de seu prédio, pegando alguns livros e anotações nas mãos, levando-os de volta para o apartamento.

Aquele dia estava tão agitado que Darcy vestia trajes bem casuais...

Uma camiseta escura do Metallica, calça jeans, All Star tradicional preto, e um boné claro com uma estampa de suas bandas favoritas: MUSE.

Darcy subiu rapidamente as escadas e entrou no apartamento correndo.

Como esperava, Bucky estava ali, lendo um livro, tranquilamente, como se não estivesse esperando por ela.

Ao visualizar a cena, a estudante se sentiu consternada ao tê-lo ignorado todo aquele tempo... James não tinha nada a ver com seus conflitos sentimentais, ou seus ciúmes imaturos por uma ex-agente da SHIELD, vulgo Natasha Romanoff.

Se arrependia por ter agido de uma forma tão egoísta, deixando-o sozinho, sendo que sempre estiveram juntos...

Então, a garota simplesmente levantou a cabeça e esboçou um sorriso aberto e brincalhão.

— Hey, sargento, o que você está lendo!? – Ela se aproximou, deixando todos os livros e papeis que carregava, em cima da escrivaninha.

O soldado estranhava aquele comportamento. Por que do nada Darcy parecia ter voltado ao normal quando os últimos dias ela o ignorou e lhe tratou com tanta indiferença?

Se contestou, tentando entende-la, mas tudo estava muito enigmático para deduzir.

— Vai dormir aqui hoje?

— Sim, afinal, essa é a minha casa! – Ela esticou os braços e olhou para o alto, alargando o sorriso.

Ele a fitou, completamente desconfiado.

— Por quê? Não tinha decidido ficar na casa de sua amiga?

Darcy desfez o sorriso, dando lugar a um semblante tristonho.

— Me desculpe ter ficado todos esses dias fora, mas... eu tive meus motivos...

— Que motivos...? – James a mirou, fixamente.

Ela quase engastou ao ouvir aquela pergunta, mas não deixaria que as malditas “mariposas no estômago” lhe tirassem sua sanidade. Sim, ela substituiu “borboletas” por “mariposas”, já que se apaixonar era como sentir os efeitos da morte o tempo todo...

No entanto, automaticamente a garota voltou aos sentidos.

— Meu TCC... qual seria o motivo? – Redarguiu, exibindo uma falsa confiança.

— Existe outro...? – Bucky insistiu, sabendo que naquele momento, Darcy estava mentindo, por conta da leitura corporal que seus olhos faziam dela naquele momento.

— NÃO, NÃO EXISTE! E vamos mudar de assunto!? Você já comeu!? – A estudante começou a andar de forma robótica, indo na direção da cozinha, totalmente travada.

James não tinha ideia do porquê Darcy estava agindo estranho e de repente tentava parecer normal de novo, como se nada tivesse acontecido antes.

— Eu já comi... e você...? – Retorquiu, seriamente.

— Jantei com a Kim. – Replicava, enquanto abria a geladeira a procura de alguma coisa pra beber.

Naquele momento, James se levantou e a observou silenciosamente.

Era estranho encarar Darcy naquelas circunstâncias, sabendo que em breve teria de deixar o país e que talvez nunca mais a veria.

Mesmo com tal decisão, era doloroso imaginar que teria de dar adeus para sempre... Toda a consideração, empatia, atração, afeição e todos os sentimentos impulsivos, aflitos e inquietos que sentia por ela, estavam emaranhados dentro de seu peito, como se quisessem sair...

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Ele tentava desesperadamente contê-los, mas sentia-se implodir por dentro, dia após dia...

Guardar tudo aquilo em seu mais íntimo, profundo e intrínseco âmago, e não poder externar absolutamente nada, era pior do que tentar matar tal sentimento...

James não conseguia apagar o que sentia por Darcy... e aquilo estava lhe deixando louco... a todo o tempo...

Era uma sensação ardente, violenta, viciosa, colérica, tempestuosa e fortemente dominadora... não conseguia refrear nada e o efeito de total impotência tomava conta de seus sentidos...

Ele suspirou fundo... não era fácil... não conseguia se manter lúcido...

O único jeito de conseguir se sentir aliviado, seria cedendo... não havia outra forma...

Por mais egoísta que fosse, não tinha escolha... e seria injusto com Darcy, mas...

.

Bucky estava devastado e desesperado...

.

O soldado se aproximou da garota, e Darcy sentiu um olhar misterioso sendo lançado em sua direção.

Um ponto de interrogação ficou estampado em sua face.

— O que foi? – Ela o questionou.

— Você disse que queria dar uma volta de moto em torno do rio Hudson no final da primavera. Já estamos no verão e não cumpri minha promessa... – Era uma afirmação sugestiva em forma de convite para um passeio, e obviamente e Darcy entendeu.

— Não precisa. Eu estava bêbada aquele dia. – A estudante tentou fugir. Aceitar aquele convite seria fatal.

— Você lembra da vez em que me pediu para passearmos de moto em torno do rio Hudson?

— Não, mas... eu estava bêbada... – Ela redarguiu, um pouco surpresa.

— Bem... você ainda quer ir...? – O soldado colocou a mão humana atrás da nuca, um pouco contraído. Pela primeira vez desde que recobrou sua identidade depois da queda da HYDRA, não se recordava de se sentir inseguro, ainda mais com uma garota como Darcy.

A estudante o fitou, um pouco indecisa... ele estava lhe convidando para sair de moto só por causa de seu pedido quando estava bêbada?

Mas seria errado de sua parte se não aceitasse, afinal, ela era a pessoa que ele mais confiava no momento.

— Ok, Bucky... vamos sair de moto e parar no Hudson. Hoje está um clima ótimo pra um passeio. – Darcy sorriu, singelamente e o soldado correspondeu sorriso.

Imaginou que não aceitaria, já que o ignorou por tantos dias...

E então, ambos saíram juntos, rumo as escadas.

A estudante e o soldado estavam com roupas bem parecidas...

Boné, camiseta, jeans e tênis...

Mas a camiseta dela era especificamente do Metallica...

E James usava uma jaqueta de couro preta por cima de sua camiseta...

Darcy não era muito feminina no seu dia a dia. Apenas quando saia para festas e eventos importantes quebravam a sua rotina.

Os dois caminharam na direção das escadas, mas...

.

Encontraram com Clarice Morrigan...

.

A loira, que estava vestida elegantemente, como se estivesse prestes a ir para algum evento chiquérrimo, exibiu uma feição desdenhosa na direção da estagiária.

— Ora ora, se não é a ratazana do prédio e... – A vizinha de Darcy desviou o olhar para James, mapeando-o com o olhar, de cima em baixo... e...

Sentiu-se encantada ao examinar o rapaz em sua frente, da cabeça aos pés.

— Eu mereço... – Darcy revirou os olhos.

A colega da estudante sorriu presunçosamente.

— Não vai me apresenta-lo, Darcy...? – Clarice sugeriu, como se a garota fosse uma total sem educação e tivesse que lhe dizer quem era aquele que a acompanhava.

— Eu não tenho que te apresentar ninguém! Não haja como se fôssemos amigas!

— Por que está agindo dessa forma, Darcy, querida...? Assim você me ofende... – A loira mudou completamente a postura na frente do soldado, e ele a encarou irresoluto, sem entender o que acontecia ali.

— Me chamo James. Prazer em conhece-la. – Bucky a cumprimentava educadamente, com um aceno de cabeça.

— Nós já não nos vimos antes...? – A garota descia as escadas, no ímpeto de começar um diálogo com ele, e Darcy apenas ficava perplexa diante da situação.

— Hey, será que você pode nos dar licença, porque estávamos saindo! Não temos tempo pra perder com você! – Darcy a rebateu, assombrada ao perceber que a loira parecia ter um novo alvo em mente: Bucky Barnes.

Sim, porque a vizinha esquizofrênica não podia ver um homem, ainda mais alguém tão charmoso como o sargento, que mesmo em trajes tão simples, sempre chamava atenção.

— Eu não me recordo de tê-la visto antes... – O sargento redarguia, cortês.

— Eu sou vizinha, colega de classe e amiga de infância dela. Meu nome é Clarice Morrigan, muito prazer. – E então, a loira se aproximou rapidamente e...

O cumprimentou com um beijo no rosto, deixando uma Darcy...

.

Muito estarrecida...

.

HEEEEEEEY!!! – A estudante soltou um berro, e o soldado se assustou instantaneamente com o grito meio esgoelado da estagiária, interrompendo-os.

Clarice se afastou, com uma expressão cínica no rosto...

Já Bucky, estranhava o comportamento da estudante.

Desde quando Darcy se tornou uma pessoa histérica?

Ela podia aceitar que sua avó, as namoradas antigas do soldado e até mesmo Natasha Romanoff lhe deixassem enciumada, mas jamais permitiria que Clarice Morrigan encostasse nele.

E então, no mesmo instante...

.

Darcy o puxou pelo braço, afastando-o da loira...

.

James não entendia aquela reação violenta.

Os olhos da garota estavam em chamas, e a mesma parecia estar prestes a cometer um homicídio.

— Por que está agindo assim, Darcy? Vai me envergonhar na frente do seu... o que ele é mesmo seu? – A loira a provocava, lhe deixando ainda mais furiosa.

.

ELE É MEU PAR PARA O SOLSTÍCIO DE VERÃO DA FACULDADE!

.

A estudante conclamou, em bom e alto tom, ainda segurando o braço de Bucky, numa pose possessiva e raivosa.

O soldado ainda não conseguia compreender...

Quem era aquela...? Não podia ser a livre, leve e solta Darcy Lewis...

— Ooh, é mesmo...? Não sabia que tinha arrumado alguém... – Clarice ria falsamente por fora, mas por dentro...

Queria estrangular sua arqui-inimiga com todas as suas forças.

Por que era inaceitável que Darcy tivesse um par... ainda mais aquele homem belíssimo, que possuía os olhos mais lindos que já vira em toda sua vida...

A rivalidade entre as duas já havia passado dos limites.

Era o mais baixo nível de infantilidade e só seres primitivos e intelectualmente inferiores se comportavam daquele jeito...e as duas se encaixavam naquele patamar, se fossem avaliadas por um psicólogo.

— Pensei que ia com o Robert. – A loira rebateu, descarada.

— Você sabe que faz muito tempo que terminamos. Não seja cínica.

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— E por que terminaram...? – Clarice cruzou os braços, numa pose ostensiva.

— Ele não era digno... – Darcy respondeu, colericamente, lembrando-se de Thor quando a mesma tentava erguer o mjonir, ao qual batizou carinhosamente de mew-mew.

— Será que não foi o contrário...? – Clarice a provocava, tentando fazer com que a estudante perdesse a linha mais uma vez.

— É melhor você calar a boca, se não quiser que eu te atire pela janela desse andar. – A garota estava muito alterada e Bucky continuava notando sua reação.

Ela encarava Clarice como se estivesse prestes a voar em seu pescoço.

A vizinha de Darcy se denominava linda e interessante demais para ser esnobada...

Quem era Darcy? Uma perdedora que andava nos farrapos...

Já ela, era uma perfeita estudante universitária que em breve se formaria...

O lindo vestido da Alyce Paris que trajava em conjunto com os sapatos do Manolo Blahnik, era um perfeito contraste com o jeans surrado, a camiseta desbotada do Metallica e o All Star preto tradicional tão desgastado da estagiária...

— Você devia se acalmar... uma garota na sua idade jamais se comportaria dessa forma... – A loira continuava importunando-a, charmosamente, no ímpeto de fazer com que o soldado olhasse para ela...

— É muita barata voadora se achando borboleta... – A estudante ironizava, tamanho descaramento da loira.

— Você está agindo exatamente igual a época em que perseguia o Richard pelo campus... era uma atitude extremamente violenta e possessiva, então acho que devia tomar cuidado, ah... qual é mesmo o seu nome?

— James... – O sargento respondia mais uma vez a garota, que continuava provocando Darcy da pior forma que existia.

— Eu não sou você! Agora se nos dá licença, estávamos de saída. – E então, a estagiária puxou violentamente o braço de Bucky, tirando-o dali rapidamente.

— Cuidado, James! Essa garota é um terror na vida de qualquer homem, então sugiro que tenha um seguro de vida quando sair com ela, já que a mesma tem uns cinquenta parafusos à menos! – A loira gritou, ouvindo os dois descerem as escadas.

— Diferente de você, eu penso, logo não sou loira! – Darcy gritou de longe, ainda puxando o sargento pelo braço, que se deixou ser conduzido por ela até a garagem.

A feição da estudante era de uma pessoa descontrolada, dominadora e temperamental...

Ele a observava lhe puxando, com agressividade...

— O que está acontecendo...? Por que você agiu dessa forma com aquela garota...? – James a indagava, inocentemente.

— Garota!? Aquilo não é uma garota! É o anticristo de peruca loira com corpo de Barbie! Se liga, Bucky, eu estou furiosa!!! Mais um segundo ali e eu juro que tinha voado nela!!! – Darcy rebatia a questão, muito irritada.

A rivalidade com a loira lhe transformava numa pessoa assombrosa...

— Se acalme... nós vamos sair e você pode espairecer um pouco. Não entendo porque vocês duas têm tanta raiva uma da outra, mas se quiser desabafar, sou todo ouvidos... – Ele se oferecia, achando engraçado a cena, no entanto, Darcy levava seu ódio de infância pela loira muito a sério.

— Não! Eu não quero falar sobre esse ser de oitava categoria! Vamos sair agora e não me faça perguntas!!! – Ela gritou, desatinada.

— Ok... – James redarguiu, ainda um pouco assustado com o que vira.

.

.

A dupla montou na moto e saiu do prédio, em direção a estrada que contornava o rio Hudson.

Eles pararam na altura de West Harlem.

Os dois estavam sem capacete, o que infringia as leis de trânsito, mas era começo de madrugada, e o monitoramento nas estradas caia drasticamente.

Bucky estacionou muito perto do rio, num cais que lhes proporcionava uma vista maravilhosa.

O soldado retirou o boné, deixando-o em cima do guidão da moto.

Darcy saiu do banco de carona e correu para ver o rio...

A noite se encontrava majestosamente linda... O brilho das luzes da cidade refletia diretamente na água, num efeito espelhado esplendoroso.

Não tão longe dali, havia um palco montado com telões num gramado, e algumas pessoas aglomeradas.

Parecia uma rave, mas muito menor do que o comum...

Coincidentemente ou não, as músicas que tocavam eram todas no estilo rock clássico dos anos 70 e 80.

— Nada melhor do que estar ao livre, contemplando o Hudson a noite ao som de Metallica...! – A garota suspirava, com os braços estendidos para os lados, respirando profundamente, ouvindo o eco potente de “Fade to Black” ao fundo.

Sua camiseta nunca fez tanto sentido como naquele momento.

Bucky observava a estudante, atenciosamente, percebendo que a mesma estava mais calma depois de saírem do prédio.

— Você parece estar melhor agora... – Ele se aproximou, ficando de pé ao lado dela.

— Céus... minha reação diante da bruxa da Clarice sempre foi de deboche...!

— Não foi isso que aquela garota disse... – Bucky replicou, divertidamente.

— A Clarice é uma asna, biscoiteira que não sabe diferenciar uma tartaruga de um jabuti!!!

— Não sei porquê, mas acredito que ela esteja falando a verdade... – O soldado sorriu pretensiosamente.

— Hey! Você não sabe nada sobre mim! – Ela apontou o dedo para ele, exibindo uma feição birrenta.

— Sei muitas coisas sobre você, Lewis... – Replicou, convencido.

— Ah é!? E o que você sabe!? – Ela o questionou, indignada, parecendo uma criança teimosa.

— Sei que você gosta de cappuccino com pedacinhos de marshmallow em noites mais frias, de assistir filmes de terror de madrugada, passear pelas ruas de Nova York quando o clima está fresco e músicas antigas...

— Hmm... São muitos detalhes pra um homem antiquado reparar. – Ela cruzou os braços, o encarando-o, desconfiada.

— Você ainda não viu nada... – Bucky continuou fitando o rio, com os olhos fixos na água que refletia as luzes dos prédios do outro lado.

— Parando pra pensar... seria a Clarice a alma gêmea do Nathan!? – Darcy colocava a mão no queixo, pensativa, quando se lembrava dos dois seres mais irritantes que conhecia.

— Quem é Nathan...? – James contestou, espiando-a com o canto dos olhos.

— O Nathan é o meu maior inimigo depois da Clarice. Ele também trabalha no laboratório... Acho que odeio ele um pouco menos que ela...

— Esse cara é aquele que estava naquela festa e estava te importunando junto com o seu ex? Aquele que você derrubou com o taser?

— Sim, ele mesmo.

A impressão que tinha daquele sujeito, diferente do que Darcy pensava, não era de que o mesmo fosse seu inimigo, pelo contrário... pela leitura corporal rápida que fez do rapaz, não era a expressão de um inimigo que viu em sua frente, mas sim...

De um cara apaixonado e extremamente enciumado...

— Ele é seu inimigo? Tem certeza...? – Indagou-a, interessado em saber mais a respeito, pois tinha plena convicção que o tal Nathan era apaixonado por ela.

— Absoluta.

— Não parece...

— Você não vai começar a falar sobre teorias da conspiração bizarras onde o Nathan secretamente me ama, não é? Já basta o Andrew dizendo isso o tempo todo no meu ouvido!!!

— Quem é Andrew...? – Bucky fez uma cara perplexa e sequer disfarçou.

— Meu outro colega de trabalho, mas... por que de repente você está perguntando sobre eles? Você nunca se importou com isso antes. – A estudante arqueou uma sobrancelha, cismada.

— Só curiosidade...

— Sei...

— Você tem muitos amigos que gostam de você... O tal Terry em Washington, o Derek, Andrew... quem mais...? – Naquele momento, o soldado não estava sendo racional. Era estranho... sabia que sentia muitas coisas por Darcy, mas ciúmes não estava na lista... não até aquele momento.

Darcy fechou a cara, exprimindo uma feição emburrada.

— O que quer dizer com isso!? – A voz dela soou mais áspera.

— Bem... acho que eles devem ter visto algo especial em você...

— Não... todos eles são meus amigos... O único que acabei passando da linha foi o Ian, mas por burrice minha... eu estava com muita raiva do Robert na época... O Ian me salvou de um ataque durante a convergência em Londres e acabamos ficando juntos uns dias... porém, não foi nada sério, e ele também não quis continuar trabalhando com Jane e Erik por vários motivos... enfim, esse episódio foi um erro.

Bucky ficou em silêncio total, com uma expressão sombria, fitando-a misteriosamente...

Como assim ‘ficaram juntos uns dias’? O que ela queria dizer com isso?

— Você não vai me dizer quem é esse rapaz? – O sargento franziu o cenho, abismado.

— O Ian? Não foi ninguém importante. Eu apenas o beijei quando ele me salvou... Nada além disso.

Naquele momento, Bucky resolveu se virar para ela, um tanto chocado com as últimas declarações.

Sua expressão era sombria...

— Você beijou um cara só porque ele te salvou!? – Os olhos dele arregalaram, e sua voz fluiu muito enfática, assustado em como a garota dizia aquilo tão naturalmente.

— Qual o problema? Não tem nada demais nisso. Foi só um beijo... – Ela fez cara de paisagem, pouco se importando com o ocorrido.

James engoliu em seco. Não esperava que Darcy fosse o tipo de mulher que tomasse iniciativa e beijasse outros caras deliberadamente... talvez estivesse acostumado a enxerga-la como uma garota boba e infantil, com uma personalidade passiva quando o assunto era homens, mas pelo visto estava incrivelmente enganado.

Cada vez em que a mesma citava o nome de um homem desconhecido, amigo ou não, ex-namorado ou não, ex-caso ou não, era um tanto estranho e o sargento começava a entrar em conflito...

.

Por que a estudante nunca demonstrou interesse algum por ele? Será que havia algo de errado? Ele era uma piada ou digno de pena por conta de seu passado com a HYDRA?

.

Por mais que tentasse achar uma resposta, não conseguia... Por que Darcy era tão enigmática? Exatamente como Katherine Blanc, sua avó, foi com ele décadas atrás?

A garota estava em um nível tão inalcançável assim?

Então, mediante a tais conclusões precipitadas, com o ego e autoestima feridos, ele apenas resolveu dizer o que pensava a respeito...

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— Bem... eu estava pensando que talvez o mulherengo sargento Barnes era irritante por ter saído com tantas mulheres em encontros, mas você não fica nada atrás... – Desabafou, um tanto decepcionado com ela.

— Hey, pra sua informação, eu só tive dois namorados na vida, e fiquei com poucos garotos... a maioria foi na época da escola, ou seja, não foi nada demais! – Darcy tentava se defender, mas não sabia se isso seria o bastante.

— É mesmo...? Até que ponto você foi com seus namorados? – Alfinetou-a com uma pergunta desavergonhada, como forma de punição.

De fato, estava muito desapontado com a estudante... Talvez tenha a idealizado de uma forma pura demais pra suportar...

Mas em contrapartida, o rosto dela queimou de vergonha... Que pergunta ousada e descarada era aquela? Jamais conversaria sobre aquilo com ele...

— Isso não é da sua conta... – Ela virou o rosto, puxando a aba do boné para baixo, de uma forma que James não pudesse ver seu rosto enrubescido.

— Por que não é da minha conta? Você sempre quis saber da minha vida amorosa. Por que não posso saber da sua? – Rebateu-a, indignado.

— Por que não! – A estudante exclamou mais alto, alterada.

— Eu não me lembro de todos os encontros que fui, mas me lembro do único que sempre quis e não aconteceu, que foi com a sua avó... Ela era a mulher que eu mais quis antes de me tornar a aberração que a HYDRA me transformou... – De certa forma, era como se estivesse revivendo a mesma situação que passou na década de 40, mas com Darcy.

— E daí? – A garota contestou, como se não se importasse.

— Eu quero dizer que... nenhuma mulher me fez esquecê-la... – Ao terminar a frase, James manteve outra nas entrelinhas...

Nenhuma mulher lhe fez esquece-la, exceto Darcy...

— Que lindo, mas a minha avó se casou, envelheceu e faleceu, então acho melhor você superar... – A estudante replicou, insensivelmente.

Já estava cheia daquela ladainha com sua avó... Ela não era Katherine Blanc, mas Darcy Lewis... e a mesma fazia questão de sempre ocultar seu segundo nome que foi uma homenagem a sua avó, justamente por causa da semelhança entre elas, que faziam as pessoas compará-las... e isso a irritava profundamente.

— É fácil dizer quando você se parece tanto com ela... – Era notório que Bucky estava bem abalado com tudo o que conversavam. Não esperava que Darcy lhe dissesse coisas que lhe incomodariam tanto.

— Ah, por favor! E a sua outra namorada antes de ir pra guerra!? E a Natasha Romanoff!? – Questionou, impaciente. Não estava afim de falar sobre seus ex e nem sobre as ex dele.

O soldado ficou em silêncio, mirando o rio em sua frente.

— Ambas não foram mulheres suficientes pra mim...

— Em que sentido?

— Em todos os sentidos, inclusive nas horas mais íntimas. – A essa altura, Bucky já não estava mais ponderando o que dizia. Se chegaram num diálogo daquele nível, não havia problema algum tocar num assunto tão pessoal e reservado.

Darcy fez uma careta de espanto...

— O que quer dizer com isso!? Que elas não te satisfizeram sexualmente?

— Sim... – O soldado afirmou, mas não disse mais nada, deixando-a totalmente curiosa.

Não queria falar sobre si mesma, mas tinha muita vontade de saber mais sobre os relacionamentos antigos dele, principalmente com Natasha Romanoff.

Não era porque se comparava com ela... era apenas curiosidade... apenas...

— Posso perguntar por quê...? – A estagiária olhou pra cima, disfarçando, como se não estivesse tão interessada.

— Se quer mesmo saber, a primeira foi porque não a amava... O nome dela era Connie e nosso último encontro foi na Stark Expo. Saímos para dançar, ficamos juntos a noite inteira... Era meu último dia antes de partir definitivamente para a guerra.

— Mas ela foi sua namorada?

— Eu não sei exatamente, mas chegamos nesse nível...

— Hmm... E quanto a Viúva Negra?

— A Natalia se travestia de alguém que eu não tinha ideia quem era... Ela usava uma máscara o tempo todo... talvez porque não deixavam-na se expor, por conta de seu treinamento com a KGB... e por mais que estivesse enfeitiçado, nunca consegui enxergar quem ela era de verdade...

— Que triste... sua vida amorosa se resume a uma paixão avassaladora e não correspondida por minha avó, encontros com uma garota ao qual não amava e se forçava a ir porque achou que morreria na guerra, e por último, o envolvimento com uma espiã russa que o seduziu apenas porque estava carente... É bem deprimente e eu no seu lugar teria cogitado a hipótese de me atirar do primeiro penhasco que visse. – Darcy desdenhou, rindo vitoriosa ao concluir que o sargento Bucky Barnes nunca teve um amor verdadeiro e correspondido.

Obviamente, o soldado notou que ela ria da cara dele e resolveu se vingar.

— E os seus ex-namorados...? Souberam te tratar civilizadamente nesses momentos...? – Bucky mirou os olhos dela, fixamente, sem quebrar o contato visual.

Darcy não imaginou que ele faria uma pergunta daquelas e ficou reação...

O espanto de Darcy ficava mais evidente, na medida em que a garota abria a boca várias vezes para formular alguma resposta, mas não conseguia...

— Isso é algo muito íntimo pra dizer a você... desculpe... – Tentava disfarçar o constrangimento.

O coração dela estava muito acelerado... como eles foram parar naquela conversa?

— Você não deveria estar envergonhada em responder isso.

— Mas eu estou... sério, eu não vou falar sobre minha vida sexual com meus ex-namorados pra você! – E mais uma vez, a garota tentava se desvencilhar, falando mais alto e externando sua perplexidade.

— Por quê?

— Porque sim...!

— Eu tenho minhas dúvidas sobre isso... – Nesse momento, Darcy enxergou a sombra de um meio sorriso malicioso nos lábios do soldado.

Quem ele pensava que era? Jamais seria motivo de deboche pra ele.

Era indigno demais...

— Você quer saber como eu fui deflorada aos 18 anos de idade!? Se quiser, posso te contar então! Foi numa festa no começo do semestre da faculdade, eu estava bêbada, e então o meu ex-namorado foi logo chegando e metendo o-

— Não, pare... – James se segurou para não rir, porém não conseguiu... sua risada ficou muito nítida e os olhos da garota arregalaram.

O sargento estava caçoando dela?

— Por que está rindo? Você não tem moral pra falar de mim!

.

Isso não é ser deflorada de verdade, desculpe...

.

E então, ele sorriu, arrogantemente petulante e convencido, como se Darcy fosse uma garota idiotamente estúpida...

No mesmo instante, a estagiária deixou uma carranca horripilante tomar conta de sua face. Como ele ousava dizer uma coisa daquelas?

— E como é ser deflorada então, garanhão!? – Contestou, irritada.

— Fale do Robert... – Bucky respondia à pergunta dela com outra pergunta.

— Eu não vou dizer nada sobre aquele imbecil! – A estudante cruzou os braços, com muita raiva.

— Você sabe que os homens desse século são uns idiotas que não entendem nada sobre as mulheres, não é?

— E você entende...? – Ela franziu o cenho.

— Não sei... mas por que não comparamos nossas experiências? Me diga como foi o desempenho do Robert... – O sargento estava disposto a entender mais sobre os relacionamentos antigos dela e mostrava total interesse.

— Ahaahahaha não vou dizer mesmo! Você era super experiente em deflorar donzelas, não é!? Como as mulheres de antigamente eram idiotas! Esperavam o primeiro garanhão bonito e de “boa índole” prometer que ia casar com elas pra enfim abrirem as pernas!

De repente, Darcy se via encurralada e teria de atacar para sair daquela armadilha.

— Isso não é verdade...

— Não é, Don Juan...? Tem certeza? – Insistia, ainda tentando escapar.

— Você não está entendendo nada do que estou dizendo... – Bucky percebia que Darcy estava perdendo a calma.

— Me poupe, James... Eu não sou uma garotinha inepta que espera o príncipe encantado com sua historinha patética de felizes para sempre! Isso não existe! – Ela estava com raiva, e prova disso era o fato de o chamar de “James”.

— Você até teve experiências reais, mas não sabe o que é a verdadeira essência disso... – O tom de voz do soldado era circunspecto, mas ao mesmo tempo inefável...

Mas ela chacoalhou a cabeça, para sair do frenesi.

— Você disse que as duas mulheres com quem mais se envolveu, não foram suficientes, e agora quer esfregar na minha cara que eu não sei a verdadeira essência disso? Onde está a sua lógica?

.

.

Existe uma enorme diferença entre copular e fazer amor... entenda isso de uma vez, boneca...

.

.

Oi?

1

2

3

4

5

O que ele tinha dito...?

A voz de James soou mais rouca e grave do que o comum, ao proferir tais palavras tão ousadas...

Darcy sempre achou o timbre de sua voz a ressonância mais angelical e sexy que ouvira em toda a sua vida, mas naquele momento... uau, ele tinha se superado...

Porém, o que exatamente ele queria dizer...?

As pessoas do século 21 copulavam e as da década de 40 faziam amor? Era isso?

Darcy fez uma careta, totalmente desacreditada...

Ele realmente disse aquilo? De onde o soldado tirava tanta coragem pra fazer uma afirmação daquele nível sem o mínimo de constrangimento?

— Você está me dizendo que antigamente as pessoas transavam por amor e as de hoje transam apenas por que dá vontade?

— Exatamente. Agora sim você entendeu. Parabéns. – Ele sorriu, debochado.

— Você está me comparando a um animal? – A feição da estagiária era de perplexidade pura... ainda não acreditava que o soldado lhe dizia tudo aquilo.

— Não... você apenas não conheceu o amor verdadeiro a ponto de entender o que é isso...

— Como é que eu vou saber quando o amor é verdadeiro!? Eu não tenho uma bola de cristal pra adivinhar! – A garota vociferou pela milionésima vez naquela noite.

— Não é isso... você só precisa achar... o parceiro certo... alguém que assuma o seu papel e cumpra a promessa de mantê-lo até a morte. É assim que um relacionamento verdadeiro dura até o fim.

Darcy fez cara de paisagem depois de ouvir ‘cumpra a promessa de mantê-lo até a morte’.

— Alôôôô, o mundo hoje em dia não é assim! As pessoas não começam um relacionamento pensando em se casar!

— E esse é o problema... esse século banalizou o casamento. Os homens não podem cumprir os seus papeis porque as mulheres estão ocupando o espaço que antes era deles, mas a culpa não é delas, mas sim deles, que estão falhando miseravelmente em serem homens de verdade, obrigando-as a fazerem o que eles deveriam fazer...

— Então a culpa é dos homens!?

— É uma culpa recorrente... acho que ambos os sexos estão falhando e isso está gerando um ciclo de gerações perdidas...

— Como você chegou a essa conclusão? – Seus olhos o rodearam, desconfiada.

Era isso que ele fazia no apartamento quando estava sozinho? Refletia sobre o declínio da humanidade?

— Eu li bastante a respeito e observei um pouco o comportamento das mulheres ao meu redor, incluindo você. – James piscou, a encarando seriamente.

— E o que você observou de errado em mim? – Darcy estava ficando assustada, e sua expressão mostrava isso.

— Excesso de independência, pessimismo, individualismo e confiança em si própria. Você está iludida com todos os homens, e acha que todos são iguais, generalizando-os e os colocando numa posição inferior à sua.

— Ah, então você está dizendo que eles têm de estar acima de mim, por que sou mulher!?

— Não. O homem e a mulher são seres complementares. São distintos, e ambos se completam. Essa denotação de que um é superior e outro inferior nunca fez sentido. Os dois têm o mesmo nível de importância.

— Uau... mas que discurso criacionista e equilibrado... é muito lindo, eu amo essa ideia, mas na prática isso não funciona!

— Não existe porque você não conheceu ninguém assim... – Seus olhos pestanearam, lentamente, e o soldado sorriu de modo singelo, porém confiante.

Nem mesmo ele acreditou que foi tão longe com tal conclusão, mas sabia exatamente o que seus impulsos lhe diziam...

Secretamente, James desejava que ao menos uma vez, Darcy o escolhesse... Ele não tinha ideia do que seria capaz, mas se naquele exato momento ela o escolhesse, então...

Tudo podia tomar um rumo insano e seus sentidos imploravam por isso...

Ainda que sua razão lhe dissesse para não prosseguir, estava ávido por vivenciar tais experiências com a estudante... era complicado, irresponsável, leviano e totalmente absurdo...

Talvez o ápice de seu limite...

Darcy arregalou os olhos.

Por um momento, era como se o sargento estivesse dizendo que ele era esse alguém...? mas não fazia sentido... Ele não amava Natasha Romanoff? E quanto à sua avó? Será que Bucky não estava preso à imagem de Katherine Blanc e associando ela à sua avó, apenas porque as duas se pareciam fisicamente?

Por um segundo, Darcy sentiu uma onda de adrenalina percorrer por todo o seu corpo, como se James estivesse lhe dizendo implicitamente que gostava dela...

Se a garota cedesse, seria como se deixar levar pelo sopro do vento daquela noite, sentindo seus pés saírem completamente do chão e mergulhando na magia do momento, como um pássaro voando sem direção...

Ela experimentava a harmonia daquele lugar complementar seu delírio, voando tão alto, fascinada pelas cores das luzes da cidade, refletidas na água do rio... contemplando toda a sua transparência, ao som de The Unforgiven do Metallica ecoando no fundo...

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Seu pobre coração se desvanecia, em ritmadas batidas...

A garota não conseguia olhar para o soldado naquele momento... estava muito vulnerável e precisava desesperadamente esconder seu rosto, ou talvez Bucky descobriria sobre seus mais confidenciais segredos que envolviam a paixão ardente que nutria por ele, e...

Céus, ele não podia descobrir...

A estudante chacoalhou a cabeça e tapou os ouvidos, mas dessa vez, virando de costas para o sargento.

— Chega! Eu não quero mais falar sobre isso com você!!! – E então, ela andou alguns passos para longe dele.

Observando todo o embaraço da estudante, James mais uma vez sorriu... Amava o jeito como Darcy andava... amava suas expressões faciais... amava o brilho cintilante de seus olhos quando demonstravam surpresa... amava como o vento tocava seus cabelos... Ele amava absolutamente tudo nela...

Darcy Katherine Lewis adoçava todas as suas mais angustiantes aflições...

O soldado resolveu caminhar na direção dela, no ímpeto de alcança-la, e então...

.

Tirou o boné que cobria a cabeça dela, deixando enfim, suas longas madeixas castanhas livres...

.

A estagiária o fitou com surpresa, expondo mais uma vez a resplandecência de seus lindos olhos azuis...

A brisa afagava os cachos ondulados... oscilando entre seus olhos... uma hora escondendo-os, outra hora os revelando... sempre luminosos... sempre cintilantes...

Quando ambos olhares se cruzavam, James e Darcy sentiam um êxtase de emoções que não era demonstrado, mas podia ser presenciado quando vislumbravam seus próprios rostos...

Os olhos dos dois eram como janelas de sonhos e desejos que por algum motivo podiam ser alcançados, mesmo sem se tocarem, e aqueles lugares não eram estranhos... eram exatamente onde queriam estar, mas não podiam entrar...

A expressão dela congelou... à medida em que o fitava... surpresa, indigesta, imprecisa...

O sargento manteve o semblante firme e convicto, encarando-a ternamente...

Darcy sentia-se embalada pelos misteriosos olhos azulados, tão lustrosos... tão gélidos e penetrantes... que lhe faziam viajar para lugares nunca vistos, ao qual ansiava desesperadamente descobrir os segredos mais ocultos...

Uma música começava a tocar... e Bucky a conhecia...

Whitesnake – Is this Love...

Coincidentemente, aquela música parecia lhe perseguir nos últimos dias... e ele descobriu que amava a canção, apesar da letra narrar tudo o que sentia atualmente...

Então, o soldado resolveu se aproximar ainda mais da estudante, fitando intensamente seus olhos, com um semblante incrivelmente emblemático.

Sem entender aquela expressão misteriosa, ela franziu o cenho, mas...

Tudo ficou ainda mais incompreensível quando James pegou em sua delicada mão e a estendeu, prendendo-a inteiramente, entrelaçando os dedos das mãos dela nos seus dedos humanos...

Darcy ficou petrificada, não compreendendo aquele gesto, porém, o mesmo explicaria um segundo depois...

.

Você não quer dançar...?

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Ele sugeriu, provocativo, com um lindo sorriso nos lábios formosamente esculpidos.

Darcy esboçou uma feição de surpresa. Ele queria dançar...? Não podia ser verdade...

De onde James Buchanan Barnes teve tal ideia absurdamente insana e tão inesperada?

Era uma piada...? Uma brincadeira...?

A garota o encarou, desconfiada...

— Você está curtindo com a minha cara? – A estudante retorquiu, com uma carranca no rosto, por conta da recente ‘piada’, estando arredia às ações do sargento.

— Claro que não... eu conheço essa banda. Ela sempre toca naquela estação de rádio que você deixa sintonizada no aparelho de som da sala... – James revelava, deixando-a um tanto atônita.

— Você gosta de Whitesnake!? Desde quando!? – Retorquiu, boquiaberta.

— Desde que comecei a morar com você...

— Espera aí... Isso é novidade pra mim...! Quais outras bandas você gostou!?

— Quais...? Bem... Scorpions, Bon Jovi, Duran Duran, Tears for Fears, A-ha e-

— Hey, hey! Como assim!? Por que nunca me contou!? – James notava um brilho nos olhos da estudante, apenas por citar vários artistas antigos.

— Por que não tive oportunidade... você nunca estava em casa... – Ele sorriu singelamente, e Darcy apenas sentiu-se derreter diante daquele sorriso magicamente angelical.

A estagiária sorriu de volta, um tanto surpreendida... Seus olhos brilhavam intensamente... Não imaginava que Bucky se interessaria por aquele tipo de música...

— Então quer dizer, que você se simpatizou com esses estilos musicais? Sabe que isso não anda muito na moda ultimamente, certo?

— Isso não tem importância... sou um homem a moda antiga de qualquer forma... – Replicou, convicto.

— Uau... acho que você conquistou alguns pontos a mais comigo, sargento... – Ela segurou a mão dele de volta, com firmeza, deixando as mãos completamente entrelaçadas.

Os dois permaneceram com as mãos daquela forma muita por um tempo enquanto se encaravam impetuosamente...

— Você ainda não respondeu a minha pergunta... – Bucky insistia sobre dançar, mas a garota não parecia muito receptiva.

— Se eu quero dançar...? Bem... Não... quem sabe numa próxima oportunidade...? – Rebateu, não estando disposta a pagar tal mico na frente das poucas pessoas que transitavam pelo local, ainda que de longe.

— É uma pena, senhorita... mas eu espero que seja logo...

— Não precisa esfregar na minha cara que você é um bom dançarino... Eu sei dançar sozinha numa balada, música eletrônica enquanto estou alcoolizada. – Darcy fazia uma careta engraçada, para mostrar que preferia sempre estar sozinha...

— Isso não é dançar...

— É sim!

— Você realmente não sabe nada sobre a vida, boneca... mas se quiser, estou aqui para te ensinar... – Ele piscou lentamente... seus cílios moviam-se devagar e tal expressão era encantadora...

— Não, obrigada, sargento... – A estagiária odiava quando o soldado bancava o superior pra cima dela.

Ainda segurando a delicada e pequena mão feminina, Bucky permaneceu observando-a em silêncio...

Em meio aos desvairos de deseja-la de todas as formas possíveis, ansiava passar a maior parte de seu tempo com ela, já que teria de partir em breve... mas a contraponto, não queria confundi-la, ainda que soubesse que seus sentimentos não fossem recíprocos...

A música ressoava de longe... de forma ecoante e vibrante...

.

I can't stop the feeling (Eu não posso evitar esse sentimento)

I've been this way before (Já estive desse jeito antes)

But with you I've found the key (Mas com você eu encontrei a chave)

To open any door (Para abrir qualquer porta)

I can feel my love for you (Eu posso sentir meu amor por você)

Growing stronger day by day (Ficando mais forte dia a dia)

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O brilho colorido das luzes do rio, realçava a beleza estonteante da estudante...

O rosto de Darcy esbanjava serenidade...

O sargento perdeu as palavras que vinham em sua mente... e não viu mais nada ao redor...

Tudo era reluzente... Pois no olhar esplendidamente azul encontrava o brilho da luz que aquecia sua alma, rompendo toda a escuridão...

Doce oásis... O céu azul em seu auge... Candura ígnea...

Os olhos dela eram como estrelas-guia... labirintos místicos, longos e sidéreos...

Darcy era um mundo profundo... um pedaço de um térreo paraíso que o fascinava, o aliciava e o acalentava...

Ela lhe trazia a paz que tanto almejava e precisava...

Naquele momento, os cabelos da garota voavam e soltavam pólens invisíveis... Dignos de uma linda flor no auge de sua beleza...

E James assemelhava Darcy à um lírio, cujo encanto inexplicável atraia... seduzia e cativava...

Diante de toda aquela exposição onde sensações e efeitos intensos tomavam conta de seus sentidos, o soldado chegava a conclusões que não imaginava que teria a respeito dela...

Demorou um longo tempo para acreditar e aceitar, mas tudo estava claro e límpido como a neve... transparente como um cubo de gelo...

— Depois de todo esse tempo, em que nível acha que estamos...? – Indagou-a, completamente enfeitiçado por seus encantos...

— Nível...? Como assim? – A estudante arqueou uma sobrancelha.

— Nós dois...

A garota estranhava aquela pergunta repentina, mas quando pensou a respeito, automaticamente uma resposta imediata lhe veio à mente.

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Somos amigos...

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— Amigos...? Assim como eu e Steve fomos um dia...?

— Acho que sim... Por que não...? Mesmo depois de décadas, o Capitão mostrou toda a consideração que ainda tem por você, não foi...?

— Consideração...? – Aquilo não era uma indagação, mas sim uma reflexão...

— A amizade é tão bonita quanto o amor... e quase sempre dura mais tempo... – Então, Darcy sorriu docemente em resposta...

Quando o soldado pensou a respeito... presumiu que a distância entre a amizade e o amor, podia ser a distância de um beijo...

Era isso que faltava para eles...?

O sargento entendia o que estava acontecendo...

Então, finalmente, Bucky caiu em si... e...

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Descobriu da melhor forma que possuía uma paixão unilateral por Darcy...

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A primavera finalmente chegava para o Soldado Invernal...

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