Wings

Capítulo 1 - Conhecendo e fazendo acordo com estranhos.


Eu não estava morta. Aquela dor toda não era uma coisa a se sentir depois de estar morta. O que era bom, porque depois de tudo que passei, ser morta por um carro seria patético.

Antes de abrir os olhos, avaliei mentalmente meu estado. A única coisa diferente era que eu estava sentindo um peso extraordinário na minha perna direita, mas tirando isso, estava tudo muito bem. Bem demais até.

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Quando eu abri meus olhos, eu me descobri em um enorme quarto. Eu estava na cama, e o motivo do peso em minha perna, era o gesso gigante que a circulava. Eu estava bem. Sentia dor por todo o corpo, as asas formigando para sair, mas pela primeira vez eu anos eu me senti bem. Pode me chamar de estúpida se quiser. Eu não sabia onde estava, quem estava comigo, onde estavam minhas coisas, mas eu me sentia tranquila. Até ter a realização de que eu não estava com a mesma roupa que eu havia sofrido o acidente.

Naquele momento a porta abriu, jogando uma claridade nos meus olhos, me deixando sem visão por um momento.

– Finalmente a bela adormecida acordou! ! -Ouvi uma voz aguda de mulher dizer da porta.

A mulher entrou no quarto e acendendo a luz chegou perto de mim. Era loira, dos olhos azuis. Uma perfeita princesa se não fosse pelos olhos cobertos com maquiagem preta, as tatuagens e os diversos piercings que ela tinha espalhado pelo corpo. Ela sentou do meu lado na cama e me avaliando perguntou:

– Tá melhor ?

– Estou bem. Obrigada. Onde estou?

– Na casa do Gusta. E também estúdio da banda. Mas me fala. Qual é o seu problema para se atirar na frente de um carro ? Tipo, até entendo que o ...

– Espera aí ! - Repliquei - Eu não me atirei na frente de carro nenhum. O motorista idiota que vinha rápido demais e com os faróis apagados. Afinal, que banda? E quem é Gusta ?

– Ah amiga. Desculpa aí mas ele que vai ter que falar sobre isso. Só me chamou aqui pra trocar sua roupa, Julieta.

– Como você sabe meu nome ?

– Vi na sua carteira. Afinal, eu tive que pegar uma roupa pra você. Aquela anterior estava cheia de sangue. A propósito, achei irado a marca de asas nas suas costas. Como você fez aquilo ?

Aqui que eu explico como funcionam minhas asas. Quando elas estão abertas, elas são maiores que os meus braços. Mas ao recolhê-las, elas diminuem e se fixam à pele das minhas costas como uma tatuagem de asas. O único porém é que elas não são parecidas com tatuagens, mas sim como um machucado que foi feito e que a pele encobriu ao invés de somente fechar. As minhas costas tem um alto-relevo em formato de asas. Como se tivessem implantado algo por baixo da pele. Não me pergunte como isso acontece. Quando meu ex-pai alterou meu DNA, eu fiquei assim. Devo dizer que a primeira vez foi aterrorizante.Eu não tinha nada mais que 3 anos quando aconteceu pela primeira vez.

A dor era insuportável. Sentia como se algo estivesse rasgando minhas costas. Minha mãe chorava, e meu pai estava com aquele olhar maravilhado contemplando a criação da vida dele. Eu não entendia nada. Chorava e clamava por ajuda e ninguém parecia me ouvir. ‘Socorro’ eu gritava. Como meu pai pode ser tão cruel ? Ele impôs esse fardo para mim. Quando tudo acabou, eu me senti fraca, mas reparei que tinha algo nas minhas costas. Fui me colocando de pé e reaparei que a partir daquele momento tudo ficaria melhor. Afinal, eu tinha asas.

– Julieta ! Oi ? Vai responder minha pergunta ?

– Pedi a um tatuador pra fazer para mim.

– Irado ! Me passa o número dele depois.

– Pode deixar.

– Tô indo. Vou chamar o Gusta. Sou Rebeca. A gente se vê por aí.

– Ok.

E lá estava eu esperando novamente por alguém. A porta abriu novamente e eu me virei para encarar o outro estranho. Era um cara. Alto, pardo e usava uma touca escondendo os cabelos pretos. Ele ficou parado perto da porta de braços cruzados.

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– Quem é você ? - Foi a primeira pergunta que eu fiz.

– Quem é você pergunto eu. Você só me deu trabalho até agora, sabia ? Te levei no hospital. Ele engessou sua perna quebrada e mandou eu levar minha “namorada” para casa, porque tudo estava bem. Meu carro tá amassado. Só sei que vi uma coisa toda branca no meio da estrada e no segundo seguinte você estava caída no chão.

– Sou Julieta. E não foi eu que estava dirigindo acima do limite permitido com os faróis apagados. O fato de seu carro estar amassado só evidencia a velocidade que você estava. E você só pode ser daltônico, porque eu estava vestida de preto. E por favor, me diz seu nome. Odeio conversar com alguém que eu não sei o nome.

– Gustavo.

– Muito bem Gustavo. Primeiramente, onde eu estou?

– Na minha casa. No centro da cidade. E eu acho bom tu pegar seu celular e ligar pros seus pais virem te buscar, antes que eu cobre pelo amassado do carro, e pela consulta no hospital.

– Seguinte: saiba que eu posso te denunciar. Eu estou com a perna quebrada portanto é uma prova. Prova dois : seu carro está amassado. Quem não iria acreditar em mim ?

Gustavo estava inquieto. E de onde eu estava deitada na cama, podia sentir as ondas de raiva que ele emanava. Ele suspirou, passou as mãos pelos cabelos e perguntou:

– Você quer dinheiro ? É isso ? Porque eu posso pagar o que você quiser. Só que você vai ter que sumir.

Pensei nessa possibilidade. Eu pegava uma quantidade boa de dinheiro que me ajudaria a ficar na cidade até eu conseguir um emprego. Só que eu estava com a perna quebrada e eu não sabia a extensão dos meus machucados, muito menos se minhas asas estavam bem. Pensando nisso, me veio uma ideia estúpida que no momento me pareceu muito boa.

– Quero fazer um acordo. Eu sou órfã, e não tenho lugar para ficar. Deixe-me ficar aqui por um tempo. Eu arrumo um emprego, e quando eu tiver dinheiro suficiente eu saio daqui e você nunca mais vai ouvir falar de mim. Que tal ?

Ele parou e pensou. Eu já estava inquieta. Já estava inventando alguma desculpa para a “coisa branca” que ele viu na estrada, quando de repente..

– Beleza. Mas tenho algumas condições. Não quero você trazendo ninguém aqui. Não quero você incomodando e nem aparecendo no estúdio quando minha banda estiver ensaiando. Você ajuda nas atividades domésticas e ajuda a fazer comida. Pode ser ?

– Pode. Mas eu também tenho algumas condições. Ninguém pode saber que estou aqui. Enquanto estou aqui, você me ajuda financeiramente. Digo, para comprar algumas roupas e as comidas que eu gosto. Fechado ?

– Fechado.