Não direi que aquele verão treinando com vocês foi o pior da minha vida pois não foi. Graças àquelas tardes na sua casa jogando quadribol eu consegui entrar para o time – teremos uma parte mais a frente para discutir sobre esse assunto, prometo. Eu, a Weasley mais desajeitada que se existiu, era a mais nova artilheira do time da Corvinal. Você também entrou para o seu time durante o nosso segundo ano e então a Grifinória teve mais um apanhador que entrou para a história.

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Mas não estou aqui para falar de algum ocorrido do nosso segundo ano nem mesmo do terceiro ano. Por algum motivo que eu ainda estou tentando entender, nós tínhamos formado uma amizade. Aquelas férias treinando na mansão Malfoy renderam mais do que só uma vaga no time.

Eu, você e o Al estávamos próximos de ser um “trio de ouro” da nova geração.

Agora paremos nas férias que antecederam o nosso quarto ano em Hogwarts. Creio que você se lembre desse dia – que, se parar para pensar, não faz tanto tempo assim. Era um dia quente de julho, o ar estava abafado e o céu tão claro quanto se esperava de um dia típico de verão. Eu, você e o Al estávamos na casa do meu primo jogados no sofá e com o ventilador de teto girando em cima de nós. James e Lilly estavam jogando uma partida de snaps explosivos na varanda dos jardins e vez ou outra ouvíamos um gritinho da minha prima seguido de uma risada de James.

— Odeio verão. – eu reclamei antes de virar mais um copo de água.

— Lembro de você ter falado a mesma coisa sobre o inverno. – você retrucou.

— Odeio tudo que é exagero. – tentei arrumar os meus cabelos para bem longe do meu pescoço. – Muito calor, muito frio. Pra que ser muito alguma coisa? – meus cabelos se soltaram assim que terminei de falar e eu bufei. – E me arrependo de ter cortado o cabelo assim.

Nas férias de fim de ano, quando estávamos no nosso terceiro ano, como você deve se lembrar, eu decidi cortar todo o meu cabelo na altura do queixo. Seis meses depois e eles estavam num comprimento aceitável, até, perto dos ombros, mas eu ainda não conseguia prendê-los e isso me incomodava.

— Você ficou bonita assim. – você soltou.

Eu e o Al te encaramos por alguns segundos. Nossa amizade toda ainda era um tanto quanto frágil para receber elogios desse tipo – fora que eu nunca soube lidar com elogios, você sabe disso. Naquele momento meu rosto queimava e eu tinha certeza que estava mais vermelha que nunca, tanto pelo calor quanto pela sua fala.

— É, ficou mesmo, Rosie. – o Al tentou te ajudar depois que recebeu um olhar desesperado seu. Sim, eu notei isso, Scorp.

— Obrigada. – eu murmurei enrolando uma das mechas curtas de cabelo. – Vou pegar sorvete, vocês querem? – emendei logo em seguida.

Vocês dois acenaram com a cabeça e eu fui ver com o James e a Lilly se eles também queriam.

Nunca comentei isso com você ou com o Al, Scorp, mas eu ouvi vocês dois cochichando logo que eu sai da sala. Enquanto eu conversava um pouco com os meus primos, pude perceber o olhar de vocês sobre mim. Você parecia nervoso – você estava nervoso? – e o Al parecia tentar te acalmar.

— ... ela não vai desconfiar de nada, fica sossegado, cara. – eu o ouvi falando para você.

— Você não entende, Al. – você suspirou e apoiou a cabeça nas mãos.

— Você é Scorpius Malfoy, cara, e ela te conhece. – o Al tentou mais uma vez.

— Espero que você tenha razão, Al... – você murmurou.

Não consegui ouvir muito mais sem que vocês desconfiassem, então acabei indo para a cozinha pegar o meu desejo do momento: sorvete de pistache. Até hoje você acha estranho essas minhas vontades repentinas de comer algo.

Eu estava prestes a voltar para a sala quando uma coruja parou na janela da cozinha. Ela trazia um pergaminho enrolado na pata e eu a deixei entrar e peguei um pouco de água devido ao calor. Você provavelmente deve se lembrar do que estava escrito no pergaminho, mas caso você tenha se esquecido, vou transcrevê-lo aqui:

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Querida Rose, estava aqui a pensar que podíamos nos encontrar para treinar quadribol ou jantar alguma coisa qualquer dia desses.

Ficarei à espera da sua resposta ansiosamente,

Com carinho, Ryan Hauke.

Eu levei alguns segundos para perceber que Ryan Hauke estava me chamando para sair. Por um momento eu esqueci que o sorvete estava fora do freezer e fiquei ali parada, sorrindo feito boba.

Coloquei o pergaminho no bolso do shorts que estava usando e segui para a sala. Precisava pensar em alguma resposta para escrever para o Ryan e precisava de ser logo.

— Minha nossa, Rosie, teve que produzir o sorvete? – o Al brincou assim que cheguei na sala.

— Está tudo bem, Weasley? – você percebeu que eu estava meio aérea.

Apesar da nossa amizade ter evoluído bastante nos últimos tempos, você ainda me chamava pelo meu sobrenome, assim como eu te chamava de Malfoy.

— Eu precisava falar com a Alice. – eu respondi. – Urgente.

— Pode falar conosco, Rosie. – o Al percebeu que eu estava meio vermelha, mas eu só balancei a cabeça.

Sim, nós éramos muito amigos, um novo “trio de ouro” e tudo o mais, mas esse não era o tipo de assunto que eu partilharia com vocês, me desculpa.

— Lilly! – eu chamei a minha prima e corri para conversar com ela do lado de fora da casa, longe de vocês dois. – Preciso falar com você. Agora.

A minha prima me olhava meio sem entender com seus grandes olhos castanhos, esperando que eu continuasse.

— É sobre garotos. – eu sorri amarelo para o James e ele gargalhou enquanto se levantava para entrar para a sala e ficar com vocês. – Ryan Hauke me chamou para sair. – eu soltei em tom de segredo.

Pensando agora, tenho certeza que James ouviu essa última parte. Tenho certeza, também, que ele comentou com vocês dois sobre isso. Na época eu não percebi, mas vendo agora tudo de novo, a expressão de surpresa que o Al fez e em seguida o olhar magoado que você me mandou confirmam que vocês sabiam.

Lilly falava algumas coisas sem nexo – algo sobre como eu tinha que sair com o Hauke e sei lá mais o que. Mas eu só prestava atenção no seu rosto que tinha ficado mais pálido ainda e no cinza que seus olhos tinham assumido. Só conseguia focar em você balançando a cabeça enquanto o Al te falava alguma coisa.

— E então, Rose? – Lilly me chamou. – Você vai aceitar?

— Acho que sim, Lils. – eu tentei dar um sorriso e confirmei com a cabeça.

E então quando eu voltei a olhar para a sala, você já não estava mais lá, Scorp. Na mesa de centro você deixou uma rosa branca.

Não vamos ser ingênuos e ignorar todos os sinais que você me deu no dia. Todo o nervosismo. Todos os cochichos com o Al. Toda a mágoa quando soube que o Hauke estava me chamando para sair.

Mas o que aconteceu foi sua culpa, Scorp. Você se enrolou consigo mesmo e não, você não pode me culpar por ter vivido a minha vida sem ficar esperando você me chamar para sair.

Foi a sua falta de tempo que fez com que eu acabasse aceitando o convite do Hauke – e alguns outros que eu falarei mais para frente. Talvez se você tivesse sido mais corajoso e perguntado de uma vez, talvez nós ainda estivéssemos juntos, Scorp. Esse seu medo de me perder, de falar algo errado ou sei lá fez com que nós terminássemos.

Eu teria aceitado, Scorp. Espero que goste dessa rosa branca tanto quanto eu teria gostado se você realmente tivesse me entregado uma nesse dia.