Estava um dia realmente lindo quando Izzy abriu a janela de seu quarto. Era manhã e provavelmente nenhuma menina havia acordado ainda, por causa da noite passada. Dormiram muito tarde, vendo filmes de terror, comendo pizza e bebendo Coca-Cola.
Desceu as escadas e foi em direção à cozinha, preparar algo para comer. Estava certa, era a primeira a acordar. Comeu apenas uma maçã e foi dar uma olhada no jardim da frente. Ao abrir a porta, viu uma carta no chão. Agachou e pegou-a. Seu coração deu pulos de alegria ao ver que era para ela o envelope e seu pai o enviara! Não era a primeira vez que isso acontecia, claro, mas a menina sempre tinha a mesma sensação. Abriu cuidadosamente o envelope e leu seu conteúdo. A cada linha sua felicidade aumentava, tanto que nem reparou na chegada silenciosa de Grace.
–Bom dia, Izzy! - A hippie levou um pouco de susto mas logo se recuperou, pulando e abraçando a amiga. - O que aconteceu? - perguntou Grace, sem entender.
–Meu pai! Ele vai vir aqui me visitar!
–Que bom! Quando?
Izzy estava tão feliz que nem havia reparado na data.
–Bom, esta carta foi escrita semana passada... hoje!
– Hoje? Então temos que arrumar a casa, está uma bagunça! - Grace subiu as escadas apressada para acordar as outras.
–Espera! Não precisa! Meu pai não liga para esse tipo de coisa...
Não adiantou nada falar. Quando viu todas as meninas já haviam sido acordadas e arrumavam a casa às pressas. Quando a campainha tocou todas pararam o que estavam fazendo e algumas subiram para o quarto, outras fingiram estar assistindo TV. Izzy respirou fundo e foi abrir a porta. Toda sua expectativa se desfez ao ver quem era.
– Ah, é você.
–Nossa, não ficou feliz em me ver? - Era Julian, e pareceu um pouco chateado com a recepção da menina.
–Não, não é isso! - Atrás dela, as meninas bufaram irritadas e continuaram seus afazeres. - É que, bem, pensei que fosse outra pessoa.
–Outra pessoa?
– É, meu pai disse que viria, por isso estamos arrumando a casa...
–Sério? Isso é muito bom! - O garoto disse, abraçando-a.
–É! Estou super ansiosa para revê-lo! Mas afinal, por que veio?
–Ah, eu iria lhe convidar para sair, mas vamos deixar para outro dia...
–Ah, é uma pena! Entre, você pode ficar para conhecer meu pai!
–É, seria ótimo!
Depois de mais ou menos meia hora, tinham acabado de limpar a bagunça e até fizeram comida para o almoço. Sem mais nada para fazer, cada uma foi para o quarto ou ficou na sala mesmo. Julian pediu para subirem para o quarto de Izzy, e assim fizeram. Ele já havia estado lá algumas vezes, por isso não achou estranho o lugar. Apenas examinava algumas coisas da menina, quando por fim disse:
–Izzy, você falou que eu iria conhecer seu pai, não é?
–Sim...
–Então, como irá me apresentar para ele?
–Como assim?
– Quero dizer, seu pai sabe que estamos namorando?
Ah, claro, como não pensara naquilo antes? Seria muito mais fácil se ela não tivesse convidado o menino para entrar.
– Não
– E vai saber?
–Olha Julian, acho que não é o melhor momento para contar a ele... não sei como vai reagir.
– Ah, claro. - O menino não conseguiu esconder a decepção em seu rosto. Não lhe apresentar ao pai significava que talvez Izzy não o tivesse levando a sério, que não era bom o suficiente para ser seu namorado. Como se lendo seus pensamentos, Izzy disse:
– Eu queria muito poder dizer a verdade, mas espere um pouco. Hoje eu e meu pai queremos matar a saudade, depois contamos a ele, você entende?
Antes de Julian responder algo, foram interrompidos pela campainha. Izzy desceu correndo, o garoto atrás, e abriu a porta. Mal podia acreditar, era mesmo seu pai! Não mudara quase nada, a não ser a barba que crescera mais um pouco. Eles se abraçaram bem forte, as lágrimas não paravam de descer no rosto da menina.
– Minha filha, você não mudou nada! A não ser pelo fato de que ficou ainda mais bonita!
– Ah, pai! O senhor também não mudou nada! Vamos, entre!
– Espere, olha quem também veio lhe fazer uma visita! - A menina tinha ficado tão emocionada que nem reparara em outra pessoa atrás de seu pai.
–Tom! - Abraçou seu grande amigo bem forte. - Você não avisou que viria!
–Não planejava trazê-lo comigo, mas ele insistiu tanto! - disse Maicon, o pai. Thomas ficou um pouco vermelho.
–Bem, é que estava com saudades...
–Também! Mas vamos, entrem! Onde estão suas malas?
–Não trouxemos malas. Bem, só essa pequena bolsa, mas não se preocupe, não ficaremos aqui por muito tempo...
– Ah, pena! Já é quase hora do almoço, vocês querem almoçar?
Se dirigiram à mesa do almoço, que era bem grande. O pai cumprimentou a todas com um "Olá" geral, que foi retribuído com grandes encaradas. As meninas se assustaram um pouco com a aparência do homem. Usava roupas estranhas, um pouco rasgadas e sujas, barba longa e aqueles óculos hippies. Não se podia dizer o mesmo do garoto, que apesar das roupas estranhas também, tinha uma aparência mais limpa. Não usava barba e as roupas estavam num bom estado. E, como as meninas notaram, era bem bonito.
Sentaram-se e Izzy serviu o almoço. Algumas meninas ficaram, outras foram embora. Notando a presença de Julian, o pai disse:
– Pensei que a república fosse só para meninas!
– Ah pai, este é o Julian, um amigo meu e das meninas. Não mora aqui, só veio fazer uma visita também.
Eles se cumprimentaram e Julian foi bem simpático, mas a menina percebeu que seu olhar, na maioria das vezes parava sobre ela e Tom, que se sentaram lado a lado. Seu pai não facilitava as coisas, mandando a toda hora indiretas, que aliás eram bem diretas.
– Sabe, - dizia ele - Tom não parou de falar um minuto em você desde que foi embora... acho que quer lhe dizer alguma coisa importante, não é?
–Bem... talvez... mas não é nada importante! - Passou as mãos no cabelo, sem graça, uma vermelhidão subindo no rosto.
– Ah, como não! Passou semanas ensaiando!
– Não! Tio! - chamava Maicon assim, de tio, mas não era sobrinho dele.
–Ora, tudo bem então. Vamos deixá-los a sós um pouco.
Seu pai estava rindo, mas Julian fechara a cara. Concordou com a cabeça e saiu de casa. Izzy não pôde impedir, pois daria muita bandeira. E assim, Tom e Izzy saíram para o jardim, para poderem conversar melhor.
–Então, o que tem de importante para dizer?

********

Jessie saiu de casa assim que acabara o almoço. Apesar de diferente, Maicon era um cara legal e engraçado. Tinha uma ideia completamente diferente sobre os hippies e ficou um pouco surpresa ao ver que o pai de Izzy era mais normal do que parecia ser. Por ser final de semana, não tinha nada para fazer, então resolveu andar a esmo por aí. Lembrou que, há pouco tempo atrás, os finais de semana eram o que mais gostava, pois podia ficar o dia inteirinho ao lado dele. Jason. Afastou esse pensamento o mais rápido que pôde, mas não antes de sentir aquela dor que vinha sempre que lembrava seu rosto. Continuou andando mas parou de repente. Ou estava imaginando coisas ou aquele era mesmo o carro de Jason. Deu meia volta, na esperança de ele não ter reparado nela, mas o motor do carro se aproximando indicava que sim, ele a viu. Segurou o impulso de correr, apenas deu passos largos até ele alcança-la, diminuir a velocidade do carro, de modo que andavam na mesma velocidade.
–O que você faz por aqui? - A menina bufou. Então era assim, eles brigavam e ele conversa normalmente com ela?
– Que parte do "Não me procure nunca mais" você não entendeu?
– Mas eu não te procurei! Simplesmente te achei aqui...
–Grande diferença, não?
–É o destino.
– Quê? - disse a menina segurando o riso.
–Estou falando sério! Por que acha que te achei aqui?
–Hum, vejamos... você me seguiu?
– Ah claro, não tenho nada pra fazer por isso vou seguir uma menina que está com raiva de mim.
–Enfim, não sei e nem quero saber seus motivos, agora quer parar de me acompanhar com o carro assim? Será que posso continuar minha caminhada em paz?
– Na verdade Jessie, eu queria falar com você...
– Mas eu não!
–Por favor!
–Não! Vai parar de me seguir ou tenho de chamar a polícia?
–Jessie...
A garota tirou o celular do bolso de sua calça e discou o número da polícia.
– Alô? Gostaria de fazer uma denúncia, tem um maluco me seguindo...não, não o conheço...
–Não acredito que está fazendo isso...
– Melhor sair daqui, acho que estão te procurando.
– Você é completamente maluca!
–Hum, grande descoberta, agora o que está esperando para sair daqui?
–Não precisa falar duas vezes! - dizendo isso, arrancou o carro e saiu dali, deixando a menina sozinha.

***

–Então é isso, ela chamou a polícia e você foi embora? - disse Julian, após ter assumido seu posto de psicólogo , como de costume.
–Ah, o que você esperava que eu fizesse?
–Não sei, algo mais heroico, romântico...
–Minha vida não é novela das sete não, ok?
–Ok, mas você precisa se esforçar um pouco mais se quer reconquistá-la, não acha?
–Mas eu me esforcei!
–Acho que não, hein.
Julian estava jogando vídeo game enquanto Jason estava deitado na cama, atordoado, sem saber o que fazer em relação à Jessie.
– Olha, você devia fazer uma surpresa pra ela, não?
– Que tipo de surpresa, sendo que ela não quer me ver?
– Ah não sei, um jeito mais eficaz de pedir desculpa... e não chama-la de maluca! Pense no que ela gosta....ahh!
–O que foi? Pensou em alguma coisa?
–Não cara, acabei de perder o jogo...
– Ah ta... ah, você não me explicou o que aconteceu entre você e a Izzy!
–Uma longa história...
–Ah, qual é, conta aí!
Agora os papéis foram invertidos, Julian desabafava o quanto estava com raiva daquela história toda.
–"Tom"! Nome de idiota!

**********

Carol estava deitada com Eddie, seu ursinho de pelúcia, quando viu uma mensagem no celular. Levantou correndo, tendo certeza que o nome que veria era "Sam", mas se enganou, era Andy. Queria encontra-la. Ficou um pouco decepcionada, queria que fosse seu namorado, mas mesmo assim aceitou ir. Andy era um cara legal e ela gostava muito dele, e que mal teria ir para uma lanchonete com ele?
Se arrumou e desceu as escadas.
–Vai sair? - perguntou Kiara.
– Sim, vou a uma lanchonete ali na esquina. Até mais!
Quando chegou, Andy já estava lá, sentado numa mesa, sozinho.
–Ei! Que bom que você veio, precisava conversar com alguém!
– Ei Andy, aconteceu alguma coisa?
Ela se sentou e ele começou a desabafar. Carol não acreditou quando ouviu a história. A avó dele, Mary, morrera. E ela era como se fosse uma mãe para ele, o criou e tudo... não tinha palavras.

**

Kiara estava sentada no sofá, quando ouviu a campainha.
– Oi Kiara! Queria falar com a Carol, chama ela pra mim? - Era Sam. Irradiava alegria e estava até com um buquê de rosas na mão.
–Oi Sam! A Carol saiu.
–Saiu? Estranho, ela não me falou nada...
–Acho que foi na lanchonete ali na esquina, saiu não faz muito tempo...
–Ah, vou lá então, obrigado, até mais!
–De nada, até!

**

Sam achou muito estranho Carol sair assim para uma lanchonete, mas ás vezes só queria comer um hambúrguer ou algo do tipo.
Chegou na lanchonete deserta, exceto por um casal abraçado. Foi quando reconheceu aquela menina. Era Carol, abraçada com Andy! Um lado seu queria acreditar que não havia mal nenhum naquilo, mas outro fervia de raiva. Quem aquele Andy pensava que era pra ficar abraçando a mulher dos outros assim?
Entrou na lanchonete então, dando um susto nos dois.
–Sam? - Carol perguntou, se desvencilhando do outro - Olha, o Andy...
–Ei Carol, meu amor! Olha o que eu trouxe para você! - disse, entregando o buquê de rosas para ela.
–São lindas, mas como você chegou aqui?
–Ah, fui te procurar na república e você não estava lá, então a Kiara me disse que você veio para esta lanchonete .
– Ah, esqueci, realmente contei a ela que viria. Ah Andy...
–Eu estava morrendo de saudades de você, não imagina o quanto! - dizendo isso, agarrou Carol e lhe deu um beijo. Então Andy, sem jeito, disse:
–Érr... já vou indo, depois a gente se vê Carol...
Quando Carol se soltou, Andy já estava longe. Com raiva, a menina deu um tapa na cara de Sam.
–Seu idiota! Olha o que você fez!
–Ah, o que, quebrei o clima do casal? Fiz aquele idiota ir embora?
– Que clima, Sam? A avó do menino acaba de morrer e você chama isso de clima? Ele nem estava lá, recebeu a notícia por telefone! E gora ele não tem ninguém, seus pais já morreram há muito tempo! Ele foi criado por ela e... francamente Sam! - A menina pegou a bolsa e ia ir embora, quando o menino puxou seu braço.
–Desculpa, eu não sabia!
– Me solta, agora!
–Carol...
A menina foi embora e Sam ficou ali, sentado na lanchonete por horas, até a moça o pedir para sair, pois já estava fechando as portas.

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