Where flowers grow wild

Capítulo 25 - Finale


O cavalo praticamente voava pela estrada. Dorian não se lembrava da ultima vez que tinha cavalgado assim e sabia que estaria adorando a sensação se não fosse pelo fato de não estar encontrando nem rastro do que procurava.

“ E se ela tivesse mudado de ideia sobre voltar para a casa do pai? Ela estava mesmo voltando para casa afinal? E se as coisas que ele disse a tivesse afetado a ponto de fazer algo impensado? E se tivesse acontecido alguma coisa ruim? Ela era impulsiva e bem poderia ter pensado em algo só para fazê-lo pagar pelo mau julgamento, não poderia?”. Eram tantas perguntas gritando ao mesmo tempo em sua mente que o nobre nem mesmo conseguia ouvir bem o som dos cascos de sua montaria ribombando contra o chão que começava a ficar coberto de folhas. No entanto, para seu alívio, logo pôde calar aquele barulho interno, pois finalmente viu à alguns metros na frente uma carruagem virar numa curva da estrada. Com o coração disparado e sorrindo da própria sorte, Dorian impulsionou seu cavalo a ir ainda mais depressa com intensão de emparelhar com o veículo.

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― Nicole! ― Ele gritou assim que a viu sentada na carruagem. Só levou um segundo para que ela erguesse os olhos e gritasse de susto ao vê-lo com o rosto próximo demais da janela de sua condução.

― Mande parar! ―ele voltou a gritar para ela, que apenas o olhou assombrada e sem muita reação ― Eu preciso que você me ouça! Nicole, eu...

Não conseguiu terminar, pois um galho que não havia visto por não estar prestando atenção na estrada o golpeou no peito, fazendo-o disparar na direção oposta e cair no chão num baque surdo.

E rápido demais a dor o tomou.

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Assim que conseguiu fazer o cocheiro parar e depois de manda-lo procurar ajuda o mais depressa possível, Nicole saiu correndo em direção ao conde, que agora encontrava-se estirado no chão, com um corte na sobrancelha, o braço esquerdo virado numa posição que talvez não fosse muito normal e o que era ainda mais assustador: os olhos fechados e o peito sem se mexer. Ajoelhando-se perto dele, tomou-lhe o rosto machucado entre as mãos enluvadas.

― Dorian? ― ela chamou baixinho. Não houve qualquer resposta e o desespero cresceu dentro dela. Sentiu como se os pulmões fossem explodir a cada vez que respirava.

― Dorian― ela voltou a repetir já sentindo os olhos começarem a queimar ― Dorian, por favor...

Num reflexo desesperado e sem qualquer cuidado, ela abaixou a cabeça sobre o peito dele rezando para ouvir seu coração batendo. E como num milagre o conde emitiu um gemido baixinho ao sentir aquela pressão desajeitada.

― Oh, meu Deus! ― ela exclamou se afastando dele para segurar-lhe novamente o rosto que lentamente foi voltando a ter expressão.

― Se você queria colocar as mãos em mim só precisava ter pedido... ― ele murmurou numa voz dolorida.

A alegria e o alivio de vê-lo bem o suficiente para fazer gracinhas foi maior que a vontade de manda-lo ao inferno pelo comentário e por isso Nicole se limitou a tirar os fios de cabelo que caiam pelo rosto dele.

―Está muito machucado?― ela perguntou preocupada olhando para o braço que só agora ele pareceu notar. Dorian fez uma careta e voltou a fechar os olhos com força.

― Meu braço...

― Não se mexa― ela aconselhou segurando a manga de renda do vestido para limpar de leve o corte na sobrancelha. Mais uma vez ele fez uma careta― Pedi ao cocheiro que chamasse ajuda. Não vai demorar, está bem?

Dorian fez que sim com a cabeça ainda de olhos fechados e ela suspirou com alívio ao ver que lentamente os olhos dele começavam a abrir de novo e a cor voltava à sua pele. Mesmo com o braço provavelmente torcido, Dorian pareceu muito bem para alguém que tinha acabado de cair de um cavalo em alta velocidade. Com um sorriso, ela se permitiu demonstrar aquele sentimento tentando esquecer pelo menos naquele momento tudo o que a vinha magoando.

―Por um minuto achei que você estivesse morto... ― ela deixou escapar.

― Nesse caso, acho que agora estamos quites ­― ele disse em resposta e dessa vez ela não resistiu:

― Vá para o inferno.

Sem pensar muito mais ela se adiantou em levantar, mas Dorian a reteve com o braço bom.

―Desculpe! ― ele se adiantou em pedir e ela ponderou um pouco sobre deixa-lo sozinho no meio da estrada. Revirando os olhos voltou a sentar-se no chão como se fosse uma criança birrenta, sem se importar se isso deixaria seu vestido azul-escuro e preto ainda mais sujo de poeira do que já estava.

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― Controle a língua ou deixo você para ser engolido por lobos.

― Não há lobos aqui― Dorian corrigiu, mas fechou a boca assim que viu a maneira desafiadora com que ela olhou para ele. Pensando consigo mesmo, desconfiou que provavelmente a condessa fosse a coisa mais assustadora das redondezas, depois de Lady Margarete, é claro.

―Então, o que achou que estava fazendo cavalgando com um louco ao lado da carruagem? ― ela perguntou tirando-o do devaneio ― Não creio que você tenha se esquecido de me ofender de mais alguma maneira.

O conde se retraiu com aquele comentário. Ela havia falado com suavidade, mas mesmo assim não conseguiu esconder bem o ressentimento e aquilo o fez sentir ainda pior sobre o enorme erro que cometera. Juntando a força que ainda tinha sentou-se de súbito deixando escapar um gemido.

― O que é que está fazendo?

―Eu preciso falar uma coisa a você e não seria muito nobre fazê-lo deitado.

Ela abriu a boca para argumentar, mas paralisou quando ele lhe tocou os lábios com a ponta do dedo indicador.

― Eu vim recuperá-la.

― Você veio o que?

― Vim recuperar você, implorar para que me perdoe e que volte para casa comigo. Nossa casa.

Nicole arregalou os olhos, surpresa e rapidamente Dorian se pôs a falar de novo.

― Você tem todo o direito de ir embora se quiser. Eu fui um tolo, um estúpido desde o começo e as coisas que eu disse não tem perdão, mas...

―pare, por favor.

― Eu sei de tudo agora―ele continuou falando acima das palavras dela ―Sei sobre Victor e sua amiga Faith e agora me sinto um completo...

― Pare com isso! ― ela pediu com uma expressão infeliz tomando o rosto, dando a chance de Dorian se odiar um pouco mais.

―Me perdoe.

― Não há o que perdoar.

― Há sim e nós dois sabemos disso.

Neste ponto o silencio se tornou tão pesado que era possível ouvir o som do vento balançando as folhas das árvores acima deles e então ambos olharam para o chão, sem coragem para dizer o que quer que fosse.

― Quando eu achei que você tinha morrido foi como se o chão tivesse sumido sob meus pés ―ele comentou baixinho como se temesse perturbar a paz que havia se instaurado no minuto anterior ­― e hoje quando me dei conta do erro que cometi...

O conde gesticulou com o braço bom diante da falta de palavras para definir o que havia sentido. Frustrado, passou a mãos pelos cabelos escuros e apenas suspirou.

― Eu amo você, Nicole ― ele declarou finalmente com os olhos consumindo os dela ―Eu amo você. Desesperadamente.

O rosto de Nicole se iluminou e mesmo pálida, Dorian viu quando as bochechas dela assumiram uma coloração rosada e linda. Encorajado por essa reação, resolveu continuar.

― Nossa situação sempre foi um pouco complicada, então acho que nunca tive a chance de lhe pedir adequadamente ― Dorian comentou retirando do bolso da casaca elegante o anel que horas antes ela havia atirado na cabeça dele. Era a primeira vez que se dava conta de que a cor da safira da aliança era igualzinha a cor dos olhos dela. Uma feliz coincidência.

― Senhorita Dashwood― ele começou tão pomposamente que ela não pode evitar dar um sorriso tímido ― aceita se casar comigo de verdade? Aceita ser minha e somente minha para sempre? Se disser que sim... por Deus, se disser que sim, prometo que lhe farei de você a segunda pessoa mais feliz do mundo porque eu serei a primeira.

― Ah, Dorian...

O conde sorriu ao ver como os olhos dela ficaram brilhantes. Seriam lágrimas?

―Eu prometo que nunca mais deixarei você fugir de mim ―ele explicou tomando-lhe a mão coberta pela luva de veludo e removendo o acessório com toda gentileza para só então depositar um beijo leve sobre os dedos ― E que vou adorá-la um pouco mais a cada dia.

― Não vai ficar reclamando que sou malcriada e rebelde? ― Nicole perguntou com a voz trêmula e um tanto emocionada e em resposta Dorian lhe ofereceu o mais radiante dos sorrisos.

― Isso é um sim?

Nicole não respondeu e também não se fez necessário, pois no segundo seguinte ela o atraiu para um beijo doce e inocente e apaixonado, que prometia muito mais do que qualquer um dos dois era capaz de colocar numa frase inteira.

―Sim ― ela murmurou sobre os lábios dele e Dorian sentiu o coração derreter afundando os dedos com ainda mais vontade nos cabelos dela quando a garota tornou a falar ―um milhão de vezes sim.

―Amo você ―ele sussurrou para ela entre beijos embora sua vontade fosse a de gritar isso para o mundo inteiro ouvir― Você me enfeitiçou e agora meu coração lhe pertence.

Mais uma vez ela não precisou responder, pois estava mais que claro em seus olhos que ela também pertencia a ele, talvez a muito mais tempo do que poderia supor. Tomado pela mais completa felicidade, colocou a aliança de volta no dedo anelar da esposa, voltando a selar aquela união com mais um beijo.

―Sinto-me como se fosse capaz de voar... ―Nicole confessou aninhada a ele como não houvesse lugar mais certo para se estar do que em seus braços.

― Pois então, eu serei as suas assas― Dorian a envolveu lhe dando um beijo casto e carinhoso sobre os cabelos ― e nunca, nunca a deixarei cair.

FIM