Wake Me Up

Lágrimas e Chuva


Rebecca saiu de sua aula, no final daquela tarde, ainda com as coisas que Ty lhe contara sobre Aaron fervilhando em sua cabeça. Não conseguia acreditar em como tinha sido tão burra ao ponto de confiar em alguém como Aaron Greed e realmente pensar que ele tinha mudado ou que, pelo menos, estivesse tentando mudar.

Ainda irritada com Aaron e consigo mesma, ao invés de telefonar para chamar um táxi, Rebecca decidiu ir até o jardim e se sentar em um dos bancos ali. Sabia que Margareth iria lhe pedir um relatório completo sobre o seu dia, assim que ela colocasse os pés para dentro do apartamento e não estava com a menor vontade de dividir suas frustrações com alguém.

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– Fiquei sabendo que você e o Aaron se desentenderam hoje. – a voz de Cadence soou em algum lugar atrás de Rebecca e ela fez o possível para não deixar escapar um palavrão.

– E eu fiquei sabendo que isso não é da sua conta. – retrucou sem fazer qualquer questão de se virar para sua ex colega de quarto.

– Caramba,você está mesmo com raiva, hein? – Cadence se adiantou alguns passos e se sentou no banco ao lado dela – Olha, por mais incrível que isso possa parecer, eu não vim aqui para brigar.

– Ah, tá... – Rebecca revirou os olhos completamente descrente e Cadence riu.

– É sério. – ela assegurou – Sei que ontem eu fui, tipo... uma vaca com você e acho que você tem todo direito de ficar com raiva de mim por isso, mas eu realmente queria fazer as pazes. Passar uma noite sozinha naquele dormitório, com o corpo esfolado pelas suas unhas e o rosto ardendo por causa dos seu tapas me fez perceber que eu tenho agido como uma grande idiota.

– Disso eu não posso discordar. – Rebecca comentou ainda sem se deixar convencer.

– Mais uma vez: eu entendo que você esteja com raiva. O Aaron não é nada meu. Nunca foi, aliás, e provavelmente nunca será, mas você, por outro lado, tem sido minha amiga desde que eu cheguei à Oxford e não é justo que eu te trate da maneira como eu tratei ontem por causa de um cara.

– Você diz isso agora, mas, se me ver com o Aaron daqui a cinco minutos, vai surtar e me acusar de um monte de coisas de novo. – Rebecca finalmente olhou para ela – É a terceira vez que a gente briga por causa do Aaron, Cadence. Estou cansada de você estar sempre me acusando de alguma coisa quando se trata dele.

– Eu sei. E eu também sei que isso é um saco. – Cadence admitiu – Mas é exatamente por isso que eu estou aqui agora, Becca. Quero te pedir desculpas por todas as vezes que eu briguei com você por causa do Aaron, principalmente, por ontem à noite quando eu passei, e muito, dos limites aceitáveis para a convivência humana. Eu não devia ter te xingado e, mais que tudo, eu não devia ter te agredido. Realmente sinto muito. Será que você pode me perdoar?

Rebecca olhou para ela, para os hematomas precariamente escondidos em seu rosto pela maquiagem e para os vergões avermelhados que ainda pontilhavam seus braços e não soube dizer se acreditava totalmente em suas palavras. Cadence sempre lhe pedia desculpas e, depois, quando precisava escolher entre Aaron ou sua amizade, Aaron sempre vencia.

Ela precisava de uma amiga, sim. Precisava muito de alguém com quem pudesse conversar e dividir seus segredos, mas não sabia se Cadence era a pessoa certa para isso. Ainda assim, contrariando todas as suas incertezas, Rebecca decidiu lhe dar um último voto de confiança. Só esperava não se arrepender daquilo como havia se arrependido de ter confiado em Aaron.

– É a sua última chance. – alertou – Se trocar a minha amizade por aquele crápula de novo eu desisto de você.

– Ah, meu Deus! Eu prometo que não vou trocar. – Cadence a abraçou entusiasmada – Obrigada por me perdoar, Becca. Eu estava com medo de que você ainda estivesse brava demais para me ouvir.

– E quem disse que eu não estou mais brava? – Rebecca riu – Você tem noção do quanto isso está doendo? – ela apontou para o lábio machucado – Sério, Cadence. Está ruim até para comer.

– Desculpa. – Cadence baixou os olhos constrangida – Mas, se serve de consolo, ouvi dizer que sorvete é um ótimo analgésico para casos como o seu, então, o que acha de guardamos as nossas coisas no dormitório e sairmos para comprar um? Eu pago.

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– Acho esplêndido. – Rebecca concordou – Só me dê um minuto para telefonar para a Margareth e avisar que não vou precisar dormir no apartamento dela hoje.

– Ai, caramba. – Cadence fez uma careta – Ela deve estar uma fera comigo por ter te batido, não é?

– Na atual situação, ela está mais brava comigo que com qualquer outra coisa, então, pode ficar tranquila.

Rebecca pegou seu celular e telefonou para Margareth, avisando que voltaria a dormir no alojamento da faculdade, já que tinha feito as pazes com Cadence e, depois de ouvir mais um sermão sobre brigas, desrespeito e agressões, disse que passaria no apartamento, no fim de semana, para pegar as coisas que havia levado para lá e desligou.

Ela e Cadence passaram rapidamente no dormitório para guardar suas coisas e depois seguiram até uma lanchonete próxima dali para tomar seu sorvete.

– Quer dizer que você foi até o apartamento do Aaron para brigar com ele por ter contado a verdade sobre o acidente para o Vlad e, aí, ele acabou te beijando? – Cadence perguntou enquanto levava uma colherada de seu sorvete de baunilha à boca – Como é que foi isso?

Rebecca olhou para ela e suspirou.

– Na verdade, eu não sei bem o que aconteceu aquele dia. Nós estávamos discutindo e aí, do nada, eu estava encostada contra a parede com a língua do Aaron na minha garganta. Foi... muito estranho.

– Para mim, parece que foi bem sexy. – Cadence riu e Rebecca corou.

Por algum motivo, assim que se sentaram em uma das mesas externas da lanchonete e começaram a conversar, Rebecca sentiu a necessidade de fazer um apanhado geral para ela sobre tudo o havia acontecido nos últimos dias. Não sabia como Cadence iria reagir quando lhe contasse sobre o beijo, mas estava feliz porque a amiga ainda não tinha surtado e decidido jogar todo o sorvete em sua cara. Na verdade, Cadence até que estava aceitando bem toda a situação.

– Posso confessar uma coisa? – Rebecca olhou para ela e Cadence fincou a pequena colher colorida que segurava de volta no sorvete para poder pegar um guardanapo novo e substituir o que estava usando.

– Vai me dizer que gostou do beijo? Porque, se for isso, eu já sei. – Cadence ergueu as sobrancelhas para ela como se dissesse que Rebecca não a enganava.

– Não. Não é isso. – ela fez uma careta – Eu ia dizer que estava esperando que você fosse querer me matar quando descobrisse que o Aaron e eu tínhamos nos beijado.

– Olha – Cadence retirou a colher do sorvete e a levou à boca –, não vou dizer que não estou com um pouco de ciúme agora porque isso seria mentira. – ela assumiu – Você me conhece e sabe como eu me sinto a respeito do Aaron, então, isso não é nenhuma grande surpresa, mas eu falei sério quando disse que percebi que ele não é o cara para mim. – Cadence suspirou – Isso me impede de ainda gostar dele? Pode ter certeza que não. Mas, pelo menos, me impede de ser uma completa babaca.

– Valeu. – Rebecca segurou uma das mãos dela sobre a mesa – Eu estava precisando mesmo de alguém para conversar e estou feliz por essa pessoa ser você. É bom ter uma amiga.

– É. Eu sei. – Cadence apertou a mão dela gentilmente e voltou a se recostar na cadeira – Então, falando em amores frustrados, como é que anda a sua história com o Vlad?

– Ah... – dessa vez foi Rebecca quem suspirou e se recostou na cadeira com uma expressão de derrota – Minha história com o Vlad simplesmente não anda e estou começando a pensar que eu estraguei tudo com ele. Eu não deveria ter defendido o idiota do Aaron. Isso foi... burrice.

– Já tentou conversar com ele sobre isso?

– Com o Vlad? Eu ainda nem o vi depois da briga de ontem e ele também não me procurou. Acho que ele ainda está com muita raiva de mim.

– Você deveria ligar para ele. – Cadence a aconselhou – Sei lá. Fala que quer conversar e resolver as coisas. Ele não pode ficar com raiva de você para sempre, né?

– Talvez ele possa. – Rebecca deu de ombros – Eu dormi no apartamento do Aaron, Cadence. Na cama dele. Com ele. Apenas alguns dias depois de ele ter beijado. E eu tenho um namorado. Ou, melhor, eu tinha. Sei lá.

– Olha, você cometeu um erro, Becca. Ter dormido no apartamento do Aaron, quando o seu namorado estava aqui, te esperando, com certeza não foi a melhor decisão que você já tomou na vida, mas isso também não é o fim do mundo. – Cadence disse – As pessoas tomam decisões ruins e se arrependem delas o tempo todo. Ninguém é perfeito. Acho que o Vlad vai entender isso.

– É. Acho que você tem razão. – Rebecca respondeu, mas ao invés de pensar em Vlad, sua mente se voltou para Aaron.

Ele havia dito algo muito parecido sobre ter cometido erros e estar tentando consertá-los, além de ter pedido que ela não o crucificasse por aquilo, mas Rebecca ainda não sabia o que pensar.

Descobrir que Aaron havia chantageado seu irmão durante tanto tempo e que ele nem pretendia lhe contar a verdade sobre isso, a deixara mais magoada que as palavras duras que Ty havia lhe dito, algumas semanas antes, quando saíram do The Grand Café.

– E, então, vai ligar para ele? – Cadence voltou a falar e Rebecca se obrigou a parar de pensar em Aaron e se concentrar nela.

– Acho que não. Quero dizer, eu quero falar com ele, é óbvio, mas... acho que seria melhor fazer isso pessoalmente. – ela respondeu enquanto capturava uma parte de seu sorvete que estava escapando da casquinha – Vou passar no dormitório dele mais tarde.

– É uma ótima ideia.

– Acho que é. – Rebecca concordou e voltou a comer seu sorvete.

Quando ela e Cadence voltaram para o dormitório, o clima agradável daquela tarde tinha sido substituído por ventos fortes e nuvens carregadas e Rebecca teve certeza que havia uma tempestade se aproximando.

Tomou um banho rápido, fez seu exercício de Epistemologia e História da Psicologia cujo prazo de postagem terminaria à meia noite e, então, vestiu um casaco e atravessou a universidade para ir ao alojamento da Brookes conversar com Vlad

Não sabia exatamente o que iria dizer a ele, mas com certeza teria que começar com um pedido de desculpas, então, durante todo o caminho até lá, Rebecca se preocupou em ensaiar um discurso que pudesse transmitir o tamanho de seu arrependimento sem parecer falso ou sem parecer que ela estava dizendo aquilo apenas porque tinha brigado com Aaron naquela tarde.

Quando finalmente parou diante da porta do dormitório de Vlad, ela achou que já tinha encontrado algo bom o suficiente para dizer e, então, bateu na porta, aguardando ansiosamente enquanto passos ecoaram lá dentro, vindo em sua direção.

Imaginou que, a qualquer instante, Vlad ou, possivelmente, Mikhail abriria a porta, mas ficou surpresa quando Ty apareceu diante dela, vestindo apenas uma bermuda e uma camiseta regata preta.

– Ty? – ela franziu a testa para ele – O que está fazendo aqui? Achei que estivesse no seu dormitório.

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– Bem, teoricamente eu deveria estar lá. – ele confirmou – Mas não estou com muita vontade de olhar para a cara do Aaron depois do que aconteceu hoje, então o Mikhail me deixou dormir aqui. – ele a encarou, confuso – O que você está fazendo aqui?

– Ah. Eu vim... procurar o Vlad. – Rebecca explicou – Ele está aí?

– Não. Eu estou sozinho. O Vlad saiu há algumas horas e o Mikhail... só Deus sabe aonde ele se escondeu. Você quer entrar?

– Não. Valeu. – Rebecca olhou para o interior do quarto, desanimada – Eu só vim mesmo para falar com o Vlad, mas já que ele não está, é melhor eu voltar para o meu dormitório. Parece que vai chover.

– É. Parece mesmo. – Ty assentiu.

– Bem, então... eu vou indo. Tenha uma ótima noite, Ty.

– Você também, maninha. – Ty depositou um beijo breve em sua bochecha e Rebecca se afastou.

Do lado de fora do alojamento da Brookes o clima parecia ainda mais instável e, para evitar de ser surpreendida pela chuva no meio do caminho até o alojamento do St. Hilda’s, Rebecca resolveu pegar um atalho pelo centro esportivo da faculdade até a Headington Road.

Estava justamente passando pelo campo de futebol, quando uma voz muito parecida com a de Vlad ressoou de algum lugar atrás das arquibancadas e Rebecca decidiu ir até lá. Se fosse ele mesmo, seria ótimo porque aí eles poderiam conversar, mas se não fosse, ela daria meia volta e seguiria seu caminho de volta para o St. Hilda’s College.

Aproximou-se sorrateiramente, pois não queria correr o risco de estar enganada e acabar atrapalhando as atividades de outra pessoa e, quando chegou perto suficiente para conseguir divisar alguma coisa em meio as pilastras mal iluminadas das arquibancadas, Rebecca percebeu que tinha sido uma boa ideia se aproximar silenciosamente, pois haviam duas silhuetas enroscadas ali e ela não queria, de forma alguma, ser a responsável por atrapalhar a sessão de amassos daquele casal de desconhecidos.

Já estava dando meia volta, quando um gemido audível escapou dos lábios da garota e, logo em seguida, a risada grave e conhecida de Vlad ressoou baixinho por ali, fazendo Rebecca parar e se voltar novamente em sua direção.

– Vlad? – ela exclamou, completamente chocada, e a reação dos corpos a sua frente foi imediata e acompanhada pelo farfalhar de peças de roupas sendo puxadas de volta aos seu lugares.

– Rebecca?! – Vlad se afastou da garota com quem estava se agarrando e olhou para ela como se tivesse acabado de ver um fantasma – O que está fazendo aqui?

– O que eu estou fazendo aqui? – Rebecca se aproximou dele sentindo o sangue rugir em seus ouvidos – O que você está fazendo aqui com essa garota?

– Ahn... Eu... A gente só... Bem, é que... – ele começou a gaguejar, mas então parou e uniu as palmas das mãos, respirando fundo – Eu tenho uma ótima explicação para isso. – disse por fim.

– Tem mesmo? – Rebecca cruzou os braços e o encarou – Que ótimo, porque eu sou toda ouvidos, Vlad.

Ele olhou para ela e, depois, relanceou os olhos para a garota ao seu lado, voltando a olhar para ela um segundo depois, completamente sem jeito.

– Tudo bem. – disse um tanto constrangido – Eu não tenho uma ótima explicação, mas isso com certeza não é o que você...

– Você vai ter coragem de dizer na minha cara que isso não é o que eu estou pensando? – Rebecca praticamente gritou e Vlad se apressou em tentar se explicar.

– Não. Não é isso. – ele ergueu as mãos para ela – Becca... Amor, eu não estou te traindo. Eu... Eu a conheci hoje.

– Você a conheceu hoje? – Rebecca cerrou os punhos com força – E o que te faz pensar que isso não é uma traição, Vlad?

Ele olhou ao redor, como se procurasse a respostas nas pilastras mal iluminadas das arquibancadas a sua volta e, por fim, suspirou.

– Rebecca... – disse se aproximando dela com cautela – Amor, por favor, me desculpa. Eu juro que isso nunca aconteceu antes. Hoje foi só...

– Não chega perto de mim. – Rebecca o advertiu afastando-se um passo para trás – Meu Deus! Eu confiei em você, Vlad! Eu estava aqui me recriminando pelo simples fato do Aaron ter me beijado e você...

– O Aaron te beijou? – a expressão de no rosto de Vlad passou de culpada a furiosa, em milésimos de segundos, e ele ignorou a advertência de Rebecca, aproximando-se dela com dois passos largos – Quando foi que isso aconteceu? Ontem? Na noite que você passou no apartamento dele? Você me disse que não tinha acontecido nada entre vocês, Rebecca.

– E não aconteceu. Isso foi... há algum tempo, mas...

– Mas o que? – Vlad perguntou nervoso – O cara te beija e aí você simplesmente dorme no apartamento dele?! Mas que droga, Becca!

– Eu não pedi para ele me beijar, tá legal?! Isso foi apenas... Ah, quer saber? Eu não tenho porque me explicar para você. Você estava quase comendo essa garota atrás de uma arquibanda, Vlad. Mas que merda!

– Olha...

– Eu nunca traí você! – Rebecca gritou, interrompendo-o – Apesar de ter dormido no apartamento do Aaron eu nunca transei com ele, Vlad. Eu sequer o beijei, porque todas as vezes em que isso aconteceu foi ele quem me beijou e, não, o contrário. E, agora, eu chego aqui e você está se agarrando com alguém atrás de uma arquibancada!

– Eu pensei que a gente tinha terminado! – Vlad esbravejou, pegando Rebecca de surpresa e fazendo-a se calar no mesmo instante – Becca – ele baixou o tom de voz e, respirou fundo, tentando recuperar a calma –, eu achei que nós não estivéssemos mais juntos. Pensei que o nosso namoro tinha acabado.

– Sem nenhum de nós dois falar nada? – Rebecca perguntou e toda a raiva que sentia, aos poucos, estava se transformando em lágrimas – Achou que tudo tinha acabado assim, Vlad? Apenas... Fim? Sem nenhuma palavra? Nenhuma conversa? Nada?

Vlad passou as mãos pelo rosto e pelo cabelo, despenteando-o e, mais uma vez, respirou fundo.

– Você não me atendeu quando eu te liguei ontem depois da briga. – ele explicou – Passou a tarde inteira com o Aaron. Não me procurou, nem retornou as minhas ligações. Achei que tinha acabado, Becca.

– Mas não tinha. – Rebecca começou a chorar – Eu não atendi às suas ligações ontem porque estava magoada, Vlad. Você me chamou de qualquer e eu não tinha feito nada para merecer aquilo. Eu estava irritada. E, hoje... Hoje aconteceu um milhão de coisas. Eu não te liguei porque preferi vir conversar pessoalmente. Eu fui ao seu dormitório te procurar, mas o Ty me disse que você tinha saído.

– Olha, eu tô indo nessa. – a garota que estava com Vlad finalmente se pronunciou – Me liga depois, se você quiser, tá? Quando, finalmente, resolver isso aí. Vou adorar te ver de novo. – ela se desviou dele e passou por Rebecca lançando-lhe um olhar de completo desdém, antes de sumir de vista.

– Quem é ela? – Rebecca perguntou em voz baixa, depois do que pareceu um século de silêncio repleto de tensão.

– É uma garota que eu conheço da faculdade. A gente cursa algumas matérias juntos.

– E você a conhece há muito tempo?

– Eu já disse que eu nunca traí você, Becca. – Vlad respondeu, encarando-a com seriedade – Isso foi... foi um mal entendido. Eu achei que a gente tinha terminado e a Alicia... – ele deixou a frase solta no ar e suspirou – Não era para ter acontecido. Me desculpa.

– A gente não dá certo. – Rebecca disse mantendo os olhos no chão – Não adianta insistir em algo que está fadado a dar errado, não é?

– Não, Becca. – Vlad se aproximou dela e segurou seus ombros gentilmente – Eu amo você. De verdade, amor. Amo muito. O que aconteceu hoje foi um erro. A gente pode superar isso, não pode? Podemos começar do zero.

Vlad procurou os olhos dela com os seus, mas Rebecca não conseguiu erguer o rosto para olhar para ele.

– Não posso fazer isso. – ela disse em voz baixa – Não consigo, Vlad. Sinto muito.

– Becca...

– Acabou. – ela finalmente ergueu os olhos para olhar para ele – Acabou, Vlad.

Rebecca retirou as mãos dele de seus ombros e se afastou, sentindo as lágrimas arderem em seus olhos. Mal coseguiu sair da área das arquibancadas quando seus joelhos fraquejaram e ela teve que se segurar em uma grade ali perto para se manter de pé. Era como se seu coração tivesse se partido em três pedaços.

Os soluços escaparam por sua garganta, mesmo quando ela tentou contê-los e Rebecca soube que, dentre todas as formas como sua relação com Vlad podia terminar, aquela era a mais dolorosa.

Uma gota de chuva caiu em seu rosto, mas Rebecca nem se importou em limpá-la. Não havia mais gotas de chuva no céu do que lágrimas em seu rosto naquele momento e, apenas quando a chuva começou a despencar com mais força sobre a universidade de Oxford, foi que ela se colocou de pé novamente e reuniu toda a força que ainda tinha para voltar ao St. Hilda’s.

A chuva e o vento forte castigaram seu corpo por todo o caminho, mas ela nem percebeu. A dor em seu coração era a única que a atormentava naquele momento.