Wintershock

A gratidão de um soldado quase abatido


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Rendam-se agora, ou preparem-se para lutar... Meow, é isso aí...

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Darcy surgia atrás do corpo tombado de Stephan, com um taser em mãos, satirizando toda a situação com a clássica frase da equipe Rocket do desenho Pokémon.

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Sua feição era de deboche.

— Sempre quis falar isso em uma situação de risco...! – Sorria, insolente.

Os agentes não entendiam como ela poderia estar ali, se estava devidamente vigiada, amarrada e presa numa sala.

Imediatamente um deles correu para ataca-la, mas a mesma foi muito mais rápida, apontando o taser e atirando no mesmo instante para derrubá-lo.

O alvo caiu no chão...

— Então gente... esse choque aqui é potente... foi mal... – E mais uma vez a estagiária ironizava, despreocupadamente.

O outro agente à espreita, se aprontava para acertá-la com um dos bastões que se encontrava no chão, mas Bucky aproveitou a brecha e facilmente o derrubou no chão com um potente chute.

O homem se levantou com o bastão empunhado, no ímpeto de acertá-lo, porém, o soldado levantou os pulsos e o fez acertar as algemas de aço, danificando-as.

A partir dali, foi muito fácil se livrar delas.

Darcy que observava tudo de longe, ficava pasma com o que via em sua frente.

Parece o Destruidor das Tartarugas Ninjas...! – Referindo-se à aparência do sargento, que se encontrava de máscara.

Bucky se aproximava lentamente do último agente daquela base, e seu olhar era terrivelmente sombrio... Não parecia ser mais o mesmo de minutos atrás... Ele se movia exatamente como uma máquina prestes a matar...

Alguns ruídos cibernéticos saiam de seu braço, em preparação para um violento ataque... E então...

Ele acertou o agente com um potente soco no tórax, fazendo com que o corpo quebrasse vária caixas de madeira atrás, tamanho impacto.

Darcy se assustou imediatamente... E se perguntava se ele não tinha o matado.

Bucky permaneceu imóvel e em silêncio. Dois minutos atrás estava prestes a entrar pelos portões do inferno da lavagem cerebral outra vez, o que fez sua mente se perder novamente, entre as fronteiras da razão do Sargento James Buchanan Barnes e o impiedoso Soldado Invernal.

O resultado...

Sua mente se encontrava em dois lugares ao mesmo tempo, e estava tendo dificuldades de assimilar a realidade à sua volta...

Darcy caminhou lentos passos em sua direção, temendo que aquele que estivesse em sua frente não fosse o mesmo Bucky de sempre.

A densa aura melancólica que emanava de seu olhar, obscurecia tudo em volta...

Parou há dois passos atrás dele... O clima estava incrivelmente pesado...

Internamente, ele sentia que o brilho de sua existência se apagava aos poucos... Suas esperanças perdidas definhavam junto com sua mente em estado de decomposição...

Seria impossível resgatá-lo daquele abismo escuro, pois se encontrava perdido no tempo que passou e que não se lembrava... Um vale de tristeza onde sua alma enlouquecia entre adormecer eternamente ou despertar...

Parte dele queria voltar ao tempo em que ficou no esquecimento, no velho livro da vida que perdeu... A outra queria morrer e nunca mais acordar...

O soldado permanecia submerso em diversas dimensões, sem saber para onde ir... Era como se sua mente divagasse por vários lugares e acontecimentos que não se recordava, tornando tudo ainda mais confuso de se entender... Um mundo espelhado e quebrado por milhares de fragmentos que não fazia ideia de onde vinham e nem onde deveriam se encaixar...

Estava incapacitado em todos os sentidos...

Emocionalmente. Quimicamente. Fisicamente. Mentalmente.

— Bucky... – Uma voz feminina o chamava... O timbre de sua voz parecia familiar, mas ele não conseguia se recordar...

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Foi então que ele se virou para ela...

Darcy via em sua frente o Soldado Invernal... Em seus reais trajes, sua personalidade e ações... Exatamente como quando o viu pela primeira vez em Washington DC...

Sua expressão era aterrorizante e quase irreconhecível com a máscara cobrindo metade de seu rosto... O aspecto sombrio dos olhos contornados pela fumaça preta transfigurava sua face com a de um perfeito assassino... E aquilo...

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Era assustador...

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O barulho do nada... Que não silenciava a dor que habitava nele... Deixava tudo ainda mais difícil, e não conseguia compreender o que estava acontecendo...

O semblante da garota se desfez em apreensão e receio... Não sabia o que estava sobrevindo dentro dele naquele momento.

Bucky... Você sabe quem eu sou...? – Contestou, no intuito de que a reconhecesse.

Mas tudo o que a estudante teve em resposta foi uma expressão confusa, como se nunca tivesse lhe visto antes.

O rosto que transparecia uma atmosfera macabra, se fechava aos poucos numa aparência ainda mais mortífera e feral do que antes. E isso fez com que recuasse dois passos para trás.

Ela não acreditava que aquilo estava acontecendo pela... Quarta ou quinta vez? Quando aquele pesadelo acabaria?

O ódio que emanava dele, era cúmplice do olhar totalmente sinistro, e podia sentir que em pouco segundos, ele estaria prestes...

A matá-la...

— Bucky, escute, sou eu! Darcy! Você veio até aqui me resgatar! Estamos nessa, juntos há quase dois meses! Tente se lembrar de mim! – Sabia que precisava fazer alguma coisa, pois o soldado estava prestes a trucida-la em poucos segundos.

Recuando para trás, a garota sentiu a parede da sala cerca-la entre ele.

Estava acontecendo tudo de novo...

— Diga alguma coisa! – Insistiu. Sua voz soou mais alta e desesperada.

Mas a expressão sombria e indiferente permanecia, enquanto se aproximava lentamente dela.

— Depois de me resgatar, essa é a hora onde você se lembra de mim, como nos filmes e novelas! – Protestava, na ansiedade de que ele a matasse de verdade.

Notava o olhar azul letífero se mover sobre ela, causando uma onda de choque interna, a ponto de sentir todos os pelos de seu corpo eriçarem.

O ruído cibernético do mecanismo do braço biônico pode ser ouvido e a estudante fechou os olhos por instinto...

Estava tão aterrorizada que uma forte compressão em seu estômago fez suas pernas cambalearem...

Não, Bucky... por favor... – Murmurou, desolada...

Seu coração disparava descompassado e sua respiração já estava totalmente irregular.

O som do metal ressoava como um rugido de uma fera enclausurada, e...

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O braço biônico agarrou o pescoço feminino...

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A feição de Darcy era de pura consternação... Abriu os olhos lentamente e avistou a face dele...

Olhos inexpressivos e cansados... Como se já estivesse esgotado mentalmente e não soubesse mais o que fazer...

Seu estado parecia vegetativo... Mesmo consciente...

Os cabelos escuros do soldado pousaram na pele alva suja de sangue... James tinha se machucado ao lutar contra todos aqueles agentes.

Darcy também se encontrava cansada de tudo aquilo... E vê-lo naquela situação lhe causava uma dor insuportável...

Nem mesmo ela sabia o que estava acontecendo... Um grito ficou sufocado em sua garganta antes de soltá-lo completamente, e então...

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Tudo que eu quero é que você se lembre de mim...!

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Clamou em voz alta, num misto de desespero e medo.

A apreensão tomava conta de seus sentidos... a feição angustiante da garota podia ser notada pelos olhos frios do sargento...

As pálpebras dela pesaram e se fecharam, deixando uma lágrima escorrer por sua bochecha...

Aos poucos a garota começou a gemer, formando um choro... Soluços ininterruptos fizeram com que novas gotas se formassem e despencassem de seus olhos...

O brilho de suas lágrimas reluzia como cristais límpidos que esfoliavam a pele incrivelmente lisa...

Tudo tão puro e translúcido...

Ela tinha a terrível sensação de que quanto mais tentava caminhar em sua direção, tudo parecia longe com a dolorosa visão de querer chegar e nunca conseguir...

Não aceitava a ideia de que Bucky nunca mais se lembraria dela... Era insuportável...

Não era mais por causa dele, mas por causa dela... A dor de imaginar que sua existência pudesse ter sido apagada definitivamente da mente do sargento, lhe fazia ter uma sensação de quase morte...

Tudo podia acontecer... mas James não podia esquecer quem ela era...

A garota agarrou a mão de metal que segurava se pescoço, e então...

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Sorriu ternamente para ele...

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— Você pode me matar, mas... Por favor... Não se esqueça de mim... Eu te imploro...! – A voz trêmula, ecoava fortemente em seus ouvidos, o que fez com que ele largasse o aperto no pescoço dela...

James sentiu um estalo em sua cabeça ao vislumbrar os olhos azulados da estudante o mirarem com aflição.

Seu nome automaticamente veio em sua mente...

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“Darcy...”

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Mas...

Stephan Ludvig havia recobrado a consciência e rapidamente pegou um dos bastões de choque, no intuito de acertá-lo por trás...

A estudante percebeu que James seria fatalmente atingindo, então...

Num ato impensado, ela empurrou o soldado e se jogou na frente dele....

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Sendo acertada em seu lugar, por um ataque violento...

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O resultado...?

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Darcy caia ferida no chão...

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Surpreendido pelo que vira em sua frente, sua mente deu um estouro e James sentiu um clarão dentro de si.

Suas memórias e consciência eram rapidamente reavidas... Sua face nublou... E seu corpo foi tomado por uma onda de fúria...

Ele o mataria... E seria naquele momento...

Bucky se aproximou rapidamente do agente e avançou com uma série de golpes fatais que o atingiram a ponto de não conseguir se mexer mais.

Caído, o soldado o pegou pelo colarinho e passou a desferir vários socos em seu rosto, com seu braço de metal.

Mais alguns socos e a cabeça do agente seria estraçalhada.

O brilho no olhar de uma besta feroz e diabólica que almejava matar qualquer um que a machucasse, podia ser facilmente notado...

Mas do outro lado...

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PARE...!

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A voz de Darcy fez com que Bucky cessasse, com o punho fechado no ar.

Ele olhou para trás, e a viu se arrastando, tentando desesperadamente se locomover, no desígnio de impedi-lo de matar.

Darcy...! – Sussurrou... Totalmente chocado com a cena.

Rapidamente o soldado se afastou de perto do agente e correu para socorrê-la.

— Você está bem!? – A forçou a se levantar, percebendo o quão machucada ela estava.

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— Acho que... Não... – A estudante sorriu singelamente, mesmo ferida.

Estava abismado com seu terrível senso de humor fora de hora. Mesmo machucada conseguia sorrir daquela forma?

— Você devia ter esperado que eu chegasse até você! Porque saiu e se arriscou tanto!? Por que entrou na minha frente!? Você nunca teria chance contra eles! – Em tom de fúria, desesperadamente gritava com ela.

A garota riu... Não sabia se ficava triste por conta de todo aquele show de horrores com a HYDRA, ou se ficava feliz por ele se lembrar dela.

Abalado pelo fato de que a mesma aceitava ser morta por ele, não conseguia entender porque não queria que ele se esquecesse dela...

O soldado a fitou profundamente, vendo o quão ferida Darcy se encontrava. Ela estava sangrando no local em que foi atingida...

— Por que não quer que eu me esqueça de você!? Desde quando arriscar sua vida por mim vale a pena!? – Mais uma vez, seus pensamentos sobre Darcy se encontravam confusos e o sargento estava completamente em choque com tais palavras... Desde quando ele era tão importante pra ela?

— Eu sei... Eu sou uma louca por fazer isso, mas eu não podia te deixar aqui... Não podia deixar que te machucassem daquele modo cruel de novo... Eu não quero que você tome outro choque na cabeça... Além de ser doloroso, você não se lembraria mais de mim...

Por que ela se arriscaria tanto por ele...? Qual era o real motivo...?

— Você tem ideia do que está dizendo...? – Redarguiu, abismado.

— Vamos esquecer isso por enquanto...? É complicado e eu não estou afim de falar mais sobre isso... – Desconversava. Não estava disposta a pensar sobre aquilo... Tudo era muito recente, além do mais, estava sentindo um desconforto horrível em seu ombro.

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Os dois saíam do local, depois de ter certeza que os agentes não se levantariam daquele lugar depois de algumas horas.

Havia uma espécie de gás do sono no sistema de segurança daquela base, e ele o acionou.

Quebraram todas as câmeras e escutas, assim como todos os equipamentos de pesquisa e espionagem.

Estava tudo escuro, e alguns carros se encontravam destruídos ao redor do local isolado. Havia um parque do outro lado e um porto do outro. A moto da garota estava perto de uma estrada que lhes dariam fácil acesso à rodovia para Nova York.

Teriam de sair dali em menos de uma hora e meia, pois outros agentes da HYDRA poderiam aparecer repentinamente.

No caminho, Bucky ajudava Darcy a andar, mas a garota tropeçou e forçou seu ombro esquerdo para se manter de pé...

Ela gritou de dor como nunca antes em sua vida.

James ficou assustado com o que vira... Ele nunca presenciou a estudante expressar tanta dor antes... o que tinham feito com ela?

— Você foi acertada no ombro...?

— Sim... – Redarguia com muita dificuldade.

O soldado tomou a iniciativa de puxar o zíper da blusa de moletom dela, retirando-a com cuidado, deixando-a apenas com a regata preta que estava vestida por baixo, expondo completamente seus braços, mas...

Ele percebeu uma contusão enorme no ombro direito da garota, completamente arroxeado e se assustou com o que vira...

Os olhos do soldado se alargaram... perplexos...

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Seu ombro está deslocado...

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Darcy lançou um olhar assustado e ao mesmo tempo exausto para ele... A garota estava suando frio e sentindo muita dor no local exposto...

— Ooh céus... Minha vida é tão ruim... – Se lamentou, em tom choroso.

Ele a olhou com pena. Sabia que a dor que estava sentindo era intensa. O local da lesão estava roxo. Ela havia levado uma pancada muito forte.

Não podia se perdoar por pensar que tudo aquilo estava acontecendo por culpa dele...

— Precisamos colocá-lo no lugar, então preciso fazer uma redução em seu ombro... Basicamente, preciso manipular suavemente a cabeça do úmero para a posição anatômica habitual... – Revelava, enquanto analisava o ombro feminino.

— Uau... Quando foi que você virou um perito em ortopedia...? – Ela sorriu, admirada.

James estava incrivelmente assustador com as pálpebras sujas de fumaça e aquela máscara que fazia parte de seu traje.

— Não é hora para piadas. Isso é muito sério. – Redarguiu rígido.

— Certo... Então faça... – Afirmava convicta.

Bucky avaliava por completo o local, para saber a posição exata e empurrar o osso corretamente.

— Isso... Vai doer... – A fitava com muito pesar. Sabia que a estudante poderia não ser suscetível aquele tipo de dor...

Imaginá-la passar por aquele procedimento, deixava seu coração imensamente pesado...

— Eu imagino, mas se não tem jeito... – Replicava enquanto suava frio. Darcy parecia não estar assimilando muito bem a realidade, talvez por causa da dor.

E então, ela começou a dizer coisas desconexas logo em seguida...

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Nasa descobre sete novos planetas e eu ainda não descobri o que eu estou fazendo nesse...

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A garota articulou rapidamente, algo fora do contexto do que estavam conversando.

— Você está delirando...? – Ele a encarou, perplexo.

— Estou tentando aliviar a tensão... – E então, a estagiária sorriu, debochadamente.

— Não há outro jeito... preciso colocar seu ombro de volta no lugar...

— Vá em frente, Bucky... eu aguento... – Ela piscou, disfarçando que por dentro estava morrendo de medo.

— Isso não devia estar acontecendo... a culpa é minha... se eu soubesse que você sairia machucada... – O soldado lançou um olhar consternado em sua direção, se martirizando por não ter sido capaz de protege-la.

— Hey... nós não tínhamos ideia que isso aconteceria... então relaxa, soldado. Posso não ser forte fisicamente, mas meu espírito é forte... eu vou passar por isso, por que você está ao meu lado... – E então, a estudante sorriu, docemente confiante...

Ao encará-la, James percebeu que estava em conflito...

Seu autocontrole estava quebrando e sua mente caindo aos pedaços...

Saber que lhe causaria dor, era algo que lhe estilhaçava por dentro... Darcy não merecia aquilo...

Então, o soldado suspirou profundamente, tentando se controlar e deixar a razão assumir o domínio de sua mente mais uma vez.

— Então... Vou fazer o procedimento agora...

— Eu estou pronta...

O sargento hesitou por um momento. Não estava totalmente preparado para fazer aquilo... Saber que Darcy sentiria dor, lhe causava muita aflição...

Uma aflição descomedida... imensurável...

Então James respirou fundo e contou mentalmente até três... e...

Finalmente empurrou com muita força o osso para dentro, na posição correta, o que fez Darcy soltar um grito violento de tamanho sofrimento...

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A dor era insuportável...

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Longos segundos que pareciam durar uma eternidade, fizeram a garota chorar como uma criança e derramar lágrimas de suplício...

Bucky a fitou com tamanha comiseração... Céus... Ela era tão frágil...

E num ímpeto, a puxou contra seu peito, afagando os cabelos ondulados num carinho melancólico, suportando os gritos intensos e as gotas carregadas de dor... uma agonia infernal...

James a abraçou delicadamente, segurando seus braços com muito cuidado e tomando a responsabilidade de lidar com todo o seu sofrimento naquele momento...

Seus cabelos, acariciados pelo toque suave da mão humana e da mão metálica...

Em meio aos prantos, Darcy sentia os braços firmes do soldado sustentarem o peso de seu corpo... Bucky suportava o corpo feminino lhe empurrando, num mecanismo natural e desesperado de aliviar a dor...

A deixava chorar em seu peito... Sua dor agonizante lhe atingia certeiramente de alguma forma, embora não soubesse o porquê...

O que estava acontecendo afinal? Imaginar que poderia perde-la, era algo inaceitável... mas... por quê...?

Darcy cerrava os dentes, tentando suprimir suas lágrimas, mas as mesmas insistiam em germinar uma após a outra, e escoavam incessantemente por seu rosto... por conta da imensa aflição.

Riachos de lágrimas, dimanando incansavelmente por precipícios aos olhos fechados...

Longos minutos se passaram e a dor ia se dissipando com muita dificuldade.

Nesse tempo, ele não permitiu que seus braços deixassem de cerca-la por completo e nem de acariciar seus cabelos...

Seus dedos vagueavam sobre as mechas onduladas, num afago desesperado em confortá-la...

Darcy ainda gemia e suspirava pesadamente... Porém, o soldado delicadamente a forçou levantar seu rosto, erguendo seu queixo entre o indicador e o polegar da mão de metal...

Ele a contemplou... Numa expressão jamais vista...

Seus olhos... Marejados em lágrimas... E mais delineados que o comum...

Seus lábios.... Trêmulos e muito avermelhados...

Sua expressão de dor, também lhe causava dor...

Odiava vê-la chorar daquela forma... E odiava ainda mais saber que ele era o culpado...

Bucky percebia aos poucos, que Darcy já não era uma pessoa comum para ele...

Ela era a invasão arrebatadora que confundia tudo que ousava pensar...

Ela era o motivo de tantos motivos...

Ou o próprio motivo...

Queria matar o desejo de apreciar os olhos palidamente azuis que lhe fitavam com tanta melancolia...

E cada vez em que a espreitava com seu olhar, notava tantas coisas belas e deslumbrantes...

Seu cheiro doce e sua aparência delicada...

Sua pele cândida e seus fascinantes olhos azuis em múltiplas nuances que variavam desde o azul índigo ao azul celeste... Lembrando o céu e o oceano numa tarde quente de verão...

Sua pele em toques de porcelana... Lisa e suave o bastante, como se pudesse quebrar...

E tudo isso desencadeava pulsações latejadas em seu peito, que lhe aqueciam de forma misteriosa...

De algum jeito, ele conhecia aquela sensação... Mas não se recordava onde viveu todo aquele mar de emoções...

Ele traçou a bochecha dela com um dedo de metal, num meigo carinho que a distraísse daquela dolorosa desolação...

Darcy sentia o toque do metal frio em sua face... Os dedos dele deslizaram perfeitamente sobre sua pele...

Bucky acariciava a ponta do polegar sobre a maçã do rosto dela...

Sua pele tão úmida e incandescente...

Ela era quase intocável...

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A estudante ainda sentia um tortuoso desconforto em seu ombro, mas já se encontrava imersa diante do afetuoso toque que ele lhe concedia...

Seu coração batia desvairadamente... Diante do dono daquele lindo e terrível par de olhos...

A noite estava gelada, mesmo sendo primavera... E o frio, pelo vento se esmerava...

Facilmente ela sentiu um arrepio agudo... Uma dor agridoce... Que ferroava seu coração como uma lâmina afiada...

Magicamente entorpecida, flutuava sobre a avalanche congelada e tempestuosa do olhar masculino, realçado pela sombra forte ao redor de suas pálpebras...

Fascinantemente e quimicamente atraída pela expressão atraente e viril... E as linhas pálidas que compunham seu rosto e sua pele fria...

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O Soldado Invernal era... assombrosamente divino...

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James ainda estava com a máscara e Darcy ergueu a mão para tirá-la...

O soldado apenas permaneceu imóvel, deixando que ela retirasse seu acessório de combate... e quando o fez, a garota apenas se sentiu ainda mais fascinada por contemplá-lo naquela posição...

Ela agora vislumbrava o rosto de James por inteiro... e céus... mesmo naquela condição sua aparência lhe aprazia em todos os sentidos... estava narcotizada pela belíssima fisionomia do Soldado Invernal...

Seus belíssimos olhos azuis gelo eram ainda mais destacados pela sombra preta de suas pálpebras...

A noite seguia gélida... as estrelas estalavam no alto do céu... a lua estava cheia... os astros se divertiam...

As nuvens se dividiam e o vento oscilava, sacudindo os cabelos escuros do soldado, que agora sem máscara, a observava, enfeitiçado e em silêncio...

Céus... Bucky Barnes era um homem tão lindo... mesmo com a aparência de um assassino cruel, vestido com seu uniforme tático e repleto de armas...

O jeito como ele olhava intensamente nos olhos dela... o jeito como ele a tocava delicadamente... o jeito como ele chamava o nome dela... o cheiro dele...

E a cada segundo, tudo nele parecia tão perfeito que estava à beira de ceder aos desejos mais profundos que nutria secretamente por ele...

Por um momento, sentia vontade de tocá-lo como seu coração lhe pedia, mas não podia...

“Congele o que sente para não prejudicar a razão...” – Lembrava a si mesma...

Teria de ter cuidado e ser cautelosa... Como andar sobre o gelo fino...

Não podia e não queria confundir as coisas entre eles... Não tinha esse direito...

Darcy esquivou seu rosto, no desígnio de não o fitar de novo, apenas para não cair nos encantos de um homem que tinha a aparência perfeita de um assassino fascinantemente lindo...

Ela pôde ouvir o barulho cibernético de seu braço e não entendia, porém...

Subitamente, Bucky enterrou a mão direita pelos cabelos longos, puxando seu pescoço e trazendo o rosto dela para perto do seu...

Eles estavam... Perto... Muito perto... Completamente perto... Perto o bastante para sentirem ambas respirações um do outro se misturarem...

A estudante arregalou os olhos e ficou imóvel... Estremecendo internamente... Aquele ato era tão ousado, repentino e impensado...

Já ele, sentia o brilho suave que a pele da garota parecia irradiar, e então...

Encostou sua testa na dela... Num delicado gesto afável, como se quisesse se desculpar...

.

Eu não mereço o que você fez por mim...

.

Darcy engoliu a seco, depois de ouvir o som de sua voz reverberando tão sedutoramente em seus ouvidos...

— Mas o que eu fiz...? – Indagava, completamente desconsertada por estar tão próxima dele... Há poucos centímetros de seus lábios...

— Tudo... Desde me tirar de Washington até se jogar na frente de um ataque pra me salvar...

Ali James se deu conta de que ela não era uma pessoa comum pra ele...

Ela tocou seu coração e o reviveu com uma força divina...

O sargento sentia seu coração gaguejar...

Bucky se perguntava como não se render à sutileza do tom doce e meigo da voz dela enquanto estavam a sós naquele lugar...?

A estudante ficava sem ter o que falar... Apenas podia sentir suas emoções fluindo como uma cachoeira...

Ela amava o jeito como ele acelerava seu coração, e de quando o acalmava também...

Os lábios do sargento se entreabriram, as mãos estremeceram, seu sangue ferveu, subindo descontrolado por suas bochechas e o seu coração, o mais afetado, se encontrava intensamente palpitante... demente como um vulcão em erupção...

— Eu não fiz nada demais... – A entoação da voz da garota estava fraca... Tentava não demonstrar o quão afetada estava por aquelas palavras, mas seus esforços não estavam dando certo.

— Você nunca devia ter me estendido a mão em primeiro lugar... Você está ferida por minha causa... – Sussurrou, totalmente perturbado. Não conseguia aceitar as decisões de salvá-lo, o tempo todo...

Foi na cumplicidade daquele olhar que James achava o sentido de tudo...

Darcy se sentia aflita... Parecia que muito em breve teria um ataque cardíaco e não estava acreditando o quão idiota estava se portando novamente... De novo...? Seu coração estava tombando por mais um homem...? Porque de todos, justo ele...?

Se dissesse para a Darcy de um ano atrás que estaria tão caída por outro homem que não fosse Robert Thompson, ela nunca acreditaria.

Relutando em dar sua resposta, decidiu que seria sincera... Até certo ponto...

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— Eu estou exatamente onde quero estar... Foi minha escolha e não sua... Então pare de me tratar como se eu fosse uma boneca de porcelana, porque eu não sou...

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A repentina resposta o pegou de surpresa... E era exatamente assim que ele a enxergava... Como uma boneca de porcelana...

A intimidante mão de metal acalentava a nuca dela... Num carinho meigo e que expressava gratidão...

E então, repentinamente, a estagiária ouviu palavras que que não conseguiu entender...

A voz do sargento soou serena, grave e delicada... num som deleitosamente angelical...

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идиот...

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Sussurrou em russo, muito perto dos lábios dela, uma palavra que a mesma nunca ouvira em toda a sua vida...

A expressão de Darcy se desfez em puro êxtase no ápice de uma gigante adrenalina... E embora não soubesse o que significava aquela palavra, estava grata o suficiente por tê-la lhe proporcionado aquela onda imensa de emoções afloradas...

Depois de tudo... a verdade estava clara como a neve pra ela... sabia exatamente dos riscos que corria por ter se deixado levar por ele, por ter deixado sua admiração passar dos limites, por não ter ouvido Derek e Kimberly e por não ter freado as emoções que toda a impressão causada por James lhe proporcionava a cada dia em que conviviam juntos...

Não era simples e muito menos fácil acabar com todos os efeitos que ele lhe gerava... de toda a consideração que desenvolveu pelo soldado, de todo carinho e afeto... e de todo o cuidado que tinha com ele, apenas porque queria que o mesmo fosse feliz...

Então...

Darcy finalmente se convencia de que...

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Estava completamente apaixonada por ele...

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Não precisava mais fingir pra si mesma... não podia mais enganar a si mesma...

E então... ela sorriu... feliz e derrotada ao mesmo tempo...

— Você devia mesmo ser um galã profissional com as mulheres... – Replicava, com os olhos brilhando de alegria.

— Você não entendeu nada do que eu disse... Pare de achar que isso é uma cantada. Você nem faz o meu tipo... – Mentia, descaradamente, apenas porque não queria admitir o contrário na frente dela... não estava pronto... não saberia reagir se o fizesse...

— Cantada ou não, sendo o seu tipo ou não, continuo com a mesma opinião. – A voz dela soava mais acalorada. O que era ótimo, pois a dor infernal em seu ombro parecia ter cessado em grande parte.

A expressão de Darcy se transformou graciosamente...

Em meio aos ventos da noite que em algumas horas conduziriam a um belo alvorecer, lá estava o sorriso dela de volta...

Quando James a olhou atentamente, um brilho esplendecente por conta das luzes da estrada suavizou as linhas plácidas de sua face...

Não entendia o porquê, mas...

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Ela estava linda de parar o coração...

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Estava aflito e desolado pela dor dela... mas grato e maravilhado pela ação heroica da estagiária...

— Darcy Lewis... Quem é você afinal...? – Seus olhos a fitaram, completamente condescendentes...

A garota então respondeu...

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Sua parceira de crime...

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