WSU's: Zenith
Capítulo VII - Mise-en-scène
O caminho era curto. Nenhum dos dois queria o fim da viagem. Não precisavam ouvir discursos moralizadores, podiam ser quem eram, dois jovens que passam o dia falando asneiras, a evolução pessoal passa por esta fase.
Mia já vivera um teatro antes, a experiência foi horrenda. Então, é certo que ela não quisesse mais passar por nenhuma outra epopeia. Contraditório, pois era justamente uma epopeia romântica aquilo que estava fazendo.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Queria falar sobre música, cinema, queria poder xingar meio mundo sem se preocupar em ser repreendida. Ela fechou o cerco para si, envolveu-se com o que não deveria. Pobre garota, tinha o emaculado poder do submundo correndo por seu corpo, mas ao mesmo tempo tinha a cabeça confusa de uma adolescente.
''O quê quero da vida?'' ''O quê fazer agora?''
Se Mia dissesse obter o controle sobre algo, estaria mentindo.
— Mirra, yah!? É aqui, Székesfehérvár! — disse ele acordando-a.
A menina de olhos roxeados olhou pela janela e se deparou com a cidade. O contraste desnorteava. Céus eternamente cinzas, cidades magníficas de vivas, qualquer foto tirada ali proporciona um quadro modernista.
— Esse país é lindo... — Mia sussurrou.
— Se juntassem todas as cidades húngaras, ainda não se comparariam à sua beleza. — Rotten Boy deu a cartada.
Mia virou o pescoço, puxou um sorriso, aproximou-se dele e retribui com um simples beijo no rosto seguido de um abraço.
— Se cuide, garoto podre. E pare de fumar, seu pulmão e o nariz das pessoas agradecem. —ela o soltou e saiu.
— Yah, Mirra! — exclamou ele sob o bater da porta — Denken Sie daran: Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado.
E ele foi desaparecendo, encoberto por uma enorme névoa. Mia acompanhou seu amigo momentâneo partir-se. Ao virar-se para o lado, lá estava ele, sentado numa pequena mureta.
— Pronto? — indagou Zagan para Mia — O quê fazemos agora?
— É você que detém as forças que nos ajudarão, não eu... — esquivou-se.
— Nós fizemos uma promessa.
— Fizemos...
— Mia — ele balançou a cabeça negativamente — O quê você quer da vida?
Ela se sentou ao lado de Zagan.
— Da vida quero apenas a morte.
— A morte? As árvores aqui atrás podem ajudar. E se quiser podemos modelar uma corda agora mesmo... — provocou.
— Não, depois... Eu tenho tudo sob controle... Vamos explorar antes. — ela se levantou.
Zagan, agressivamente, agarrou o braço de.
— Explorar um lugar que nunca esteve? 'Risco'? 'Perigo'? Sabe o quê significam? — pela primeira vez, a voz de dele não manifestou-se inocente.
— Eu tenho o tempo que quiser! — mas ela confrontava.
— Mais do que isso, sabe o que 'Responsabilidade' significa? Ou melhor, sabe o que 'Promessa' significa?
— O que quer que signifiquem, não te dá poder sobre mim!
— Não? — a voz voltou ao normal —Vem, sente-se aqui. — puxou-a suavemente.
Antes, ele analisou o redor. Viu que aquela região de Székesfehérvár estava vazia, e então decidiu que era hora de Mia ter o primeiro contato com seus dotes.
— Pegue a foto... — disse Zagan.
Ela começou a revirar os bolsos desesperadamente. Não achara.
— Eu perdi, Zagan! Meu Deus, eu perdi a foto! — falou alarmantemente enquanto olhava o por dentro da blusa. Ao voltar as vistas para Zagan, lá estava ele com o papel estendido em direção à ela.
— De nada. — e provocou.
— E agora? — perguntou Mia introvertida.
— Coloque os dedos indicador e médio no rosto dele.
— Está bem... — ela fez.
— Feche os olhos.
— Certo... — ela os fechou. Para a estética era ruim que olhos tão belos não ficassem à mostra.
Zagan desapareceu e Mia ficou ali confabulando com os dedos sobrepostos à imagem.
Da boca dela começaram a pronunciar-se palavras não-comuns. A tal foto, então, começou a queimar onde Mia segurava.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Mortem. Zero. Homem. — começou a propagar mais intensamente — War. Mortem. Homem. Semita. Nayti. Homem...
***
Mia foi para onde a luz não nascia e as cores não existiam. Quando abriu os olhos, deparou-se com a escuridão fleumática. Ela não se desespera. Caminha com cuidado, é claro, colocando as mãos à frente na intenção de sentir o que não era visto.
— Granada! — grita o vulto que passa correndo ao fundo.
O eco persiste. Ela segue a sonoridade, que perde o austero conforme os segundos se passam. Ali não existe engenharia, pois não se constrói à partir de um desconstrução.
Nem mesmo as trincheiras cobertas por corpos, sangue e estilhaços assustam Mia. Ela dá um passo à direita, observa a morte, sua face demonstra uma leve epifania diagramada de acordo as circunstâncias que imaginava terem colocado aqueles homens.
''Quantos amores não acabaram?''
''Quantos sonhos resumidos à estatísticas e dados históricos...''
Tudo partia do subconsciente. Quanto mais andava, mais descobria. Naquele lugar definitivamente não havia luz, não a que conhecemos. A luz era as pessoas.
Mia ouviu gritos, não o seguiu pois era impossível, era infinito, eram gritos que pediam por uma ajuda que não viria.
Raiva, ira, ódio, sinônimos encarnados pela criatura que se formava. Rasgava-se o uniforme e a pele, brotava o medo.
— Meu Deus, por favor não! Não por favor! Tenha piedade de mim! — berra o homem enquanto seu humanismo e sanidade se esvaem.
Tarde demais. Dois metros e quarenta de pura dor se debatem como um peixe fora d'água.
Ela não é amedrontável, não neste estado. Ficou observando indiferentemente a fera de autoflagelando. Deixou que os golpes fatais do tempo cansassem-no.
Soca o chão e o peito. Esfacela as raízes humanas. Perun, o principal dos deuses eslavos, não transmitiria tanta violência e pânico.
Tudo caíra. E ele caiu, diante de Mia. De pouco a pouco perdera as características animalescas. Ela se abaixou diante do corpo, passou a mão por tudo que tinha direito.
Esfregou as palmas por trás do pescoço do soldado, e encontrou uma corrente de metal com os dizeres: V. Mereszész - Katona - 033
— Quem será você... — disse Mia.
***
Ela acordou ofegante, de uma vez. Deitada em uma velha cama num decadente quarto de hotel. Zagan estava ao seu lado, sentado em uma cadeira de madeira. Pasmem: Tal cadeira não fazia barulho algum.
— Demorou sete horas, Mia. — ele informou.
— Como assim 'sete'?! — ela ofegou-se mais ainda surpreendida.
— Foi às onze, voltou às dezoito.
— Eu não fiquei dez minutos lá dentro, Zagan!
— Não mesmo, ficou quatrocentos e vinte.
— Mas por quê?! — questionou indignada
— Dimensões diferentes, proporções diferentes... O quê descobriu?
— Tinham uns homens em guerra, tudo era escuro... Havia um lobisomem, Zagan! — exclamou.
— Isso é útil...
— Sim, eu vi um lobisomem com meus próprios olhos... Ele gritava, combatia-se, não sei explicar! — disse trêmula — Ele caiu, ele caiu na minha frente! Eu vi um colar! Um colar de identificação que só dizia o segundo nome!
— Isso é importante...
— Eu me lembro bem! Pode nos ajudar, podemos procurar por ele, devem existir registros aqui... Zagan, se aquele homem foi tudo o que vi, há uma história à ser descoberta! — interessou-se.
— Você está livre para tomar a decisão que quiser à partir de agora, Mia.
— Se tudo aquilo for verdade, deve ser conhecido nesse lugar, pode ser uma lenda urbana, mas alguém sabe alguma coisa.
— Você acha mesmo?— ele pouco se importava com a fascinação dela.
— Sim! Um centro de cultura ou uma biblioteca, ele era do exército, parece ter lutado na segunda guerra, museus possuem dados históricos sobre estes assuntos, podemos procurar! — Mia gesticulava energicamente com as mãos.
— O quê vai fazer?
— Vou procurá-lo! O quê mais poderia fazer?!
— Eu não sei, você decide, lembra?
— amos fazer isso, eu tenho pelo que perguntar e vou ter sua ajuda, não é?
— É a terceira vez que falo: Tudo pertence à você. — disse sério.
— Até quando? — questionou.
— Não confia em mim?
— Confio... — respondeu Mia inspirando fundo — Mas poderei confiar em você até que ponto?
— Se a resposta é 'sim', tudo será seu, todo poder será seu, tudo à medida em que eu julgar necessário. — ele estralou os dedos — Há a possibilidade de que Zagan não deva confiar em Mia?
— Eu te ofereço algum mal?
— Você pertence a uma raça que se auto-extermina. Se são capazes de matarem os próprios semelhantes, o quê não fariam à aqueles que não são iguais?
— E você pensa que todos são desse jeito, é isso? — ela sentiu uma rápida e extrema preocupação.
— Sempre que querem se eximir da culpa acabam usando a desculpa da generalização, esse é o maior argumento que os mortais tem?
— É certo igualar todo um conjunto de indivíduos às ações de alguns grupos ao longo da história?
— "Alguns grupos"? "Alguns", Mia? Os nazistas, os fascistas, os proclamadores da inquisição, a Al-Qaeda, o ISIS... "Alguns"? Faz ideia de quantas vidas se foram por "alguns"?
— Por que um demônio existente a mais de mil anos se importa com o que se faz ou se deixa de fazer na Terra?
— Porque dependemos do que vocês fazem aqui... — Zagan surpreendeu Mia com a revelação —Por isso vigiamos os humanos todas noites, quando fecham os seus olhos lá estamos nós, na escuridão, onde o Messias nos deixou... Nós não temos nada, nossa única esperança são vocês, os pecadores. Pecado é nosso alimento, e quanto mais se manterem, por mais tempo existiremos.
— Entidades que vão além das compreensões humanas mas que são dependentes da razão humana... Hipócrita esse paradoxo, não acha?
— Não há nenhuma dificuldade em nos compreender, Mia. Um aglomerado de espíritos servis... Sim, não vou mentir pra você, alguns de nós conseguem ser muito mais que isso.
— Eu não tenho tempo e nem paciência pra saber o que vocês demônios são... Nós temos um ao outro e confiamos um no outro, então, se nosso vínculo for verdadeiro, — ela estendeu a mão fechada para Zagan — juntos podemos — forçou o punho e podia se ver suas veias saltando — ser maiores que tudo. — abriu-se e na palma de sua mão estava um crucifixo destruído.
***
Viktor havia saído, fora resolver os termos burocráticos antes de ir visitar Deszo. Nina não se desfez da rotina, escalou a mesma montanha com seu filho. Não era um lugar adepto de constantes visitas, era vazio de emoções falsas. Os galhos que sempre balançavam, o verde que cegava, a altura vertiginosa. São detalhes que irritariam o mais dos ignorantes. Acalmariam o mais dos ameaçadores. Ensinariam ao mais dos sábios.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Seu pai sempre foi muito bem educado... — disse Nina para seu filho enquanto amamentava-o ao ar livre - Ele teve a sorte que muitos não podem ter, você também terá essa sorte... A diferença é que ele nunca quis ser mais que um ótimo marido e pai, mas você, meu filho... Será isso e mais um monte, te mandaremos para o Exército, vai aprender muito lá... Vai descobrir que o mundo funcionaria melhor se fosse governado pelas forças armadas. Seu pai sempre sempre valorizou a pátria, espero que ti herdes isso dele, Lýkos. Vai aprender a nunca chegar perto de uma francesa, não por causa do cheiro, mas porquê nenhuma francesa é fiel ao marido. Vai aprender muito, pois não quero que seja igual à mim e a ele, rico e desocupado? É desperdício, tem que aumentar o império cada vez mais, mesmo sendo uma fortuna de 35 bilhões de euros... Dinheiro cria o futuro, meu amor, dita o presente e destrói o futuro, cabe à você escolher.
A única classe que entrega amor verdadeiro é a materna. Ninguém como ninguém é capaz de propagá-lo como uma mãe. O motivo não é muito claro, é fenômeno da natureza que se tornou definitivo. Um pai pode odiar o filho, o pai de Nina a odiava, a mãe não. É uma definição que incomoda, mas não são cem por cento dos pais que amam seus filhos. Quanto as mães sim, todas amam seus filhos.
— Tem que ir além do impossível, meu filho — ensinou —, limites estão na sua mente. Limite é o que você dá a si mesmo. Viktor limitou-se ao marasmo... Não siga seu pai nesse quesito, é o que mais me dá vergonha nele, ser alguém que só faz peso na Terra. Não, a tarefa de cada um aqui, meu filho, é ser a diferença num emaranhado de semelhanças.
***
O fogo aos braços.
Outra com a mentira em mãos.
Ele sabe de tudo.
Ilusão da cabeça aos pés.
Fale com o autor