Walking In My Shoes

Amnésia com ressaca. Que ótimo.


Você sabe que as coisas não vão bem quando acorda em um quarto desconhecido, intoxicado com um odor masculino embriagante. Mas você sabe que as coisas estão realmente mal, quando se encontra dividindo uma cama de casal com seu irmão – Pervertido e – mais novo; e que ele está sorrindo tranquilamente enquanto te abraça.

Eram quatro da madrugada, pelos meus sentidos, e eu não conseguia me desvencilhar de Apolo e seus músculos de aço. Não sei como, mas acho que ele estava fazendo de propósito, sabia que se eu me atrasasse para a troca de turno papai me mataria.

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Eu estava em uma situação delicada com Zeus desde que passei a descuidar um pouco do meu cargo com a lua. Poseidon gostava de chamar isso como Alerta "Vinholeta", porque era a oportunidade perfeita de me irritar e irritar o pobre citado do Dionísio, que acabara de sair do castigo por boas maneiras.

Um bom filho a casa torna, só não sei quanto tempo ele levou para montar esse teatrinho de bom filho. Apesar de Dionísio ser o deus do teatro, ele não era lá uma Atena. Demorava um pouco para montar estratégias, ou notar que ele ainda tinha algumas táticas.

Mas voltando ao meu problema pivô do momento, eu tentei me afastar, escorregando com cautela por debaixo de seu abraço. Era estranho sentir cada ponto de tensão do meu corpo se consumir em chamas tíbias cada vez que parte da minha pele exposta se roçava em qualquer parte do corpo dele. Tudo nele estava exposto, como eu pude notar.

E para reforçar meu alto desgosto do momento, quando escorreguei o suficiente para sair de seus braços notei que Apolo estava de cueca. Apenas de cueca.

Certo como foi que vim parar aqui?! Não consigo me lembrar de nada, e minha cabeça dói como se eu a houvesse enfiado sem dó nem piedade em um dos rios do mundo inferior. Eu continuei persistindo em minha memória enquanto catava algumas peças de roupas minhas pelo chão, completamente abismada e rubra, mas só consegui um pouco mais de dor de cabeça... Ou seria uma enxaqueca?

Quando um vento gélido bateu contra minhas costas desnudas, eu consegui me focar. Não era hora de pensar no que eu havia feito, mas sim de entrar na porcaria do banheiro e, que mamãe me ajude, ficar pronta para o trabalho em menos de quinze minutos. E com um pouco de inquietação adentrei o banheiro, sentindo o odor de Apolo aumentar cinquenta vezes mais ali dentro.

***

— Então você dormiu com Apolo?! — Atena exclamou com certa dificuldade, visto que se engasgou com seu chá. Mas apesar de sua falar ter saído cômica, ela estava visivelmente chocada, e incontestavelmente raivosa.

É incrível minha habilidade de entrar no alerta "vinholeta" com diversas pessoas. Com ou sem espaço de tempo.

Passei a mão no rosto um tanto quanto aflita, afinal de contas como eu iria explicar para ela que eu sequer sabia se tinha dormido, e eu estou dizendo daquele significado de dormir, com meu próprio irmão? Há três horas eu estou tentando convencer a mim mesma de que apenas cochilei na mesma cama que ele.

Como os nossos sete anos, onde eu tinha um quarto só meu, lindo, mas ainda sim corria para debaixo das cobertas do quarto de Apolo, me refugiando em seus braços nas noites estranhas de outono. De certa forma acordar daquela forma embaraçosa havia me feito recordar isto quase que imediatamente.

— Não, Atena. Eu não dormir com ele. — Tentei soar calma ao respondê-la, mas Atena ainda estava com aquela veiazinha de estresse no rosto. Seus olhos, mais céticos do que nunca antes me esquadrinharam, e ela perguntou mais calmamente:

— Então você não dormiu na mesma cama que ele, ainda é... Pura.

— Não, e sim. — Respondi lentamente, balançando as mãos de um lado para o outro. Atena bufou, fechando seu livro grosso com brutalidade e o pondo de lado.

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— Você acabou de dizer que não dormiu com ele, como pode se contradizer na mesma hora, negando a minha pergunta de confirmação?

— Atena eu não dormir, dormir com ele, entendeu? Eu não... Droga, Atena, eu não transei co meu irmão gêmeo! — "Eu acho..." Eu completei em mete, totalmente sem jeito e um pouco furiosa comigo mesma por não saber.

— Uma verdadeira pena.

Afrodite que estava chegando comentou, sentando-se na cadeira ao meu lado. Não me dei ao trabalho de conferir o sorriso em seus lábios, eu sabia que estava ali, aquele sorriso irritante de vitória.

Qual é? Não é necessário ser uma Atena da vida para deduzir que, a resaca infernal que cobria o Olimpo hoje, e os escandalosos casos de amor que simplesmente pipocaram de uma hora para outra era devido a um pacto que a pilantra da Afrodite fez com o idiota do Dionísio.

— E então... — A deusa do amor continuou, estendendo desnecessariamente o timbre fino da voz. — Atena, querida, o que me diz da sua noite com Poseidon?

Como é?!

— Eu não estive com ele, Afrodite. — Atena respondeu calma e firme, mas mantive meu olhar inquisitório sobre ela assim como Afrodite. Então ela estava me julgando quando estava na mesma situação que eu? Ou quem sabe pior, julgando pelo sorriso macabro nos lábios de Afrodite.

— Certeza disso? Você não dormiu no mesmo quarto que ele, na mesma cama... Não dormiu com ele?

Atena ponderou um pouco antes de responder o que me levou a acreditar que hoje, presenciaria o principio do fim. Poseidon e Atena? Sério, o que tem na cabeça doentia de Afrodite?

Minhocas pintadas de esmalte rosa choque, e alguns sapatos Jimmy Choo, eu imagino.

— Eu... Eu... Eu... — Atena repetia convulsivamente o pronome eu.

— Atena você não "dormiu" com ele, não é? — Pus uma de minhas mãos em seu joelho coberto pelo vestido azul anil. — Diz que pelo menos você teve um pingo de juízo, droga.

A deusa da sabedoria me encarou por um tempo antes de simplesmente explodir, como eu havia feito quando fui pressionada por ela.

— Droga, eu não sei! — Ela cobriu o rosto com as mãos. — Eu não me lembro!

Eu tentei acalmá-la. Ótimo, eu estava com aquela sensação na boca do estomago. Aquela que avisa d que tem algo errado no meio de toda a confusão, aquela que deixa um gosto amargo na boca, e uma dor estranha no peito. A que provoca falta de ar e produção paranormal de adrenalina no corpo.

Aquela sensação que somente a risada "eu sei mais que você" de Afrodite tinha capacidade de provocar.

— Bem, enfim. Lembrando, relembrando ou não recordando, papai está chamando todos nós na sala de reuniões para alguns comunicados importantes. — Ela desbobinou, cantarolando ao fim um tchau.

Esplêndido. Tudo estava de ponta cabeça, e a única coisa de que eu me lembrava da noite anterior era de ter tomado todas. Porque eu fiz isso mesmo?

Ah, lembrei. Eu estou com Amnésia temporária, eu não vou lembrar-me de nada que tenha laços com ontem à noite.

Olhei para Atena com dó. Tanto dela quanto minha.

— Vamos, vamos logo acabar com isso. — Eu disse, estendendo minha mão para ela. — Ninguém precisa saber na posição vergonhosa que estamos agora.

— Droga. — Atena murmurou quando deixamos a biblioteca. — Nunca pensei que entraria em alerta "vinholeta.".